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Análise: Spirit Hunter: Death Mark II (Switch): de volta à caça dos espíritos

Uma péssima escolha de gameplay foi o suficiente para enfraquecer o terceiro jogo da franquia de terror da Experience.

Spirit Hunter: Death Mark II
é o terceiro jogo de uma franquia de terror da desenvolvedora Experience. Os títulos exploram conceitos interessantes de enfrentamento de espíritos com certa inspiração na expertise da empresa em dungeon crawlers, mas distorcido para um aspecto de enigma/puzzle.
 
Com o novo jogo, a Experience traz de volta os personagens do primeiro Death Mark, levando o protagonista a novamente vasculhar o mundo dos espíritos. Desta vez, ele tenta resolver o misterioso caso de uma escola e acaba se tornando alvo dos ataques da criatura conhecida como The Departed (o que equivale a Defunta em português).

Os espíritos que rondam o colégio

Konoehara Academy é um colégio de prestígio em H City, mas eventos estranhos têm acontecido por lá. No quadro de avisos da escola, alguém colocou uma carta manchada de vermelho endereçada a uma estudante que costuma usar um lacinho de cabelo. Pouco tempo depois, ela desapareceu sem deixar rastros.
 
Agora, uma nova carta apareceu, desta vez endereçada a um personagem pianista. Para proteger a reputação do colégio e sem a possibilidade de contar com a ajuda da polícia pela falta de indícios de crime, o diretor entra em contato com um indivíduo que já teve experiências paranormais. É aí que entra o jogador na pele do protagonista de Death Mark, agora já tendo suas memórias de volta.
 
O que poderia parecer até mesmo só uma piada de mau gosto logo se mostra uma situação profundamente desconfortável. Ao longo de sete capítulos, o jogador terá que conhecer várias lendas locais, sendo necessário descobrir o que deu início a elas e como apaziguar os espíritos, atendendo a seus desejos.
Assim como nos jogos anteriores, isso significa investigar várias localidades, encontrar documentos e outras pistas e depois enfrentar os espíritos em “batalhas de turno” que se comportam como puzzles. A investigação dos casos é bem interessante, tendo uma forte inspiração em lendas japonesas populares, como a Hanako do Banheiro.

Vale destacar que há alguns pequenos erros na tradução para o inglês. Isso é especialmente perceptível em momentos nos quais nuances de gênero e número de personagens ou tempo verbal são equivocados. Não é algo comum a ponto de se tornar um grave problema, mas leitores mais atentos vão perceber esses defeitos no texto.

Um mundo com rolagem lateral

Ao contrário dos jogos anteriores da série, Death Mark II não é exclusivamente visto por um ponto de vista de point-and-click. Precisamos andar pelas áreas como em um jogo de plataforma em estilo side scroller. Graças a essa escolha, temos algumas áreas contínuas maiores para explorar do que os jogos anteriores.

Na prática, a escolha não traz nada específico que não poderia ser feito também no modelo anterior de point-and-click. A exploração e a interação com os objetos mantêm o mesmo funcionamento, mas alguns jogadores devem ficar felizes em poder ver o seu personagem correndo de um lado para o outro do colégio e arredores em vez de observar tudo em primeira pessoa.

Uma adição interessante do jogo são os momentos em que distorções espirituais tomam conta de uma área. Para lidar com elas, é necessário vasculhar o lugar em busca da raiz da maldição e quebrá-la. Até que isso aconteça, o jogador e seu aliado atual vão perder energia, dando um caráter de urgência à tarefa, já que ficar sem forças leva a um game over.

Energia para continuar

Um dos elementos mais interessantes da gameplay é o fato de que tanto o protagonista quanto o seu aliado possuem uma energia limitada. Ao encarar espíritos e situações sobrenaturais, será necessário consumir essa barra, mas ela também é uma espécie de HP do aliado, e ficar sem energia equivale à morte.
 
Uma forma de aumentar esse limite é encontrar artefatos curiosos chamados Eerie Teeth. Elas são fonte de experiência, aumentando o nível da equipe como em um RPG, o que amplia a energia máxima e restaura a barra até o valor total. Além disso, esses itens escondidos no cenário servem como uma espécie de moeda de troca para comprar relíquias sagradas.

