O novo jogo, agora sem restrições de região, ganha o mundo e chega ao Switch inclusive com legendas em português. Ainda assim, mantém-se como um mergulho de cabeça na cultura, na estética e mesmo na linguagem japonesa. Isso lhe confere uma identidade própria e até atrativa, mas que não é o suficiente para se tornar a volta da companhia aos grandes sucessos.
A aventura de Fuma
GetsuFumaDen: Undying Moon foi desenvolvido pela GuruGuru, enquanto a Konami adotou o papel de distribuidora. O estúdio se inspirou em lendas japonesas para a criação dos demônios que enfrentamos ao longo da campanha, com cenários semelhantes a gravuras vivas que são o grande charme do título.Nesta fantasia, você é o representante do clã Getsu e deve descer às profundezas do inferno para enfrentar as forças sobrenaturais e proteger o mundo dos vivos. A história não é exatamente digna de Oscar, até porque o foco aqui é na ação com pitadas de hack-n-slash.
| Colorindo a neve com o sangue dos inimigos |
O que nos leva ao outro charme do título: a ação violenta. Ao combater demônios, sangue e ossos voam pela tela. Existe uma boa variedade de armas, que demandam diferentes estratégias e oferecem opções para diversos estilos de jogo. É interessante notar a sutileza de uma espada simples, a efetividade de usar duas espadas ou mesmo o peso de um golpe com um tacape.
A jogatina baseia-se em entrar numa fase e andar pelo cenário enfrentando os inimigos e abrindo baús para encontrar armas primárias e secundárias, dinheiro para ser utilizado com comerciantes e itens que podem ser usados para evoluir suas armas e seu personagem. Ao final, enfrenta-se o chefe após uma apresentação impactante e segue-se para um hall onde é possível entrar em outra fase ou voltar para o hub inicial. A fórmula é básica, mas sua execução aqui possui alguns problemas que afetam bastante a experiência.
Nem tudo que reluz é ouro
Visualmente, Undying Moon empresta muito da arte Ukiyo-e, um gênero de xilogravura e pintura característico do Japão dos séculos XVII a XIX. O game apresenta o equivalente a estampas ganhando movimento em suas muitas camadas: o primeiro plano é mais estático para ressaltar a movimentação dos personagens; o fundo possui outros planos, estes mais vivos, com destaque para o último, onde em geral é possível vislumbrar o chefe da fase.As temáticas do Ukiyo-e também se mostram presentes: as máscaras do teatro kabuki e os lutadores de sumô inspiram o visual dos inimigos. As cenas históricas e de viagem, as paisagens, a fauna e flora, lendas populares… tudo explode na tela em seus mínimos detalhes. A primeira impressão diante dessa direção artística é de maravilhamento. A beleza das pinturas em movimento salta aos olhos imediatamente, até que algumas decisões equivocadas passam a se sobressair.
| Neste cenário ainda vai entrar o movimento da espada, o sangue dos demônios, um ideograma… |
Por exemplo, o Limbo Empesteado, que corresponde à primeira fase, é uma área em que a chuva chega a atrapalhar a visão do jogo. Diferente do que ocorre em outra fase, montanhosa, onde olhos incrustados em pedra provocam uma neblina que propositalmente limitam o que você consegue enxergar até que sejam destruídos. Outro exemplo: o movimento dos golpes, com seus brilhos e rastros, por vezes se confundem aos golpes dos adversários e à movimentação das imagens de fundo. São tantos detalhes postos ao mesmo tempo em tela que gera uma poluição visual, causando a impressão de que seria melhor uma proposta mais enxuta.
Andando em círculos
Essa questão visual acaba sendo afetada também por outra decisão, desta vez de game design. GetsuFumaDen é um jogo de ação roguelike que se propõe difícil e desafiador. Com isso em mente, a morte é punida com a perda de seu progresso na fase e o retorno para a Mansão Getsu, sua hub inicial. Desse modo, o jogo nos obriga a passar pelo já citado Limbo todas as vezes em que se reinicia a partida, o que faz diminuir o impacto visual a cada repetição, levando ao cansaço.O mesmo acontece com todas as fases que são porta de entrada para outras. Por mais que a cada partida o desenho da fase mude, isso não é o suficiente para evitar o cansaço causado por essa mecânica. Pior, leva a novos problemas: o redesenho por vezes coloca inimigos em uma plataforma minúscula, sem espaço para o seu personagem, levando a um combate injusto e a perda de preciosos pontos de hp. Em outras ocasiões, a remodelagem proporcionou grandes áreas vazias, sem adversários ou itens para coletar, virando um passeio por um cenário cuja paisagem você já está farto de ver.
| Beleza que cansa depois da milésima vez |
Devagar e sempre
O protagonista Fuma é um guerreiro habilidoso e com movimentos bastante plásticos. Com todo esse clima fascinante do Japão antigo, criado não só pelo visual como também pela trilha sonora, ver toda a plasticidade de uma espadada bem dada em um inimigo é uma parte importante para a imersão. Para ajudar nesta visualização, a movimentação é lenta. Porém, isto ainda é um jogo de ação, e ter a jogabilidade afetada por movimentos lentos não é exatamente o ideal.Esse exemplo resume o que é GetsuFumaDen: Undying Moon: um jogo de ação com visuais belíssimos. Porém, o apuro visual às vezes extrapola o limite do funcional. É um título clássico que flerta com as características dos roguelikes modernos de sucesso. Contudo, nem tudo que lhe serviu de inspiração ajudou a lhe dar destaque e personalidade. É um game com potencial para ser extraordinário, mas se perde no comum.
Prós
- Direção de arte e trilha sonora impactantes;
- Variedade de armas possibilita diversas estratégias de jogo;
- Representação do Japão antigo favorece a imersão.
Contras
- Tendência à poluição visual com muitos elementos simultâneos em tela;
- Geração randômica dos níveis apresenta, por vezes, fases vazias ou com problemas;
- A repetição obrigatória favorece o cansaço com o visual;
- Movimentação lenta do personagem prejudica a jogabilidade.
GetsuFumaDen: Undying Moon — PC/Switch — Nota 5.0Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Janderson Silva
Análise produzida com cópia digital cedida pela Konami
