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Análise: Treasure Temples (Switch) exemplifica perfeitamente o significado de quebra-cabeça

Treasure Temples é o tipo de jogo que leva a grande vantagem de não te fazer perder um segundo sequer para saber se você vai se empolgar ou... (por Davi Sousa em 04/03/2022, via Nintendo Blast)



Treasure Temples é o tipo de jogo que leva a grande vantagem de não te fazer perder um segundo sequer para saber se você vai se empolgar ou não para jogar. Desenvolvido e publicado pela holandesa Gamedia, este título de puzzle tem uma proposta simples, que logo te mostra se vale a pena investir seu tempo e esforço — o que nem de longe é um indicativo de uma dificuldade baixa.

Inshalá, muito ouro!

Uma dupla de exploradores adentra um templo que abriga os restos de uma civilização perdida enterrada na neve da Antártida. O objetivo desse par é fazer a limpa nos tesouros do lugar e escapar com vida, mas os mortos-vivos e criaturas marinhas que estão por lá não estão nem um pouco a fim de deixar isso acontecer, até porque o valor por grama de ouro está um absurdo.




Explicada em uma única imagem de abertura, essa é a trama de Treasure Temples, que obviamente não tem nenhuma importância para o gameplay ou para o aproveitamento do jogo. O que interessa mesmo é ir direto para as câmaras que contêm as pedrinhas douradas.

Como estamos em um puzzle, é claro que a bufunfa não vai estar amontoada em um canto só para ser recolhida de uma vez. Uma incursão bem-sucedida por cada fase implica em apanhar todos os fragmentos de ouro espalhados por salas labirínticas recheadas de armadilhas, esqueletos e trampolins que só servem para complicar ainda mais o rolê, e fazer o caminho de volta até a porta por onde viemos.

O que dá o toque definitivo de desafio e serve como a principal mecânica do jogo são as plataformas que formam o piso dos estágios. Cada quadradinho só pode ser usado uma vez, se desintegrando assim que o nosso explorador se mover em alguma direção. Até existem partes do chão que duram um pouco mais, resistindo a duas passagens, mas a norma é que você não possa dar meia-volta, já que o espaço atrás de você agora é um buraco.

Desce, sobe, empina e rebola




Aludindo ao título desta análise, Treasure Temples é, na melhor acepção do termo, um quebra-cabeça. Fazia muito tempo que eu não “quebrava” a cuca em um jogo do gênero com tanta dedicação e cansaço quanto na obra da Gamedia. Ela traz a clássica dualidade de fazer você se sentir a pessoa mais inútil do mundo por passar um bom tempo empacado em um desafio, para logo em seguida te dar a impressão de que você é o maior gênio da humanidade por conseguir encontrar aquela “pecinha” que não estava encaixando.

A curva de dificuldade se desenvolve na medida certa, com conjuntos de fases fáceis, intermediárias e difíceis para exploração solo; e conjuntos de nível intermediário e difícil de exploração em dupla, em que o jogador controla a dupla de aventureiros e precisa fazer com que ambos cheguem a uma saída que fica do outro lado da sala, ao invés de ir embora pela mesma porta de chegada.

Os gamers menos apressados vão se alegrar em saber que não existe limite de tempo para terminar as fases, nos dando toda a liberdade de parar e analisar os próximos passos a qualquer momento. Por outro lado, a ausência de um modo contra o tempo pode incomodar os mais chegados ao jeito speedrunner de ser.




O level design é competentíssimo, com câmaras cuidadosamente elaboradas e donas de uma simetria que se destaca principalmente na exploração em dupla. Entre idas e vindas para tudo que é lado, dá um prazer sublime ir trilhando um caminho e percebendo como cada detalhe de um estágio foi meticulosamente planejado para que todas as peças sigam se encaixando até o final.

Se você preferir, não precisa jogar todas as fases na ordem, pois o jogo vai liberando algumas adiante da que você acabou de concluir, mas o ideal é justamente ir desvendando uma por uma, já que elas representam o caminho mais lógico de aprendizado, dando saltos de dificuldade apropriados ao que está sendo superado.

Alguns recursos estão disponíveis para facilitar a progressão e a resolução dos puzzles. A qualquer momento durante o gameplay, podemos fincar uma bandeira vermelha no local onde o explorador se encontra, marcando um checkpoint naquela plataforma, da qual é possível recomeçar em caso de morte ou pelo menu de pausa. Também podemos conferir algumas dicas específicas a cada fase, que dão orientações sem entregar toda a resposta.




Em relação a essa ferramenta de guia, fica aqui uma observação negativa: Treasure Temples está disponível apenas em inglês e holandês (que é o idioma local da Gamedia), ou seja, sem português. Felizmente, as dicas não são essenciais, mas para quem está com dificuldade e não domina nenhum dos idiomas disponíveis, talvez essa ajudinha a mais tivesse sua serventia.

Quando a bússola quebra no meio da exploração

A ausência de PT-BR (ou até mesmo de um espanhol que fosse) não é o único problema em Treasure Temples. Aqui cabem algumas críticas menores, que interferem pouco ou nada no gameplay em si. A mais irrelevante provavelmente é a “trilha sonora” do jogo, que tem apenas uma mísera faixa. Nesse caso, simplesmente tirei o volume da música quando fiquei muito enjoado dela e escutei outras coisas enquanto joguei.

Uma rusguinha facilmente ignorável é a navegação confusa pelas telas de seleção de fases, que exige que apertemos para a direita no direcional para avançar entre os números, mesmo que o cursor se desloque para a esquerda, e vice-versa (esquerda no direcional para retroceder, mesmo que o cursor vá para a direita).




Outra ausência que me passou pela cabeça é a de uma ferramenta de edição de fases. Criar novas câmaras para compartilhar online e jogar as criações de jogadores mundo afora seria a cereja no topo do bolo de conteúdo, já que o jogo não possui rejogabilidade além de fazer os 100% e fazer as conquistas do seu sistema interno.

Dora, a aventureira, por que choras?

Treasure Temples tem toda uma pegada daqueles jogos para celular que você joga umas três fases por dia, na sala de espera do médico ou aguardando aquela amizade que sempre atrasa, mas que fique bem claro: sua dificuldade não deve ser subestimada, rendendo boas horas de desafios mentais aos entusiastas por puzzles que fazem o cérebro fritar.

Prós:

  • Mostra logo de cara sua proposta de jogo;
  • É um quebra-cabeça na acepção da palavra, trazendo a dualidade da dificuldade vs recompensa de ficar travado em uma parte e conseguir sair dela após um bom tempo;
  • Curva de dificuldade que se desenvolve na medida certa;
  • Level design competentíssimo, com câmaras cuidadosamente elaboradas e donas de uma simetria que se destaca principalmente na exploração em dupla.

Contras:

  • Não está disponível em português brasileiro, apenas inglês e holandês;
  • A trilha sonora é composta por apenas uma música;
  • A navegação pelas telas de seleção de fases é bem confusa;
  • Não tem uma ferramenta de edição e compartilhamento de fases, nem um modo contra o tempo.
Treasure Temples — Switch/PC — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: João Gabriel Haddad
Análise produzida com cópia digital cedida pela Gamedia

Apaixonado por jogos desde criança, principalmente pela Nintendo. Seja Indie ou AAA, os videogames vão estar sempre no meu coraçãozinho, com um espaço especial para multiplayers!
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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