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Análise: Klonoa Phantasy Reverie Series (Switch) resgata duas criativas pérolas dos platformers

A coletânea reintroduz as aventuras iniciais do Caminhante dos Sonhos para consoles de mesa, com um reforço visual e novos recursos de funcionalidade.



Os jogos de plataforma viveram um momento próspero com o salto de gerações que ocorreu a partir da segunda metade da década de 1990. O gênero se beneficiou imensamente da introdução ao 3D,  com diversos títulos e franquias que se tornaram clássicos absolutos e atemporais.


Uma dessas franquias é Klonoa. Ainda que não seja tão conhecido quanto mascotes saltitantes como Crash Bandicoot ou Mario, o híbrido de cachorro, gato e coelho fez sucesso suficiente para receber uma sequência principal e alguns spin-offs. Para comemorar os 25 anos de história do personagem, a Bandai Namco reuniu em Klonoa Phantasy Reverie Series as duas entradas da série para consoles de mesa: Door to Phantomile (DtP), de 1997, e Lunatea’s Veil (LV), de 2001.

Os jogos foram remasterizados (a versão atualizada do primeiro Klonoa é a lançada em 2008 para o Wii) e receberam funcionalidades para facilitar a jogatina, os chamados recursos de qualidade de vida (quality of life). As diferenças, sobretudo gráficas, saltam aos olhos e melhoram ainda mais o que já eram dois excelentes exemplares de platformers 2.5D.

Nossa, que sonho(s) maluco(s) que eu tive

A temática recorrente na série Klonoa é o protagonista homônimo visitando mundos de sonhos para salvá-los da destruição. No primeiro game, trata-se da terra lendária de Phantomile; na sequência, o cenário é Lunatea.




A trama de ambos os games é a mesma: Klonoa precisa passar pelos cinco reinos que compõem Phantomile e Lunatea para derrotar o indivíduo maligno que ameaça cada um desses mundos. Acompanhando o protagonista, estão parceiros que lhe conferem o poder do Wind Ring (Anel do Vento), arma capaz de disparar as Wind Bullets (Balas de Vento) para inflar e capturar inimigos, que podem ser usados tanto como munição quanto para ganhar impulso vertical.

Diferentes tipos de oponentes hostis são encontrados ao longo do caminho, com habilidades como escudos ou projéteis e funções ao serem apanhados por Klonoa; geralmente essas funções estão ligadas à progressão ou à resolução dos quebra-cabeças espalhados pelas fases, denominadas Visões, das quais algumas têm as tradicionais batalhas contra chefões ao final.

A progressão é estritamente linear na campanha de Door to Phantomile; já Lunatea’s Veil tem um mapa um pouco mais diversificado, mas ainda bem direto ao ponto. A diferença mais substancial está na repetição de alguns cenários sob condições distintas, como distribuições diferentes de inimigos, plataformas e objetos coletáveis/escondidos. Senti falta de um método de deslocamento rápido por esse segundo mapa, que nos faz dar algumas idas e vindas na lenta movimentação de Klonoa.




Esse é um roteiro que já na época dos lançamentos originais era bem clichê, mas como é o caso na esmagadora maioria dos títulos de plataforma, o real interesse não está no enredo, e sim… bom, nas plataformas.

Agora, dirija sua atenção ao puzzle à esquerda… não, calma, ele está pra direita

“Clássico” é um adjetivo que pauta do começo ao fim as gameplays da criaturinha com um Pac-Man no boné, compostas por um puzzle platformer que se torna único graças à mecânica das Wind Bullets.

Ainda que simples e manjada para os padrões atuais, a engenhosidade dos desafios de lógica de Door to Phantomile e Lunatea’s Veil, em combinação com a destreza necessária para superá-los, continua divertida e traz aquela tão cobiçada e satisfatória sensação de recompensa.

O formato 2.5D é outra parte essencial do porquê os quebra-cabeças de Klonoa funcionam tão bem. À medida que o Viajante dos Sonhos vai seguindo em frente, às vezes parece que partes do cenário estão muito próximas, ao alcance do jogador, mas como você só tem a opção de seguir reto, a progressão se torna um intrigante labirinto de perspectivas.




Tanto DtP quanto LV brincam muito bem com o uso de diferentes camadas dos cenários. A noção de profundidade atrapalha um pouco em alguns casos, mas é uma nuance à qual não é tão complicado se adaptar. A criatividade da Namco para elaborar puzzles que mexem com os direcionais de cima e de baixo, que respectivamente posicionam Klonoa em direção à tela e de costas para ela, é particularmente impressionante para um platformer do fim dos anos 1990/começo dos anos 2000.

Deixando itens para trás pra evitar a fadiga

Também é clássica a existência de itens coletáveis para dar ao jogador um objetivo paralelo; porém, no caso da dupla de games de Phantasy Reverie Series, a forma e a estrutura na qual eles são inseridos deixa bastante a desejar. Mas vamos com calma.

Além dos itens úteis à sobrevivência, como checkpoints, vidas extras e corações para recuperar pontos de vida, DtP e LV têm dois tipos de colecionáveis: as Dream Stones (Gemas dos Sonhos), gemas que rendem vidas adicionais e outros bônus dependendo do jogo; e os Phantomillian Prisoners (Prisioneiros Phantomilianos)/Momett Doll Bells (Sinos de Bonecas Momett), divididos em seis por fase para desbloquear mais conteúdo se você achar todas as partes.




Cada Visão contém exatamente 150 Dream Stones, e é preciso coletar absolutamente todas para obter as respectivas recompensas de cada game. Por si só, isso não seria um problema, mas eis que entra o que para mim é disparado o pior defeito de game design da franquia Klonoa: a longevidade dos estágios e as limitadas possibilidades de recomeço de progresso.

