Jogamos

Análise: Cloud Gardens (Switch) agrada com a incrível arte da jardinagem em ambientes distópicos

Use os analógicos dos Joy-Con para cultivar suas próprias plantas neste relaxante simulador botânico.

Com modos de jogo que variam de pequenas fases de puzzle a zonas abertas onde podemos plantar com toda nossa criatividade, Cloud Gardens é um simples e agradável simulador de jardinagem. Além de trazer uma bela execução conceitual, o título é capaz de criar ambiências profundas por meio de uma sonoridade pacata e gráficos aconchegantes, formando localidades distópicas que são cheias de charme. Assim, mesmo deixando a desejar em algumas características, como na pouca variedade de objetivos e no escasso uso da tela de toque do Switch, o jogo encanta com ares estratégicos que conseguem ser relaxantes e envolventes ao mesmo tempo. 

Arquitetura, urbanismo e muita plantação

Antes de mais nada, é preciso deixar claro que Cloud Gardens é um título livre de qualquer tipo de história ou trama, pois, logo ao abrirmos o aplicativo, prontamente entramos no primeiro estágio da campanha, caracterizado por áreas de concreto e pequenos pedaços de terra arrasada. A partir de então, somos apresentados aos principais elementos do jogo, os quais literalmente brotam na tela: as plantas e as suas sementes.

Diante de uma visão isométrica, nosso objetivo é fazer com que este ambiente fique coberto por vegetação a partir da distribuição de uma quantidade limitada de sementes que recebemos. Assim, após espalharmos os grãos, ganhamos a capacidade de adicionar e movimentar certos objetos aleatórios ao longo do estágio, como garrafas, pneus, bicicletas, placas e até mesmo carros. 

O posicionamento desses elementos se tornará uma tarefa crucial à medida  que eles incentivam o crescimento das plantas: cada objeto conta com um certa área de alcance, permitindo que os vegetais possam desenvolver suas vinhas e folhas ao seu redor. De fato, é por meio desse recurso que Cloud Gardens irá adquirir traços estratégicos, uma vez que podemos liberar novos estágios da campanha principal à medida que somos bem sucedidos nestes pequenos puzzles de preenchimento.

Diante disso, temos desafios que exigem cuidado, pois, além da quantidade de objetos ser limitada, esses elementos também podem destruir as vegetações caso sejam posicionados inadequadamente nos dioramas. Para complementar essa demanda estratégica, é interessante notar que há uma vasta variedade de espécies botânicas, que são liberadas de acordo com o progresso na campanha. Esses tipos de vegetais, por sua vez, aumentam a diversidade dos desafios táticos, uma vez que eles apresentam características singulares, como o fato de que algumas plantas só florescem quando são introduzidas na grama, enquanto outras nascem em postes, vigas suspensas e até mesmo no concreto.
 
Em termos gerais, o jogo dispõe de uma jogabilidade efetiva e fácil de se aprender, com ações que são simples em sua maioria, envolvendo o próprio plantio das sementes, a colheita de novos grãos, o posicionamento dos objetos e a rotação dos cenários no formato diorama, algo crucial na hora de se identificar táticas mais efetivas para tomar conta dos espaços. Entre os elementos mais divertidos da jogatina, destaque para a capacidade de utilizar duas ferramentas agrícolas para lá de singulares: a motosserra, que destrói vegetações indesejadas, e um grande aspirador de pó, capaz de colher múltiplas sementes simultaneamente, o que facilita nossa vida quando as colheitas estão mais intensas.

Desse modo, os pequenos estágios no estilo quebra-cabeça oferecem uma campanha agradável que dispõe de aproximadamente 100 fases, todas distribuídas em seis tipos diferentes de ecossistemas. Aqui, cabe dizer que, apesar de eles apresentarem variações estéticas, todos são essencialmente distópicos e pós-apocalípticos. Mas não se preocupe: eles melhoram de aparência conforme aplicamos a incrível arte da jardinagem ornamental, algo que figura enquanto uma das qualidades mais satisfatórias e prazerosas do título.

Espaços aconchegantes para soltar a criatividade

Além de sua campanha principal, Cloud Gardens dispõe de outras proezas estruturais que merecem ser mencionadas. Uma delas está na existência de um formato de jogatina chamado Modo Criativo. Nele, somos capazes de desempenhar não apenas o papel de jardineiro, mas também o de arquiteto, construindo estruturas, terrenos e cenários onde poderemos plantar com muita liberdade quando estiverem prontos.

Dentro desse conceito, é legal perceber como o jogo faz uma conexão entre os seus dois modos: conforme avançamos na campanha, ganhamos novos estilos de objetos para serem usados no Modo Criativo. Assim, esse formato de gameplay é uma adição frutífera e divertida, especialmente para quem gosta de jogatinas descompromissadas.

