Jogamos

Análise: Shredded Secrets (Switch) traz uma conversa que nem todos estão preparados para ter

O bullying é um problema que infelizmente existe cada vez mais na nossa sociedade, mas que precisa ser debatido com urgência.

shredded secrets switch

Se a adolescência já é um período difícil para muitos, para outros pode ser uma fase bastante cruel. É difícil falar de bullying, mas alguém precisa tocar nesse assunto. É difícil porque, acima de tudo, as pessoas têm dificuldade de enxergar maldade nas crianças, algo que existe e pode tornar o crescimento de muitos em uma experiência dolorosa.


Falo isso porque, infelizmente, convivi com bullying diário na escola por seis anos. Portanto, para mim, foi uma experiência um tanto quanto desafiadora — sobretudo no âmbito emocional — jogar Shredded Secrets, mas também foi um exercício necessário. Nem sempre é fácil enfrentarmos aquilo que nos diminui e machuca, porém é preciso falar sobre isso — e se precisamos começar por algum lugar, por que não um jogo de videogame?

“Todo dia é difícil quando sou eu”

Apesar de não ser o jogo mais brilhante em termos de jogabilidade, Shredded Secrets consegue focar no que é realmente importante: colocar em pauta como o bullying pode nos afetar no dia a dia. Para isso, somos apresentados a quatro personagens — Isabella, Oakley, Taylor e London — ao longo de 16 curtas fases divididas em quatro narrativas, cada qual com foco em um dos protagonistas. 

Isabella é apelidada a “nerd” da escola e é constante alvo de Oakley; o garoto, por sua vez, tem um motivo para agir como um valentão (bully); Taylor sofre constantes cobranças de seus pais em relação aos estudos; e por fim, London, uma das professoras da escola, precisa lidar diariamente com a depressão. Infelizmente, falar mais do que isso é entregar a narrativa por trás do jogo e, sem sombra de dúvida, o fator mais importante para o funcionamento de Shredded Secrets.

Enquanto a jogabilidade em si consiste simplesmente em chegar ao fim de cada fase com os personagens, a interpretação que eu tive foi a de “sobreviver a mais um dia”. Em certos pontos, temos contato com os pensamentos desses protagonistas, nos quais eles revelam um pouco mais sobre si e seu dia a dia. Alguns desses diálogos internos são, inclusive, dublados, dando ainda mais emoção aos relatos.


Em termos gerais, para a proposta do jogo, a simplicidade cumpre com seu papel. Mesmo com algumas mecânicas novas sendo adicionadas com o passar das fases, como lutas contra chefes ou a possibilidade de rebater insultos, arrisco dizer que a maior dificuldade de Shredded Secrets não está em chegar ao fim de cada uma delas, mas sim digerir os relatos dos personagens.

O jogo é relativamente curto, daqueles que podemos terminar em “uma sentada só”, porém isso se prova difícil quando vários aspectos acabam por nos atingir emocionalmente — e esse é o maior desafio do platformer em questão, algo que, inclusive, me fez dosar a jogatina. Assim como comentei na análise de A YEAR OF SPRINGS, a narrativa de Shredded Secrets também ressoa de maneiras diferentes dependendo da pessoa, dependendo do quão acostumada ela está com os temas abordados.

Infelizmente, dois pontos pesaram negativamente para mim: a falta de localização em português (brasileiro ou não) e a falta de suporte a um controle compatível com o Switch. O primeiro diz mais respeito à acessibilidade, dada a importância dos temas que o jogo traz e a necessidade de dialogar sobre eles, enquanto o segundo é mais uma questão de gosto (eu acho uma baita fonte de irritação desacoplar os Joy-Con para jogar no modo TV).

Em termos de jogabilidade, consigo afirmar que Shredded Secrets é um dos jogos mais estáveis que já experimentei no Switch, com comandos responsivos e nenhum tipo de imprevisto ou bug durante a jogatina. Como comentei, a simplicidade das fases e dos comandos não é prejudicial quando o importante está na mensagem que o jogo quer passar.

Quando precisar de ajuda, procure outras pessoas

Apesar de parecer raridade, existem pessoas que estão dispostas a nos ajudar nas situações mais difíceis. Sejam amigos que passam ou passaram pelo mesmo sufoco que nós, sejam adultos em quem confiamos, é importante dizermos o que sentimos e o que acontece conosco.

Shredded Secrets não é um jogo com foco em speedruns, jogabilidade complexa ou conquistas, mas sim no exercício da empatia a respeito de temas que não deveriam ser tratados como tabus, “frescura” ou simplesmente “brincadeirinhas de criança”.

Prós

  • Jogabilidade simples e acessível, com eventuais adições de mecânicas diferenciadas;
  • Ótima narrativa sobre a importância do exercício da empatia e excelente cartilha antibullying;
  • Jogabilidade fluida tanto no modo TV quanto no modo portátil do Switch.

Contras

  • Sem localização para outros idiomas, especialmente o português, limitando a acessibilidade como um todo;
  • Sem suporte a controles compatíveis com o Switch;
  • Curta duração (a depender do emocional do jogador) e sem fator de rejogabilidade.
Shredded Secrets — PC/Switch — Nota 9.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela LearnDistrict

Também conhecida como Lilac, é fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas. Icon por 0range0ceans
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


Disqus
Facebook
Google