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Análise: Blasphemous 2 (Switch) é sombrio, envolvente e muito divertido

O Penitente retorna em um dos melhores metroidvanias já lançados para o console da Nintendo.

Das superproduções exclusivas como Metroid Dread às pérolas indie como Hollow Knight, não faltam metroidvanias de qualidade no Nintendo Switch, fato que torna o console híbrido da Big N praticamente uma obrigatoriedade para fãs do gênero que apreciem grande variedade de opções.


Falando em qualidade, lançado em 2019, o primeiro Blasphemous certamente se enquadra como um dos títulos consagrados do gênero, principalmente por seu bom nível de desafio e progressão satisfatória em um universo único, tão intrigante quanto perturbador.

Agora, quatro anos depois da estreia do jogo original, a desenvolvedora The Game Kitchen retorna ao mundo de Cvstodia com Blasphemous 2, uma sequência que, pela soma de seus elementos individuais, se firma como um dos melhores metroidvanias já lançados para o Switch e como mais um dos grandes jogos que 2023 nos traz.

De volta a Cvstodia para impedir um novo milagre

Assim como seu antecessor, Blasphemous 2 se passa na terra de Cvstodia, onde o evento conhecido como “O Milagre” há muito amaldiçoou os habitantes e suas propriedades, condenando-os a viver em um ciclo doentio de bênçãos e punições. 

Se a maldição foi quebrada no primeiro jogo com muito custo pelo Penitente, que descansou após o feito, agora um grande e misterioso coração surge sobre a Cidade do Santo Nome, ribombando e anunciando que o Milagre está de volta e fará nascer uma criança descendente das nuvens.

Retornado da sepultura e companheiro de caminhada dos lamentosos, o despertar do Penitente acontece novamente, assim como descrito nas páginas da eternidade.

Desta vez, sua missão é impedir, em uma trilha ascendente de penitência, o nascimento desta criança, enfrentando os sentinelas que o Milagre incumbiu como guardiões e dando fim de uma vez por todas à aflição eterna que paira sobre si e sobre esta terra amaldiçoada.

Mais e melhor

Sem entrar no mérito de spoilers, a narrativa acima funciona como pretexto para explorar o mundo sombrio que a The Game Kitchen preparou ao longo dos últimos anos. Sem mudanças radicais na proposta do primeiro jogo, os jogadores podem novamente esperar mais ação e plataforma em duas dimensões, com diversos segredos e surpresas a serem descobertos conforme se progride na aventura.

De longe, a grande diferença desta sequência está nas três armas equipáveis — a lâmina Ruego Al Alba, as lanças Sarmiento e Centella e a corrente Veredicto. Cada uma delas possui um estilo de combate e uma árvore própria de habilidades, trazendo dinamismo e variedade à forma como você escolhe combater os inúmeros desafios do jogo.

Ao contrário da solitária Mea Culpa do título anterior, aqui, ao começar a sua jornada em Blasphemous 2, você escolhe uma dessas armas, obtendo as outras duas conforme avança na campanha. O interessante é que, além de despacharem inimigos para o além, os equipamentos também funcionam como elementos de interação com o cenário ao seu redor.

A corrente Veredicto, por exemplo, pode ativar sinos que abrem portas especiais e revelam estruturas escondidas, como plataformas. Já o par de lanças ativa espelhos que levam o protagonista a locais diferentes, e assim por diante.

Como em todo bom metroidvania, portanto, adquirir novas habilidades e equipamentos causa aqui aquela importante e prazerosa sensação de progressão constante, motivando o jogador a continuar sua jornada e explorar cada vez mais a fundo o mapa.

Soulslike em 2D?

Além de mais armas à disposição, agora as Orações (os golpes especiais do antecessor) são divididas em Versos e Cânticos, trazendo ainda mais recursos ao arsenal ofensivo do Penitente. De raios direcionados a pequenos incêndios, há bastante o que encontrar, aprender e usar aqui.

