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Análise: DoDonPachi Resurrection traz ao Switch um excelente exemplar dos shoot’em ups

O clássico da CAVE é um belo exemplo de bullet hell.

Quando se pensa nos tradicionais jogos de navinhas conhecidos como shoot’em ups e mais especificamente na sua variante mais complexa, os bullet hells, é impossível não pensar na CAVE. A desenvolvedora é extremamente relevante nesse campo, tendo produzido títulos de alta qualidade durante quase duas décadas para os arcades japoneses. Ela chegou até mesmo a ganhar um recorde do Guinness por ter feito 48 jogos do gênero entre 1995 e 2010.

Um desses vários títulos da desenvolvedora é DoDonPachi Resurrection, que chegou ao Switch em novembro de 2021 graças à publicadora Live Wire. O pacote inclui várias versões do jogo, explorando a longa história de revisões do jogo para arcades e consoles e oferecendo um pacote completo para fãs do gênero.

Tiros para todos os lados

Em DoDonPachi Resurrection, é necessário enfrentar naves que atiram uma verdadeira chuva de balas contra o jogador, então lidar com as ondas incessantes de inimigos implica em um controle preciso do seu posicionamento. Há um pequeno círculo de energia no centro da nave que representa a sua hit box, ou seja, a área que pode ser atingida pelos golpes inimigos. Seu pequeno tamanho permite evitar balas com bastante precisão, mas é algo bem mais difícil do que pode parecer a princípio.

São muitos inimigos na tela, incluindo naves de portes variados, tanques e, em um dado momento, subchefes e chefes. Chama a atenção que os inimigos mais poderosos têm múltiplas fases e, em certas ocasiões, assumem formas humanoides femininas, um detalhe relacionado à história pouco detalhada do jogo. 

Em termos da dificuldade, é possível alterar no menu individual de cada versão do jogo e há também a versão Novice, que é bem mais fácil que as outras. Desconsiderando a Novice, o padrão de todas as outras opções é que os inimigos sempre liberem várias balas na tela antes de morrer. Dessa forma, mesmo conseguir lidar rapidamente com as ameaças não é o suficiente para passar tranquilamente pelas áreas, sendo necessário ter bons reflexos para lidar com todas as circunstâncias.

É uma experiência que está na essência de qualquer bullet hell: inicialmente encarar uma fase, manobrando por entre os ataques inimigos, e depois repetir isso para aprender os padrões. Com tempo e esforço, o jogador vai lidando cada vez melhor com as áreas. Vale destacar que DoDonPachi Resurrection permite ao jogador usar saves ilimitados, então mesmo com pouca habilidade, sempre é possível ir até o fim para só depois tentar novamente.

Visualmente falando, todas as versões do jogo utilizam sprites 2D tanto para cenários (visões aéreas de localidades que vão de florestas a bases militares) quanto para inimigos e balas. Há uma boa variedade de inimigos e formatos de tiros diferentes, gerando explosões deslumbrantes na tela. Além do apelo estético, com padrões que lembram fogos de artifício, há também um uso de cores útil para distinguir as balas comuns dos lasers que podem receber counter.

Em termos de movimentação básica, além de ir para frente, para trás e para ambos os lados, existem dois tipos de ataque. Na configuração padrão, é possível usar ZR para lançar tiros que se espalham horizontalmente pela tela, enquanto B libera lasers ideais para se defender contra alguns ataques. Dependendo da nave, será possível usar bombas automaticamente ou apertando um botão, alternar entre padrões mais concentrados ou mais espalhados de tiro e até mesmo ampliar a força dos lasers e tiro ativando um “hyper”.

Explorando um legado

Um dos detalhes que mais chamam a atenção em DoDonPachi Resurrection é a presença de várias versões do mesmo jogo. São, ao todo, oito opções, cada uma contando com variações de balanceamento, rearranjos dos posicionamentos dos inimigos, métodos de pontuação e outras especificidades. Todas elas são mostradas em um menu inicial com direito a capas especiais, leaderboards e modos Training e Score Attack individualizados para cada edição.

Essas versões fizeram parte do histórico de relançamentos do jogo, indo da edição 1.5 de arcade à Black Label, que conta com ainda mais desafio ao implementar o sistema Retsudo, uma barra que enche ao passar muito próximo das balas. Esse sistema aumenta o risco para o jogador ao mesmo tempo em que oferece como recompensa um poderoso ataque que pode eliminar tudo que está na tela.

Em termos dessas variações do jogo, vale destacar que algumas delas incluem naves de outros jogos. A Arrange A apresenta uma nave de DoDonPachi DaiOuJou, enquanto a versão Arrange de Black Label permite ao jogador utilizar a Tiger Schwert de Ketsui. Cada nave tem seu próprio padrão de ataque e um detalhe curioso é que os elementos visuais da fase, como os itens que aumentam a pontuação, também sofrem revisões para referenciar esses outros jogos.

Entre as opções, temos também uma edição Novice que reduz consideravelmente a dificuldade com padrões de ataques mais simples. Porém, caso o jogador queira treinar para as dificuldades mais altas, também há a opção de Training, que permite jogar só trechos das áreas e se aperfeiçoar neles. A customização é bem detalhada, sendo possível definir aspectos como quantidade de bombas, se elas serão utilizadas automaticamente ou não, etc.

Uma míriade de opções

Além da questão das várias edições do jogo, há diversas opções para customizar a experiência. No aspecto visual, é possível ajustar a proporção da imagem, rotacionar e até dar zoom nela. Por padrão, por se tratar de um shoot’em up vertical, ele só ocupa uma parte da tela, sendo utilizado um papel de parede customizável nas bordas. Além de escolher o fundo ideal, o jogador pode até mesmo permitir que a imagem troque em intervalos personalizados, mas,  caso prefira, também é possível colocar janelas adicionais, assim como mostrar o input e a pontuação nas bordas da tela.

Em termos de som, é possível ajustar o volume da trilha sonora, dos efeitos e das vozes (usualmente associadas aos chefes). Os controles também são customizáveis e é possível jogar com um aliado localmente, cada um usando um Joy-Con. Essas configurações, assim como alguns dos padrões visuais, são atreladas à versão do jogo que foi selecionada, o que pode ser um retrabalho inconveniente, mas permite manter formatos diferentes de jogo se isso for desejado.

Na minha experiência, achei bem interessante poder rotacionar a tela e dar zoom, fazendo com que o Switch se tornasse uma tela vertical para o jogo. Todo esse nível de customização da experiência é muito bem-vindo, dando ao jogador a sensação de realmente ter total controle de um arcade portátil personalizado.

Um clássico bem ressuscitado

DoDonPachi Resurrection é um clássico dos shoot’em ups e os fãs do gênero definitivamente vão apreciar conhecer mais a fundo o seu histórico de revisões. Apesar das variações muito técnicas não terem tanto valor para jogadores mais casuais, é um pacote robusto e que chama a atenção.

Prós

  • Gameplay de shoot’em up bem executado que valoriza o esforço do jogador em dominar as mecânicas e métodos de pontuação;
  • Grande variedade de opções de jogo permite conhecer a fundo as experiências propostas por suas várias revisões;
  • Variedade de configurações permitem customizar a experiência de forma exemplar.

Contras

  • As variações entre as versões e naves são muito técnicas, não apresentando tanto valor de diferenciação para jogadores mais casuais.

DoDonPachi Resurrection — Switch/PC/X360/iOS — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: Switch

Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Live Wire


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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