Análise: Naruto X Boruto: Ultimate Ninja Storm Connections (Switch): relembrar é bom, mas nem sempre necessário

Naruto X Boruto: Ultimate Ninja Storm Connections é o mais recente título da série Storm, que é desenvolvida pela CyberConnect2, publicada pela Bandai Namco e está celebrando 15 anos em 2023. Embora mantenha a intensidade dos combates característica de seus predecessores e apresente o mais abrangente elenco de personagens até o momento, o jogo deixa a desejar ao não introduzir novidades significativas em seu conteúdo

Repetindo o que deu certo

O universo de Naruto tem sido agraciado com adaptações notáveis para videogames ao longo dos anos. Desde o lançamento de Clash of Ninja para o GameCube em 2002, o icônico ninja loiro protagonizou uma coleção de obras envolventes para as mais diversas plataformas. Algumas delas, como Ultimate Ninja 5 (PS2) e The Broken Bond (X360), destacaram-se como produções incrivelmente divertidas.

Entretanto, o ápice dos jogos de Naruto foi alcançado com a série Ultimate Ninja Storm, iniciada em 2008. Com batalhas dinâmicas em ambientes 3D, animações cel shading de alta qualidade, um elenco grandioso que crescia a cada sequência e um modo história imersivo com exploração livre e trama fiel aos eventos do mangá/anime, os quatro títulos principais desta saga se consagraram entre os melhores games baseados em animações.

Agora, em Naruto X Boruto: Ultimate Ninja Storm Connections, revemos algumas das características que tornaram essa franquia tão cativante, com o game mantendo a energia e a beleza dos lançamentos anteriores, trazendo embates em que os personagens se movem em velocidades estonteantes, proporcionando uma experiência visualmente encantadora.

Para os não iniciados, as batalhas desta série ocorrem em cenários 3D, permitindo ao jogador escolher um lutador principal e dois de suporte, podendo alternar entre eles durante o confronto. Há uma variedade de golpes corpo a corpo, combos, ataques à distância e objetos arremessaveis como kunai e shuriken, além de técnicas especiais que consomem chakra, uma energia que pode ser recarregada manualmente, mas que mantém o indivíduo vulnerável no processo.

Os personagens utilizam movimentos característicos do material original e apresentam estilos distintos, desde a rapidez de ninjas como Minato até habilidades de arremesso apelativas como as de Deidara e Tenten. Além desses fatores, a função de defesa, quando executada no momento correto, permite esquivas e contra-ataques, contribuindo com a agilidade das lutas.

Vale destacar que o jogo é bastante fluido no Nintendo Switch, com as batalhas offline e online não apresentando nenhum problema de performance. O título ainda possui uma variedade de colecionáveis e cosméticos que podem ser adquiridos com as moedas conquistadas durante a jogatina, proporcionando um pouco mais de longevidade para quem possui um senso complecionista.

Outro aspecto notável é a presença de técnicas especiais combinadas, que rendem momentos nostálgicos para os fãs que acompanharam fielmente a animação. Soma-se a isso o fato do game estar totalmente dublado e legendado em português, com a maior parte das vozes originais do anime estando presente.

No entanto, apesar desses acertos, Storm Connections se destaca mais por replicar a fórmula de seus predecessores do que por méritos próprios, apresentando como grande novidade apenas a introdução de alguns personagens.

720 episódios condensados em um resumo sem coração

A despeito dos bons modos de luta, um aspecto deixa muito a desejar: a ausência de uma campanha envolvente. Para ser justo, o jogo possui dois modos desse tipo, o História e o História Especial; contudo, ambos estão muito aquém do brilho oferecido pelos títulos numerados desta série.

O primeiro conteúdo é centrado na jornada de Naruto, desde sua ascensão como Genin até o fim da quarta guerra. Com a justificativa de impedir que as memórias do mundo ninja sejam apagadas, somos convidados a reviver os principais momentos da trajetória do garoto.

Infelizmente, a trama é contada resumidamente por meio de imagens estáticas do anime com narração sobreposta, não entregando qualquer peso ou emoção que os momentos marcantes requerem. Além disso, não houve muito cuidado na seleção dos quadros, pois alguns dos piores frames da animação foram utilizados, especialmente da clássica. Também é importante mencionar que a maioria dos confrontos nesta modalidade é uma mera repetição dos apresentados na quadrilogia original.

