Resenha

Sonic the Hedgehog: conheça a história em quadrinhos lançada no Brasil

Sonic acelera nos quadrinhos em boa forma.


Temos que admitir: a carreira de Sonic nas duas últimas décadas tem sido uma montanha russa de altos e baixos. A Sega atirou para todo lado com o personagem na expectativa de acertar e, de fato, conseguiu ofertar boas obras em meio às duvidosas.


Recentemente, os dois filmes para o cinema compensaram suas existências e conseguiram boa recepção do público e da crítica, além da confirmação de uma sequência promissora com a chegada de mais um personagem importante dos jogos. Agora, estamos de olho nos lançamentos próximos de Sonic Frontiers (Multi), no dia 8 de novembro (ops, é hoje!), e da série animada Sonic Prime, que estreará na Netflix em 15 de dezembro.

Enquanto isso, podemos conferir uma adaptação que merece a atenção de qualquer fã do ouriço: a história em quadrinhos intitulada, adivinhem... Sonic the Hedgehog, que merecia ao menos um subtítulo para diferenciá-la de outras produções. A série começou nos EUA em 2017 pela IDW Publishing e ainda segue em publicação.

O roteirista é Ian Flynn, que trabalha em HQs de Sonic desde 2006 e também escreveu o enredo de Sonic Frontiers. Claro, ele também assinou a HQ de prólogo para o novo jogo, junto com uma das principais desenhistas da série da IDW, Evan Stanley.

A edição brasileira

Os livros de Sonic the Hedgehog chegaram ao nosso país pelo Geektopia, o selo de quadrinhos da Editora Novo Século. Em 2021, os três primeiros volumes foram lançados, com mais três em meados de 2022 e outros dois previstos já para este mês de novembro, somando oito edições até agora. A seguir, vou comentar o andamento do primeiro trio de volumes, que vi por acaso na web, decidi dar para meu filho Heitor e eu mesmo acabei gostando mais do que esperava.

Cada volume compila 4 capítulos de 20 páginas e, de extra, traz uma galeria com as capas alternativas, que essa série tem aos montes. Eu gostaria que viessem mais capítulos por volume, mas a edição brasileira repete o formato da coletânea lançada nos EUA.

A edição é um pouco mais caprichada que a original porque aqui as capas cartonadas possuem grandes orelhas (que eu acho essenciais em livros, porque impedem que a capa envergue e protegem as bordas de amassados) e a segunda e terceira capas (partes internas da capa e contracapa), que são vazias nos EUA, receberam da Geektopia ilustrações coloridas em vermelho, um bom contraste com o azul predominante da parte externa. Além disso, o volume 3 vem com um belo pôster que emoldurei para decorar o quarto dos meus filhos.

Há vida após Sonic Forces

Planejada na época do lançamento de Sonic Forces (Multi), a HQ segue diretamente a conclusão da história do jogo, tomando o cuidado de facilitar para quem não tem conhecimento prévio e vai pegar o trem andando.

Após a derrota do Império Eggman perante a Resistência, o Dr. Eggman desapareceu. Seu exército de robôs, porém, continua à solta, disperso e causando problemas isolados. Meses depois da derrota, os ataques parecem estar mais organizados, como se possuíssem algum tipo de liderança. É preciso investigar o que está por trás disso!


Há menções a vários jogos, como Sonic Rush (DS), Sonic Lost World (Multi), a participação dos Wisps de Sonic Colors (Multi) e, claro, referências à guerra vista em Sonic Forces. A primeira página abre com referências aos repetidos embates entre Sonic e o doutor através de imagens de chefões de Sonic Adventure (Multi), Sonic Heroes (Multi), Sonic Generations (Multi) e, por fim, Sonic Forces.

Não é necessário ter jogado qualquer game dessa lista para aproveitar a leitura (eu mesmo só conheço bem os títulos do Mega Drive e Heitor jogou Colors e Forces), mas certamente quem é familiarizado com a vertente 3D de Sonic deve reconhecer ainda mais elementos.

Os quadrinhos realmente embarcam no espírito dos games ao trazer às páginas diversos badniks conhecidos desde o primeiro jogo, que, quando destruídos, libertam os passarinhos fofos que Eggman aprisionava para construir seu exército robótico.

