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Análise: Atari 50: The Anniversary Celebration (Switch) é uma das mais caprichadas celebrações da história dos games

As definições de títulos comemorativos foram atualizadas.


Em 27 de junho de 1972, Nolan Bushnell e Ted Dabney iniciaram uma empresa de tecnologia no recém-criado Vale do Silício. Em pouco tempo, máquinas com o game Pong se espalharam pelos Estados Unidos e os jogos eletrônicos passaram a fazer parte da cultura mundial.


Os festejos pelos 50 anos dessa história importantíssima para a indústria ganham materialidade em Atari 50: The Anniversary Celebration, um título que reúne ao mesmo tempo uma coletânea de clássicos, jogos inéditos, reimaginações, resgates históricos e documentários. Fazendo jus ao nome, é uma verdadeira celebração. Acompanhe:

História para todos os lados



Ao abrir o título, os games disponíveis não aparecem na tela inicial. Em vez disso, o destaque são linhas do tempo que contam a história da empresa e, consequentemente, da indústria. É a demonstração clara de que a celebração se configura no grande foco de Atari 50.

A cada ponto, são disponibilizados um memorando, uma foto de um arcade, a arte de um jogo, um vídeo com entrevistas (infelizmente, só em inglês). Nesse sentido, o título funciona como uma grande exposição de museu, com 5 categorias:



Arcade Origins: Nesta área, são esmiuçadas as origens da empresa e dos jogos lançados em arcade. Algumas curiosidades interessantes estão presentes aqui, como “a lenda da máquina quebrada de Pong”, o clima interno após a aquisição pela Warner e os depoimentos sobre se os funcionários usavam drogas ou não.



Birth of the Console: Por essa linha do tempo, a história do console Atari 2600 é contada, abordando o período de 1977 a 1982. Aqui descobrimos, dentre muitas curiosidades, que 3D Tic-Tac-Toe é obra da primeira mulher game designer (e que também trabalhou em River Raid), que o desafio de portar os arcades para um console caseiro era impossível e o motivo de um grupo importante de funcionários deixar a Atari para fundar a Activision.



Highs and Lows: A década de 1980 vivenciou a quebra da indústria, com bons jogos e algumas tentativas frustradas. Neste segmento vemos a primeira console war, a integração entre Atari e DC Comics e as primeiras discussões sobre ciclo de vida e retrocompatibilidade, dentre outras coisas.



The Dawn of PCs: Por um período, a Atari investiu no ramo de computadores pessoais. Nesta linha do tempo, estão disponíveis comerciais de TV e curiosidades sobre rivalidades com a Apple e com a Commodore, além de uma ligação com o filme Exterminador do Futuro 2.



The 1990’s and Beyond: Após o restabelecimento da indústria, a empresa teve consoles mais avançados, os pouco lembrados Lynx e Jaguar. Além dessas últimas tentativas no mercado, o último segmento mostra a participação da Atari na briga com a Nintendo e a Sega e, posteriormente, o PlayStation, bem como o depoimento de Ernest Cline, autor de Jogador Número 1.

E os jogos?

Apertando Y na tela inicial, somos levados ao catálogo de jogos disponíveis. Os títulos podem ser organizados por ano, plataforma, ordem alfabética ou por aqueles jogados recentemente. Também é possível acessá-los diretamente na linha do tempo, o que é muito bem vindo: dar play em Asteroids após conferir os depoimentos dos envolvidos em sua produção traz novas camadas à experiência de jogo.



São mais de 100 jogos no cardápio, sendo cinco desbloqueáveis. As plataformas contempladas são: Arcade, Atari 2600, Atari 5200, Atari 7800, Lynx, Atari 800 e Jaguar.

Como é a proposta de Atari 50, a seleção faz um bom apanhado da produção da companhia ao longo dos anos. Títulos importantes, como Pong, Missile Command, Breakout e Adventure estão presentes aqui, podendo ser curtidos em diferentes tamanhos de tela.

A reprodução da experiência original é bem executada. É possível, por exemplo, mudar a tonalidade do fundo da tela, como no Atari 2600. Isso é realizado sem abrir mão de bem vindas modernidades, como salvar o progresso a qualquer momento.

Como apontado na análise de Atari Mania (Switch), jogos que se tornaram um fenômeno nas décadas de 1970 e 1980, muitas vezes associados imediatamente ao console da empresa, não são de sua propriedade. Por isso, games que poderiam ser considerados obrigatórios não estão aqui, como Pac Man (Bandai Namco), Donkey Kong (Nintendo), Space Invaders (Taito), Megamania, River Raid, Pitfall e Enduro (Activision), só para citar alguns. É um aspecto negativo e talvez inevitável.



Por outro lado, os resgates históricos são uma excelente adição. Jogos cancelados, protótipos nunca lançados e projetos que não tiveram grande fôlego ganham a luz do dia aqui. Um exemplo é Touch Me, um aparelho portátil que desafiava o jogador a reproduzir a sequência correta de cores. Para quem cresceu nos anos 1980 e 1990, deve se lembrar de versões vendidas aqui no Brasil com os nomes Genius e Pense Bem.

Outro aspecto positivo são os títulos inéditos, reunidos na linha Atari Reimagined. São releituras de clássicos como Haunted Houses, Yars’ Revenge e Breakout, que ganham novas perspectivas, mesclam referências, atualizam gráficos ou apresentam novas opções de jogabilidade.

Um museu vivo e na palma da sua mão



Atari 50: The Anniversary Celebration não é uma simples coletânea, que se aproveita de uma marca comemorativa para ganhar uns trocados com títulos antigos e requentados. O que temos aqui é uma exposição que não deixa nada a dever a um museu real: temos as obras clássicas, depoimentos dos criadores, curiosidades e aberturas para novas interpretações. Este é o modelo de como toda obra celebrativa deveria ser.

Prós

  • Quantidade de títulos disponíveis;
  • Linhas do tempo interativas no estilo documentário;
  • Variedade de títulos e consoles, incluindo protótipos, projetos cancelados e reimaginações;
  • Recriação da experiência original.

Contras

  • Ausência de alguns clássicos;
  • Não há tradução para o português.
Atari 50: The Anniversary Celebration – Switch/PS4/PS5/XBO/XBX/PC – Nota: 8,5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Diogo Mendes
Análise produzida com cópia digital cedida pela Atari

Nascido no mesmo dia que Manoel Bandeira (mas com alguns anos de distância), perdido em Angra dos Reis (dos pobres e dos bobos da corte também), sob a influência da MPB, do rock e de coisas esquisitas como a Björk. Professor de história, acostumado a estar à margem de tudo e de todos por ser fora de moda. Gamer velho de guerra, comecei no Atari e até hoje não largo os mascotes - antes rivais - Mario e Sonic.
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