Entrevista

npckc fala sobre A YEAR OF SPRINGS e representatividade LGBTQIAP+ no Switch

Confira esta entrevista especial para comemorar o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAP+.

Capa com as personagens do jogo de A YEAR OF SPRINGS, de npckc, e uma faixa com o texto "npckc fala sobre A YEAR OF SPRINGS e representatividade LGBTQIAP+ no Switch"

Em 28 de junho, é comemorado o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAP+, uma data cujo objetivo principal é trazer conscientização sobre a população LGBTQIAP+, comumente estigmatizada, a fim de promover sua visibilidade. Como matéria especial para uma celebração importante, tive a oportunidade de entrevistar npckc (kc), responsável pela criação de A YEAR OF SPRINGS, para saber um pouco mais sobre suas ideias e motivações para a criação de games.


Nintendo Blast: Vi em seu site que você mora no Japão e cria jogos independentemente, mas você poderia nos contar um pouco mais sobre você?

npckc (kc): Foco mais em jogos cujo ponto principal é a história, na maioria das vezes, visual novels, mas também crio TTRPGs e jogos físicos.

Ah, também faço traduções! Você pode conhecer mais do meu trabalho no meu site.

NB: Você acha desafiador criar jogos independentemente? De onde vêm suas ideias?

kc: Normalmente, minhas ideias vêm do meu dia a dia. Tenho uma lista de ideias para jogos que eu quero colocar em prática assim que possível e eu sempre as consulto quando quero criar algo novo. Para jogos pequenos de Game Jams, geralmente confiro o tema antes e penso em algo a partir daí.


NB: Como estamos no Mês do Orgulho LGBTQIAP+, quero lhe fazer algumas perguntas sobre A YEAR OF SPRINGS. Tive a oportunidade de analisar o jogo para o Nintendo Blast e preciso dizer que ele me fez perceber várias coisas que eu não conhecia tanto. Você pode nos contar mais sobre esse jogo incrível?

kc: Esta é uma pergunta muito ampla, então não sei por onde começar. Como uma resposta do tipo "foi assim que o jogo surgiu", eu primeiro fiz o jogo one night, hot springs, em 2018, e acabou que criei mais dois jogos para a série depois.

NB: Na minha análise, eu disse que o jogo deve ser jogado por todas as pessoas, porque ele é muito educacional a respeito dos problemas da comunidade LGBTQIAP+ em nossa sociedade. Você pode nos explicar por que, especificamente, criar um jogo com essa temática?

kc: Fiz o primeiro jogo devido a algo que foi veiculado nas mídias. Não quero entrar em muitos detalhes, mas, em termos gerais, alguém em uma casa de banho chamou a polícia porque achou que uma das pessoas estava no banho que não condizia com seu gênero.

Lembro que estava vendo comentários sobre esse caso na época e fiquei me perguntando por que aquela pessoa se identifica com aquele gênero e criei o jogo sob essa perspectiva.

Screenshot do jogo A YEAR OF SPRINGS, na qual há um diálogo de Haru com Erika

NB: A história de Haru me tocou profundamente, especialmente por ilustrar problemas relacionados a pessoas trans sobre os quais também ouço muito no Brasil. Perdoe-me por minha ignorância, mas você poderia nos contar como a sociedade japonesa lida com esse tipo de assunto?

kc: Não acho que seja uma boa ideia entrar neste tipo de assunto porque elas tendem a não expressar por completo a realidade das pessoas que vivem em tal país. Por vezes, vejo nas mídias comentários que país A faz sobre país B, como se este se resumisse apenas àquilo [os comentários], quando na verdade há diversas facetas que não podem ser explicadas em uma única frase.

Se alguém tiver interesse sobre a vida de pessoas trans no Japão, recomendo os sites trans101.jp (em japonês) e o guia Stonewall Japan (em inglês).

NB: Como uma mulher arromântica, consigo me relacionar bastante com a história de Minami. Há alguma razão por trás da adição de uma personagem arromântica no jogo?

kc: Também me considero uma pessoa arromântica e eu queria fazer um jogo com um personagem como eu. Também queria mostrar a realidade de pessoas queer que vivem e estão "por perto".

Comumente ouço pessoas comentando que não conhecem alguém gay, trans ou assexual, mas honestamente, acredito que isso raramente seja verdade. Acontece que muitas pessoas não se enquadram na imagem de "pessoa queer" que os outros imaginam. Muitos de nós estamos apenas vivendo nossas vidas e tentando ser felizes, e Minami é um exemplo disso.


NB: No geral, A YEAR OF SPRINGS teve análises muito positivas, e não tenho vergonha de dizer que foi o primeiro jogo que conseguiu nota máxima (10/10) de mim. Você esperava que ele fosse ser tão bem-recebido pelos jogadores?

kc: Na verdade, não, com toda honestidade. Não achava que as pessoas iriam se identificar tanto com o jogo, porque é uma experiência muito específica… Mas estou muito feliz por diversas pessoas terem jogado e se conectado com essa experiência também.

NB: Você acha que o Nintendo Switch precisa de mais jogos pró-diversidade? Por quê?

kc: Eu acho que jogos, no geral, independentemente da plataforma, poderiam ter mais diversidade. É muito legal ver um personagem com o qual você possa se identificar.

Acima de tudo, eu gostaria de ver mais jogos feitos por pessoas queer. Diversidade em um jogo é ótimo, mas é ainda melhor quando os próprios criadores são diferentes, porque as pessoas conseguem contar suas próprias histórias.

Screenshot do jogo A YEAR OF SPRINGS, na qual a personagem Erika conversa via telefone com a personagem Haru

NB: Você planeja fazer mais jogos LGBTQIAP+ no futuro?

kc: Já estou fazendo isso! Ser queer é parte da minha experiência e eu quero criar jogos sobre o que eu sei e conheço.

NB: Para terminar esta entrevista, tem algo mais que você gostaria de nos dizer ou compartilhar conosco?

kc: Em agosto, vou lançar um jogo um pouco diferente de A YEAR OF SPRINGS, mas se você gostar de jogos de terror, por favor, confira a pet shop after dark! Uma demo já está disponível no Steam e você pode jogá-la agora mesmo!

Screenshot de a pet shop after dark, novo jogo de npck

Por mais que junho seja considerado o Mês do Orgulho LGBTQIAP+, a nossa luta é diária. Precisamos nos fazer presentes na sociedade e lutar contra os preconceitos e mitos que nos circundam, e recomendar A YEAR OF SPRINGS pode ser uma boa alternativa para que as outras pessoas entendam os problemas enfrentados pela comunidade queer.

E se você curtiu a entrevista com npckc, você pode acompanhar seus trabalhos por meio de seu site e seu perfil no Twitter. Feliz Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAP+!

Revisão: Thais Santos
Capa: Gabriela Perpétua Santana da Silva

Também conhecida como Lilac, é fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas. Icon por 0range0ceans
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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