Entrevista

Fire Emblem: Three Houses/Three Hopes (Switch): Entrevistamos Dorothy Fahn, a voz de Mercedes

Em um bate-papo descontraído, Dorothy comentou sobre seu trabalho como dubladora e algumas coisinhas mais.



Mercedes é uma das personagens mais queridas de Fire Emblem: Three Houses — e, ao menos para mim, a minha “waifu” em todas as rotas do jogo. Agora, a “mãezona” da Blue Lions está de volta em Fire Emblem Warriors: Three Hopes, mas você sabia que Dorothy Fahn, a dubladora de Mercedes, já tinha atuado em Fire Emblem antes?

Muito receptiva e simpática, Dorothy, que mora em Los Angeles, na Califórnia, também tirou um tempinho para comentar sobre a diferença entre dublagem e narração, algo que as pessoas tendem a confundir às vezes. Diferentemente deste último, em que existe um roteiro pronto que é narrado pelas pessoas presentes no set, a dublagem requer maior dedicação por parte dos profissionais.

A dubladora me explicou que o processo de dublagem requer saber conciliar o movimento dos lábios dos personagens que estão sendo dublados e também o momento certo para dizer cada palavra. “É uma habilidade que você precisa aprender, saber como atuar enquanto tenta respeitar esse timing e coincidir as palavras com o movimento labial”.

Começamos a entrevista falando sobre Rinea, de Fire Emblem Echoes: Shadows of Valentia (3DS), a primeira personagem da franquia dublada por Fahn. “Como personagem, ela parecia bastante insegura, mas muito doce. [Ela] também parecia muito centrada em si mesma, sabe, quando você se relaciona com as outras pessoas? Dá para ver quão incerta e insegura ela é em seu primeiro encontro com Berkut.”

Cortesia de Dorothy Fahn

Nintendo Blast: O que mais você pode nos dizer sobre Rinea?

Dorothy Fahn: Foi divertido interpretá-la. Eu não a acho parecida com Mercedes, mas ela é uma ótima personagem. Amei o aspecto romântico dela, o relacionamento que [Rinea] tinha com Berkut… Um romance bonito, mas que teve um fim trágico, deu muito errado.

Com esse gancho, perguntei a ela sobre como foi o processo de dublagem, se ela já tinha informações sobre o papel em que ia atuar. “Quando você vai à sessão [de dublagem], eles não falam o que está acontecendo. Não temos tempo para isso, é basicamente ‘então, este é o jogo, esta é a personagem, ela é assim e assado’. Esse é o tipo de resumo que eles nos passam.”

NB: Então você não tinha ideia do que ia acontecer com Rinea?

DF:  Às vezes, a gente grava por até quatro horas seguidas. Quando cheguei nessa parte específica do jogo, eu fiquei “minha nossa, coisas estão acontecendo! Era pra ser isso mesmo?”. Foi interessante [como um todo] o modo como as coisas se desenrolaram entre Rinea e Berkut. Mas, minha nossa, essa cena me marcou totalmente.

Fahn complementou que ela tem um enorme carinho por Shadows of Valentia, não apenas pela personagem que dublou. “Todos fizeram um ótimo trabalho. [Mas] teve essa coisa de interagir com os outros personagens ao longo do jogo, então isso ajudou a construir a relação [entre Berkut e Rinea].


NB: Pode nos falar um pouco sobre Mercedes? Quando eu a vi [em Three Houses], eu pensei “Nossa, preciso jogar com ela!”. Foi amor à primeira vista.

DF: Quando me falaram sobre ela, tudo o que me foi passado foi que ela é muito religiosa e carinhosa, como se fosse uma mãe mesmo. Mas achar a voz para ela… Eles queriam que eu desse esse tom mais leve que incorporasse essa espiritualidade, que é tão importante na vida dela.

Contudo, achar o tom de voz ideal para Mercedes não foi uma tarefa fácil. Dorothy me contou que esse tipo de tom é difícil de manter durante longas sessões, principalmente em diálogos grandes. “Você fica sem fôlego rápido, porque você coloca um ar extra na voz, então tive que regravar [algumas cenas] várias vezes. Eu respirava fundo e tentava de novo, mas eles gostaram do resultado, acharam que combinou com a personagem.”

NB: E quais foram suas impressões sobre a Mercedes?

DF: Eu gostei muito de interpretá-la. Ela é tão pura, tão altruísta, mas tem esses pequenos momentos “sarcásticos” que, claro, foram divertidos também. Foi ótimo colocar essa leveza e espiritualidade na voz dela.

Quem jogou Three Houses sabe que Mercedes também é muito desastrada e, por vezes, esquecida, a ponto de não lembrar de vestir o uniforme para ir à aula. “Eu não sabia o que estava acontecendo até chegarmos nesse diálogo. É, aparentemente ela é meio esquecida, mas a doçura dela compensa isso.”

NB: E quanto ao fato de Mercedes gostar de histórias de terror?

DF: Não é ótimo quando as pessoas têm esse lado “estranho” delas? Eu sou uma dubladora, faço isso e aquilo, dou voz a inúmeros personagens em jogos e animações, mas também sou uma grande fã de Star Trek. É um lado meu totalmente sci-fi, nem todo mundo sabe disso.

Dorothy não se lembra de um diálogo específico de Mercedes em Three Houses, mas disse que gostou muito de atuar nos momentos mais “sarcásticos” da personagem, até porque é um ótimo contraste com a personalidade dela.

