Jogamos

Análise: Night Lights (Switch) é um limitado, relaxante e casual puzzle em plataforma

Com design simples, mas uma estética audiovisual coerente, traz ideias interessantes relacionadas à iluminação de partes dos cenários.




Desenvolvido pela Meridian4 e publicado pela Ratalaika Games, Night Lights é um jogo indie de puzzle em plataforma 2D cujas mecânicas brincam com efeitos paradoxais de iluminação em áreas escuras.


Night Lights se propõe a ser casual, com visual agradável e minimalista, um clima relaxante, uma boa variedade de puzzles e um level design acessível em torno de mecânicas criativas relacionadas a luzes no escuro. Veremos nessa análise o quão bem-sucedida ela se sai em sua proposta dentro do gênero.



Mecânicas interessantes em uma execução muito limitada e simplória

Como um puzzle em plataforma, Night Lights pode ser caracterizado, por um lado, como um platformer com movimentação bastante simples — em particular os pulos do protagonista não são muito altos e não há power ups para aprimorar qualquer aspecto da sua movimentação. Por outro lado, enquanto puzzle, o jogo tem ênfase em raciocínio dedutivo junto de um apelo de experimentação dos objetos do cenário.

Não há problema necessariamente em uma movimentação simples do personagem, inclusive é algo comum em jogos de puzzle, onde o apelo de gameplay não costuma depender muito das habilidades de coordenação motora e/ou de tempo de reação do jogador, mas sim em consistir de desafios mentais que podem ser resolvidos por uma sequência de ações bem simples, como andar até um local, carregar um objeto, manuseá-lo ou pressionar um botão ou alavanca.




Na medida em que isso define a essência da movimentação de Night Lights, há ainda de se enfatizar que, diferentemente de outros títulos semelhantes publicados pela Ratalaika, como Birthday of Midnight (Switch), esse não possui nenhuma ameaça ao jogador, como inimigos ou armadilhas.

É impossível morrer e não há punições para equívocos de desafio físico ou mental durante a jogatina, o que é uma escolha acertada para o público casual, é comum em obras do gênero e já é se mostrou coerente em jogos de estilo minimalista, como Fez (Multi).


Os problemas começam quando se leva em conta o level design. Os cenários incentivam o jogador a pegar itens opcionais e obrigatórios; para ambos os casos, é preciso se movimentar com alguma frequência pelo mapa, mas a lentidão do personagem pode incomodar, e não há nenhum benefício aparente nessa escolha de design. Para agravar a questão, os cenários tendem a ter uma arte sem vida, excessivamente simples e com uma ambientação desnecessariamente monótona, o que torna pouco instigante explorá-los.

Contudo, o problema principal provavelmente está na falta de criatividade com que são exploradas as mecânicas do jogo. Embora queira ser pouco dificultoso, manter-se acessível e ter uma progressão convidativa, ele tem uma ideia interessante em mãos, e poderia ir além das formas que ele aproveitou em gameplay.




Diferente de outros indies de puzzle, como Gorogoa (Multi), que envolvem raciocínio indutivo, relacionado à experimentação do jogador em elementos do cenário, Night Lights é mais projetado com raciocínio dedutivo, ou seja, aquele raciocínio que utilizamos em lógica-matemática e com o qual, a partir de sabermos certas regras, podemos deduzir uma solução precisa para um problema sem precisar ficar testando e averiguando possibilidades. Caso seja do seu interesse, mais detalhes dessas diferenças podem ser consultados em um artigo publicado na SUPERJUMP (em inglês).

Em suma, o jogador de Night Lights pode utilizar focos de luz de modos específicos não só para “fazer aparecer” certos objetos no escuro, mas também para manipular de forma paradoxal a existência ou não de um objeto no cenário — entendendo aqui por paradoxal algo que não se esperaria previamente, que não condiz com nossas intuições da realidade.

Coisas paradoxais assim já são exploradas espacialmente em outras obras, como Monument Valley (Mobile) e o já mencionado Fez; porém, nesses jogos, esses tipos de mecânicas possuem um aproveitamento muito superior em variedade, inventividade e engenhosidade, principalmente Fez.


