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Análise: Noel the Mortal Fate (Switch) traz arrependimento e redenção ao console da Nintendo

A aventura da pianista Noel Cerquetti se destaca nesta ótima adaptação para o Nintendo Switch.

Assinada pelo criador Kanawo e publicada no Ocidente pela Playism, Noel the Mortal Fate nos apresenta a uma interessante e rica história que aborda temas difíceis como inveja, ambição, arrependimento e, finalmente, redenção. Em parte visual novel, em parte RPG, esta aventura consegue prender o jogador e se destaca em uma adaptação muito competente para o console híbrido da Big N.

Prelúdio mortal

Noel the Mortal Fate nos conta a história de Noel Cerquetti, uma jovem pianista extremamente talentosa que reside na cidade de Lhaplus. Neste local, uma vez por ano tradicionalmente ocorre a Lhaplus Piano Competition, uma cerimônia muito prestigiada em que os melhores instrumentistas se apresentam e concorrem ao cobiçado prêmio.

Como filha única de pianistas famosos e reconhecida por seu talento muito acima da média e refinado pela prática diária, é presumido por todos — inclusive pelos concorrentes — que Noel vencerá a competição após uma apresentação impecável no dia do evento. Porém, após um atraso suspeito no anúncio, a coroada na verdade é a sua amiga Jillian Littner, para a surpresa de todos os presentes.

Inconformada com tal situação e completamente irritada, Noel não consegue esconder sua frustração, deixando o evento às pressas logo em seguida. Dominada pela desolação e inveja, a jovem pianista é então influenciada por algumas pessoas a fazer um contrato com um demônio para se tornar a musicista premiada no lugar de Jillian. 

Como qualquer pessoa com um mínimo de consciência poderia prever, essa escolha (que inclusive é tida como um crime em Lhaplus) acaba trazendo consequências extremamente dolorosas: em razão do contrato, Noel perde instantaneamente tanto seus braços quanto suas pernas. Como se não bastasse, logo em seguida a jovem também descobre que ela e a sua inveja da amiga foram na verdade usadas como peças de xadrez em um tabuleiro muito maior do que se poderia antecipar.

A partir desse ponto e de uma aliança inesperada com Caron — o demônio responsável pelo contrato de Noel —, inicia-se uma interessante narrativa, capaz de prender o jogador a seu Nintendo Switch por horas a fio.

Dualidade e redenção

Na prática, Noel the Mortal Fate é um jogo de duas metades, que se alternam frequentemente. De um lado, temos uma visual novel, onde acompanhamos os intensos desdobramentos da jornada de Noel e Caron; do outro, está um RPG simples com um sistema de combate mais simples ainda e uma quantidade significativa de puzzles no meio. 

Essa escolha criativa acaba trazendo alguns problemas consigo, principalmente porque há uma discrepância na qualidade desses elementos. Sem entrar no campo de spoilers, o grande mérito de Noel the Mortal Fate reside de fato em sua história, que, como dito, é capaz de absorver completamente o jogador. É muito legal poder ver o desenvolvimento dos personagens ao longo dos muitos acontecimentos da campanha, e fãs de anime e plot twists certamente gostarão muito do que é apresentado.

Porém, entre as seções de narrativa (que é dividida em temporadas), o jogador deverá assumir o controle dos personagens de sua party, como Noel e Caron, para realizar pequenos objetivos, que variam desde derrotar um chefe em combate até achar uma maneira de movimentar a jovem Cerquetti entre áreas do mapa.

Aí é que começam a aparecer alguns problemas para os padrões atuais do gênero: Noel the Mortal Fate é um jogo independente desenvolvido no RPG Maker, e apesar de toda a sua bela e nova apresentação — retornaremos a ela mais tarde —, neste lançamento esses traços continuam bem marcantes.

Na prática, isso quer dizer que o sistema de combate é tão simples quanto possível, envolvendo na grande maioria das vezes encostar nos inimigos antes que eles encostem ou arremessem coisas em você. Similarmente, os puzzles normalmente exigem que você arraste um ou outro objeto ou pressione interruptores distintos para desencadear um evento.

Sendo sincero, com tantas boas opções de RPGs japoneses no Switch, é meio difícil não olhar para essas mecânicas e percebê-las como datadas ou até mesmo obtusas, minando parte do envolvimento com o jogo.