Esses itens fazem uma enorme diferença na experiência, especialmente próximo ao final do jogo. Com elas, é possível reduzir o consumo de energia e o dano causado em confrontos espirituais, assim como melhorar as chances de uma ação funcionar em combate. Esse último caso acaba escancarando o maior problema do jogo.

Dando sopa para o azar

A série Spirit Hunter envolve enfrentar espíritos em combates de turno, mas as ações são na verdade um quebra-cabeça. Na prática, o que precisamos fazer é simplesmente descobrir o golpe correto para prosseguir. Há apenas uma ilusão de escolha e a ideia é testar se o jogador realmente prestou atenção no que conseguiu descobrir ao longo da investigação do caso.
 
Em Death Mark II, temos a adição de uma mecânica que só interfere negativamente no processo: o fator sorte. Enquanto nos jogos anteriores bastava descobrir a ação correta para avançar, no terceiro título da série cada opção de batalha (tanto errada quanto certa) tem uma “chance de funcionar”.

O jogador pode escolher corretamente o que fazer e falhar na execução, perdendo energia e até tendo uma morte prematura por isso. Além disso, o fato de conseguir realizar qualquer uma das outras opções não significa nada porque elas são erradas e vão apenas levar o jogador a ter que tentar novamente. Em vez de desincentivar a tentativa e erro, esse sistema só torna o processo todo mais frustrante.
Para piorar a situação, a estrutura também se tornou mais linear do que antes. No primeiro Death Mark e em Spirit Hunter: NG, as batalhas finais de cada capítulo envolviam uma escolha: usar os itens que vão eliminar os espíritos ou aqueles que vão resolver as suas pendências pós-morte? O primeiro também dava conta do serviço, mas levava a mortes cruéis dos nossos aliados e ao final ruim, valorizando o conceito de entender a verdadeira causa das maldições mesmo diante das adversidades.
 
No terceiro jogo, em vez disso, temos apenas uma forma de enfrentar os espíritos. Uma vez terminada a batalha, temos mensagens profundamente explícitas apresentando uma tarefa adicional que deve ser feita para salvar esses espíritos. Com isso, perdemos a maleabilidade e o valor muito mais interessante que existia nos combates anteriores.

O veredito postmortem

Death Mark II ainda é um jogo de terror interessante? Com toda certeza, afinal ele continua a trazer tramas envolventes para os espíritos, ilustrações de altíssima qualidade (com eventos de história estilo CG de visual novel) e, especialmente, uma direção de som de arrepiar todos os cabelos no corpo com as vozes dos espíritos e efeitos sonoros. Em contrapartida, as escolhas da gameplay em termos de combate fizeram a série dar alguns passos para trás. 
 
Spirit Hunter: Death Mark II opta por uma exploração mais experimental em vez de aproveitar o que já estava consolidado em seus antecessores. Infelizmente, o resultado final é mais frustrante do que o ideal, fazendo com que este jogo esteja aquém da qualidade dos títulos anteriores, mesmo com uma história interessante e um bom trabalho em termos de produção audiovisual.

Prós

  • As lendas de cada capítulo são casos bem curiosos e interessantes de conhecer mais a fundo;
  • A trilha sonora e especialmente os efeitos especiais (o que inclui vozes ocasionais de espíritos) permitem uma experiência de terror muito imersiva;
  • O sistema de Eerie Teeth como colecionável escondido que pode ser usado como moeda valoriza a exploração das áreas;
  • Ilustrações de alta qualidade, chamando a atenção especialmente os espíritos e eventos que possuem uma arte própria (CG).

Contras

  • Ao optar pelo sistema de porcentagem para a realização das ações, o jogo só se torna mais frustrante e força o jogador a repetições desnecessárias;
  • O enfrentamento dos espíritos perdeu a maleabilidade das múltiplas escolhas, reduzindo conseguir o final bom do capítulo a “realizar uma ação óbvia depois do fato”;
  • Alguns pequenos erros textuais e de tradução para o inglês são perceptíveis.
Spirit Hunter: Death Mark II — Switch/PC/PS5 — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Aksys Games

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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