Análise: Onimusha 2: Samurai's Destiny é um lembrete poderoso da qualidade de jogos clássicos

Onimusha 2: Samurai's Destiny é um lembrete da qualidade e experimentação dos jogos do início do milênio.

em 20/05/2025

Omimusha 2: Samurai's Destiny é um remaster que não lembravamos que precisávamos. O título é uma influente jóia do início dos anos 2000 que agora chega pela primeira vez em um console Nintendo. Com controles primorosos, narrativa envolvente, visual HD revitalizado, legendas em português e sem modificações profundas para manter o máximo da experiência original é um título que precisa ser jogado.

A força do enredo feudal fantástico


Onimusha 2: Samurai’s Destiny mergulha o jogador em um Japão do período Sengoku que mistura eventos históricos — como as campanhas expansionistas de Oda Nobunaga — com um folclore sombrio povoado por demônios Genma. Logo nos primeiros minutos, vemos a vila natal do protagonista, Jubei Yagyū — também inspirado em um personagem histórico —, ser dizimada, e essa tragédia serve de estopim emocional para uma jornada de vingança que, ao longo das horas, amadurece em uma reflexão sobre dever e sacrifício.

Diferentemente do primeiro jogo, que seguia uma estrutura mais linear, Onimusha 2 investe pesado na construção de um elenco secundário carismático — Magoichi, Kotaro, Oyu e Ekei — e torna o destino deles entrelaçado às escolhas do jogador. A narrativa se fragmenta em pequenas rotas opcionais: ao priorizar a companhia de um aliado, diálogos inteiros, cut-scenes e até chefes mudam, garantindo um valor de replay que estava ausente no original.

A escrita caprichada encontra suporte em cenas pré-renderizadas exuberantes para a época, que ainda hoje impressionam pela direção cinematográfica. O choque entre o realismo brutal das batalhas humanas e a fantasia grotesca dos Genma cria um ritmo de tensão constante: Jubei nunca descansa, e o jogador também não deveria.

Espada, pólvora e estratégia: o coração da jogabilidade


O combate continua fundamentado em golpes de katana, lanças e espadas elementares, mas a Capcom lapidou o timing dos isshin (os famosos contra-ataques instantâneos) para que sejam mais viscerais e recompensadores. Cada isshin bem-sucedido preenche a tela com um clarão vermelho e faz o controle vibrar — resposta tátil e visual que transforma defesa em ataque em questão de frames.

A inclusão de armas de fogo, como o rifle Tanegashima de Magoichi, quebra a monotonia dos encontros corpo-a-corpo e obriga o jogador a administrar munição escassa. Ao mesmo tempo, puzzles inspirados em biombos e armadilhas do castelo exigem pausas estratégicas no massacre demoníaco, incentivando observação do cenário para destravar portas seladas por símbolos zodiacais ou placas de pressão invisíveis.

Há, ainda, um refinamento sutil na progressão de estatísticas: gemas de alma absorvidas dos inimigos servem tanto para evoluir armas quanto para fortalecer armaduras místicas, forçando o eterno dilema entre aumentar poder bruto ou garantir sobrevivência. É old-school na essência, mas com polimento suficiente para não frustrar novatos em 2025. 


No entanto, o de evolução das armas e armaduras é relativamente cru, sem muita explicação no que a melhoria das armas e, em especial as armaduras, de Jubei fazem, dificultando a escolha de onde gastar as almas.

Apesar da ótima jogabilidade, a câmera fixa ao estilo Resident Evil causa certas confusões e acidentes, não é incomum estar em combate e ser atingido em um ponto cego causado pela câmera, ou perder a visão de um inimigo contra o qual estava batalhado.

Presentes que mudam destinos: o sistema de trocas


O grande diferencial de Onimusha 2 é o sistema de presentes, uma mecânica quase social em um hack ‘n’ slash. Jubei encontra itens de valor sentimental — leques de seda, estatuetas Noh, saquês raros — e decide para quem entregá-los. A recompensa vai além de meros agradecimentos: NPCs oferecem novas armas, rotas secretas e até suporte em batalhas-chave, dependendo do nível de afeição.