Outra novidade desta sequência reside no Retábulo das Benesses, uma espécie de oratório em que itens equipáveis (imagens de madeira) fornecem bônus constantes ao jogador, como aumento dos acertos críticos ou reforços para uma arma específica. É possível equipar até oito Benesses simultaneamente, o que torna a caçada por essas figuras uma jornada à parte em Cvstodia.

Agora, se no primeiro jogo, a dificuldade assustava um pouco, aqui parece que ela foi um pouco amenizada com os novos recursos. De modo geral, Blasphemous 2 possui desafios que exigirão destreza dos jogadores, mas o que temos nesta continuação está bem longe de ser um soulslike em 2D. Juntando isso com a relativamente pequena variedade de inimigos, dos quais não é muito difícil memorizar os padrões, acabei sentindo falta de mais níveis de dificuldade. Fica a esperança que, assim como no caso do primeiro título, mais opções nesse sentido sejam adicionadas em updates futuros.

Por fim, os colecionáveis também retornam, recompensando ao seu modo os jogadores que gostam de explorar todos os detalhes do mapa e conversar com todos os grotescos NPCs que habitam este universo. 

Embarcar nesta missão, descobrindo novos mistérios, recursos e salas no processo, reforça a impressão de que estamos diante de um universo cuidadosamente elaborado, característica principal de todos os grandes metroidvanias, na minha opinião. Outro ponto muito positivo para os envolvidos.

A beleza na perturbação

Agora, se eu tivesse de elogiar apenas um elemento de Blasphemous 2, com certeza seria a sua apresentação. Sem exagero, aqui estão algumas das mais fantásticas e detalhadas pixel arts que já vi, tornando cada novo encontro e cenário um verdadeiro espetáculo para quem, assim como eu, aprecia este estilo visual.

A inspiração na bela e rica iconografia do catolicismo europeu, bem como na abundância de detalhes dos estilos góticos e renascentistas, alcança um novo patamar nesta sequência, o que certamente agradará aos fãs do primeiro jogo e de franquias como Castlevania e Bloodstained.

A trilha sonora e a dublagem (com opções em inglês e espanhol) também seguem o mesmo padrão de qualidade, dando o tom de agonia, melancolia e desesperança que perdura em Cvstodia. Certamente este é um daqueles jogos para se experimentar com bons fones de ouvido ou em um sistema de som adequado.

Por fim, convém ressaltar que o jogo não conta com problemas visuais ou de performance no Switch, sendo uma aventura agradável e tecnicamente impressionante tanto no modo TV quanto no modo portátil do console. Além disso, também há suporte a português brasileiro na forma de legendas, representando um avanço significativo em relação ao lançamento do primeiro jogo, que não contava com o recurso em nossa língua. 

Aceite seu destino, Penitente.

Blasphemous 2 se consagra como um dos melhores metroidvanias disponíveis no mercado. Dos visuais impecáveis aos aprimoramentos na jogabilidade, a única blasfêmia real aqui é não aproveitar esta sequência cuidadosamente preparada pela The Game Kitchen. Então levante e aceite seu destino, Penitente: o destino de Cvstodia está novamente em suas mãos (e essa felizmente é uma ótima notícia).

Prós

  • Pixel art fantástica e detalhada, certamente entre as melhores presentes no console;
  • Trilha sonora e dublagem dignas de elogios;
  • Maior variedade de armas e elementos conferem variedade na jogabilidade;
  • Universo sombrio e envolvente;
  • Sem problemas de performance no Switch;
  • Suporte a português brasileiro (legendas).

Contras

  • Pouca variedade de inimigos;
  • Poderia conter mais opções de dificuldade.
Blasphemous 2 — PC/PS5/Switch/XSX — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Team17

é bacharel em Produção Cultural pela UFF e estudante de Comunicação Social pela FSMA. Na infância, ganhou um Super Nintendo dos pais e, desde então, nunca mais deixou o mundo dos games. Ainda sonha em ser um Mestre Pokémon.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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