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Análise: Young Souls (Switch) traz rebeldia e pancadaria ao console da Nintendo

Mesmo com deslizes, título desenvolvido pela 1P2P consegue proporcionar bons momentos, tornando-se uma recomendação fácil para fãs da proposta.

Originalmente lançado no ano passado para o quase finado Google Stadia, Young Souls finalmente chega a mais plataformas prometendo uma mistura muito interessante de beat ‘em up e elementos de RPG. Mas será que esta carismática obra independente desenvolvida pela 1P2P e publicada pela The Arcade Crew — Infernax (Switch), Blazing Chrome (Switch) — consegue entreter ou, pelo contrário, é tão eficiente quanto um golpe no ar? Prepare a sua melhor armadura, caro leitor, e confira a seguir nossa análise.

Juventude transviada

Young Souls nos traz a história de Jenn e Tristan, irmãos órfãos desde a infância que sempre enfrentaram os desafios do mundo sozinhos. Com estilo e comportamento rebeldes — possivelmente devido às dificuldades que já enfrentaram — os jovens com frequência adotam uma postura de enfrentamento com relação a padrões e costumes, como a escola e a aprendizagem.

Isso mudou um pouco quando ambos encontraram o Professor, um excêntrico e gentil cientista que os adotou e criou como se fossem filhos em sua mansão. Porém, um belo dia, ao chegarem da cidade, Jenn e Tristan descobrem que o pesquisador desapareceu misteriosamente. Preocupados com o sumiço de seu mentor, os adolescentes então começam a procurar e investigar o acontecido.

É assim que ambos descobrem um portal oculto para um mundo inferior, habitado por nefastas criaturas como goblins e magos. Liderados pelo vilão Dwarvengobben, esses seres planejam invadir e tomar a superfície, onde residem os humanos, para si. Em busca então de salvar o Professor, que acabou se envolvendo nesse conflito, e a própria humanidade, os irmãos decidem botar a “mão na massa” e, cheios do ímpeto característico da juventude, partir para o combate com os monstros.

A arte da guerra

Na prática, Young Souls é um legítimo representante do gênero beat ‘em up, que fez a alegria de tantos jogadores nas décadas de 1980 e 1990 mas acabou perdendo espaço com o advento das tecnologias 3D. Isso quer dizer que se você curte descer o sarrafo em inimigos em uma área, e então avançar para outra área e fazer o mesmo até se deparar com um chefão, você se sentirá em casa com a obra da 1P2P e sua reverência ao passado.

Mas claro, sendo esta uma criação moderna, são empregados aqui alguns recursos para minar a sensação de repetição que por vezes ronda o gênero como um todo. Para início de conversa, durante a progressão, os jogadores acumularão itens como fichas de academia e dinheiro, e estes são usados tanto para aumentar seus stats base quanto para adquirir novos equipamentos para Jenn e Tristan.

O investimento nos stats pode ser realizado por meio de minigames, ao passo que itens podem ser comprados em lojas da cidade onde os adolescentes vivem. Além de prover uma distração entre as várias seções de exploração e combate, a introdução desses elementos de RPG faz com que seja possível montar builds diferentes para os irmãos — um recurso extremamente valioso quando se está jogando sozinho.

Isso porque, no modo para um jogador, você controlará somente um irmão por vez, podendo alternar livremente entre eles ao tocar o botão L do console. De modo bem interessante e ao melhor estilo Marvel vs. Capcom, trocar de personagem no momento certo também pode render a oportunidade de emendar um combo, e o irmão que está "descansando" irá recuperar um pouco de vida se não for chamado por um tempo.

Por isso, e como as fichas da academia são gastas individualmente, é possível fazer com que Jenn tenha um foco na agilidade e Tristan na resistência, por exemplo, fazendo com que a troca entre os dois acabe alterando a jogabilidade que, crédito aos desenvolvedores, nunca deixa de ser divertida.

Já no multiplayer para dois jogadores, cada um controlará um irmão. Nesse modo, o poder dos inimigos é escalado, e, como em outros jogos do gênero — Castle Crashers Remastered (Switch), Streets of Rage 4 (Switch) — é bem divertido poder enfrentar as hordas de inimigos com alguém do lado. É só uma pena que o título não tenha suporte ao multiplayer online.

Armas e mais armas

Com espadas, machados, martelos, arcos e até magias à disposição, há uma série de ferramentas que os jovens podem usar para alcançar seus objetivos e salvar o dia, mas independentemente da arma usada, o combate de Young Souls nunca chega a se tornar chato ou repetitivo ao longo das aproximadas 14h que o jogo oferece em sua campanha — algo definitivamente louvável.

Jenn e Tristan também contam com uma série de recursos como esquiva, defesa e revide, e todos esses acabam sendo úteis devido à dificuldade geral da obra. Essa, aliás, foi uma grande surpresa minha: mesmo na dificuldade mais baixa disponível (há quatro opções no total), o título consegue ser desafiador o bastante para nunca deixar o jogador entrar totalmente em sua zona de conforto. No modo Especialista, então, prepare-se para um desafio digno dos arcades!

