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Análise: Gunbrella (Switch) traz uma arma inusitada, mistério e diversão

O novo título da Doinksoft em parceria com a Devolver Digital é uma ótima pedida para os apreciadores de jogos 2D repletos de estilo.

Preciso confessar: nunca fui lá muito fã de guarda-chuvas, embora reconheça sua grande e natural utilidade nas mudanças climáticas repentinas que o cotidiano às vezes parece se alegrar em proporcionar.


Não obstante, fico muito feliz que a equipe da Doinksoft — a mesma responsável por pérolas como Gato Roboto (Switch) e Devolver Bootleg (Switch) — tenha olhado para o objeto e pensado que idealizá-lo como uma arma seria um bom ponto de partida para um videogame. 

Digo isso porque Gunbrella (Switch) oferece uma ótima experiência que, apesar de curta em sua duração, merece ser conferida por fãs de jogos 2D que contenham ação e estilo. Confira a nossa análise.

Under my umbrella

Em Gunbrella, o protagonista é um lenhador de meia-idade em busca de vingança após o misterioso e brutal assassinato de sua esposa. A sua única pista concreta para isso é um estranho guarda-chuva, que também funciona como uma arma, encontrado na cena do crime — trata-se do Gunbrella, que dá nome ao jogo. 

Logo, caberá ao jogador buscar respostas nas cidades mais próximas, progressivamente desvendando uma narrativa que, sem entrar no campo de spoilers, flerta de modo bem interessante com o terror e o sobrenatural.

Dessa forma, espere ver bastante sangue e personagens duvidosos enquanto tenta descobrir a verdade sobre o assassinato de sua esposa. Tudo isso em uma ambientação noir com resquícios de steampunk que não demora a cativar o jogador.

Ação em 2D

Na prática, Gunbrella é um jogo de ação em duas dimensões. Enquanto busca as respostas de suas muitas perguntas, você visitará cidades, conversará com seus moradores e despachará criaturas gradativamente horrendas para o além. 

Porém, ao invés de fases individuais, tudo ocorre em um mundo contínuo, o que definiria o título quase como um metroidvania, não fosse a sua grande linearidade (lembrando que a Doinksoft já explorou o gênero no passado com Gato Roboto). 

Além da narrativa, que explora temas relevantes como fanatismo religioso e alienação, ainda que superficialmente, as principais sacadas aqui — e que fazem o jogo valer a pena no fim do dia — são os vários recursos da sua arma e a destacada fluidez nos comandos. 

Portar um híbrido de escopeta e guarda-chuva, que parece importado diretamente de Enter the Gungeon (outra obra com a chancela da Devolver), é tão divertido quanto parece e rende bons momentos tanto no combate quanto na exploração.

Isso é porque o Gunbrella pode ser usado, por exemplo, para flutuar brevemente após um salto, rebater projéteis inimigos, mover-se em tirolesas e, claro, estourar miolos de oponentes. 

Assim, com um pouco de prática e as devidas melhorias nas capacidades da ferramenta, que são obtidas naturalmente conforme se progride na história, é possível tornar-se uma verdadeira máquina sanguinária ao longo do jogo.

Com chefes interessantes, que demandam a memorização de seus movimentos, e algumas surpresas para os fãs de plataforma em seu desenrolar, Gunbrella é instigante e desafiador, mas nunca injusto com o seu jogador, o que é algo muito positivo. 

Ainda assim, os fãs mais casuais gostarão de saber que há três níveis de dificuldade, acomodando desde os que só querem mesmo resolver o mistério por trás do assassinato até quem curte superar tudo que a obra pode oferecer em termos de adversidades.

Curto e visceral

Dito isso, o elefante na sala de Gunbrella está relacionado à sua duração. É possível concluir o jogo em bem menos de sete horas, dependendo da sua habilidade com jogos de progressão lateral e do quanto você vai se envolver com as missões secundárias que alguns personagens concedem paralelamente aos eventos principais. 

Sendo bem sincero, dessa forma é bem difícil finalizar a aventura e não sentir um gostinho de “quero mais”. Claro, nem todo jogo precisa oferecer dezenas de horas de conteúdo — afinal, experiências curtas definitivamente têm seu público — mas é preciso deixar claro esse fato a respeito da obra da Doinksoft para evitar frustrações e expectativas irreais.

No mais, a sensação de que tudo acaba um pouco cedo demais é sobretudo um testemunho à qualidade dos elementos do título. Amantes de boa arte em pixel, temática noir e uma bem-executada trilha sonora em jazz, como eu, certamente gostarão muito do que é apresentado aqui, ao menos artisticamente falando. Já os fãs de ação em 2D deverão se sentir em casa com a fluidez da jogabilidade e os desafios que a dificuldade mais alta oferece. 

Também é preciso reportar que, como esperado, a experiência transcorre sem problemas técnicos no Switch, se destacando especialmente no modo portátil do console (aqui está um ótimo título para maratonar em uma madrugada do final de semana, por exemplo).

Em resumo, se a linearidade e a curta duração não são empecilhos significativos para você, Gunbrella entrega o que promete: uma jornada de vingança com violência, estilo e diversão que se encaixa perfeitamente no console da Nintendo. E isso não pode ser menosprezado.

Debaixo do meu guarda-chuva…

Gunbrella mostra que guarda-chuvas podem ser tão letais quanto divertidos, ao menos em um sombrio mundo virtual onde atirar primeiro e perguntar depois é muito eficaz. Violenta, estilosa e instigante, aqui está uma jornada curta, mas que vale a pena ser vivenciada no Switch.

Prós

  • Direção artística digna de elogios que evoca com sucesso temáticas noir e steampunk, cativando e deixando uma ótima impressão;
  • A arma que dá nome ao jogo é divertida e responsiva, tornando tanto a exploração quanto o combate prazerosos dentro do gênero de ação 2D;
  • Flerta de modo interessante com o terror e o sobrenatural, abordando no caminho temas relevantes e reflexivos (ainda que de modo superficial);
  • Suporte a português brasileiro;
  • Sem problemas de performance no Switch.

Contras

  • Acaba um pouco cedo demais;
  • Missões secundárias parecem subutilizadas;
  • Junto com a duração, a linearidade pode não agradar aos jogadores que gostam de obras mais substanciosas.
Gunbrella — PC/Switch — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: João Pedro Boaventura
Análise produzida com cópia digital cedida pela Devolver Digital

é bacharel em Produção Cultural pela UFF e estudante de Comunicação Social pela FSMA. Na infância, ganhou um Super Nintendo dos pais e, desde então, nunca mais deixou o mundo dos games. Ainda sonha em ser um Mestre Pokémon.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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