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Análise: Terra Memoria (Switch) é um divertido e confortável RPG à moda antiga

No comando de seis indivíduos, embarque em uma jornada para descobrir por que os cristais estão desaparecendo.

Em uma ocasião anterior, ressaltei em um texto sobre Dragon Quest IV o quão gratificante é mergulhar em um RPG cujo elenco de personagens é diversificado e carismático, principalmente quando cada indivíduo possui motivações próprias para se lançar na aventura. Terra Memoria é um bom exemplo dessa abordagem, colocando-nos no controle de uma equipe composta por seis indivíduos que se unem em uma jornada para encontrar respostas sobre um grande problema que assola o mundo em que vivem.

Cristais, carcaças e seis heróis

Terra Memoria nos transporta para um mundo onde cristais mágicos, a principal fonte de energia dos habitantes, estão misteriosamente se esgotando. Como se não bastasse esse problema, antigos robôs conhecidos como carcaças começam a despertar, espalhando confusão por onde passam. Diante desses eventos, seis indivíduos — Moshang, Syl, Meta, Alto, Edson e Opala — embarcam em uma jornada para descobrir a causa desses acontecimentos.

É fascinante observar a sinergia desta equipe, no qual cada personagem apresenta ao jogador diferentes perspectivas sobre os temas discutidos pela trama, além de possuir motivações e dramas individuais que são significativamente explorados ao longo da jornada.

Ainda nessa perspectiva, apesar de abordar questões sérias, como governantes passivos e despreparados, o desdém de algumas pessoas pelo conhecimento e o contraste entre a tradição e a inovação, o enredo é incrivelmente bem-humorado e se apresenta de forma bastante leve e confortável. Ademais, o título está completamente legendado em português, facilitando ainda mais a apreciação da narrativa.

Também é importante mencionar que, além dos humanos comuns, o mundo de Terra Memoria é habitado por uma variedade de raças antropomórficas, cada uma com sua própria tradição. Este elemento desempenha um papel fundamental no desenvolvimento do enredo, visto que alguns desses indivíduos com suas peculiaridades culturais integram nosso grupo de protagonistas.

Missões principais claras e quests opcionais não tão diretas

A campanha de Terra Memoria é bem linear, com missões principais claramente identificáveis por meio de um menu dedicado. No entanto, o jogo também oferece uma variedade de objetivos secundários, apresentados de uma forma um tanto curiosa. Embora essas tarefas adicionais também estejam listadas no menu de missões, suas descrições nem sempre são tão claras. 

Acredito que explorar os novos ambientes e interagir com os NPCs de cada nova cidade é uma prática comum em RPGs. Ocorre que essa atividade simples é exatamente o que muitas das missões secundárias de Terra Memoria propõem, com algumas delas se ramificando por diversas áreas do mapa. Assim, é comum que uma tarefa iniciada no início da aventura só faça sentido e seja concluída depois de várias horas, em uma localidade completamente diferente e em um momento que o jogador nem estava mais pensando nela.

Embora possa parecer um conceito simples e até mesmo trivial à primeira vista, essa abordagem revela-se muito interessante e gratificante para quem se entrega à exploração do mundo oferecido pelo jogo. Ao realizarmos uma ação que sempre foi comum nos títulos do gênero, especialmente nos mais antigos, somos consistentemente recompensados não somente com detalhes sobre as diferentes culturas e indivíduos do planeta, mas também com moedas por completar essas missões.

Sendo assim, Terra Memoria deseja despertar em nós interesse por seu universo e dispõe das ferramentas necessárias para que isso aconteça. No entanto, caso uma pessoa não abrace essa ideia e opte por se concentrar apenas na trama principal, ela não será penalizada, uma vez que os objetivos principais são lineares e exibidos de maneira clara e direta. 

Um trio de duplas aleatórias

Para completar a ótima experiência oferecida por Terra Memoria, o jogo possui um sistema de combate por turnos simplificado, porém bastante divertido. Nele, cada ataque está associado a um tipo de elemento e cada inimigo possui vulnerabilidades a esses atributos, permitindo que o jogador se aproveite estrategicamente dessas fraquezas, algo muito semelhante ao que o recente Sea of Stars fez.

Um ponto interessante é que existe uma divisão de função dentro do nosso grupo de protagonistas. Explico: enquanto Moshang, Syl e Meta lideram os ataques, Alto, Edson e Opala desempenham diferentes papéis de suporte e se unem aos três primeiros. Para exemplificar, Alto pode se aliar a Moshang para converter seus ataques ofensivos em curativos, ao passo que Edson pode se unir a Meta para transformar seus golpes de alvo único em ataques em área. 

