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Análise: Promenade (Switch) é um feijão-com-arroz que se destaca entre seus semelhantes

Esta aventura de plataforma evoca excelentes nomes do gênero.



Muito se reclama das enxurradas de jogos parecidos demais, que pouco acrescentam aos seus gêneros ou que simplesmente copiam fórmulas de sucesso de tempos longínquos para os padrões da indústria. Eu concordo em parte com essas críticas, mas acrescento que não há nada de errado com uma obra que seja tão honesta quanto bem-feita, seja nos videogames ou em qualquer outra mídia, e sem a menor dúvida é o que temos em Promenade.


Desenvolvido pelo estúdio francês Holy Cap Studio, este é um indie que provavelmente surpreenderá quem lhe der uma chance — não que ele seja revolucionário, longe disso, mas seu escopo certamente não é o que se espera da maioria dos títulos independentes e, ainda que não seja consistente 100% do tempo, ele tem qualidades mais do que suficientes para agradar a públicos variados.

Foi daqui que chamaram a manutenção do elevador?

Uma das primeiras características que captamos a respeito de Promenade é que ele não nos dá muito contexto a respeito do seu enredo — característica esta, aliás, que se estende ao jogo de forma geral, como veremos mais para a frente.




Nos primeiros minutos de gameplay, vemos apenas um garotinho e seu pequeno amigo polvo saindo de uma caverna (após um amigável tutorial inicial) e aterrissando em um cenário belo e colorido, cuja estrutura central é o Grande Elevador, que serve como principal meio de transporte entre os andares deste mundo fantástico.

Após um incidente misterioso, as engrenagens que mantêm o GE (não confundir com Globo Esporte) funcionando são removidas e destruídas, e seus fragmentos são espalhados para todos os lados. Obviamente, nossa dupla de protagonistas agora precisa partir em uma jornada para recuperar essas engrenagens e restaurar o Grande Elevador.

Além das aparências, bastante tradição e um pouco de ame-o ou deixe-o

Promenade é um platformer que consegue ser direto ao ponto e complexo ao mesmo tempo. Em seu núcleo, ele é uma aventura típica do gênero: atravessar fases, combater inimigos, superar desafios de plataforma, desvendar puzzles de ação e lógica, derrotar chefões… o pacote completo está presente. No entanto, conforme eu disse no começo da análise, o que chama muito a atenção aqui é o escopo do conteúdo.




Quando embarquei nessa jornada, imaginei que se tratasse de um jogo curto e despretensioso, com uma temática e estilo artístico fofinhos e nível de dificuldade moderado. É com satisfação que digo que acertei apenas na parte da fofura, pois todo o resto fez com que eu me surpreendesse muito positivamente.

A quantidade de fragmentos de engrenagem para coletar é impressionante, e sua distribuição se dá por meio de uma variedade muito criativa de pequenas missões de diferentes estilos, dos típicos desafios de plataforma aos quebra-cabeças que exigem aquela dose de raciocínio lógico. A temática das fases segue um padrão bem básico, e sua estrutura, graças aos céus, não é linear, incentivando a exploração a todo momento.

Mecanicamente, nosso carismático protagonista utiliza seu parceiro polvo como uma ferramenta tanto para atacar quanto para se locomover, agarrando inimigos e os arremessando para ganhar impulso; se prendendo em ganchos espalhados pelas fases; e até armazenando criaturas ou diversos outros objetos em uma mochila para uso futuro.




Os leitores mais experientes podem já ter entendido o que esse incentivo à exploração significa. Para alegria de muitos e tristeza de outros tantos, Promenade se apoia com força no famigerado backtracking, interligando fases e objetivos que exigem certo esforço da parte do jogador para fazer conexões lógicas, além de uma andança constante pra lá e pra cá entre pontos muitas vezes distantes. Quem gosta dessa linha de game design vai se deliciar, e quem não gosta… bom, deixo aqui a ressalva de que, neste caso, considero que o esforço vale a pena.

Se inspirando do jeito certo

Promenade não faz esforço nenhum para esconder suas fontes — pelo contrário: os desenvolvedores da Holy Cap Studio até as citam no site oficial do jogo. Para a surpresa de ninguém, os principais “homenageados” vão de obras consagradas, como Banjo-Kazooie, a clássicos modernos como Super Mario Odyssey. Porém, eu gostaria de incluir uma referência que nem os próprios devs mencionaram: a série Klonoa.

A mecânica de arremessar um projétil para capturar inimigos e usá-los como arma ou fonte de movimentação vertical me lembrou imediatamente desse clássico dos jogos de plataforma. Seja essa semelhança intencional ou não, trata-se de uma mecânica da qual eu gosto demais e que foi muito bem implementada aqui, incrementando a criatividade na elaboração de várias das seções de plataforma da campanha.




