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Análise: Atari Mania (Switch) é uma festa digna do legado da companhia

Microgames frenéticos com misturas de clássicos promovem o encontro de personagens icônicos com a nova geração.


Nos idos de 1972, Nolan Bushnell e Ted Dabney fundaram a Atari, empresa com uma contribuição inigualável para a popularização dos consoles domésticos de videogames. 50 anos depois, os tempos de glória da empresa ficaram para trás, mas seu legado está gravado na história.


Meio século certamente é uma marca a se comemorar. Para não deixar a ocasião passar em branco, a produtora está lançando Atari Mania, um título novo, mas que, ao mesmo tempo, homenageia esse rico legado. Será que a aventura foi bem sucedida ou é uma falha digna de ser enterrada no deserto?

Possíveis inspirações

Hora de revisitar os clássicos da companhia
Das companhias que ainda estão no ramo dos hardwares, talvez a Nintendo seja a que possui um legado de clássicos mais invejável. Nos últimos anos, a Big N vem explorando seu catálogo de forma discutível, mas entre 2013 e 2014 uma abordagem interessante veio na forma de NES Remix (Wii U). A série ganhou dois títulos no console da oitava geração e uma versão para 3DS, apresentando desafios inéditos e curtos dentro de jogos clássicos do Nintendinho. Isto trouxe um frescor às aventuras que já haviam sido jogadas e rejogadas milhares de vezes ao longo de décadas.

Atari Mania se apoia nessa ideia para dar uma nova vida a jogos como Asteroids, Breakout e, é claro, Pong. Os títulos também ressurgem aqui com gráficos refeitos e desafios curtos que focam no melhor que a mecânica de cada um tem a oferecer.

A nova roupagem é também frenética, ao estilo de WarioWare: Get It Together! (Switch). Um contador de poucos segundos na parte de baixo da tela impele o jogador a agir rápido diante do cenário proposto e logo aparece a mensagem de sucesso ou de falha. Um aspecto positivo é que o game informa qual é o objetivo a ser alcançado com calma, sendo que o desafio só começa depois que o jogador aperta o botão A.

Detonando uma noite no museu

Um portal sugando personagens? Não sei se isso faz parte das minhas atribuições…
Na história, o jogador assume o papel de Caretaker, o nome nada sutil do zelador que toma conta do cofre da Atari. O local, que se assemelha mais a um museu, guarda estátuas e fliperamas dos jogos e, numa mistura do filme Uma Noite no Museu com a animação Detona Ralph, os personagens saem de seus games quando ninguém está por perto.

Com sua vassoura, Caretaker segue mantendo o lugar limpo até que um pixel morto aparece no meio do salão. Este é o estopim para que um vórtice sugue o zelador, um personagem e três títulos clássicos. Neste momento, inicia-se a série de microgames com desafios que atualizam e mesclam os jogos da empresa, adicionando efeitos melhorados ou com o protagonista de um game tendo que enfrentar o cenário de outro.

Desse modo, por vezes é preciso usar a barra de Pong para derrotar a Millipede, proteger o maratonista de Video Olympics de raios laser, ou pilotar o tanque de Combat contra os pistoleiros de Outlaw. Assim, mesmo os títulos menos conhecidos ou lembrados se tornam interessantes e desafiadores.
Esta corrida de 100 metros está mais perigosa (e colorida) do que eu me lembrava
Terminada a série de desafios, Caretaker volta ao salão do museu e deve continuar explorando as alas e os andares, investigando o que causou o surgimento destes pixels malignos. Para isso, conta com itens que vão sendo encontrados ao longo da jornada, como inseticida, martelo e gancho. Os apetrechos permitem acessar áreas bloqueadas em busca de mais pixels mortos, repetindo assim a mecânica do vórtice com novos clássicos sendo adicionados à mistura.

Um banquete sem gorduras

Para quem deseja mergulhar na história da empresa (que é, afinal, a proposta do título), Atari Mania apresenta uma variedade interessante de colecionáveis e easter eggs. Em determinada sala, por exemplo, é possível ver na parede flâmulas com o dragão de Adventure (que, aliás, foi o primeiro game a conter um easter egg).

Explorando o local, encontra-se as capas e os manuais dos cartuchos dos jogos utilizados no mix dos vórtices, incrementando a galeria do cofre onde se passa a história com a de colecionáveis normalmente presente em títulos comemorativos como esse. É uma bela aplicação da metalinguagem.
Uma aventura chamada Aventura? Merece um pôster na parede deste museu!
Cientes de que os desafios são o grande destaque, os desenvolvedores criaram duas inventivas oportunidades para que eles pudessem ser jogados fora da história. Uma consiste nas máquinas de fliperama que estão espalhadas pelo cenário, onde séries mais longas do que as presentes nos vórtices podem ser enfrentadas.