E não para por aí: essas duplas são formadas de forma aleatória no início de cada confronto. Devido a esses aspectos, ainda que o sistema de combate de Terra Memoria seja simples, ele consegue oferecer variações significativas dentro de suas próprias limitações, além de proporcionar uma agradável imprevisibilidade tática. Vale destacar que as fraquezas dos inimigos, a ordem dos atacantes e os efeitos proporcionados pelos aliados de suporte são todos facilmente visíveis durante os embates.

Ainda em relação aos combates, este RPG traz um sistema no qual os personagens se reúnem para descansar, momento em que toda a experiência adquirida é somada para aumentar os seus níveis. Contudo, o ponto crucial aqui é a possibilidade de preparar pratos utilizando os ingredientes que encontramos espalhados pelo mundo.

Apesar do nivelamento ser naturalmente importante para superar os desafios, as refeições preparadas concedem aumentos significativos nos pontos de vida, o que se torna crucial em momentos mais avançados da campanha. O título também oferece um excelente suporte ao jogador nesse sentido, pois, enquanto estamos em uma loja de ingredientes, podemos visualizar o quanto de cada item precisamos ter para produzir todas as receitas que possuímos.

Jogar Terra Memoria não só nos remete a inúmeras séries clássicas do gênero, como Final Fantasy, Dragon Quest ou Breath of Fire, mas também nos faz lembrar de bons títulos recentes como Octopath Traveler e até mesmo Sea of Stars. Entretanto, o jogo não se limita a emular o que deu certo nessas obras, mas sim se inspirar nelas para construir uma experiência própria e envolvente.

Divertidíssimo, mas não isento de problemas

Apesar de todos os seus méritos, Terra Memoria possui algumas ressalvas que merecem ser mencionadas. Em primeiro lugar, embora não me incomodem particularmente, acredito que a já mencionada baixa dificuldade e a falta de descrições mais claras sobre os objetivos secundários podem desapontar algumas pessoas.

Além disso, ainda que os protagonistas sejam todos muito carismáticos, nem todos são desenvolvidos com a mesma profundidade, o que pode diminuir o apreço do jogador por alguns deles. Ademais, ainda que a história seja aconchegante e agradável de acompanhar, ela possui algumas simplificações de roteiro e uma reviravolta final um tanto previsível.

Por fim, é importante mencionar que Terra Memoria apresenta um sistema de crafting interessante, mas que não explora todo seu potencial. Com ele, podemos construir amuletos que fornecem uma variedade de bônus quando equipados.

No entanto, ao contrário das refeições, não senti que esses itens fazem tanta diferença na prática. Também vale ressaltar que essa mecânica também nos permite criar estruturas para reconstruir uma certa cidade.

Mais um RPG de qualidade para o Switch

Terra Memoria é um RPG que evoca a nostalgia do passado, mas que se adapta perfeitamente aos padrões da época atual. Com personagens carismáticos, uma trama bem elaborada e um sistema de combate divertido, o jogo se destaca como mais um excelente exemplar do gênero.

Prós

  • Narrativa leve e bem-humorada, mas que aborda temas importantes;
  • Elenco diversificado e carismático de protagonistas, cada um com suas próprias motivações e dramas;
  • Mundo bem construído e diversificado, habitado por uma variedade de indivíduos interessantes e com suas próprias culturas;
  • O sistema de combate, embora simples, é extremamente divertido e oferece uma cativante imprevisibilidade tática;
  • Apesar de possuir diversos elementos de RPGs clássicos, o título possui uma identidade própria, oferecendo uma experiência fresca e original;
  • O sistema de culinária faz com que o aprimoramento dos personagens não dependa apenas do nivelamento;
  • O jogo possui inúmeros aspectos que facilitam a vida do jogador, como a visibilidade direta de todas as particularidades do combate e a possibilidade de verificar diretamente nas lojas a quantidade de ingredientes de que precisamos para preparar as receitas;
  • Legendado em português.

Contras

  • A baixa dificuldade, a simplicidade do sistema de combate e a abordagem escolhida de não fornecer descrições claras sobre os objetivos secundários podem frustrar alguns jogadores;
  • Alguns personagens recebem menos desenvolvimento do que outros, o que pode afetar a conexão emocional do jogador com eles;
  • As simplificações no roteiro e a previsibilidade na reviravolta final podem diminuir um pouco o impacto da história;
  • O sistema de crafting não explora todo o seu potencial, resultando em produções que não contribuem tão significativamente para a jogabilidade.
Terra Memoria — PC/PS5/XSX/Switch — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli 
Análise produzida com cópia digital cedida pela Dear Villagers

Escreve para o Nintendo Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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