Outro ponto que impacta negativamente nesse quesito é a quantidade de puzzles. Novamente, não há nada aqui que demore muito mais do que cinco minutos para resolver, mas a frequência com que esses pequenos enigmas aparecem acaba por quebrar um pouco o ritmo do gameplay, dando a entender que houve um foco na quantidade e não na qualidade em si do elemento.

A verdade é que, por diversas vezes ao longo de minhas jogatinas para esta análise, tive a impressão que Noel the Mortal Fate teria se saído melhor como uma visual novel de fato, sem esses aspectos. É importante ressaltar que ele ainda é um ótimo jogo, cuja recomendação é fácil para entusiastas de sua proposta. Só é necessário ressaltar que esses pequenos deslizes o impedem de alcançar um patamar ainda maior dentro de seu gênero. Uma pena.

Primor técnico

Um ponto onde Noel the Mortal Fate se destaca é em sua parte técnica. Falando da direção de arte em si, temos belos cenários e ilustrações, que se destacam em resolução nativa tanto no modo portátil quanto no modo TV do Switch. Fãs do estilo anime certamente se sentirão em casa com esta adaptação, e devo dizer que donos de uma versão OLED do console verão um espetáculo à parte, dado o uso sábio dos tons de preto no jogo.

Por se tratar de uma obra que se inicia com uma apresentação musical, era de se esperar também que ela se destacasse em sua trilha sonora. De fato, é o caso aqui, com faixas marcantes que “grudam” na cabeça e merecem figurar em uma playlist dedicada em seu dispositivo ou serviço favorito. Outro ponto que me chamou a atenção foi o design de som: os efeitos sonoros são muito bem usados e equalizados, complementando a trilha como um todo e ajudando na imersão.

Inclusive, devo dizer que esta versão para Switch constitui, na minha opinião, a melhor forma até então de vivenciar a criação de Kanawo. O sistema de temporadas e as frequentes propostas de salvar após marcos de progresso (cada season dura em média duas horas e meia) acabam combinando com a natureza híbrida do console, fazendo com que seja perfeitamente possível avançar na história em pequenas sessões ao longo do dia, conforme o jogador preferir.

Aliás, falando no tema, este lançamento para Switch inclui as temporadas 1-7, que concluem a primeira parte da história de Noel, e também uma temporada bônus, chamada de 3.5, que foca nos acontecimentos entre os eventos de Burrows e Jillian. É uma pena que as temporadas 8 e 9, já disponíveis no Ocidente via Steam, não entrem no pacote, mas como elas iniciam um novo arco da narrativa que até então só está disponível em japonês, entendo de certo modo a sua ausência.

Por fim, cabe mencionar que não foram encontrados bugs e crashes de nenhuma espécie durante a campanha, tampouco problemas de performance, indicando novamente uma adaptação bem-sucedida dos desenvolvedores. A única ausência nesse caso fica por conta do suporte ao português brasileiro, que acaba limitando o aproveitamento do jogo a quem domina outro idioma, como o inglês.

O destino mortal

Apesar da simplicidade nos combates e puzzles, Noel the Mortal Fate apresenta ao jogador uma trama única e envolvente, capaz de prendê-lo por muitas horas em meio a seus acontecimentos e reviravoltas. Esta conversão para o Switch se destaca no aspecto técnico, resultando na melhor forma até então de conhecer a história de Noel e Caron, dada a flexibilidade do sistema da Nintendo. Que venham as próximas temporadas.

Prós

  • Narrativa destacada, que absorve o jogador;
  • Personagens carismáticos, cujo desenvolvimento é muito interessante de se contemplar;
  • Apresentação visual fantástica tanto no modo portátil quanto no modo TV;
  • Trilha sonora marcante;
  • Sistema de temporadas e saves frequentes combinam perfeitamente com a natureza flexível do Switch;
  • A temporada 3.5 é um bônus considerável.

Contras

  • Possui um sistema de combate extremamente simples;
  • A frequência dos puzzles quebra um pouco o ritmo do jogo;
  • Poderia contar com as temporadas 8 e 9, já disponíveis no Ocidente;
  • Sem suporte ao português brasileiro.
Noel the Mortal Fate — PC/Switch — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Playism

é bacharel em Produção Cultural pela UFF e estudante de Comunicação Social pela FSMA. Na infância, ganhou um Super Nintendo dos pais e, desde então, nunca mais deixou o mundo dos games. Ainda sonha em ser um Mestre Pokémon.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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