Por sua vez, o modo História Especial apresenta um enredo original focado em Boruto. Nele, o filho do sétimo hokage, juntamente com Mitsuki e Sarada, adentra um mundo virtual de um misterioso jogo que, por algum motivo, deixa os jogadores muito cansados após as sessões de gameplay.

Este conteúdo se assemelha mais ao que foi visto em Ultimate Ninja Storm 4, com a trama sendo contada por meio de animações dinâmicas intercaladas com alguns momentos de combate. Contudo, embora ele apresente alguns lampejos empolgantes, o ponto central gira em torno do clichê que costumamos ver em franquias que já esgotaram suas ideias: o vilão é um indivíduo qualquer que se inspira ou idolatra algum antagonista da era de ouro da produção original — neste caso, Pain.

A ideia de um mundo virtual dentro do universo de Naruto é interessante e oferece algumas situações inusitadas, como crianças utilizando avatares de ninjas que elas não conhecem e que causaram grande destruição no passado, como os membros da Akatsuki. Talvez essa premissa fosse melhor aproveitada em um modo de exploração livre, com possibilidades de conseguir colecionáveis pelo mundo e realizar missões opcionais, como o que foi feito nas campanhas de Storm 2 e 3.

Com esses aspectos em mente, fica muito difícil recomendar Storm Connections a alguém que deseja iniciar na série, pois a forma apressada e sem emoção com que a trajetória do ninja da folha é contada deixa muito a desejar. Particularmente, acho muito mais interessante e emocionante conferir essa jornada por meio dos quatro títulos numerados, disponíveis em uma coleção denominada Naruto Shippuden: Ultimate Ninja Storm Legacy.

Essa coletânea completa, infelizmente, não está disponível em um único pacote no Switch como está em outras plataformas; contudo, a biblioteca do híbrido da Nintendo possui Naruto Shippuden: Ultimate Ninja Storm Trilogy, que contempla os três primeiros jogos, e Naruto Shippuden: Ultimate Ninja Storm 4 Road To Boruto, que inclui os DLCs lançados para ele.

Para os entusiastas de longa data, os combates continuam tão divertidos quanto nas entradas anteriores, sendo este o maior elenco de personagens já visto dentro da franquia, mesmo que essa contagem considere as diversas variantes, como as do próprio Naruto. Além disso, ainda que o modo História Especial possua um antagonista genérico, existem alguns momentos empolgantes, com destaque para a introdução de uma certa jovem que não me surpreenderia se futuramente for reaproveitada no anime.

No entanto, embora não se configure como um jogo ruim, é desafiador encontrar uma razão concreta ou uma característica marcante que verdadeiramente justifique a existência deste novo título. Para os seguidores assíduos da série, o apelo nostálgico e a introdução de novos indivíduos podem, em certa medida, despertar algum tipo de interesse; contudo, para aqueles que estão ingressando pela primeira vez, a carência de profundidade na trama diminui consideravelmente a imersão na narrativa original.

Storm Connections não é o jogo definitivo da série

Naruto X Boruto: Ultimate Ninja Storm Connections celebra os 15 anos da série Storm com intensos combates e um vasto número de personagens. No entanto, a falta de novidades significativas deixa o produto muito mais próximo de uma repetição do que de uma evolução. Em suma, a verdadeira essência da jornada do ninja da folha é melhor explorada nos títulos numerados desta saga.

Prós:

Apresenta o elenco mais abrangente da série, reunindo personagens familiares e novas figuras;
Mantém a dinâmica e a beleza dos títulos anteriores, com combates em velocidades estonteantes;
A presença de uma variedade de colecionáveis e cosméticos confere certa longevidade para os complecionistas;
Dublado e legendado em português.

Contras:

Não traz acréscimos significativos em termos de conteúdo, sendo uma grande repetição de mecânicas dos títulos anteriores;
O modo História não consegue transmitir o peso emocional necessário aos momentos cruciais da trama, enquanto o História Especial recorre ao uso de um antagonista genérico comum em franquias saturadas;
A premissa intrigante do mundo virtual não é plenamente explorada, deixando de oferecer oportunidades de exploração livre e missões opcionais que poderiam enriquecer a campanha;
Não há uma justificativa clara para sua existência, assemelhando-se mais a um conteúdo adicional do que a um produto completo.