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Análise: The Company Man (Switch): as loucuras do mundo corporativo em um admirável jogo de plataforma

Desbrave escritórios cheios de armadilhas para se tornar o novo CEO da Good Water Company.

É com muito humor que The Company Man nos conta a história de Jim, um trabalhador recém-empregado que faz de tudo para conseguir um cargo melhor em sua nova empresa. A partir de uma jogabilidade de plataforma clássica, o título conta com controles prazerosos, uma estética fascinante e situações repletas de criatividade, que ironizam a insalubridade do mundo corporativo e são responsáveis por ditar o ritmo deste cativante jogo de ação. 

Quem não gostaria de um aumento no salário?

Jim é um jovem cheio de sonhos, sendo o maior deles o de se tornar um CEO de sucesso. Na primeira cena de The Company Man, vemos que o rapaz ganhou uma oportunidade de fazer isso acontecer, dado que ele acabou de ser contratado pela Good Water Company, uma empresa que comercializa água mineral.

Apesar de iniciar em um cargo básico, Jim desde o princípio manifesta o seu desejo de ascender profissionalmente, sempre em busca de novas funções e, claro, um salário mais alto. Todavia, isso não será nada fácil, pois o escritório dispõe de um ambiente de trabalho fora do convencional, representado por cenários bidimensionais hostis que devem ser completados se quisermos crescer na empresa.

Para lidar com as armadilhas mortíferas e os empregados furiosos das ambiências, Jim apresenta diversos recursos de movimentação, como saltos e investidas, além de ataques que fazem o uso de um teclado de computador. Este objeto será nosso grande companheiro da jornada, uma vez que é capaz de projetar golpes físicos e habilidades especiais, como tiros disfarçados de e-mail e outros movimentos que são conquistados conforme progredimos.
 
Por falar nisso, a campanha do título dispõe de um formato de progressão interessante: cada um dos sete andares da sede da Good Water Company corresponde a um departamento da companhia, com setores corporativos como Recursos Humanos, Contabilidade, Marketing e afins. Assim, cada espaço funciona como uma das fases do jogo, apresentando uma ambiência singular que deve ser completada em uma determinada ordem.

Desse modo, o título possui uma essência bastante inventiva, combinando conceitos de progressão típicos dos jogos de plataforma com a sua temática corporativa. Como veremos, felizmente essa qualidade de manifestar criatividade também aparece em muitos outros setores da aventura.

Os acertos do funcionário do mês

Em termos de jogabilidade, The Company Man oferece uma experiência altamente satisfatória. Todos os comandos de Jim são fáceis e responsivos, colaborando com os desafios impostos pelas fases. Assim, pode-se dizer que o título acerta em cheio ao trazer uma jogabilidade de plataforma simples e clássica, mas essencialmente efetiva.

Outro ponto positivo do jogo reside em sua adesão à temática corporativa, que é imersiva e repleta de boas sacadas. Com diversas adaptações, o título diverte ao trazer um bom número de estereótipos e mitos que são populares no cotidiano dos escritórios, com personagens satirizados que vão de estagiários estabanados até chefes arrogantes.

Inegavelmente, nota-se um cuidado para que todos os elementos estejam adaptados aos conceitos empresariais. Por exemplo, para recuperarmos pontos de vida dentro dos estágios, temos de tomar um copo de café; ou, ainda, se quisermos transitar entre os diferentes andares da sede, devemos encarar um elevador completamente lotado.

Do mesmo modo, todos os golpes, inimigos e ambiências se adaptam à temática corporativa, mas sem deixar também de ostentar uma certa diversidade. Entre os meus detalhes prediletos, certamente estão os inimigos do setor de Marketing, que exibem um estereótipo de extravagância, e o cenário da Contabilidade, que está completamente congelado pois algum empregado esqueceu o ar-condicionado ligado durante a última noite. 

Temos, assim, um jogo que esbanja criatividade e um senso crítico apurado, com diversas piadas sobre empregados estressados, comportamentos inadequados e outros detalhes já comuns em representações culturais do estilo — como a série The Office (US), que, de acordo com os desenvolvedores do título, influenciou diretamente na aventura.

Com muita competência, The Company Man oferece uma experiência divertida e igualmente exuberante, principalmente em termos de cenários, que costumam contar com belos backgrounds e personagens peculiares. No entanto, há de se dizer que outros detalhes dentro de nossa jornada empresarial podem deixar a desejar. 

Reportando problemas ao patrão

De maneira curiosa, os pontos negativos que encontrei em The Company Man se relacionam com seus aspectos temporais. Um deles está na duração de suas fases e na separação de seus checkpoints. Por vezes, os estágios se mostram estruturalmente longos e com poucas segmentações. Desse modo, é comum passarmos amplos períodos sem encontrarmos pontos de salvamento, o que pode tornar nossas mortes mais frustrantes, na medida em que temos que refazer longos trechos dos níveis. 

Essa característica também traz uma falta de balanceamento para os desafios, dado que os checkpoints não colaboram e em certos momentos temos de refazer até mesmo as batalhas contra chefões. Assim, creio que o jogo poderia ser mais agradável se apresentasse uma melhor divisão de suas fases, evitando a obrigatoriedade de repetir certos trechos.

Ironicamente, ao contrário da ampla duração de suas fases, a campanha de The Company Man é relativamente curta: com apenas sete andares, temos um jogo que pode ser completado em pouquíssimo tempo. Para seguirmos em termos empresariais, arrisco-me a dizer que sua duração equivale a de uma jornada de trabalho de meras três horas. 

Outro fator que colabora para que o game tenha uma duração curtíssima está na ausência de qualquer tipo de item coletável, o que forma um fator replay quase inexistente. Exceto pela possibilidade de se poder jogar a campanha em outra dificuldade – o que, para mim, não é muito atraente – não temos grandes motivos para encarar as fases outra vez. 

Assim, entendo que o grande charme de The Company Man se encontra no fato de que sua curta campanha jamais perde o fôlego. Afinal, ela encanta ao trazer muita intensidade no formato platformer, mesmo que em pouco tempo de repertório.

As peripécias da vida empresarial

Com uma jogabilidade efetiva, aspectos estéticos fascinantes e momentos enérgicos, The Company Man é uma excelente indicação para os fãs de jogos de plataforma. Ainda por cima, o título reluz ao apresentar uma ótima e criativa adaptação de seus conceitos à temática empresarial. Diante disso, controlar Jim em sua jornada corporativa é praticamente tão prazeroso quanto a chegada do fim do expediente após uma sexta-feira estressante.

Prós

  • Temática corporativa cheia de humor e criatividade;
  • Jogabilidade de plataforma clássica que funciona bem;
  • Batalhas intensas com boas doses de desafio;
  • Estilo gráfico charmoso;
  • Personagens e situações que nos divertem por satirizar a realidade empresarial.

Contras

  • A campanha tem curta duração;
  • Fator replay baixo, muito em função da ausência de coletáveis;
  • As fases são extensas, com checkpoints mal distribuídos e, às vezes, injustos.
The Company Man — Switch/PC — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Cristiane Amarante
Análise produzida com cópia digital cedida pela Leoful

Jornalista, colaborador no Nintendo Blast e doutorando em Comunicação Social.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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