É bom ver velhos conhecidos

 A história segue de forma contínua, tecendo uma grande trama, mas os capítulos funcionam de maneira episódica, concluindo um propósito específico. Por exemplo: cada um dos primeiros oito capítulos, que formam os volumes 1 e 2, está ali para apresentar personagens que são velhos amigos de Sonic e alguns novos. O começo mostra um belo encontro entre Sonic e Tails, entrando em ação como uma dupla dinâmica de longa data. Ambos têm carisma e atitude, sem deixar a raposa laranja em papel secundário, vulnerável ou de mero seguidor.

Essa dinâmica continua no capítulo seguinte, quando os amigos seguem caminhos diferentes e Sonic se depara com a “ouriça” Amy. Novamente, vemos a relação natural de quem já percorreu caminhos juntos e sabe trabalhar em equipe para acabar com tropas de robôs badniks.



Naturalmente, temos um capítulo dedicado a Sonic e Knuckles, e diversos outros, como Shadow, Silver, Blaze e a agência de detetives Chaotix, mantendo um bom ritmo de introdução de personagens para, no terceiro volume, construir um clímax que coloca todos no meio da ação.

Sonic ainda é petulante, provocador e superconfiante, mas não egocêntrico. Ele demonstra compromisso, simpatia, abertura e conta com todos ao redor para que cada um faça aquilo de que é capaz, sem menosprezar ninguém. Todo mundo tem sua importância, ninguém está ali apenas para fazer volume ou servir de vítima para o herói mostrar seu poder ao salvá-la.

A narrativa de equipe é bem articulada e conduz os três primeiros volumes com fluidez, abrindo e fechando um primeiro arco com um ar de conclusão. Claro, há um gancho direto para deixar claro que o fio da meada seguirá nas edições seguintes.

Novas caras e focinhos

Ian Flynn aproveitou para criar suas próprias adições ao elenco, mantendo o ritmo de apresentá-las aos poucos. Primeiro, vem a dupla de bandidos brutamontes, os gambás Dezor e Danado, uma adaptação duvidosa dos nomes originais Rough e Thumble (“Bruto”, “Durão”; “Tombo”, “Cambalhota”). Eles gostam de fazer poses e falar combinados, mas a autoestima elevada não corresponde à realidade.

Do lado dos heróis, surgem a lêmure Tangle e a loba Whisper, que mantiveram seus nomes originais mesmo sendo mais traduzíveis que os dos gambás. Tangle (“Enrolar”, “Emaranhar”) é empolgada e tem uma cauda que estica longamente e se move com precisão. Já Whisper (“Sussurro”) é uma atiradora tímida que esconde o rosto atrás de uma máscara, fala apenas em sussurros (quem diria?) e usa Wispons (wisps + weapons), armas municiadas pelas energias dos diferentes Wisps.



Por fim, há um novo vilão inteligente que não vou detalhar – inclusive por ainda saber pouco dele – e provavelmente terá grande importância como oponente da Resistência.

Um ouriço para as gerações

A contínua presença de Sonic em tantas mídias por mais de 30 anos, mesmo com falhas como o Sonic the Hedgehog de 2006 (PS3/X360) e os títulos de Sonic Boom, confirma a força do personagem criado por Yuji Naka. A história de quadrinhos Sonic the Hedgehog é uma boa fonte para trazer os mais novos às histórias dos animais antropomórficos que combatem a industrialização estéril e armamentista de um cientista aspirante a imperador.

Heitor, de 7 anos, devorou os primeiros três volumes e gostou mesmo havendo começado pelo segundo. Dante, de 3 anos, folheou os quadrinhos com interesse e atenção (e amassou um deles na primeira semana...).

Os mais velhos que gostam de Sonic encontrarão aqui uma leitura simples, bem executada, agradável e nostálgica que está à altura do legado do ouriço mais rápido do mundo. Quando Heitor e eu pudermos ler os volumes seguintes, continuarei com a resenha da série.

Revisão: Davi Sousa
Livros adquiridos pelo redator.

Admiro videogame como uma mídia de vasto potencial criativo, artístico e humano. Jogo com os filhos pequenos e a esposa; também adoro metroidvanias, souls e jogos que me surpreendam e cativem, uma satisfação que costumo encontrar nos indies.
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