NB: Como foi dublar a Mercedes em Three Hopes, que é um jogo de ação?

DF: Foi bem similar [a dublá-la em Three Houses], como se fosse uma continuação mais intensa de combates e a Mercedes está lá no meio. Foi interessante [fazer a Mercedes em Three Hopes] porque ela é uma personagem doce, então tive que adaptar essa suavidade da voz ao calor da batalha, assim como fiz com a Sonia Blanche, em Shining Resonance Refrain.


Dado que o processo de dublagem requer que o dublador saiba atuar conforme o que está acontecendo naquele momento, seja uma animação ou um jogo, quis saber a reação que Dorothy teve em dois momentos bem específicos de Three Houses.

NB: Durante o período de guerra em Three Houses, se você recrutar Mercedes para a Black Eagles, há um momento em que lutamos contra Annette. Elas são como irmãs, mas têm que se enfrentar de repente.

DF: Foi bem difícil, mas interessante. Quando fui gravar essa parte [do jogo], eu fiquei “Eu vou ter que lutar contra a Annette? Tenho mesmo que fazer isso?” e ele [o diretor de dublagem] respondeu que sim, que é o jogo.

Minha nossa, acho que eu me senti como a Mercedes naquele momento, sabendo que eu teria que enfrentar a Annette. É algo errado, muito errado, uma coisa que não deveria acontecer, mas eu não posso mudar isso. (risos)

NB: Na rota da Blue Lions, tem aquela cena em que a Mercedes tem determinado personagem em seus braços…

DF: Aquela é uma cena bastante emocionante. Não vou dar spoilers, então não vou falar muito a respeito, mas ele é um personagem bem trágico. Você sabe pelo que os dois passaram e que a Mercedes o ama muito, mas é. Foi muito, muito triste.


É claro que não podíamos deixar de falar sobre Nintendo e videogames. “OK, sobre mim e videogames, eu sou péssima, péssima, péssima em jogos, não tem nem graça. Eu simplesmente não consigo jogar, tipo, esquece. Eu consigo dublar personagens em jogos, OK, mas não tenho habilidade alguma para isso. Tipo, na casa do meu cunhado a gente costuma jogar o Wii Sports, é o único jogo em que sou 'semi-boa', além de Miss Pac-Man. (risos)”

Dorothy também atuou em Danganronpa: Trigger Happy Havoc e Danganronpa V3: Killing Harmony. “Lembra quando eu falei da Rinea? Aconteceu o mesmo quando dublei a Tsumugi. Tivemos quatro horas de gravação seguidas e na terceira sessão eu fiquei, ‘minha nossa, você não me falou isso!’ 

Não vou dar spoilers, mas foi uma mudança brusca na personagem. Eles [diretores de dublagem] fazem isso direto, não nos dão muito detalhe justamente porque querem que a gente tenha esse tipo de reação. É bem legal.”

NB: Certo, como você mencionou a Tsumugi, poderia nos contar como foi sua experiência com Danganronpa? É uma franquia de dar nó na cabeça da gente, né?

DF: É outro jogo que eu não conseguiria jogar. (risos) A primeira personagem que dublei foi Sayaka, em Trigger Happy Havoc. Ela é uma garota doce, pop star, mas, você sabe, não durou tanto. 

Eu também dublei Chihiro no mesmo jogo. Gostei bastante disso, porque adoro personagens que têm segredos. É sempre interessante dublar [personagens assim] porque a gente precisa encontrar um tom de voz que seja capaz de manter esse segredo guardado a sete chaves. Não vou dar spoilers, mas Chihiro se tornou bem popular por causa disso.


NB: Para finalizar a entrevista, algumas perguntinhas adicionais. Você tem algum diálogo da Mercedes que você gostou de dublar?

DF:  É difícil lembrar detalhes específicos porque gravamos [Three Houses] faz muitos anos e vários projetos apareceram no meio do caminho. Gosto de quando Mercedes é um pouco sarcástica e também que ela gosta de chá, faz biscoitos. Mas definitivamente quando ela é sarcástica, é divertido.

NB: De qual design da Mercedes você gosta mais: fase acadêmica, fase de guerra ou o de Three Hopes?

DF: Definitivamente, o da fase acadêmica. (risos) É adorável.

NB: Você disse mais cedo que a Mercedes é uma figura materna para o pessoal da Blue Lions, mas você sabia que, no fandom, ela é chamada de “Momcedes”?

DF: Sério? Eu não sabia! (risos) Minha nossa, isso é fantástico! Bom, aqui vai outra curiosidade: 90% das vezes eu sou chamada [para dublar] personagens que são mães ou têm esse jeito mais maternal.

Eu sei que alguns dubladores não gostam de ser associados a isso [o tipo de personagem], mas eu realmente gosto de dublar personagens assim. Mas sério, 'Momcedes' é genial. (risos)

Dorothy Fahn, que é assumidamente Blue Lions, também deixou um recadinho para os fãs brasileiros, que você pode conferir no vídeo abaixo.


E se você gostou de conhecer um pouco mais sobre Dorothy Fahn, que está de volta como Mercedes em Fire Emblem Warriors: Three Hopes, você pode segui-la no Twitter e no Instagram.

Revisão: Davi Sousa
Edição de vídeo: Gabriela Perpetua Santana da Silva
As respostas foram editadas por questão de tamanho e/ou clareza.

Também conhecida como Lilac, é fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas. Icon por 0range0ceans
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