Análise: Laika: Aged Through Blood é um metroidvania que ousa ser único (e consegue com maestria)

Sangue, gasolina e muitas piruetas em uma odisseia contra pássaros homicidas.

Em minha última análise, sobre Blade Chimera, falei como o mercado indie está inflado com jogos metroidvanias, apresentando uma visão de pouca variedade e de qualidade duvidosa. E, a cada Lua cheia, chega algum jogo que desafia as expectativas para ser diferente.


Esse é o caso de Laika: Aged Through Blood, misturando aspectos metroidvanias com da clássica série de dirt bikes Trials, conhecida por suas piruetas e manobras radicais. Mas será que vale o esforço em explorar terras abandonadas pela guerra e sujas de tripas? Pegue seu capacete e venha comigo, vamos dar uma volta.

A morte da inocência 

Em um mundo habitado por animais antropomorfos, estamos num futuro pós-apocalipse, onde quilômetros e quilômetros de deserto e morte enfeitam a paisagem. Certo dia, nossa heroína, Laika (um coiote fêmea) rastreia o desaparecimento de uma das crianças de seu assentamento, Where We Live, encontrando seu corpo mutilado pelo terrível grupo Birds, pássaros organizados de forma paramilitar, armados até o bico e com sede de sangue.

Após descobrir experimentos macabros envolvendo alteração genética, resultando em abominações profanas gigantes, e voltar para seu assentamento, ela relata a situação para a líder de seu grupo, declarando guerra contra os penosos. Cabe a Laika dar um jeito na expansão de domínio dos pássaros, ao mesmo tempo que tenta criar sua filha, Puppy, buscando manter sua inocência nesse mundo cruel. 

A beleza do apocalipse 

Um dos pontos mais fortes de Laika jaz em sua apresentação. Não apenas sua história é bastante criativa e poderosa, mas seus personagens são carismáticos e interessantes de acompanhar. O jogo está cheio de palavrões e sanguinolência (com direito à moeda do jogo ser literalmente as tripas dos pássaros que a coiote fêmea mata), mas sem parecer algo pretensioso, sem ser chocante por ser chocante, uma vez que tudo é condizente com a situação alarmante do universo do jogo.

E por falar em apresentação, seu visual é absurdamente lindo, com os gráficos do jogo desenhados e bastante expressivos, bastante únicos em comparação com outros jogos que seguem essa estética animada. Cada sessão do jogo é única em seu próprio quesito, com belíssimas paisagens que variam de praias extensas a cavernas abissais. 

Por fim, sua trilha sonora é magistral, sejam as músicas acústicas que acompanham certas situações ou as trilhas cantadas belamente pela compositora Beícoli, emanando fortemente os sentimentos poderosos da campanha e acompanhando o jogador pelas milhas insólitas de terra e vísceras.

Domo da Morte

Uma arte bonita, no entanto, raramente justifica um produto de qualidade se o resto for medíocre. Por sorte, Laika também consegue se destacar por sua jogabilidade. À disposição dela está sua confiável moto e um pequeno (mas variado) arsenal de armas para se defender. O combate é bastante simples: Laika pode interceptar balas inimigas com a moto e até rebater de volta com o timing certo, além de pipocar seus miolos com seu próprio armamento. 

Para recarregar as balas, é necessário dar saltos mortais de costas e, para recarregar o parry, mortais de frente com as inúmeras rampas que se encontram pelo jogo. As manobras são bastante satisfatórias de executar e a exploração é muito prazerosa, com a moto respondendo muito bem aos comandos. Mas saiba disso: você vai morrer. E muito. Este é um jogo que pode frustrar no começo, com sua proposta única e ambientação brutal. Por sorte, checkpoints são espalhados de forma generosa pelo jogo e, mesmo que você perca seu dinheiro depois de morrer de novo e de novo, é bem rápido de recuperar depois de conseguir matar mais aves. Um ponto bastante legal é que existe uma justificativa para Laika retornar da morte, sendo uma maldição que assombra sua família (eu amo quando um jogo justifica mecânicas de forma orgânica e inteligente).

Infelizmente, Laika não é perfeito. O jogo está completamente em inglês e pode ser até mesquinho de minha parte considerar isso um erro, mas vendo como sua história é tão bem escrita, é uma pena que ela possa ser inacessível para aqueles com pouco conhecimento em inglês. Mas seu maior erro está na sua performance. O jogo roda muito bem no Switch, isso é fato. O que é outro fato é o absurdo tempo de carregamento, podendo demorar minutos para simplesmente começar o jogo. 

Quando o recebi para analisar, demorou tanto para aparecer a tela inicial que achei que o jogo tivesse crashado. Pior ainda quando é para simplesmente trocar de ambientes, podendo demorar meramente para entrar ou sair de um espaço pequeno, ou ir para outro nível. Inclusive, se você estiver tocando uma das fitas de música enquanto altera de cenário, é possível escutar a música engasgando no carregamento, uma relíquia da era PS1/PS2. Tenho um amigo que jogou a versão para PC do ano passado e me disse que os carregamentos são praticamente inexistentes nessa versão, o que me leva a crer que esse problema é justamente desse port.

Cinzas às cinzas, pó ao pó 

Tenho acompanhado Laika: Aged Through Blood já faz dois anos e esperado ansiosamente por seu lançamento ao Switch. Logo que vi sua premissa e trailer, me apaixonei pela proposta e, depois de consegui colocar minhas mãos no guidão da moto, tive uma experiência etérea. 

Admito que o motor falhando algumas vezes foi bastante frustrante (ter que esperar alguns minutos para continuar viagem e depois parar de novo), mas não me arrependo nada das paisagens que vi, dos monstros que matei e de ver minha filha mais uma vez, depois de um longo dia de sangue e morte. É uma bela aventura, única e que vai prender o jogador persistente, mesmo com deslizes e derrapadas.

Prós 

  • História criativa e poderosa, possuindo temas fortes e bastante intrigantes.
  • Personagens carismáticos e extremamente diferentes um do outro;
  • Excelente apresentação, com gráficos belíssimos e trilha sonora magistral;
  • Jogabilidade viciante, difícil no começo, mas satisfatório de dominar;
  • Exploração muito bem-feita e com ambientes diversos.

Contras

  • Falta de tradução ao português; 
  • Tempo de carregamento abusivo e insultante. 
Laika: Aged Through Blood — Switch/PC/PS4/PS5/XBO/XSX — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Cristiane Amarante
Análise produzida com cópia digital cedida pela Thunderful Games
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Fábio Castanho Emídio (StarWritter)
Formado em Publicidade e Propaganda na USC e especializado em Marketing Digital, sou Editor de Vídeos também, meu TCC foi sobre a Guerra dos Consoles e evolução da publicidade nos games. Jogo um pouco de tudo e também escrevo. Me descrevo como um artista.
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