Fear the Spotlight opera sob diversas óticas, mas acredito que a luz do bullying seja uma das mais brilhantes e aterrorizantes que iluminam os corredores sombrios e quebrados da vida de nossas protagonistas.
Uma noite incomum
Em uma bela noite de chuvas e trovões, as amigas Vivian e Amy invadem a sua escola para brincar com o tabuleiro de Ouija que estava à mostra na vitrine da biblioteca, como parte da decoração de Halloween. Logo que o jogo começa, algo muito de errado acontece: Amy simplesmente some e a biblioteca começa a parecer diferente, com prateleiras tombadas e escrivaninhas diferentes, mais velhas e desconhecidas para Vivian.Acontece que, em 1991, a escola de Sunnyside havia sofrido uma enorme tragédia quando um incêndio vitimou diversos alunos. Logo quando Viv encontra Amy, a garota é sequestrada por uma luz misteriosa e cabe a Viv encontrá-la, ao mesmo tempo que desvenda os mistérios envolvendo a calamidade, além de escapar da luz misteriosa e mortal, encabeçada por um homem cuja cabeça é um holofote de teatro com tendências assassinas.
Pânico nos corredores
Como um bom survival horror, Fear the Spotlight não tem nenhuma opção de ataque. Só é possível andar (e andar um pouco mais rápido, considerando que Viv tem asma), agachar-se para se esconder embaixo de mesas e usar a lanterna. Enquanto se esgueira pelos corredores, nossa protagonista precisa decifrar puzzles relativamente simples para prosseguir, como encontrar peças de uma estátua, abrir portinholas de ventoinhas e achar a ferramenta certa para o serviço.Nem tudo são flores, no entanto. A escuridão é absoluta na escola alternativa, com assombrações constantemente encarando a jovem moça. Elas são inofensivas, mas geram um desconforto imenso, digno do horror. O que realmente causa medo são as luzes que surgem no teto, nos piores momentos, rastreando a jovem como câmeras de segurança. Viv pode levar até três ataques e recuperar vida com bombas de asma.
Como já mencionado, há ainda a aparição da criatura Holofote, andando lentamente por sessões específicas, arrastando seus pés pelo chão e queimando o piso que o mantém. Se olhar para Viv, ela será arrastada até ele e queimada em contato imediato. Toda vez que Holofote aparece, é o terror absoluto, semelhante à presença dos clássicos Mr. X e Pyramid Head. É inocência falar que ele chegará ao nível de status desses ícones, mas que ele causa medo, é um fato, especialmente com sua inteligência artificial relativamente boa, conseguindo rastrear a localização da garota muito bem.
Além de procurar por Amy, Viv pode explorar os ambientes, bem como checar os itens que carrega (e sempre ter algo a dizer) e ver cartazes e passagens de diários deixadas no chão. Elas remontam a história de Chrissy, uma jovem garota que, como ela e Amy, era vista como esquisita e cruelmente maltratada por seus colegas de classe, até se apaixonar pelo galã Raoul e querer participar da peça da escola, O Fantasma da Ópera.
Tudo é facilmente perdido e seria legal se essas passagens fossem, na verdade, coletáveis para podermos ler e reler, porque a tragédia de Chrissy e Raoul é extremamente interessante e a conexão com os eventos da história é crucial para entender a narrativa. A história, de forma geral, é relativamente simples, mas com um desenrolar muito bem estruturado e personagens interessantes.
Em dado momento, a relação entre Viv e Amy é melhor explorada, revelando como elas se conheceram e seus sentimentos uma pela outra (na fatídica noite, Viv iria revelar seus sentimentos para a garota), além de mostrar mais do passado trágico de Amy. São histórias cativantes e simpáticas, e ajuda ainda mais a dublagem de ponta das garotas, muito bem interpretada e articulada.
Fear the Spotlight está muito bem traduzido em português, inclusive com certos letreiros na nossa língua, deixando o entendimento mais facilitado em todos os eventos. Por fim, a apresentação do jogo é genial. Com poucas músicas (exceto nos momentos de perseguição) e colocando bastante ênfase nos efeitos sonoros assustadores, o clima de tensão é perpétuo e nunca é sentida uma sensação de segurança, ainda mais com os gráficos retrô, que fazem excelente uso de ambientes e modelos poligonais, prestando homenagem a clássicos como Resident Evil e Silent Hill, mas adquirindo sua própria identidade.
Eu sou um grande fã de jogos retrô poligonais, que, ao invés de optar por designs mais atuais e realistas, abraçam o passado e colocam carinho no produto. É sempre um deleite de se ver. Dois jogos que analisei este ano, Alisa e Arzette, entram nesta categoria, e Fear the Spotlight completa o trio.
Com uma história extremamente interessante, comandos precisos, gráficos retrô bem-feitos e uma mensagem poderosa (e infelizmente ainda presente na nossa sociedade), esta é uma nova joia do horror indie. Tenha medo, muito medo. Mas também tratem os outros como gostariam de ser tratados, por favor.
Com uma história extremamente interessante, comandos precisos, gráficos retrô bem-feitos e uma mensagem poderosa (e infelizmente ainda presente na nossa sociedade), esta é uma nova joia do horror indie. Tenha medo, muito medo. Mas também tratem os outros como gostariam de ser tratados, por favor.
Prós
- História relativamente simples, mas com lore densa e interessante;
- Amy e Viv são personagens carismáticas e envolventes;
- Gráficos retrô muito bem-feitos;
- Comandos que respondem muito bem;
- Ambientação de ponta, emanando o clássico horror dos jogos de PS1/N64;
- Muito bem traduzido para o português brasileiro.
Contras
- Falta de coletáveis para reler passagens da história;
- A história curta impulsiona para jogar de novo, mas poderia ser mais longa para explorar melhor o passado;
- Tempo de carregamento inicial absurdamente longo;
- Puzzles simples demais.
Fear the Spotlight - Switch/PC/XBO/XSX/PS4/PS5 - Nota: 9.0Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Blumhouse Games