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Análise: Pentiment (Switch) é uma aventura narrativa excepcional e imperdível

Durante o século XVI, um misterioso assassinato traz à tona mistérios que rondam a pequena comunidade de Tassing.

Após receber uma calorosa recepção em seu lançamento inicial nas plataformas da Microsoft, Pentiment finalmente desembarca no Nintendo Switch. Com uma trama envolvente que nos transporta para o século XVI por meio de uma construção de mundo extraordinariamente imersiva, o título destaca-se como uma aventura narrativa de qualidade excepcional.

O assassinato de um nobre

O enredo de Pentiment desenrola-se em uma pequena comunidade aninhada nos Alpes Bávaros, denominada Tassing. O protagonista, Andreas Maler, é um artista que dedica seus dias na abadia de Kiersau, ilustrando manuscritos históricos e religiosos, ao mesmo tempo em que busca aperfeiçoar e concluir sua própria obra-prima.

A rotina tranquila de Maler e dos demais habitantes de Tassing é abruptamente interrompida quando um nobre, Lorenz Rothvogel, é encontrado sem vida. No centro do mistério, um monge idoso chamado Piero é acusado do crime, pois foi um dos primeiros a se aproximar do corpo.

Recusando-se a acreditar na culpa de seu amigo e mentor, o protagonista assume a responsabilidade de encontrar e entregar à justiça o verdadeiro culpado, desencadeando uma série de eventos que levam o jogador a uma jornada de inúmeras descobertas intrigantes sobre o povo e o próprio vilarejo. Felizmente, o jogo está legendado em português, fazendo com que esta ótima trama seja acessível a qualquer pessoa.

É fundamental mencionar que Pentiment se desenrola em três períodos distintos do século XVI. Enquanto o primeiro estabelece o contexto mencionado anteriormente, o segundo nos apresenta um Maler já consolidado em sua profissão, acompanhado por seu aprendiz Caspar, retornando a Tassing e se envolvendo em um novo crime. Por fim, o terceiro arco mergulha na perspectiva de Magdalene Druckeryn, uma jovem determinada a concluir o mural que seu pai, que tragicamente adoeceu, estava para iniciar.

Simplicidade e beleza em harmonia

Essencialmente, Pentiment é uma aventura narrativa 2D com perspectiva de side-scrolling. Assumindo o papel de Andreas Maler, o jogador desfruta de certa liberdade para navegar pelas encantadoras paisagens de Tassing e da Abadia, interagindo com os personagens e, possivelmente, desvendando os segredos ocultos do vilarejo. 

Em determinadas ocasiões, para avançar na campanha, é necessário dirigir-se a um local específico; contudo, em outras circunstâncias, são oferecidas múltiplas alternativas de atividades para serem realizadas dentro do mesmo período, ficando a decisão do que o protagonista irá fazer inteiramente em nossas mãos.

Durante a campanha, também há situações em que nos envolvemos em tarefas manuais em formato de minijogos, como auxiliar alguém na ferraria ou na padaria. Na maioria das vezes, esse tipo de interação é bastante simples e não exige muito esforço, bastando prestar atenção ao exemplo inicial que o game nos fornece.

Em termos visuais, Pentiment é encantador, evocando a sensação de estarmos acompanhando uma história diretamente em um livro. A transição rápida de uma área para outra simula com muito charme uma virada de páginas, tornando até mesmo o processo de carregamento agradável de contemplar. No entanto, creio que a repetição desse artifício talvez acabe incomodando alguns jogadores.

Os sprites dos personagens são meticulosamente detalhados, conseguindo transmitir emoções nos momentos em que os diálogos assumem tons dramáticos. Da mesma forma, um cuidado minucioso foi dedicado na elaboração dos cenários, tornando Tassing fácil de memorizar devido à singularidade de cada uma de suas áreas. A despeito desse aspecto, o jogo oferece um mapa excepcionalmente útil e de fácil visualização, garantindo uma navegação sem qualquer complicação por este mundo envolvente.

Os efeitos sonoros não ficam para trás e contribuem significativamente para tornar o mundo de Pentiment ainda mais imersivo. Os cânticos dos sacerdotes na abadia, bem como os cantos dos pássaros e outros sons da vida selvagem, refletem de forma autêntica a atmosfera de uma sociedade agrária e religiosa. Além disso, as músicas pontuais inseridas em situações de suspense agregam uma camada adicional de tensão e dramaticidade ao título.

Por se tratar de uma trama ambientada em um momento histórico, diversas pessoas, termos e eventos reais são mencionados durante os diálogos. Nesse sentido, Pentiment dispõe de um excelente glossário acessível tanto no menu principal quanto diretamente durante as conversas, fornecendo aos jogadores uma compreensão mais profunda e contextualizada deste universo e do período em que o enredo se passa.

Outro aspecto interessante é a variação das fontes utilizadas nos textos dos diálogos dependendo das características e do estado emocional de cada personagem. É importante destacar que essa função pode ser desativada, resultando em uma escrita padronizada para todos os indivíduos.

