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Análise: Helvetii (Switch) é um belo jogo de ação inspirado em mitologia e uma história pouco conhecida

Uma jornada que vale a pena, mas exige dedicação e tempo para várias tentativas.

Mitologias me encantam. Nos games, só no ano passado explorei o Japão e a MesoAmérica no Switch. Dando continuidade à minha volta ao mundo pelas diferentes culturas, chego a um lugar inusitado, visto que é mais conhecido e lembrado pelos Alpes nevados e pelos bancos: a Suíça.


Em Helvetii, os antigos deuses da região me protegeram e seres macabros me levaram aos limites das minhas habilidades. Conheça este belo jogo a seguir.

Origens

O pequeno estúdio suíço Team KwaKwa mergulhou na história de seu país para conceber um jogo de ação que exalasse suas origens mitológicas.O título, Helvetii, vem do latim e faz referência aos helvécios, povo que habitava aquela região na época do Império Romano.

A Helvécia, nome da pequena área central do continente europeu, também dá nome à representação feminina da Suíça. O local fica entre os famosos Alpes e a cordilheira do Jura, que serve como cenário do game.

Estes habitantes de origem celta também estavam espremidos entre dois povos em rota de colisão: o poderoso Império Romano e os germânicos. Os conflitos que castigaram o local são representados no jogo por uma grande escuridão manchando o mapa, para onde os protagonistas devem marchar e derrotar o mal.

Os personagens

Na história de Helvetii, um jovem e ganancioso guerreiro apelou para forças ocultas em busca de auxílio para subjugar uma legião romana. O que a princípio parecia uma bênção logo se mostrou uma maldição e monstros começaram a surgir por toda a terra.

Três personagens podem ser escolhidos para enfrentar esse mal: Divico é um guerreiro com maior vitalidade inicial e dotado de um ataque forte capaz de quebrar as defesas dos inimigos e interromper ataques críticos; Renart é um ser meio homem, meio raposa com maior velocidade e a habilidade especial de bloqueio (desviar dos ataques); e Nammeios é uma druida com pouca vida, mas muita mana para ataques a longa distância.

Cada protagonista possui um estilo próprio de combate e demanda diferentes tipos de estratégia, pois os níveis de vida, mana e a velocidade dos movimentos são distintos. A variedade na jogabilidade, portanto, é alta.

Ao terminar uma localidade no mapa (composta por dois atos com um chefe cada), os heróis se reencontram e é possível trocar de personagem para a próxima etapa. Essa é uma decisão estratégica, pois em determinados pontos a rapidez pode ser uma vantagem, enquanto em outros a dependência de um combate corpo a corpo pode te levar a ter mais dificuldades.

Auxílios luxuosos

Os inimigos derrotados podem render alguns pontos de vida ou de mana, ou ainda moedas. Estas podem ser usadas nas lojas comandadas por uma coruja conversadeira, onde é possível adquirir maçãs e outros quitutes para recuperar e aumentar seus níveis, ganhar mais agilidade e sorte, e também as chaves.

Elas permitem abrir baús encontrados acorrentados, que podem conter itens especiais que fornecem novas habilidades ao personagem, como maior resistência a dano. Dependendo do seu nível de sorte, as chaves podem ser encontradas pelo cenário, permitindo uma importante economia de verba para a compra de pratos mais estratégicos.

Isso porque também temos nas fases alguns altares, nos quais é possível adquirir a ajuda dos deuses. O custo desse auxílio não é cobrado em moedas, mas sim em pontos de vida. No altar, um dos deuses te oferece seus serviços: ataques especiais ativados pelos botões ZL e ZR. A cada nível alcançado, maior é o custo em pontos de vida, mas também mais habilidades adicionais são oferecidas.

Outro modo de se adquirir alguns facilitadores é com os selos conquistados pelo desempenho nos combates. Conquistar rankings altos, como S e A, rende mais selos, que no mapa podem ser usados para adquirir vantagens como iniciar uma fase com mais vida ou poder ressuscitar em caso de derrota e continuar a batalha.

Como Helvetii deixa claro a todo momento, nada é de graça nessa vida. Toda ajuda possui um preço, mas é você que escolhe se está disposto a pagar ou não. Para ilustrar melhor: nos momentos em que os três protagonistas se reúnem em volta da fogueira, é possível apostar em um jogo de dados para conseguir aumentar seu número de moedas. Vencer é uma alegria, porém perder é muito mais frequente.

Nesse sentido, é preciso falar também sobre as câmaras especiais, com um baú contendo uma recompensa secreta. Para desbloqueá-lo, é necessário vencer o desafio proposto, que pode envolver objetivos como vencer todos os inimigos dentro de um tempo cronometrado ou sem tomar dano, por exemplo. É possível recusar o desafio e partir, jamais sabendo o que você deixou para trás.

A inevitável

Todos esses auxílios e estratégias se fazem necessários pois, inevitavelmente, ela chega: a morte. E a consequência para um game over é retornar ao ato 1 da primeira fase.

É frustrante cair após um enxame de fadas te cercar na segunda etapa de um mundo mais avançado, em que você chegou após derrotar um chefe poderoso com muito suor. Ter que recomeçar a caminhada, tendo na memória cada agrura sofrida, pode ser desestimulante.

Por outro lado, como as fases são geradas aleatoriamente, cada tentativa vem acompanhada da novidade de não saber onde estão os itens, o comércio, o chefe e se terá ou não os altares e câmaras com desafios. É um convite a explorar os cenários e desenvolver ainda mais seu personagem.

O visual de Helvetii, aliás, é belíssimo. A arte feita à mão, aliada a uma boa paleta de cores e aos efeitos de luz, gera cenários impressionantes. O design das criaturas também é digno de nota, passando um tom ameaçador que combina com a aventura proposta.

Apesar das inúmeras mortes que sofri, o nível de dificuldade é adequado à curva de aprendizado da campanha. As derrotas não acontecem por situações injustas e se tornam menos frequentes à medida que vai se dominando as técnicas de combate e defesa.

Lá e de volta outra vez

Com a localização para português, é possível se inteirar da história de Helvetii através da conversa entre os protagonistas ou com a coruja comerciante.

Se você é do tipo de viajante mais interessado em partir direto para as atrações, as criaturas mitológicas da cultura celta pré-Europa te aguardam com desafios que com certeza vão te derrubar algumas (muitas) vezes. Contudo, por Helvetii vale a pena se levantar e tentar novamente até chegar ao coração desta aventura.

Prós

  • Belos visuais, com cenários feitos a mão;
  • Boa variedade na jogabilidade com as trocas de personagens;
  • Nível de dificuldade adequado à curva de aprendizado;
  • Diversos elementos acrescentam camadas de estratégia à campanha.

Contras

  • Retornar ao início após uma morte pode ser frustrante.
Helvetii — Switch/PC/PS4 — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Team KwaKwa

Nascido no mesmo dia que Manoel Bandeira (mas com alguns anos de distância), perdido em Angra dos Reis (dos pobres e dos bobos da corte também), sob a influência da MPB, do rock e de coisas esquisitas como a Björk. Professor de história, acostumado a estar à margem de tudo e de todos por ser fora de moda. Gamer velho de guerra, comecei no Atari e até hoje não largo os mascotes - antes rivais - Mario e Sonic.
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