Assim, que fique claro que a variedade de artimanhas, o desafio justo e a jogabilidade prazerosa terminam sendo os grandes méritos do game da 1P2P, mas preciso citar rapidamente alguns outros pontos que acabaram me incomodando ao longo das sessões de jogo para esta análise. Primeiramente, sem entrar no mérito de spoilers, Young Souls e seus dois protagonistas oferecem uma história sobre amadurecimento e responsabilidade sobre o peso de suas escolhas.

É até interessante ver um beat'em up se dedicando tanto à sua narrativa — há até opções de diálogo em certas ocasiões —, mas eu estaria mentindo se dissesse que a história aqui presente me cativou em algum momento. A rebeldia de Jenn e Tristan se manifesta com frequência por meio de palavrões e cortes na fala de outros personagens, mas é difícil não olhar para alguns dos diálogos e pensar que eles são completamente desnecessários à trama como um todo.

Aliás, eu não tenho problemas com palavrões e inclusive respeito seu caráter interjetivo quando em um discurso coerente, mas acredito que em muitas partes faltou aqui bom senso por parte dos roteiristas. Menos mal que há a opção de ocultá-los no menu — recomendo fortemente que isso seja feito.

Similarmente, devo dizer que os protagonistas em si não são tão carismáticos quanto eu esperava, por vezes beirando perigosamente a chatice. A verdade é que, dados os acertos na jogabilidade, cenários e desafio, por vezes pensei que Young Souls causaria mais impacto com outros protagonistas e talvez uma outra narrativa. Desculpem-me, Jenn e Tristan, mas é a verdade.

O domínio da técnica

De fato nem tudo são flores, e Young Souls acaba desapontando um pouco em mais alguns aspectos, principalmente os técnicos. Falando especificamente da versão de Switch, as telas de carregamento costumam ser longas o suficiente para serem notadas, e também há a questão de quedas na taxa de quadros quando há muitos elementos na tela de uma vez.

Logicamente, sabemos que o Switch não carrega consigo uma arquitetura extremamente robusta, mas tendo em vista os requisitos mínimos da versão de PC, confesso que esperava um pouco mais do jogo, visualmente falando, no console da Nintendo. A ausência do suporte às resoluções nativas do console também incomodam, e o resultado é que as belas animações do título, que lembram um desenho animado da década de 2000, perdem parte de seu impacto nesta versão. Fechando o pacote, há ocasiões de texto pequeno/ilegível no modo portátil, que mostram que o port não recebeu a atenção devida ao longo da produção. Pena.

Para não ser injusto, por outro lado, a adaptação para o Switch nos dá a possibilidade de jogar no modo portátil e de acessar o multiplayer com muito mais facilidade, em praticamente qualquer lugar que se queira. São inegáveis pontos positivos, então a minha sugestão particular é que você leve em conta todos esses elementos antes de decidir em qual plataforma adquirir Young Souls.

Por fim, é preciso mencionar a bela adaptação ao português brasileiro por parte da equipe responsável. Confesso que, em alguns momentos, cheguei a me questionar se este não seria um título feito em nossas terras devido a esse aspecto e às piadas bem localizadas. Só, novamente, lembre-se de jogar com o filtro de palavrões ativado.

Jovens almas

Mais um digno representante da nova era de beat’em ups, Young Souls é um título divertido e que provavelmente agradará aos fãs do gênero. Apesar de seus protagonistas por vezes trilharem um caminho perigoso entre a ousadia e a chatice, e a adaptação para Switch não ser das melhores tecnicamente falando, aqui está uma carismática aventura com momentos de brilho, especialmente no modo multiplayer.

Prós

  • Visuais estilosos que lembram um desenho animado da década de 2000;
  • Jogabilidade que evoca clássicos do gênero;
  • Quatro níveis de dificuldade que promovem acessibilidade e desafio conforme o desejo do jogador;
  • Filtro de palavrões ameniza decisões extremamente questionáveis de roteiro;
  • Modo multiplayer local é capaz de proporcionar bons momentos;
  • Elogiável localização para o português brasileiro.

Contras

  • O carisma dos protagonistas é passível de questionamento;
  • Pouca variação de cenários e inimigos;
  • Baixa resolução no modo portátil do console e problemas na taxa de quadros prejudicam a experiência no Switch;
  • Ausência de multiplayer online.
Young Souls — Switch/PC/PS4/XBO/Stadia — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Thais Santos
Análise produzida com cópia digital cedida pela The Arcade Crew

é bacharel em Produção Cultural pela UFF e estudante de Comunicação Social pela FSMA. Na infância, ganhou um Super Nintendo dos pais e, desde então, nunca mais deixou o mundo dos games. Ainda sonha em ser um Mestre Pokémon.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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