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Análise: Balatro (Switch) une pôquer e roguelike para entregar uma experiência divertida e viciante

Prepare-se para gastar horas e mais horas neste indie obrigatório para quem aprecia carteados.

Uma das coisas mais legais de acompanhar a indústria dos games e seus constantes lançamentos é que, de tempos em tempos, é possível se surpreender com jogos praticamente perfeitos em suas propostas e irretocáveis na execução delas.



É o caso de Balatro. Desenvolvido quase que completamente por uma única pessoa — o programador LocalThunk —, este título indie ousa ao unir pôquer, construção de baralhos e mecânicas roguelike para entregar uma experiência altamente viciante e perfeitamente adaptada ao Nintendo Switch.

All-in na diversão, mesmo sem experiência

Ainda que você nunca tenha jogado pôquer na vida, não há com que se preocupar. Apesar de aproveitar bastante coisa do famoso jogo que se popularizou na América a partir do século XVIII, Balatro consegue ser acessível até mesmo para quem não possui experiência prévia com a modalidade — um de seus primeiros e muitos pontos positivos.

Basicamente, o seu objetivo aqui é chegar à Ante 8 e vencer a aposta final, alcançando o número de pontos definido pelo jogo. Mas, para chegar lá (pense em cada Ante como um andar de uma torre), é preciso primeiro superar os desafios anteriores, que, como em um bom roguelike, são definidos aleatoriamente a cada partida — Ah, e como esperado, perder significa começar do zero, de novo.

Mas como funcionam esses desafios? Na prática, cada Ante (ou andar) possui três rodadas de crescente dificuldade: a Small Blind, a Big Blind e o Chefe (Boss). Para superá-las, é preciso alcançar um determinado número de pontos, que é calculado por meio das tradicionais jogadas do pôquer, como High Card, Flushes e Full Houses.

Portanto, observando o número limitado de saques e descartes, sua missão é alcançar ou superar a pontuação imposta para cada rodada fazendo as melhores jogadas possíveis com as cartas à disposição. 

Porém, se no pôquer tradicional trapacear é uma atitude abominável, em Balatro não há mal nenhum em adicionar multiplicadores à sua pontuação e cartas adulteradas ao seu baralho. Pelo contrário: saber quando e como fazer isso é imprescindível para progredir e conseguir vencer.

Meu baralho, minhas regras

Vencer uma rodada, seja ela uma Small ou Big Blind ou um confronto com um chefe, concede uma recompensa em dinheiro de acordo com a sua performance, que pode ser usada para comprar melhorias e novas cartas para o seu baralho. 

Aqui é onde Balatro começa a revelar a sua genialidade, pois, desde que você tenha a quantia necessária, é possível comprar cartas de tarô, espectrais e até mesmo modificadores planetários, capazes de aumentar a pontuação de todas as suas jogadas de um determinado tipo, como Sequências (Straights) ou Pares (Pairs).

De todas as aquisições possíveis, as mais poderosas são os curingas, capazes de alterar completamente a eficácia e a funcionalidade do seu baralho. O curinga alegre (Jolly Joker), por exemplo, adiciona um multiplicador de 8 à sua pontuação toda vez que você joga uma dupla de cartas, como dois valetes ou duas damas; já o “meio curinga” (Half Joker), que foi rasgado ao meio, adiciona um multiplicador de 20 se a sua jogada contém três ou menos cartas.

Em condições normais, é possível ter até cinco curingas ao mesmo tempo, o que concede ao jogador a liberdade necessária para tentar fazer a melhor combinação possível e até mesmo “quebrar o jogo”, alcançando pontuações tão altas que superam qualquer desafio gerado pelo título.

Unir os já citados Jolly Joker e Half Joker, por exemplo, geraria um multiplicador de 28 toda vez que uma dupla de cartas fosse jogada. Adicione alguns modificadores planetários capazes de aumentar ainda mais a sua pontuação e você terá um baralho promissor em mãos, capaz de sobreviver aos desafios se bem usado e aprimorado.

Com 150 curingas, quinze decks e dezenas de cartas especiais, Balatro certamente oferece milhares de combinações letais possíveis. O mais legal é que, graças à natureza roguelike e aleatória do jogo, cada partida é diferente da outra, o que, juntamente com o constante fluxo de desbloqueáveis, incentiva o público a continuar jogando e descobrindo novas opções, mesmo em caso de sucessivas derrotas — algo que considero fundamental para o gênero.

Carta fora?

Mesmo com todas as suas qualidades, Balatro não está imune a alguns deslizes. A boa notícia, porém, é que esses passam bem longe de comprometer a excelente experiência geral.

