Jogamos

Análise: Rose & Camellia Collection (Switch) oferece um duelo de tapas e tramas aristocráticas

Entre num mundo cheio de reviravoltas nonsense por meio dos duelos mais elegantes que você já viu.


Acho difícil imaginar uma única pessoa que nunca pensou em resolver algum conflito no tapa, por mais que, na sociedade em que vivemos, esse tipo de atitude seja condenável. Para que você não precise ceder aos pensamentos intrusivos, a WayForward reviveu um clássico dos jogos em flash e torna Rose & Camellia Collection, uma coletânea com cinco jogos cuja premissa é justamente afirmar sua superioridade por meio de tapas entre moças da aristocracia, acessível a um público mais atual com seu lançamento para o Nintendo Switch. 

Entre tapas e tapas mesmo

A ideia de Rose & Camellia Collection é transportar os jogadores para um mundo repleto de intriga e vingança, bem parecido com uma novela mexicana. No primeiro jogo, por exemplo, somos apresentados a Reiko, uma jovem viúva determinada a reivindicar seu lugar de direito na família de seu falecido marido, que se recusa a aceitá-la como uma igual. Assim, ela resolve se provar, na base da distribuição de tapas, para diversas integrantes da elite, a fim de retomar o que é seu por direito. No segundo título, assumimos o papel de Saori, derrotada por Reiko, que busca vingança pela desonra causada pela viúva no ano anterior.

Depois de cada vitória individual dentro de um cenário, a história vai se desenvolvendo. Ao finalizar as lutas de cada cenário, um novo é desbloqueado, e o jogador poderá assumir o papel de diferentes personagens e explorar suas histórias, inicialmente interligadas. Porém, em determinado momento, a premissa inicial se perde um pouco e somos jogados em conflitos que se desviam completamente da ideia inicial, como torneios mundiais de tapas protagonizados por uma das empregadas da família principal. 




O título bônus conta uma história ainda mais viajada, tendo como protagonistas as meninas do jogo La Mulana, que por alguma razão simplesmente decidem lutar entre si para ver quem é a verdadeira heroína do game, em meio a diálogos completamente desconexos e que não se levam a sério em nenhum momento.

Como é possível perceber, a história não é bem o forte dessa coletânea, e apenas serve de pano de fundo para os conflitos de vinganças pessoais e lutas por poder. Não que isso seja ruim, sempre defenderei os jogos que possuem as histórias mais absurdas, e Rose & Camellia definitivamente se encaixa nessa categoria: apesar de bem nonsense, a premissa tem tudo que precisa para fazer o jogador mergulhar de cabeça nesse universo, mas não posso dizer que é o tipo de experiência que agrada a todos os jogadores.




Se for o seu caso, fico feliz em anunciar que, conforme vamos conhecendo as protagonistas de cada ato, é possível perceber que cada uma delas possui uma motivação diferente que as leva a embarcar nesses duelos físicos. Mesmo que não sejam as personagens mais profundas com histórias mais desenvolvidas, ainda assim é possível simpatizar com cada uma delas e tomar suas dores para devolver na mão cada frustração e determinação na cara das inimigas.

É uma pena que cada episódio seja composto de apenas cinco batalhas, o que torna toda jogatina não muito mais longa do que algumas poucas horas.



Um tapa na cara do exagero

Os jogos de Rose & Camellia são, originalmente, títulos lançados em Flash (que Deus o tenha) pelo desenvolvedor NIGORO lá pelas idas de 2007. Basicamente, a ideia era simular o movimento do tapa e do ato de desviar utilizando o mouse, táticas que foram transpostas de maneira divertida para o Switch, que utiliza o sistema de movimentos com os Joy-Con ou de toque na tela. 

A mecânica simples de bater e desviar, embora básica, exige do jogador timing e precisão para superar as adversárias. Segurando o Joy-Con direito, o jogador precisa apenas pressionar A e fazer a movimentação da mão na direção do rosto da adversária no seu momento de atacar. Quando for a vez da inimiga, pressionando o botão R e movimentando o Joy-Con na direção oposta, nossa heroína precisa desviar do golpe no momento certo e, caso executado com precisão, também desferir um contra-ataque.

