Especial Nintendo Switch Online + Expansion Pack: Fire Emblem: The Binding Blade (GBA)

Uma obra nunca lançada no Ocidente, mas marcante para o rumo da franquia e que hoje está disponível no aplicativo de Game Boy Advance no Switch.

em 01/08/2023


Fire Emblem: The Binding Blade foi o último título da série no Game Boy Advance a ser lançado exclusivamente no Japão. De certa forma, mesmo que a obra não tenha sido publicada oficialmente por aqui, ela ainda é extremamente relevante para o público ocidental.
 
Isso se deve sobretudo ao fato de que, Roy, o protagonista de The Binding Blade foi um dos personagens jogáveis em Super Smash Bros Melee, argumentavelmente o maior jogo de luta da Nintendo daquela época. Para muitos fãs, seu primeiro contato com Fire Emblem foi por meio de Marth e Roy, sendo aquele o representante do primeiro título da série e este o atual protagonista do mais recente jogo da IP da Intelligent Systems.

Recentemente, a Nintendo anunciou que usuários do pacote Nintendo Switch Online + Expansion Pack poderiam jogar Fire Emblem: The Binding Blade (ou Fire Emblem: Fuuin no Tsurugi, como é conhecido na Terra do Sol Nascente) no aplicativo japonês de Game Boy Advance. Apesar da barreira linguística, qualidade e outros aspectos curiosos desse jogo em específico, a obra merece ter sua chance e destaque por aqui.
 
Portanto, vamos juntos ao longo deste texto nos aprofundar sobre como Binding Blade é um jogo espetacular da franquia e até mesmo como acompanhar sua história em inglês, graças a uma tradução feita por fãs.
 
Atenção: esta matéria contém alguns spoilers sobre o jogo.

A primeira história depois da separação de Shouzou Kaga

A trama de Binding Blade se passa no continente de Elibe, onde somos apresentados a Roy, o jovem filho do marquês Eliwood. Enquanto estudava em Ostia, capital de Lycia, o garoto é repentinamente chamado para retornar à sua terra natal. Seu pai, doente e sem condições de lutar, lhe pede para comandar suas tropas, ajudando a defender o reino de seu grande amigo Hector, ameaçado pela nação de Bern. Com isso, sua marcha até Araphen inicia.

Lamentavelmente, quando o herói chega a Araphen já é tarde demais e, apesar do grupo conseguir reconquistar o castelo, a maior parte do território de Lycia já foi tomado pelas tropas inimigas. Hector foi ferido gravemente durante a batalha, entretanto, antes de falecer, declara que Bern tem controle de dragões e por isso seu poder foi tão destrutivo.
 
Em seu leito de morte, ele suplica a Roy para que reúna quaisquer tropas restantes do reino e se torne seu líder. A jornada do Jovem Leão em busca de deter as forças de Bern então começa.

Fire Emblem: The Binding Blade teve um desenvolvimento conturbado. Inicialmente, o jogo se tratava de um projeto para Nintendo 64 conhecido como Fire Emblem: Ankoku no Miko. Após Shouzou Kaga, um dos principais pilares criativos das primeiras obras, ter saído da Intelligent Systems, o projeto precisou ter praticamente todo o seu desenvolvimento descartado e reiniciado. Restaram apenas pequenos fragmentos, como os personagens Roy e Karel, apesar de ambos ainda assim terem recebido mudanças drásticas no produto final. 

Contudo, essa pequena curiosidade contribui para mostrar como o sexto jogo da franquia é relevante para história da série num geral. Mesmo sem Shouzou Kaga, Fire Emblem conquistou sua própria identidade, sendo The Binding Blade seu primeiro passo. Não querendo desmerecer o incrível trabalho do antigo diretor nos cinco jogos iniciais da série, é claro.

Lordes do passado e do presente

Anteriormente, mencionei como podemos observar aspectos singulares no sexto título de Fire Emblem. Um desses, por exemplo, é a oportunidade de ver lordes passados já em sua meia idade, após o primor de sua juventude, ao contrário de como é de praxe nas histórias, caso tenha jogado sua sequência, denominada como Fire Emblem: The Blazing Blade.

O sétimo título da franquia conta os eventos anteriores à história atual, durante a juventude de Eliwood, pai de Roy, e Hector, pai de Lilina. Os jovens herdeiros podem ser considerados os protagonistas principais da sexta aventura emblemática, e seus pais também estão presentes de uma forma marcante na jornada de Roy. Com certeza, os eventos dos lordes de outrora terão um impacto bem mais profundo em Binding Blade caso você já se tenha apegado a Eliwood e Hector.

Como de praxe, infelizmente, Fire Emblem tem o enfadonho costume de matar os pais de seus jovens protagonistas. Por termos passado dezenas de horas com Eliwood e Hector no sétimo jogo, a morte deles chega de forma muito mais triste agora.

Raramente temos a oportunidade de passar muito tempo com os falecidos lordes em FE, e presenciar seu trágico final, após tanto tempo juntos, machuca não apenas Roy ou Lilina, mas também a nós. Portanto, a fim de maximizar nossa empatia e vontade de honrar seus nomes na nova história, recomenda-se experimentar Blazing Blade antes de Binding Blade, cuja trama que se passa vinte anos depois.

Um novo mundo colorido


Outro ponto interessante é que esse foi o primeiro título de Fire Emblem a ser lançado para Game Boy Advance, que foi considerado a próxima geração para jogos em pixel art. Com cores vibrantes, as animações foram consideradas as mais belas dos jogos 2D da franquia, com destaque especial para seus ataques críticos, executados com extrema dinâmica e fluidez.
 
