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Análise: Nobody Saves the World (Switch) é divertido a ponto de se tornar uma obra-prima

Com uma temática centrada nas transfigurações de um protagonista carismático, esta aventura RPG é simplesmente imperdível.

Ao contrário das tramas que nos contam sobre heróis valentes que são capazes de acabar com o mal apenas com seus músculos e poderes, Nobody Saves the World é um jogo de ação estrelado por um legítimo Ninguém. Esse pobre protagonista, no entanto, está prestes a ter sua vida transformada quando encontra uma varinha mágica e recebe a tarefa de acabar com uma calamidade que assombra o mundo ao seu redor. Assim, inicia-se uma épica aventura com traços de RPG que é bastante memorável no Switch.

A hora de Ninguém brilhar

O universo de Nobody Saves the World está em perigo, dado que uma força maligna conhecida como Calamidade tomou forma. Isso fez com que as localizações começassem a sofrer com a aparição de incontáveis monstros, além de outros elementos sombrios que estão afetando a vida dos moradores. Estes, por sua vez, clamam pela ajuda de Nostramagus, um feiticeiro cujo poder seria capaz de resolver a situação facilmente. O problema, no entanto, é que esse lendário mago está desaparecido.

Entra em cena o Ninguém (Nobody), um ser pálido com traços humanos que, na primeira cutscene, está acordando nesta localização sem qualquer tipo de memória. Ao caminhar pelos arredores para entender a situação atual, ele prontamente recebe de alguns moradores a tarefa de visitar a casa de Nostramagus, justamente para saber se ele pode estar por lá. Dentro da residência, o protagonista não localiza o mago, mas encontra acidentalmente uma varinha mágica que mudará o rumo da história. 

Com ela, o Ninguém se torna capaz de se transformar em outras formas corpóreas, como um pequeno rato, um cavaleiro medieval, um arqueiro, um cavalo, uma tartaruga e por aí vai. Diante dessa poderosa habilidade, o personagem assume a responsabilidade de encontrar Nostramagus e acabar com a calamidade, dando início a uma criativa jornada que é fundamentada especialmente nestas capacidades de transfiguração.

Como se transformar em alguém

Em sua essência, Nobody Saves the World é um jogo de ação com perspectiva top-down. A partir de um mapa de mundo aberto, os jogadores devem explorar dungeons em busca de elementos que são necessários para o desenvolvimento da história, como estrelas de poder e gemas preciosas. Dentro desses espaços, que são segmentados por diversos andares gerados proceduralmente, precisamos resolver pequenos quebra-cabeças, encontrar chaves e, sobretudo, exterminar inimigos em batalhas que costumam envolver muitos participantes.

Quando está em sua forma natural, o Ninguém não dispõe de ataques com poderes efetivos; porém, com a magia da varinha de condão, ele consegue realizar transformações que mudam o panorama. A primeira a ser desbloqueada é a de um pequeno rato azul, que consegue acessar caminhos estreitos no mapa. Em termos de combate, o roedor é capaz de abocanhar os inimigos e envenená-los com diferentes tipos de golpes físicos.

Dentro desse conceito de classe, nós temos a disponibilização de pequenas missões que nos permitem acumular pontos de experiência para subir de nível. Assim, além de acrescer valores de nossos status, esse mecanismo também se relaciona com outro fator crucial da aventura: a possibilidade de desbloquear novas metamorfoses, cada qual dispondo de habilidades únicas e fundamentais para avançar na trama. 

Quando atingimos o ranking D de nossa forma de rato, por exemplo, passamos a ter acesso à classe de guerreiro espadachim. Esta, por sua vez, também poderá render novos formatos na medida em que completamos novas quests secundárias, que geralmente envolvem quebrar objetos, executar certos ataques ou derrotar inimigos.

Um acréscimo interessante para essa mecânica é o fato de que podemos misturar as diferentes habilidades das classes; ou seja, dá para criar formas personalizadas de acordo com nossos desejos. Assim, temos um sistema de progressão criativo e funcional, que integra parte da jogabilidade de maneira agradável. 

Em termos gerais, é interessante perceber como a aventura demonstra uma qualidade refinada ao contar com fluidez, intensidade e bons desafios no estilo top-down. Em certos momentos, ela até faz lembrar de jogos bidimensionais que marcaram época no passado, como The Legend of Zelda: A Link to the Past, do Super Nintendo. Entretanto, uma diferença é bem perceptível: a estética moderna e viva que é apresentada no título do Switch.