Na prática, isso transforma a exploração em uma caça ao tesouro emocional. Encontrar um broche imperial em um baú escondido não é apenas ganho de inventário; é uma oportunidade de aproximar-se de Oyu e desbloquear seu final exclusivo. Há um componente quase de “dating sim” discreto, mas jamais intrusivo, que injeta personalidade em um gênero tradicionalmente focado no combate.

O mais fascinante é que apesar de haver escolhas de presentes mais indicadas, podemos entregá-los a qualquer um dos personagens. Presentear excessivamente um personagem pode, por consequência, distanciar outro, alterando a formação do grupo na batalha final e mudando quem sobrevive ou perece até o fim. Essa sensação de responsabilização mantém a experiência viva mesmo em múltiplas jogadas, algo raro em títulos de ação da virada do milênio.


Mas apesar de muito interessante, o sistema de trocas fica restrito a basicamente uma parte do jogo, que pode ser prolongado se o jogador se empenhar em realizar o máximo de trocas possível. Mas a despeito disso, as trocas podem ser completamente ignoradas. Partir para essa escolha pode torna a vida do jogador mais difícil, visto que as trocas oferecem upgrades de vida e mana, armas entre outros.

Optar por ignorar as trocas também afeta a jornada como um todo, já que assim, os momentos de gameplay no controle dos os companheiros de Jubei, que garantem mais conteúdo e diversidade de gameplay, acabam não acontecendo.

Gogandantess e Jubei: além do hack ‘n’ slash


Um dos elementos que distancia Onimusha 2 de muitos jogos do gênero, principalmente de sua época, é justamente o crescimento dos personagens durante a narrativa, em especial de Jubei. A jornada do protagonista parte de uma busca de vingança pessoal, para um dever heróico, mas sem abandonar a empatia e reconhecimento de seus inimigos. 

Isso pode ser visto em especial nos confrontos contra Gogandantess, um genma espadachim que adora se apresentar como o maior deles entre os demônios. Há muitos embates entre Jubei e Gogandantess, mas, em sua batalha final, o protagonista reconhece a honra e orgulho de rival, assim como o genma reconhece a força de Jubei. Esse momento adiciona um peso dramático na missão do protagonista de exterminar os demônios.

O final de Gogandantess reflete também no momentos anteriores ao confronto entre Jubei e Nobunaga: o herói impede Oyu de o seguir, afinal, apesar de o vilão precisar ser derrotado, ele não quer que a mulher sofra com a missão, dada sua ligação com Nobunaga, partindo sozinho para o combate final.

Esses pequenos detalhes fazem de Onimusha 2 um título muito diferente de seus pares da época. Ele adiciona elementos narrativos muito bem construídos e relevantes. Junto com o sistema de trocas e os diversos caminhos e possibilidades que ele abre, Samurai’s Destiny ganha elementos riquíssimos geralmente encontrados em RPGs, por exemplo.

O pilar de uma franquia em evolução 


Onimusha se tornou uma profícua franquia com diversos títulos já lançados, mas Samurai's Destiny tem um lugar de destaque. O título é possível o mais importante dentro da evolução da franquia. Enquanto Omimusha 3 costuma ser lembrado como o melhor e definitivo da franquia, o seu antecessor é aquele que inseriu muitos elementos que seriam marcantes na série.

Os elementos evolutivos mais diversos e relevantes, personagens secundários importantes para a trama, sendo eles jogáveis. A narrativa mais intrincada e o abandono da linearidade bruta dos hack ‘n’ slash, entre outros, nasceram justamente em Onimusha 2.

Muitas melhorias e extras


A versão remaster de Onimusha 2: Samurais Destity nãocertamente não é apenas um port.. O título inclui diversas melhorias que garantem não só uma qualidade de vida, como também uma maior longividade para o título como a possíbilidade de alterar entre as armas sem precisar entrar no menu. A repaginada em HD e Widescreen atualzia os belos visuais do original, o deixando mais adequado para consoles e tvs modernas e isso inclui os itens da galeria de artworks e artes coletadas durante as partidas. 