Há algumas boas ideias, ainda que simples, como o fato de precisarmos iluminar certos pontos do cenário para manipular a trajetória de um objeto conforme a física do jogo, mas essa e outras ideias não se desenvolvem para criar puzzles verdadeiramente interessantes, e nem são criados novos puzzles que exploram bem as mecânicas previamente aprendidas de forma composta.

O level design é, de fato, acessível, e relativamente aberto, podendo viajar entre diferentes cenários, indo e voltando por passagens diferentes, mas como a exploração não é instigante e os puzzles não são muito criativos, chega a ser bom o fato de a campanha não ser muito longa. As 45 “fases” podem ser passadas rapidamente, requerendo eventualmente ir e voltar em algumas, e trazendo ao jogador um pouco de distração e relaxamento, mas nada muito além disso.



Um bom complemento sonoro, mas nem tanto visual

Seguindo uma tendência leve e minimalista, bem como o próprio nome e também as mecânicas centrais de seu game design, Night Lights procura dar coerência ao tema e ao espírito de sua proposta em seu visual noturno às vezes em floresta, mas principalmente urbano, repleto de prédios, grades, postes de luz etc. e em sua trilha sonora harmonicamente muito simples, ritmicamente repetitiva e com timbres de sintetizadores muito bem adaptados à direção dos efeitos sonoros elétricos.

É fácil entrar em um clima relaxante pela ambientação sonora do jogo, que cria um meio-termo entre música de fundo e música ambiente. Por vezes parece que há uma música de fundo fixa e repetitiva se sobrepondo aos sons do cenário, mas outras vezes a melodia e os timbres se integram tão bem com os sons dos dispositivos, das corujas, do vento etc., além do próprio silêncio intercalado, que eles passam a ser a música ambiente (como em Metroid e outros jogos).




Embora a música não tenha nada de muito brilhante, ela faz bem o seu papel, bem como a direção de som, mas a arte visual é demasiadamente simples, os cenários reaproveitam modelos de objetos com muita frequência e entregam pouca variedade, além de traços pouco marcantes, o que vale também para o personagem, que, mesmo um tanto genérico, tem um formato carismático.

Talvez uma narrativa mais notável pudesse compensar um pouco das faltas do jogo, mas infelizmente esse é praticamente um elemento ausente no game design de Night Lights. A ausência de um foco no enredo não é, de forma alguma, um problema por si só em jogos de puzzle, mas em muitos casos uma trama, ainda que simples, se bem-projetada, pode enriquecer a experiência do jogador e melhor cativar, justificar e contextualizar a jogatina.



Um relaxante puzzle-platformer com algumas poucas boas ideias e muitas limitações 

Night Lights entrega minimamente o que se propõe a entregar, possui uma ideia central interessante e é coerente com ela em audiovisual, bem como seu level design é casual, acessível e intuitivo. Contudo, o jogo não traz um conceito e/ou enredo de mundo ficcional cativante para a proposta, as mecânicas são subutilizadas criativamente mesmo considerando seu intento casual e a sua arte é simplória e genérica.

Ainda assim, o título é recomendado àqueles que gostam de puzzles com design fofo e movimentação sidescroller, mas estejam cientes de que se trata de um jogo bem modesto em tudo o que faz.

Prós

  • Trilha sonora e direção de som adequadas e relaxantes;
  • Protagonista e alguns elementos visuais fofos;
  • Level design acessível;
  • Controles bem intuitivos;
  • Algumas ideias mecânicas interessantes.

Contras

  • Exploração pouco instigante;
  • Mecânicas subutilizadas;
  • Jogabilidade repetitiva;
  • Campanha curta com cenários não muito variados;
  • Pouca progressão de dificuldade, mesmo para uma proposta casual;
  • Arte visual muito simplória e com pouca personalidade.
Night Lights – Mobile/PC/PS5/XBO/XBX/Switch – Nota: 6.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Ratalaika Games

Doutorando em Filosofia que passa seu tempo livre com piano, livros, PC e portáteis. No Twitter, também é conhecido como Vivi. Interessa-se especialmente por narrativas de ficção científica, realismo mágico e alta fantasia política, e aprecia mecânicas de puzzle, stealth, estratégia e RPG. Seu histórico de análises pode ser conferido no OpenCritic e suas reflexões sobre RPG e game design encontram-se na SUPERJUMP (textos em inglês), bem como no Podcast do Vivi e em seu canal no YouTube.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


Disqus
Facebook
Google