Jogamos

Análise: Metroid Prime Remastered (Switch) traz de volta com primor um capítulo especial da jornada de Samus Aran

O clássico do GameCube retorna em grande estilo com uma obra que redefine as expectativas de remasterizações.

Já faz quase seis anos desde o anúncio de Metroid Prime 4 e já se ouviram vários rumores de que a trilogia anterior viria ao Switch. Mesmo assim, a Nintendo surpreendeu a todos com o lançamento de Metroid Prime Remastered. Em vez de relançar os jogos de uma forma mais simples como alguns títulos recentes, o que recebemos foi uma versão de altíssima qualidade que eleva a barra do que se espera de uma remasterização.

Mergulhando novamente em Tallon IV

Metroid Prime leva a nossa caçadora de recompensas intergalácticas Samus Aran ao planeta Tallon IV, um lugar que antes era morada da antiga raça Chozo. Entre segredos do passado e o encontro com perigosos piratas espaciais e experimentos genéticos, a jornada de Samus por esse planeta é marcada pelo senso constante de perigo.

Quando Metroid Prime foi lançado em 2002 para GameCube, o jogo foi uma grande revolução para a franquia da Nintendo, adaptando o formato para uma perspectiva 3D em primeira pessoa. Isso é uma escolha especialmente interessante para Metroid tendo em vista o seu foco em construir uma atmosfera sombria e tensa.
Imersão é um ponto muito forte da franquia que aqui é reforçado por essa proposta visual e pela trilha sonora, que se mantém mais focada na construção de paisagens sonoras de tensão do que em músicas com melodias muito elaboradas. A ideia do jogo, assim como da série em geral, é dar ao jogador a estranheza de estar em uma área alienígena, desconfortável e repleta de perigos.

Confesso que esta é a minha primeira vez jogando um título da série Prime, tendo em vista que meu último console (excluindo-se portáteis) da Nintendo antes do Switch foi um Super Nintendo. A adaptação para um jogo 3D em primeira pessoa é uma escolha que até parece natural em retrospecto embora seja fácil ver o peso dessa decisão para a franquia, e jogá-lo me deixou ainda mais interessado no futuro Prime 4.
Cabe ao jogador vasculhar o planeta Tallon IV, ganhando novas habilidades ao longo do caminho. Com novos canhões, bombas e upgrades para a roupa espacial de Samus, conseguimos ir mais longe do que inicialmente, desbravando cada vez mais as profundezas escondidas desse lugar.

Há um cuidado primoroso na elaboração das áreas e dos chefões, que acabam funcionando como leves quebra-cabeças mentais (“para lidar com a criatura tal, eu devo usar a arma tal” ou “com este upgrade, eu posso acessar aquela área”) ao mesmo tempo em que exigem reflexos rápidos. Mesmo áreas que podem parecer já ter sido dominadas se tornam mais difíceis após um certo ponto da exploração com a alteração de inimigos para opções mais perigosas.
Tanto a exploração quanto o combate dependem do domínio desses poderes, o que faz com que as pequenas barreiras e inimigos sejam como testes constantes do aprendizado do jogador. Trata-se de um design elegante que permite ao jogador associar de forma natural as escolhas ideais e aprender gradualmente a lidar com os vários recursos que possui.

Um elemento que chama a atenção na experiência também é a capacidade de escanear os objetos dos cenários. Ao alternar para essa visão, o jogador pode descobrir informações sobre inimigos e itens colecionáveis, interagir com terminais computacionais e encontrar pontos de interação como paredes quebráveis. Esse leitor é uma forma bem intuitiva e interessante de dar ao jogador breves doses de conhecimento sobre o pano de fundo, assim como informá-lo sobre as formas de prosseguir.

Uma releitura e modernização de um clássico

Atualmente vivemos em um mundo em que remasterizações e remakes são bastante comuns e as linhas entre o que é uma coisa e o que é a outra acabam se tornando tênues. As propostas podem ser bem diferentes dependendo do projeto, sendo possível perceber que o esforço empregado é muitas vezes desigual. Às vezes o que é chamado de remasterização está mais próximo de um port com alguns filtros apenas para o visual funcionar em sistemas HD; em outras ocasiões, o retorno àquela obra é uma ocasião de celebração que tenta realmente fazer algo mais moderno em cima de uma base já consolidada.