O primeiro ponto é que, assim como em outros jogos de cartas, a sorte (ou a ausência dela) pode acabar possuindo um protagonismo incômodo no resultado de uma partida. Afinal, se todos os seus curingas concedem multiplicadores para Duplas, mas a sua mão e os descartes insistem em não trazer cartas iguais, não há muito o que se fazer além de aceitar a derrota.

Por natureza, o chefe de cada Ante também impõe uma condição adicional para seu desafio, como zerar a pontuação de cartas especiais ou de um naipe específico. Considerando o caráter aleatório das partidas, não há nada que impeça você de topar com um Boss capaz de neutralizar completamente o seu baralho, resultando em um Game Over cruel e, às vezes, difícil de aceitar (experimente jogar com as cartas viradas para baixo e você saberá do que estou falando).

Ao contrário de títulos com características roguelite, Balatro naturalmente não oferece a opção de upgrades permanentes, resumindo a progressão do jogador aos itens desbloqueáveis que podem aparecer e ser usados em novas partidas. Logo, se você prefere jogos em que a progressão é mais tangível, convém levar esse fato em consideração.

Perfeito no Switch

Outro ponto que eu gostaria de destacar nesta análise é que Balatro é uma daquelas obras perfeitas para dispositivos portáteis, como o Switch. Com rodadas rápidas e Antes que podem ser concluídas em dez, quinze minutos ou até menos tempo, este é um título que combina bastante com a versatilidade do console da Nintendo, podendo ser aproveitado na folga do almoço, no transporte público ou naquela fila incômoda do mercado, além de em uma televisão.

Felizmente, isso é corroborado graças a uma adaptação tecnicamente perfeita, que inclusive faz uso da tela touch do aparelho e do HD Rumble (duas gratas surpresas). Também espere por um pixel art de qualidade e até um interessante filtro visual ajustável que simula a imagem de uma TV antiga para os jogadores mais nostálgicos, como eu.

Os únicos pontos negativos referentes à parte técnica são a ausência (até o momento de publicação desta análise) de suporte ao português brasileiro na versão de Switch (a versão do Steam já conta com o recurso, que deve chegar ao console da Big N em breve) e a parte musical, que só conta com uma faixa em loop.

Por mais que este também seja um título ótimo para jogar enquanto se ouve um podcast ou algum artista, a inclusão de apenas uma faixa musical, por melhor que ela seja, é preguiçosa e acaba por contrastar com a qualidade dos outros elementos. Logo, fica a expectativa que mais opções, assim como o suporte a PT-BR e outros idiomas, sejam adicionadas em breve.

Uma experiência essencial para fãs de cartas e mecânicas roguelike

Balatro me surpreendeu positivamente e se tornou em pouco tempo uma das minhas experiências favoritas no console da Nintendo. Se você busca jogos fáceis de aprender, difíceis de dominar e praticamente impossíveis de abandonar, há pouquíssimos títulos similares no mercado.

Mesmo com um ou outro deslize, como a questão da única música em loop eterno, é difícil não recomendar esta obra. Só aconselho cuidado com a sua produtividade caso o Switch esteja sempre ao alcance das suas mãos e você goste de carteados: de repente só mais dez minutos podem virar horas jogadas em busca do curinga perfeito, e isto nem de longe é um blefe. Que bom, não é mesmo?

Prós

  • A combinação única de pôquer com mecânicas roguelike funciona surpreendentemente bem;
  • As centenas de itens desbloqueáveis garantem que nenhuma partida seja exatamente igual à anterior;
  • As milhares de combinações entre curingas, upgrades e decks aumentam o fator replay e abrem margem para experimentações infinitas, inclusive com potencial de quebrar o jogo (no bom sentido);
  • Não requer conhecimento prévio de pôquer e suas variantes, graças às explicações in-game;
  • Adaptação impecável para o Switch, com suporte à tela de toque e ao HD Rumble;
  • Combina perfeitamente com a portabilidade do console da Nintendo.

Contras

  • A dinâmica natural da sorte na aleatoriedade pode comprometer uma partida promissora;
  • A ausência de upgrades mais significativos entre uma partida e outra, embora natural do gênero, pode desanimar alguns jogadores;
  • A escolha por somente uma única música em loop é uma decisão preguiçosa e contrastante com a qualidade geral do jogo;
  • Sem suporte a PT-BR (ainda) na versão de Switch.
Balatro — Switch/PC/PS5/PS4/XBO/XSX — Nota: 9.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Playstack

é bacharel em Produção Cultural pela UFF e estudante de Comunicação Social pela FSMA. Na infância, ganhou um Super Nintendo dos pais e, desde então, nunca mais deixou o mundo dos games. Ainda sonha em ser um Mestre Pokémon.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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