Enquanto isso, outra qualidade de Cloud Gardens está em sua capacidade de formar ambiências. Isso ocorre à medida que o título conta com um visual pixel art muito elegante, capaz de projetar cenários pós-apocalípticos que se tornarão aconchegantes com os nossos cuidados. Ainda por cima, nota-se que os elementos sonoros contribuem na imersão, aplicando detalhes minimalistas aos estágios e dando ritmos de tensão para os desafios propostos.

Será, portanto, através desses conceitos que o jogo irá alcançar altos índices de agradabilidade, apresentando uma quantidade considerável de conteúdo quando somamos os seus estágios da campanha com os momentos experimentais no Modo Criativo. Entretanto, é preciso admitir que nada disso livra o título de alguns breves problemas, os quais aparecem como pequenas pragas agrícolas capazes de danificar alguns detalhes de suas plantações pixeladas.

Detalhes que poderiam melhorar o plantio

Logo nos primeiros instantes de jogatina, confesso que senti uma frustração diante do pouco uso da tela do toque do Switch. No geral, esse desapontamento surgiu porque o recurso se mostra bastante promissor para a proposta do jogo, uma vez que ele poderia desempenhar o papel de um mouse e facilitar atividades como a de posicionar as sementes, girar os objetos e mudar a perspectiva dos dioramas. Infelizmente, nada disso ocorre e a touchscreen só é acionada em raras ocasiões, entre elas na hora de trocar de fase e de selecionar opções em certos diálogos. Ou seja, ela acaba não sendo utilizada nos momentos de gameplay em si, o que é uma pena.

À vista disso, a jogabilidade também acaba sofrendo com certos movimentos que não são tão fáceis de se fazer apenas com os analógicos do Joy-Con, principalmente quando se trata de rotacionar os estágios e de aproximar a visão de certos trechos. Assim, ficamos sujeitos a equívocos durante ações básicas, fazendo com que sementes eventualmente sejam plantadas em locais indesejados ou que objetos caiam e destruam as vegetações. Apesar de haver um botão para desfazer nossas ações, tudo isso que foi mencionado pode deixar a gameplay mais penosa e gradualmente cansativa, o que aumenta muito em função da pouca variedade de tarefas e objetivos ao longo da jornada.

Outro detalhe que também demonstra ares de repetitividade passa pelo fato de que, após o término da campanha, não nos resta nada além do Modo Criativo. Apesar de a opção contar com uma diversão característica, às vezes ela não se apresenta de maneira fundamentada e pode não ser o suficiente para jogadores de certos estilos. Em parte, isso ocorre porque há poucos incentivos extras, como missões ou achievements, os quais poderiam incrementar a experiência e evitar certo tédio para quem não se identifica com a proposta de criação livre.

Todavia, cabe dizer que esse não foi o meu caso, muito pelo contrário: foi justamente essa pluralidade de gameplay que me surpreendeu positivamente, uma vez que eu não estava esperando tanto de um jogo sobre jardinagem. Essa característica, ao lado de tantos outros conceitos bem implementados, me fizeram ter bons momentos na companhia das diversas espécies de plantas e das engenhosas ferramentas botânicas e ornamentais.

Fértil em ideias, elegante em estilo

Com uma essência inventiva, Cloud Gardens carrega muitas proezas por meio da incrível arte da jardinagem em terrenos distópicos. Enquanto sua estética é deveras aconchegante, os seus conceitos de cultivo geram um jogo de puzzle relaxante e divertido, apresentando uma extensão significativa que pode se tornar ainda maior para aqueles que se interessarem pelas propostas do Modo Criativo. Desse modo, há um detalhe que não se pode negar: assim como os solos disponibilizados nas estruturas abandonadas de seus estágios, o título também é muito fértil em ideias e está repleto de qualidades frutíferas.

Prós

  • Assumir o papel de jardineiro é uma tarefa muito relaxante;
  • Mais de 100 fases com desafios de puzzle instigantes;
  • Boa variedade de sementes, objetos e elementos de construção;
  • O Modo Criativo diverte ao conceder muita liberdade;
  • A estética é aconchegante e cria ambiências interessantes.

Contras

  • O jogo faz pouco uso da tela de toque do Switch, um recurso que parecia promissor;
  • Certas ações, como distribuir objetos e rotacionar o ângulo da câmera, podem ser desconfortáveis nos analógicos do Joy-Con;
  • A campanha corre o risco de se tornar repetitiva por conta da pouca variedade de objetivos;
  • Falta de incentivos para a exploração do Modo Criativo.
Cloud Gardens — Switch/XBO/XSX/PC — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Coatsink

Jornalista, colaborador no Nintendo Blast e doutorando em Comunicação Social.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


Disqus
Facebook
Google