Um mundo vivo, onde cada escolha tem consequências

Como já mencionado, toda a campanha de Pentiment se passa em Tassing, e alguém desse local é responsável pelo assassinato de Lorenz Rothvogel. Para desvendar o crime, o jogador deverá coletar pistas sobre os possíveis suspeitos, o que o levará a conhecer profundamente as pessoas e a própria região.

Em certas situações, são apresentadas alternativas de diálogos que geram reações distintas nos moradores. Embora inicialmente possa parecer que as escolhas não têm um grande impacto, cada opção tem consequências reais e será lembrada pelos indivíduos posteriormente.

Outra característica impressionante é que, em determinadas ocasiões, conseguimos selecionar aspectos do passado de Andreas, como sua área de estudo, idiomas que domina e os locais onde já peregrinou. Esse aspecto possibilita que o jogador interaja com o mundo e com os sujeitos de formas diferentes, proporcionando uma experiência única, na qual uma nova jogatina pode ser completamente diferente da anterior. Esse fator de customização também se estende a Magdalene no terceiro ato.

É precisamente nessas circunstâncias de interação que Pentiment se destaca, pois o universo construído aqui é extraordinariamente imersivo. O jogo traz personagens verdadeiramente autênticos, dispondo de sentimentos, pensamentos, medos, inseguranças, ambições, um passado e, o mais crucial, um futuro.

Certo ou errado, Andreas chegará a um culpado, e alguém enfrentará as consequências como forma de justiça. Como é de se esperar de uma comunidade pequena, os moradores do local estão intrinsecamente relacionados e eles se lembrarão das ações do protagonista, seja durante seu retorno no segundo ato ou durante a investigação sobre a cidade que Magdalene conduzirá no terceiro, com o objetivo de completar seu mural.

Além dos adultos, que desenvolvem afeto ou aversão pelo primeiro herói, as crianças também são afetadas pelas atitudes do artista. Essa regra vale até mesmo para a jovem principal do terceiro arco, a qual pode ter a educação influenciada enquanto ainda é uma menina pequena. Claro que toda Tassing também exerce peso sobre Andreas, levando-o a questionar sobre suas escolhas.

É simplesmente incrível como Pentiment consegue nos imergir no universo que constrói, levando-nos a refletir profundamente sobre cada possível decisão. Seja com uma freira que nunca desejou esse ofício, um ferreiro que não conseguiu se casar e se sente só, um garoto que ama desenhar e é impedido de fazer isso por seu pai ou simplesmente um senhor que é um verdadeiro exemplo de perseverança na fé que possui, é impossível que o jogador não se afeiçoe e simpatize com pelo menos alguns indivíduos desta trama. 

A diversidade e profundidade dos personagens fazem com que Pentiment seja uma jornada extremamente emocional e memorável. Ainda que a maior parte desses sujeitos não seja real, seus dilemas são genuínos e foram enfrentados por pessoas daquela época, com alguns desses desafios ecoando até os dias atuais.

Para finalizar, como única advertência, é importante mencionar que a reviravolta principal, embora bem-construída, pode parecer semelhante a desfechos presentes em outras mídias que mesclam ficção com momentos históricos e contextos religiosos, principalmente com os de alguns livros famosos de certo escritor norte-americano. Dessa forma, é possível que o plot twist não seja tão impactante para alguns jogadores, mas com certeza deixará outros boquiabertos. 

Uma jornada inesquecível

Pentiment é uma aventura narrativa extraordinária que nos coloca na pele de dois protagonistas complexos inseridos em um contexto repleto de personagens críveis. É impossível embarcar nessa jornada e não simpatizar com pelo menos alguns dos indivíduos, o que faz com que cada escolha tenha peso não apenas para aquelas pessoas fictícias, mas também para o próprio jogador. Em suma, trata-se de uma experiência maravilhosa que jamais sairá da minha mente.

Prós

  • Ambientação cuidadosamente elaborada, oferecendo uma representação vívida e autêntica do momento histórico correspondente, bem como dos dilemas enfrentados pelos indivíduos desse período;
  • Os visuais encantadores e os efeitos sonoros precisos complementam perfeitamente a atmosfera do jogo;
  • O mapa e o glossário permitem ao jogador navegar pelo mundo sem dificuldades e manter-se atualizado sobre todos os detalhes discutidos pelos indivíduos;
  • Personagens complexos, memoráveis e reais, com sentimentos, pensamentos e motivações críveis;
  • As decisões tomadas pelo jogador têm o poder de influenciar diretamente o destino de certos personagens e desencadear uma variedade de consequências, adicionando a obra uma grande camada de envolvimento emocional;
  • As opções de customização dos protagonistas afetam a interação com o mundo e com os outros personagens, proporcionando uma experiência personalizada e aumentando o fator replay do jogo;
  • Legendado em português.

Contras

  • A reviravolta principal pode não surpreender tanto algumas pessoas, por conter alguns clichês já explorados em outras mídias;
  • A recorrente transição de áreas pode incomodar certos jogadores.
Pentiment — PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch — Nota: 10
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Xbox Game Studios

Escreve para o Nintendo Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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