No caso de Metroid Prime Remastered, o que temos é algo muito superior a um simples ajuste gráfico de filtros. Há no lugar disso uma releitura do que estava no original, fazendo uma versão que realmente tem uma aparência de um jogo feito hoje em vez de um jogo recauchutado do passado em que a lei do mínimo esforço já é o suficiente. Ao mesmo tempo em que a obra não tenta reinventar a roda, mantendo-se fiel ao original, ela consegue dar ao termo “remasterização” uma barra bem alta de expectativa em comparação com o que temos visto até mesmo da própria Nintendo em relançamentos como The Legend of Zelda: Skyward Sword HD.
Para além da releitura gráfica, temos também uma escolha fantástica de esquemas de controle. São ao todo quatro opções caso o jogador queira reviver a forma como a obra funcionava originalmente ou em sua edição de controles de movimento no Wii. Porém, a opção padrão (Dual Stick) é a mais indicada para a maior parte dos jogadores, pois funciona de acordo com o que se espera de um jogo 3D moderno, colocando a movimentação da câmera no analógico direito.
 
Há também outros elementos que ajudam a modernizar a obra e deixá-la mais acessível. Para os jogadores que não estão acostumados com Metroid ou aquelas que gostariam de uma experiência mais fácil, o jogo conta com facilitadores como uma dificuldade Casual e um um sistema de pistas que indica para o jogador uma área de interesse para avançar caso fique perdido. Já quem tem alguma deficiência visual talvez possa aproveitar os ajustes para daltônicos, que inclui opções bastante detalhadas para enxergar melhor os contrastes de cores da obra.

Ao explorar as áreas do jogo, também é possível desbloquear ilustrações para uma galeria que inclui tanto artes conceituais da versão de GC quanto da remasterização. Esse é um incentivo fenomenal para a experiência, ajudando a dar a sensação de que o jogo é uma grande celebração de um título de profunda relevância para a carreira da Retro Studios e da Nintendo.
Honestamente, há bem poucos elementos criticáveis no título. Uma coisa que acabou atrapalhando minha experiência foi a forma como algumas áreas são muito escuras até mesmo com o nível mais alto de brilho do Switch. Além disso, mesmo com o modo casual, alguns jogadores podem achar frustrante a experiência de perder progresso ao receber um game over tendo que explorar novamente uma grande área que não tinha saves no caminho. A câmera também pode ficar um pouco instável ao se transformar em Morph Ball, o que muda a visão para terceira pessoa e tira o controle de câmera do jogador.
 
Outro detalhe que gostaria de destacar é o mapa. Quando fiz a análise de Shin Megami Tensei V, uma de minhas críticas foi que o RPG da Atlus não dava conta de detalhes de relevo, o que deixava algumas áreas muito confusas de explorar. No sentido da representação topográfica das áreas do jogo, Metroid Prime Remastered é exemplar, sendo fácil entender diferenças de altitude e se situar em relação ao espaço 3D. Porém, infelizmente, o mapa pode ser ocasionalmente confuso para ter a noção exata de quais áreas já foram vasculhadas a fundo e quais ainda podem guardar segredos escondidos. Também não há métodos de viagem rápida, o que pode incomodar jogadores acostumados a explorações mais práticas de jogos modernos.

As definições de remaster foram atualizadas

Metroid Prime Remastered
é um retorno exemplar de um grande clássico da biblioteca da Nintendo, acertando a mão na forma de revisitá-lo para audiências modernas. Como fã da franquia, fico muito feliz em vê-la receber esse nível de carinho e atenção de seus desenvolvedores. Fica agora a torcida de que o mesmo seja feito com Metroid Prime 2: Echoes (GC/Wii) e Metroid Prime 3: Corruption (Wii) enquanto o novo jogo ainda está em produção.

Prós

  • Atmosfera sólida que reforça o senso de perigo e estranheza da ambientação;
  • Design elegante de áreas e chefes que valoriza o domínio dos poderes desbloqueáveis para exploração e combate;
  • A capacidade de escanear objetos é uma forma engajante de explorar os cenários, descobrir como prosseguir e desvendar elementos da trama;
  • Trabalho impecável de releitura gráfica do jogo que faz uma experiência moderna em um jogo já conhecido;
  • Opções de controle permitem revisitar o formato original ou jogar com um esquema mais moderno;
  • Galeria de ilustrações com imagens conceituais do jogo original e da “remasterização”.

Contras

  • Mesmo na configuração mais clara de brilho do Switch, algumas áreas são muito escuras;
  • A câmera pode ficar um pouco instável ao usar a Morph Ball;
  • Perder progresso ao morrer, as limitações do mapa e a ausência de mecanismos de viagem rápida podem ser incômodos para alguns jogadores.
Metroid Prime Remastered — Switch — Nota: 9.5
Revisão: Vitor Tibério
Análise produzida com cópia digital cedida pela Nintendo

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


Disqus
Facebook
Google