As fases têm os já citados checkpoints em forma de relógio para marcar o trajeto percorrido até então por Klonoa e recolocar o jogador nesses pontos caso ele morra. Até aí, tudo bem — só que não existe a opção de retornar diretamente ao último checkpoint caso você deixe passar algum item e queira repetir um determinado trecho da Visão para procurá-lo. Suas únicas escolhas nesse caso são voltar tudo de novo ou perder uma vida propositalmente.

Isso não é um obstáculo tão ruim nas primeiras Visões das campanhas, mas quanto mais você vai avançando, mais extensas e difíceis elas vão se tornando. Já que deixar uma mísera Dream Stone para trás significa não fazer os 100% nas fases, você vai ter que refazê-las por completo ou morrer intencionalmente, o que é ridiculamente cansativo e contraprodutivo, e pode ser um problema para quando você realmente precisar de muitas vidas.

Um “multiplayer” tão divertido quanto deixar seu priminho com o controle desconectado

Além do tapa na estética, Door to Phantomile e Lunatea’s Veil receberam algumas outras novidades para suas versões em Klonoa Phantasy Reverie Series.




No caso de DtP, as diferenças no estilo artístico e no desempenho são perceptíveis, com novos modelos de personagens e cenários, mais brilhantes e coloridos; cutscenes completamente retrabalhadas na engine da versão de Wii; e, no caso da versão original para PS1, a transição total de alguns modelos em sprites para versões totalmente 3D.

O salto gráfico chama a atenção também na comparação entre as versões do segundo game, considerando que o parâmetro para o remaster foi o lançamento original, de 2001.

Em relação ao conteúdo de gameplay em si, a coletânea inclui um inédito Modo Fácil, em que Klonoa tem vidas infinitas,  perde menos HP ao levar dano e suas Wind Bullets vão mais longe; e ferramentas para acelerar a velocidade dos diálogos das cutscenes em 5 vezes ou pulá-las inteiramente. Esse nível de aceleração ficou um pouco exagerado, mas nada muito comprometedor.




Por fim — e nesse caso, realmente menos importante —, Phantasy Reverie Series tem em seus dois jogos uma mecânica cuja inutilidade me deixou impressionado: o Support Mode.

Essa patética funcionalidade, que existe mais como uma desculpa para a Bandai Namco poder dizer oficialmente que a coletânea tem suporte a dois jogadores, dá a Klonoa a capacidade de realizar um salto adicional, ativado pelo segundo “jogador”. A habilidade gasta uma barra de energia, que rapidamente se recarrega antes de poder ser utilizada novamente.

O que dizer desse Support Mode? No improvável caso de você encontrar alguém masoquista o suficiente para ficar parado lhe vendo jogar e ocasionalmente apertando um botão para te dar um impulso extra, não imagino que isso acrescente qualquer camada de diversão para nenhuma das partes.

Despertando de um longo sono

Klonoa Phantasy Reverie Series é uma coletânea que enfim dá aos games principais do indistinto herói antropomórfico o tratamento que eles merecem depois de tantos anos no limbo, pontuados apenas por um obscuro remake de Door to Phantomile para o Wii.




Eu recomendo fortemente que você dê um tempo entre os dois títulos, pois maratoná-los em sequência pode ser prejudicial sobretudo à sua experiência com Lunatea’s Veil. Uma jogatina seguida da outra muito provavelmente irá potencializar suas críticas e frustrações, transportadas de DtP, para com a sequência do Klonoa de 1997, influenciando negativamente o que deveria ser mais uma gameplay memorável.

Portanto, a menos que a sua vontade de encarar ainda mais Visões e recolher Dream Stones seja insuperável, dê uma descansada e vá curtir outros joguinhos antes de levar Klonoa por um passeio por Lunatea. Esse talvez seja o caminho ideal para aproveitar ao máximo mais esta dupla de platformers clássicos que chega aos consoles atuais.

Prós:

  • As diferenças entre as versões originais e os remasters, sobretudo no quesito gráfico, saltam aos olhos e melhoram ainda mais o que já eram dois excelentes exemplares de platformers 2.5D;
  • A criatividade e engenhosidade dos puzzles, em combinação com a destreza necessária para superá-los, continua divertida e traz aquela tão cobiçada e satisfatória sensação de recompensa;
  • O formato 2.5D transforma a progressão e os quebra-cabeças em um intrigante labirinto de perspectivas;
  • Os jogos brincam muito bem com o uso de diferentes camadas dos cenários, com destaque para os puzzles que fazem um uso muito criativo das diferentes direções para onde Klonoa pode mirar;
  • O Modo Fácil é uma boa opção inédita para quem tiver maiores dificuldades com os desafios da série Klonoa.

Contras:

  • A maneira como o colecionismo foi implementado em ambos os jogos leva a um insuportável formato de tentativa e erro;
  • O aumento progressivo de tamanho e dificuldade das Visões, pontuado por duas péssimas opções de recomeço de fase se você quiser os 100% (voltar ao ponto de partida ou perder uma vida propositalmente), agrava ainda mais o ponto anterior;
  • O Support Mode é uma das mecânicas mais desnecessárias que eu já vi em um videogame;
  • Faltou um recurso de deslocamento rápido pelo mapa de Lunatea’s Veil.
Klonoa Phantasy Reverie Series - Switch/PC/PS4/PS5/XBO/XSX - Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Bandai Namco Entertainment

Apaixonado por jogos desde criança, principalmente pela Nintendo. Seja Indie ou AAA, os videogames vão estar sempre no meu coraçãozinho, com um espaço especial para multiplayers!
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