Retornando às inspirações explícitas, o foco nos coletáveis em quantidade massiva (o famoso collectathon), cenários abertos para explorar, segredos que envolvem backtracking e a conexão entre fases são apenas algumas das características mais marcantes das sagas do urso mais famoso da Rare e sua parceira galinácea, isso pra não falar do bigodudo mais conhecido da história dos games.

Um detalhe que diferencia Promenade de muitos de seus parentes platformers é uma ausência quase que inteira de textos, sobretudo diálogos. Lembra que eu falei da falta de contexto na explicação do enredo? Também é o caso aqui, pois toda a comunicação se dá quase que exclusivamente pelo aspecto audiovisual, incluindo as dicas para a resolução dos objetivos. A exceção natural são as listas com as missões de cada fase.

Pessoalmente, eu gostei do que isso significa para a elaboração dos puzzles e dos segredos espalhados pelos cenários. Não ter o auxílio dos diálogos escritos e outras formas de texto faz com que precisemos trabalhar nossa capacidade de interpretação e dedução mais do que o normal para jogos do tipo, o que geralmente implica em uma sensação ainda maior de satisfação ao concluirmos um ou outro desafio particularmente complicado.



É tanto conteúdo que às vezes dá uma enjoada

Eu poderia dizer que a ausência do português entre os idiomas disponíveis em Promenade é um ponto de complicação, mas a verdade é que o pouco texto mostrado pode ser facilmente traduzido, então ao menos esse obstáculo não existe aqui. O entendimento de como as coisas funcionam está muito mais atrelado à já citada leitura dos elementos audiovisuais do que à compreensão da língua na qual o jogo está configurado.

O que de fato atrapalha são os momentos em que o backtracking se torna um pouco exagerado. Eu não me oponho a um estilo de game design que nos faz retornar a áreas já visitadas após certos pontos de progresso, mas esse recurso é empregado em excesso na aventura do garotinho com orelhas de coelho e seu colega polvo. Dando um leve spoiler, uma das missões no hub do jogo é literalmente um museu em que precisamos coletar objetos específicos de algumas fases e trazê-los de volta. É basicamente um vai-e-volta sem muita emoção.




Se esse fosse o único ponto negativo, Promenade estaria bem próximo da perfeição para um jogo do seu nível de ambição, mas infelizmente ele cai em um dos problemas mais clássicos de qualquer videogame, independentemente do gênero: a repetitividade.

Com tantos fragmentos de engrenagem para coletar, tanto espaço para explorar, tantos segredos para desvendar, não é de se admirar que algumas das tarefas que precisamos cumprir sejam parecidas entre si. Na verdade, é até louvável o quanto a Holy Cap se esforçou para evitar que esse problema se tornasse frequente, mas uma hora ou outra você o verá na sua jogatina.

Às vezes, não é preciso inventar a roda para alcançar o sucesso

Promenade tem uma história simples, ainda que misteriosa, e uma gameplay prática extremamente bem planejada e executada para o que é esperado de um exemplar de plataforma.

Sua desenvolvedora soube extrair as qualidades de clássicos do gênero e combiná-las com a identidade própria da sua criação, resultando em um título que vai cumprir com seu papel provavelmente por mais tempo do que normalmente se espera de um indie, apesar de eventuais momentos de desgaste, que inclusive são comuns até em jogos de menores proporções. Se você curte platformers e está procurando por uma experiência honesta e bem-feita, pode ir sem medo.

Prós:

  • Faz o tradicional do seu gênero, mas o faz com muita qualidade e identidade própria;
  • Excelente emprego de pontos fortes dos clássicos de plataforma, como Banjo-Kazooie e Super Mario;
  • Um ótimo nível de dificuldade e criatividade na elaboração dos seus desafios de plataforma e puzzles de raciocínio lógico;
  • A comunicação quase que exclusivamente audiovisual faz com que precisemos trabalhar nossa capacidade de interpretação e dedução mais do que o normal para jogos do tipo.

Contras:

  • O backtracking se torna exagerado em alguns momentos;
  • Ainda que a desenvolvedora se esforce para evitar uma repetitividade frequente, ela aparece cedo ou tarde, dependendo da paciência do jogador.
Promenade — Switch/PC/PS4/PS5/XBO/XSX — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: Switch

Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Red Art Games

Apaixonado por jogos desde criança, principalmente pela Nintendo. Seja Indie ou AAA, os videogames vão estar sempre no meu coraçãozinho, com um espaço especial para multiplayers!
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