Mas os ajustes não são apenas visuais, elementos como salvamento automático facilitam a vida e a progressão, assim como a possibilidade de escolher diversos tipos de dificuldade, desde o fácil ao novo modo "infernal" para quem gosta de se desafiar. Além disso, diversos minigames estão disponiveis desde o início nos extras e eles vão de quebras cabeças até eliminar ordas de inimigos, o que garante ainda mais formas de se divertir com o título.

Ainda nos extras podemos escutar a trilha sonora original de Onimusha 2, com as músicas cheias de instrumentos tradicionais para relembrar as músicas que tornam as partidas ainda mais imersivas e emocionantes, tanto nos combates como nos momentos mais relaxados.

Uma ótima experiência ainda em 2025


Passadas mais de duas décadas, Onimusha 2 permanece um baú de ideias ousadas que antecederam pares consagrados como Nioh e Sekiro. Sua fusão de história japonesa com horror sobrenatural influenciou toda uma geração de títulos samurais, enquanto o foco em contra-ataques perfeitos antecipa a obsessão moderna por parry-timing de ritmo quase musical.

Jogar o relançamento hoje é descobrir um equilíbrio entre a elegância clássica dos cenários pré-renderizados e a fluidez de controles que ainda respondem com precisão. A trilha sonora orquestrada mescla flautas shakuhachi a tambores taiko, criando um tapete sonoro que sustenta tanto momentos íntimos quanto confrontos épicos. Poucos remasters atuais conseguem capturar esse senso de escala com tão poucos recursos tecnológicos.

Mais importante, Onimusha 2 permanece relevante pela coragem de ligar progresso mecânico a vínculos interpessoais — um conceito que vemos mais em grandes RPGs contemporâneos como Persona e Fire Emblem. É um lembrete de que, mesmo em um hack-and-slash frenético, corações podem pesar tanto quanto espadas. Revisitar Jubei e seus aliados, hoje, não é apenas uma viagem nostálgica; é uma lição de design que ainda inspira a indústria.

Prós

  • A narrativa é rica em personagens e se desdobra de forma diferente dependendo das escolhas do jogador, o que garante um alto fator de replay;
  • A mecânica de afinidade com aliados, baseada em trocas de itens, é surpreendentemente profunda e impacta diretamente o desenvolvimento da história e da jogabilidade;
  • O sistema de isshin (contra-ataques) oferece um desafio refinado e gratificante, incentivando reflexos e precisão;
  • Mesmo com gráficos pré-renderizados, o jogo ainda impressiona pelo cuidado artístico, design de cenários e ambientação cinematográfica,
  • A introdução de aliados com habilidades únicas oferece mudanças temporárias de ritmo e estilo de combate.

Contras

  • Apesar de refinado em relação ao primeiro jogo, o esquema de movimentação pode parecer rígido e antiquado para jogadores acostumados a controles modernos;
  • O sistema de evolução de armas e itens mágicos carece de explicações claras, o que pode levar a decisões ineficientes na alocação de recursos;
  • Como nos Resident Evil clássicos, as câmeras fixas criam momentos de desorientação, principalmente em batalhas contra múltiplos inimigos.

Onimusha 2: Samurai’s Destiny
PS2/Switch/XBO/PS4/PC - Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: Switch 


Revisão: Cristiane Amarante
Análise desenvolvida com cópia digital cedida pela Capcom 
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Fernando Lorde
Fernando Paixão Rosa, normalmente referenciado por Lorde, está escrevendo pela internet afora há mais de dez anos e com alguns livros publicados. Escutando música 24h/dia, fã de cultura pop em suas muitas manifestações e mais fã ainda das IP's da Nintendo. Registrando as aventuras nos games no Instagram (@lordeverse) e Twitch (@lordeverso).
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