Mesmo hoje, os Fire Emblem de Game Boy Advance deixaram tamanha a impressão, que constantemente a trilogia desse portátil é lembrada com carinho por esse aspecto. É claro, não podemos nos esquecer dos carismáticos retratos dos personagens, com divertidas expressões que poderíamos ver no mapa e que, pelo menos para mim e muitos outros, marcaram uma era.



Um jogo desafiante, mas será que até hoje?

Na época em que foi lançado, a jornada em Elibe era famosa por ser considerada por alguns fãs como um jogo de dificuldade elevada. Hoje em dia, essa fama levanta alguns questionamentos: seria o jogo realmente tão difícil ou os jogadores apenas ainda não estavam acostumados com a franquia, que era ainda uma novidade para o Ocidente, apesar de seus outros cinco títulos já lançados no Japão? Temos argumentos favoráveis e contrários a essas questões. 
 
Por um lado, a aventura do herói ruivo, por ser um jogo de sua época, não possuía diversos recursos de qualidade de vida que hoje com os quais estamos acostumados hoje em dia, como a opção de selecionar uma dificuldade mais fácil, lojas de armas com itens necessários sempre à disposição em seus capítulos, possibilidade de retornar a mapas antigos para treinar, realocar nossas unidades no mapa logo no início, entre outras opções.
 
Ainda assim, muitas coisas no sexto Fire Emblem em específico deveriam ser consideradas com bastante cautela. Entrar em combate com o personagem errado, por exemplo, poderia se tornar fatal, levando o jogador a perceber o equívoco somente quando não há como desfaze-lo.
 
Um exemplo é usar Marcus para combater excessivamente os inimigos, sendo a unidade um paladino, uma classe já promovida, com um ganho de experiência mínimo. Sem outros mapas para treinar o time, poderíamos facilmente ficar com uma equipe desbalanceada e, consequentemente, tornando impossível recorrer apenas a Marcus para vencer os mapas mais para o final do jogo.

Outro momento em que me senti particularmente desafiada foi no capítulo 4, quando conhecemos Rutger, inicialmente um Myrmidon inimigo equipado com uma poderosa Killing Edge, arma com alta chance de crítico. Seria tudo simples se pudéssemos apenas eliminar ele rapidamente, porém, o espadachim é também um aliado recrutável, mas que somente pode se juntar à equipe caso um personagem em específico, uma vulnerável curandeira, venha falar com ele. Entre perder unidades com um ataque três vezes mais potente de Rutger e acidentalmente matá-lo em um contra-ataque, parece que eu estava andando em uma corda bamba neste capítulo em específico.
 
O Coliseu, nos jogos de GBA, também era uma parte importante de Fire Emblem; seu risco era alto, assim como sua recompensa, e, na prática, era a única forma de tirar o atraso de personagens abaixo do nível ideal, além de uma ótima fonte de dinheiro para emergências. Contudo, caso você se arrisque demais em uma batalha, não importa se é apenas um espetáculo, a morte nessas arenas é tão real quanto no campo de guerra.

E o veredito é…

Pessoalmente, re-jogando Binding Blade em 2023, acredito que há certos exageros e algumas verdades em relação à dificuldade da aventura de Roy. Por um lado, existem, de fato, desafios; por outro, caso o jogador saiba o que está fazendo, o título se torna similar a outras obras da franquia, como Three Houses, Genealogy of the Holy War, Fates e até mesmo Engage.

Tudo, no final das contas, é uma questão de experiência e de como o jogador decide customizar os jogos mais recentes, que podem ser tão trabalhosos quanto você desejar. Sinto que algumas das dificuldades que passei em Binding Blade em 2006 eram apenas um produto de minha inexperiência com jogos de estratégia na época — e quem sabe não seja assim para outras pessoas também?
 
De qualquer forma, com o lançamento no aplicativo de Switch, a obra está muito mais acessível, com funções úteis, como salvar no ponto que você desejar e voltar no tempo para refazer movimentos em batalhas que não tiveram o desfecho que o jogador esperava.

Que tal dar uma chance mesmo com a barreira do idioma?

Fire Emblem: The Binding Blade nunca foi traduzido oficialmente para o inglês, mesmo com seu relançamento no Switch este ano. Existe uma tradução feita por fãs, perfeitamente jogável para aqueles que desejam conhecer a história de Roy e companhia, cujo script pode ser acessado no fórum Serenes Forest. 
 
Há também um guia aqui no Nintendo Blast de como experimentar o jogo oficialmente com uma conta na eShop japonesa. Mesmo com a barreira de linguagem, Fire Emblem, de seu primeiro ao mais recente título, é uma franquia extremamente divertida e The Binding Blade não é exceção à regra.



Espero que esse texto tenha despertado um pouco sua vontade de, quem sabe, conhecer ou re-jogar a obra. Garanto que não irá se arrepender! Para concluir, fica aqui a minha esperança de que, um dia, a Nintendo decida finalmente lançar uma tradução oficial para o jogo, quem sabe ainda no Switch.

Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Referências: Serenes Forest, Fire Emblem Wiki
Artigo produzido com cópia digital cedida pela Nintendo
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Fascinada pela cultura japonesa dos anos '80, '90 e '00. Ama livros, mangás, sua gata maluca, mahou shoujo e jogos. Em especial Dragon Quest, Fire Emblem, Famicom Detective Club, Okami, JRPGs, retrô, Bishoujo & Otome games. Sempre em busca de jogos estranhos ou com propostas inusitadas. Estuda japonês nas horas vagas para conhecer mais obras do tipo.
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