Um universo atraente com pitadas de humor

Nobody Saves the World oferece uma experiência agradável, e boa parte disso se deve, claro, aos méritos de jogabilidade que foram mencionados até agora. Mas essa característica também é reforçada por outras escolhas do jogo, como as estéticas. Dispondo de um mundo extremamente colorido, a aventura pode facilmente ser confundida com uma obra de arte.

Do design dos personagens até os traços das animações encontradas nas cutscenes, tudo é cuidadosamente desenhado pelos produtores, com um estilo singular e fascinante. Ainda por cima, a trilha sonora do jogo alegra ao trazer temas épicos, mas sem deixar de lado efeitos peculiares que se relacionam com o humor inusitado da obra. 

Além das recorrentes piadas nos diálogos, as situações contam com bizarrices que são divertidas de se assistir, e muitas delas se relacionam com a questão do nosso protagonista ser um pobre ninguém. Assim, o jogo da DrinkBox Studios é engraçado ao natural, uma qualidade que também se mostra presente em outras franquias da desenvolvedora, como Guacamelee!.

Eis que tudo isso colabora para que a jornada seja grandiosa, inclusive em termos de horas de gameplay. A campanha principal, por exemplo, pode chegar perto de 15 horas de duração, enquanto a presença de coletáveis é capaz de aumentar esse número consideravelmente. E claro, uma das atrações extras da aventura está na presença de modo co-op local e online. Assim, se aventurar com os amigos expande as possibilidades de gameplay, rendendo momentos divertidos que combinam muito bem com as propostas do jogo.

Há algo que poderia comprometer a jornada?

Tratando-se dos potenciais problemas de Nobody Saves the World, tentarei ser breve, pois não creio que haja algo significativamente comprometedor. Em termos de desempenho gráfico, por exemplo, o jogo não exibe falhas e tem uma performance plena no Switch, inclusive se mostrando apropriado para os padrões do modo portátil.

Porém, há um fator relativo à jogabilidade que pode sim ser identificado como um problema. Acontece que as necessidades de liberar novas metamorfoses eventualmente implicam em trechos repetitivos de grind. Por mais que as sidequests propostas consigam dar uma diversificada, pude notar que a jogatina sofre com instantes em que temos de ficar concentrados em objetivos secundários maçantes, como derrotar centenas de criaturas ou executar o mesmo ataque várias vezes.

Enquanto isso, houve um outro quesito que, em um primeiro momento, aparentava ser um defeito: a falta de elementos narrativos inéditos ou, pelo menos, mais singulares dentro da trama. Afinal, entre calamidades, castelos, reis e dungeons, não temos nada de muito diferente de outros jogos que vemos por aí, como a própria franquia Zelda. 

Entretanto, mediante o progresso, deu para perceber que o jogo faz uso desses lugares-comuns justamente para efetivar seu humor apurado. Por exemplo, os jogadores podem esperar por diversas piadas envolvendo os conceitos de jornada do herói, além de personagens satirizados e particularidades que se relacionam com a ideia de se aventurar na pele de um verdadeiro Ninguém. E pode acreditar: tudo isso é divertido o bastante para nos manter envolvidos, não se configurando, portanto, como uma falha de enredo.

Transformando-se instantaneamente em um clássico

Cativante e criativo, Nobody Saves the World é um lançamento que vale muito a pena experimentar. Suas principais qualidades ficam por conta de sua intensa jogabilidade e das possíveis transformações e combinações do protagonista. No entanto, podemos muito bem dizer que seu charme estético e seu tom humorístico não ficam para trás na hora de brilhar. Assim, incorporar o querido Ninguém se apresenta como um bom passatempo no Switch, com momentos imperdíveis para os fãs de aventuras RPG no estilo top-down.

Prós

  • A habilidade de transformação do protagonista é muito divertida;
  • Jogabilidade intensa e envolvente;
  • Progressão RPG diversificada, com um vasto sistema de opções e combinações;
  • A estética se destaca graças aos visuais vivos e às animadas canções;
  • Humor apurado, personagens singulares e situações engraçadas;
  • Presença de coletáveis e modo co-op.  

Contras

  • A necessidade de grind pode trazer ares de repetitividade em certos momentos. 
Nobody Saves the World — Switch/PS4/PS5/XBO/XSX/PC — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela DrinkBox Studios

Jornalista, colaborador no Nintendo Blast e doutorando em Comunicação Social.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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