Metroid Prime é normalmente lembrado como um exemplo brilhante de como adaptar uma franquia clássica 2D para o ambiente tridimensional. No entanto, a discussão sobre sua jogabilidade em primeira pessoa sempre foi acompanhada por um elemento que os fãs mais atentos não ignoram: o controle. A confirmação de Metroid Prime 4 Beyond com suporte ao modo mouse dos Joy-Con 2 pode representar uma mudança como jogamos não só a franquia, mas jogos FPS em consoles. A seguir, discutimos por que o uso de mouse é exatamente o que Metroid Prime sempre precisou.
Um FPA com DNA de FPS
Podemos rotular Metroid Prime como um FPA (First Person Action), não exatamente um FPS. Isso acontece porque a estrutura do jogo é menos sobre tiroteio desenfreado e mais sobre exploração, puzzles e progressão de habilidades. Ainda assim, o combate em primeira pessoa exige precisão, especialmente nas lutas contra chefes ou nas seções de plataforma e escaneamento.
E aí entra o grande dilema: enquanto consoles oferecem uma experiência imersiva, a precisão da mira em joysticks tradicionais é inferior àquela proporcionada pelo mouse. Esse fator, historicamente comprovado em jogos como Half-Life, Doom e Quake, destaca o quanto a experiência de Metroid Prime poderia evoluir em plataformas que permitam esse tipo de controle, como podemos ver no controle mais livre do terceiro título da franquia no Nintendo Wii.
Particularmente sempre tive dificuldade em jogar FPS em consoles e por mais que sempre tenha jogado títulos como GoldenEye e Perfect Dark, desde aqueles tempos me incomodava com os sistemas de mira, preferindo esse gênero nos PCs, mas, em contrapartida, sempre preferi, em geral, jogar em consoles, havendo aí um ruído. O mouse do Switch 2 pode resolver essa questão.
Wii e o controle de movimento
Se a série Prime não era "um FPS", por que Metroid Prime 3: Corruption fez tanto sucesso com os controles de movimento do Wii? Simples: porque aumentaram a agilidade, a resposta e a precisão da mira. Pela primeira vez, Samus parecia realmente livre para mirar com eficiência, e isso adicionou camadas de dinamismo ao combate. A mistura da movimentação com analógico e mira livre representava uma grande evolução.
Esse precedente corrobora a tese de que a franquia se beneficia — e muito — de sistemas de controle que priorizem mira precisa. O Wiimote, limitado por sua tecnologia na época, já mostrava como a experiência era mais fluida do que com o joystick do GameCube. Então, imaginemos isso com um mouse moderno e uma alta taxa de atualização que o Switch 2 aparentemente disponibilizará.
Ainda assim, o Wiimote apresentava limitações em sua precisão, ainda mais para quem não é tão chegado a mecânicas de controles de movimento — como eu. O mouse mais analógico parece uma fusão e evolução perfeita da experiência obtida em Metroid Prime 3 e Trilogy.
O exemplo mais recente, contudo, é Metroid Prime Remastered de Nintendo Switch que entre suas formas de controle tem o Pointer Mode, que nada mais é que um modo de controle de movimentos, que replica o que foi feito na versão de Trilogy.
A complexidade do design de níveis exige precisão
Diferente de muitos FPS convencionais, Metroid Prime utiliza um design de mundo intrincado, com escaneamentos precisos, pontos fracos de inimigos, plataformas distantes e puzzles baseados em tempo e localização. Em diversos momentos, o jogador precisa mirar rapidamente em pontos pequenos em movimento, alternar entre visores com rapidez enquanto ainda lida com ameaças ao redor e executar saltos em primeira pessoa, algo que já é desafiador por natureza.
Em todas essas situações, um sistema de controle baseado em mouse eleva a resposta e controle do jogador, sem sacrificar o fator plataforma e exploração. O ganho em qualidade de vida e performance seria inegável.
Liberdade de personalização
Hoje, dar ao jogador mais opções de personalização de controles é praticamente um requisito. A adição do suporte ao modo mouse (ou mesmo compatibilidade com giroscópio nos controles atuais, como o Switch Pro Controller) seria uma forma de respeitar diferentes estilos de jogo e abrir as portas para públicos mais diversos — como o jogador de PC que prioriza precisão milimétrica.
Além disso, há uma geração inteira de gamers que se acostumou com a agilidade dos jogos competitivos em primeira pessoa, como Overwatch, Valorant e Call of Duty. Se Beyond quer dialogar com esse público, não faria sentido restringi-lo a controles limitados de joystick.
Metroid Prime Remaster, por exemplo, já apresenta algumas configurações de modo de controle. A adição do modo mouse no Switch 2 como um padrão e intercambiável para outros modos abre portas para uma nov forma de experiência de jogar videogames.
Switch 2: próximo o suficiente dos PCs
A Nintendo parece estar encurtando a distância entre consoles e PCs ao introduzir o modo mouse nos Joy-Con 2. Essa funcionalidade, tradicionalmente associada a computadores, oferece maior precisão em jogos que exigem mira refinada ou controle mais granular do cursor, como jogos de estratégia em tempo real ou shooters em primeira pessoa. A inclusão desse recurso sinaliza uma abertura maior da Nintendo para experiências que antes eram mais comuns no ecossistema de PCs.
Apesar dessa aproximação funcional, o Switch 2 mantém a essência de um console dedicado a jogos. Isso significa que, ao contrário dos PCs — que precisam equilibrar múltiplas tarefas e compatibilidades —, o Switch 2 é uma plataforma customizada, com hardware e software integrados e otimizados exclusivamente para rodar jogos. Essa especialização permite extrair mais desempenho do mesmo nível de potência bruta, garantindo loadings mais rápidos, menor consumo de energia e melhor aproveitamento gráfico, especialmente em jogos desenvolvidos com o console em mente — ou bem adaptados para ele.
E ainda que não seja a primeira vez que a Nintendo use mouses nos seus consoles e, de fato, há como jogar com teclado e mouse em alguns títulos de consoles de outras marcas, talvez estejamos vendo o momento do surgimento de uma nova visão: jogos de console pensados nativamente para terem uma experiência mouse/teclado.
Um pequeno ajuste, mas uma mudança significativa
Metroid Prime 4 tem tudo para ser um divisor de águas. Com visuais renovados, narrativa promissora e uma base de fãs faminta por novidade, ele só precisa de uma coisa para dar um passo real rumo à excelência moderna: controles que façam jus à precisão que seu gameplay exige.
E ainda que Drag x Drive seja o jogo que apresentará a gimmick do Switch 2, que é o Joy-Con como mouse, é indiscutível que (aparentemente) Metroid será o primeiro grande título proprietário da Nintendo que o utilizará. E isso significa abrir espaço — de forma oficial — para o bom e velho mouse. Porque, no fim das contas, a mira de Samus nunca mereceu menos do que a perfeição.
E algo me diz que estamos cada vez mais perto de — para realizar meu sonho — poder jogar com mouse e teclado nos consoles Nintendo. O que acham?
Revisão: Vitor Tibério