Outra é a sidequest dos ratos. Visíveis em suas tocas nas paredes, é preciso encontrar uma maneira de colocar um queijo próximo a elas de modo a atrair o roedor para fora e iniciar o desafio, que possui menos vidas disponíveis do que as séries da campanha principal.

Tudo isso é incorporado de forma natural à narrativa e é opcional. Desse modo, o título evita criar gorduras desnecessárias nas horas de jogo ao mesmo tempo em que oferece oportunidades para quem deseja continuar se aventurando pelo museu e pelos microgames.

Faltou inseticida

“Você não pode escapar do medo” de não conhecer alguns jogos selecionados aqui
Sendo o Atari 2600 o principal console de videogames de sua época, diversas desenvolvedoras publicaram seus jogos no sistema e tornaram-se praticamente indissociáveis. Contudo, muitos dos títulos que povoam a memória coletiva e que automaticamente associamos ao Atari clássico não pertencem à empresa.

Por isso, jogos que poderiam ser considerados obrigatórios não estão aqui, como Pac Man (Bandai Namco), Donkey Kong (Nintendo), Space Invaders (Taito), Megamania, River Raid, Pitfall e Enduro (Activision), só para citar alguns. É um aspecto negativo e talvez inevitável.

Considerando, portanto, que boa parte dos jogos utilizados não são os grandes hits e que nem todos jogaram os consoles da Atari em sua época áurea, seria interessante que fossem incluídos não só as capas e manuais dos cartuchos, mas também uma mostra com pequenas sessões jogáveis dos games clássicos, mesmo que em seus gráficos originais. Isso consistiria numa boa oportunidade de atingir tanto os nostálgicos quanto quem não teve a chance de experimentá-los, incrementando ainda mais a memorabília de Atari Mania.
O início de uma batalha épica… contra os problemas técnicos
Estes são pontos que podem ser relativizados e que não diminuem em nada a experiência ofertada. O mesmo, porém, não pode ser dito dos bugs presentes. Em certo momento, Caretaker ficou paralisado após sair de um fliperama e tive que reiniciar o jogo. Em uma batalha contra um chefe com muitos elementos em tela, a queda de framerate me fez perder incontáveis vezes, mais do que seria necessário. Não foram muitos casos, mas arranharam um pouco a imagem festiva que o título vinha construindo.

O maior problema veio com relação ao martelo. Em alguns pontos, existem pilares que podem ser afundados com a ferramenta, de forma a abrir portas. Num cenário específico, com três pilares, martelei um de cada vez e a porta não abriu, e terminei com o caminho bloqueado e todos os pilares afundados no chão. Pensei que tinha algo ainda a ser feito, mas vasculhei todas as áreas disponíveis e nada. Decidi começar um novo jogo em outro perfil e, ao chegar novamente no cenário com os três pilares, qual não foi minha surpresa ao martelar dois deles e a porta abrir. Ou seja, meu primeiro save estava condenado a não avançar devido a um bug.

Um museu que vale o ingresso



Apesar dos problemas, Atari Mania é uma experiência extremamente divertida. A integração da galeria com o modo história, que vai direto ao ponto, a qualidade e a variedade dos microgames, o conteúdo extra disponível e a atmosfera de celebração fazem deste um excelente e moderno título retrô, indispensável para quem gosta do estilo e para os fãs da companhia.

Prós

  • Microgames divertidos e desafiadores;
  • Mashups atualizam e tornam interessantes mesmo títulos desconhecidos;
  • Modo história direto e de fácil exploração;
  • Coletáveis e desafios extras enriquecem a experiência.

Contras

  • Algumas falhas pontuais prejudicam a jogatina, a ponto de ser necessário reiniciar o jogo.
Atari Mania — Switch/PC — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: João Pedro Boaventura
Análise produzida com cópia digital cedida pela Atari

Nascido no mesmo dia que Manoel Bandeira (mas com alguns anos de distância), perdido em Angra dos Reis (dos pobres e dos bobos da corte também), sob a influência da MPB, do rock e de coisas esquisitas como a Björk. Professor de história, acostumado a estar à margem de tudo e de todos por ser fora de moda. Gamer velho de guerra, comecei no Atari e até hoje não largo os mascotes - antes rivais - Mario e Sonic.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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