As lutas são divididas em turnos, um para o ataque, outro para a defesa, e cada uma das combatentes tem uma animação diferente para desferir seus golpes. Cabe ao jogador prestar atenção em cada mudança de expressão ou linguagem corporal para perceber quando o golpe virá para desviar ou qual é o melhor momento para desferir sua melhor ofensiva.



À medida que a campanha avança, as habilidades dos oponentes se tornam mais complexas, o que é bem interessante para um jogo tão simplificado no quesito gameplay. Devo deixar também um elogio à possibilidade de escolher diretamente uma inimiga em específico ao selecionar um capítulo já jogado antes, evitando a fadiga de ter que rejogar um episódio inteiro para isso.

Quanto às duas opções de controle, pessoalmente, achei a experiência mais divertida usando os Joy-Con, já que movimentar os aparelhinhos como se fossemos dar uma bolacha na cara das inimigas proporciona uma sensação de participação mais intensa. Ainda assim, vez ou outra era fácil sentir alguma impressão tanto em momentos ofensivos quanto defensivos, mas nada que afetasse de vez a jogatina.




De início, senti que o modo touch era menos preciso, então tive mais momentos frustrantes tanto na hora de bater quanto na hora de desviar, o que me fez desistir desse modo por algum tempo. No entanto, em uma segunda tentativa, achei o modo até mais simples de dominar, já que é possível mirar com mais facilidade nos pontos fracos de cada adversária deslizando o dedo para pontos específicos na tela.

A coletânea também conta com o modo prática, em que é possível rever o funcionamento básico dos comandos, e um modo versus local para dois jogadores. Uma crítica ao modo versus é que o primeiro jogador está limitado a escolher uma das heroínas enquanto o segundo jogador assume o papel de uma das rivais do modo história, o que acaba afetando a variedade de escolhas de maneira geral. 




Outro desconforto é a limitação de cada um dos jogadores ter de utilizar Joy-Con do mesmo par, o que pode gerar alguma confusão ao ter de utilizar um controle que provavelmente não será muito agradável segurar com sua mão não dominante.

Sinfonia de tapas

No que se refere à parte audiovisual, Rose & Camellia entrega bastante. As artes foram modernizadas em relação ao seu lançamento original de Flash, o que garante linhas firmes e animações bem mais fluidas. As cores escolhidas tanto para as bonecas quanto para os cenários auxiliam na imersão de uma história que se passa na alta sociedade de tempos remotos, bem como na transmissão de sentimentos de vingança e lutas por poder.




A trilha sonora também ajuda, embalando toda a ação dramática de época em músicas que casam bem com as situações propostas. Embora um tanto quanto repetitivas, as trilhas são bem elegantes e ajudam a montar o cenário como um todo. 

Ainda na parte do áudio, o jogo conta com vozes em inglês e japonês, mas essa parte é bem dispensável em qualquer versão. Não espere grandes emoções; afinal, com uma história desse calibre, a entrega das atrizes acaba ficando um tanto quanto forçada.



O tapa final

Com seus duelos de tapas e dramas da alta sociedade, Rose & Camellia Collection é um título divertido, com gameplay simples e direto ao ponto. Embora apresente algumas falhas em suas histórias e mecânicas, de maneira geral, tudo isso acaba sendo compensado se você aceitar mergulhar de cabeça nesse universo de insanidade. Caso esteja em busca de um bom alívio de estresse, certamente esta coletânea oferecerá uma experiência satisfatória. 



Prós

  • Mecânicas simples tornam o jogo acessível a diferentes níveis de habilidade de jogador;
  • Histórias curtas tornam a trama fácil de acompanhar;
  • Utilização do sensor de movimento do Switch de modo criativo e imersivo;
  • A variedade de movimentos de cada oponente mantém um nível satisfatório de desafio;
  • Audiovisual que auxilia na criação de uma atmosfera condizente com a proposta.

Contras

  • Controles inconsistentes às vezes causam danos imprevistos;
  • Limitação de controles e personagens no modo versus;
  • Experiência demasiadamente curta.

Rose & Camellia Collection — Switch — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: Switch

Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela WayForward

Professora por profissão, crossfiteira e artesã nas horas vagas. Seu primeiro contato com consoles da Nintendo foi zerando Chrono Trigger repetidas vezes no SNES. Atualmente é dona de um Switch no qual joga principalmente puzzles, jogos de pesca, RPGs e todos os Disgaea que para ele foram lançados. Icon por 0range0ceans
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


Disqus
Facebook
Google