Análise: Into the Restless Ruins une construção e diversão em um complexo e interessante deckbuilder

O jogo da Ant Workshop surpreende e é uma ótima pedida para quem busca títulos com propostas fora da caixa.

em 18/05/2025
Um dos elementos mais clássicos do mundo dos games são as dungeons (masmorras). Desde que as aventuras virtuais começaram a agraciar nossas vidas, incontáveis heróis passaram por calabouços de todos os tipos para salvarem alguém importante, ganharem itens poderosos ou enfrentarem seus arqui-inimigos, a ponto dessa mecânica ser, até hoje, ubíqua em muitos gêneros.




Justamente por isso, a proposta de Into the Restless Ruins me chamou tanta atenção. Neste interessante título produzido pela Ant Workshop, cabe ao jogador construir as masmorras pelas quais passará em busca de seu objetivo. O diferencial é que tais salas são edificadas a partir de suas cartas, fazendo com que seu baralho (e as escolhas na montagem dele) impacte diretamente no sucesso ou fracasso da missão. O mais legal de tudo? Essa inusitada mistura de gêneros surpreendentemente funciona, resultando em uma fácil recomendação para quem busca deckbuilders inovadores e divertidos.

Em busca da donzela da ceifa

Apesar de simples, a história de Into the Restless Ruins remonta às antigas lendas escocesas, que contam que aqueles que possuem desejos que não podem ser atendidos por meios humanos ou mundanos devem procurar a donzela da ceifa. Isso porque, em troca de seu esforço, a crença popular afirma que ela é capaz de realizar todos os tipos de ambições.

Buscando isso, após anos e anos seguindo rumores e pistas falsas, nosso protagonista sem nome finalmente encontrou a misteriosa entrada das ruínas que abrigam a poderosa donzela, que, por sua vez, não tarda em se revelar. Porém, não é preciso muito tempo para perceber que ainda não é a hora de comemorar.

Isso porque a lendária mística está enfraquecida devido à corrupção dos terríveis guardiões e das criaturas deploráveis que rondam suas ruínas. A solução? Você deve ceifar tais monstros; segundo a própria, quando isso acontecer e seu poder for enfim restaurado, ela realizará todos os seus desejos. Assim, é dessa forma que começa sua intrigante jornada pelas ruínas onde, dizem, não há descanso.

Construindo, ceifando e repetindo

Na prática, Into the Restless Ruins obriga você a expandir as ruínas — o mapa do jogo — para conseguir explorá-las. Para isso, é necessário jogar as cartas da sua mão, que correspondem a diferentes salas, e encaixá-las nos conectores visíveis, essencialmente criando um caminho para os vários chefes que corrompem o poder da donzela da ceifa.

Porém, a missão é um pouco mais complexa do que parece: ao começar uma partida, seus pontos de construção são limitados, o que significa que poucas salas podem ser erguidas por turno no início. Quando os pontos disponíveis a cada rodada são enfim exauridos, é hora de começar a ceifa, que é o momento de explorar na prática a construção que você acabou de preparar.

Explorar as ruínas é imprescindível, pois é sua chance de alcançar e destruir os selos e chefes que eliminarão a corrupção da donzela e também de conseguir melhorias (passivas ou ativas) para seu personagem e partida. Porém, o tempo para fazer isso é bastante limitado: sua tocha está sempre se apagando e, se você ficar sem luz, a escuridão começará a causar dano.

Logo, é necessário priorizar o que você deseja fazer a cada noite para conseguir romper os selos, alcançar o portal de saída das ruínas a tempo e, assim, recuperar seus pontos de construção para, no turno seguinte, construir novos caminhos e continuar avançando — um loop complexo de jogabilidade, mas que não demora a se provar viciante, visto que suas construções e suas decisões a cada rodada são os grandes responsáveis pela vitória ou derrota.

De sala em sala, a gente chega lá (ou morre tentando)

Se, no início, as cartas à sua disposição são bastante simples, progredir na exploração das ruínas e derrotar inimigos progressivamente garante acesso a variantes mais poderosas que dão benefícios melhores, como mais pontos de construção na rodada seguinte, ou recargas para a tocha e para os pontos de vida.

Essa dinâmica recompensa, mas também obriga o jogador a planejar cuidadosamente o uso das cartas e a construção das salas, visto que montar um caminho até um boss, por exemplo, de pouco adiantará se tal rota não contar com fogueiras ou bônus de dano suficientes em sua trajetória. Da mesma forma, criar caminhos muito longos pode causar problemas quando for a hora de sair da dungeon, então é imperativo encontrar um equilíbrio nesse sentido para se sair bem no jogo.

Dada a inerente curva de aprendizado, suas primeiras partidas provavelmente serão marcadas por arrependimentos do tipo “coloquei aquela carta/sala no lugar errado e tô vendo que isso vai me assombrar o jogo todo”, mas é bem legal perceber como as mecânicas idealizadas pela Ant Workshop vão sendo naturalmente assimiladas com o tempo. Para completar, a vertente roguelite do título garante que, por mais similares que sejam, duas partidas nunca serão 100% idênticas; além disso, até mesmo os fracassos compensam, desbloqueando itens para as futuras tentativas.

Nesse pacote, o único ponto que vejo que pode gerar uma certa controvérsia é a relativa simplicidade do combate: como o foco de Into the Restless Ruins está na construção e na exploração, a desenvolvedora optou por implementar ataques automáticos, à la Vampire Survivors, outro indie de sucesso no Switch. Na prática, isso quer dizer que os inimigos serão automaticamente combatidos assim que entrarem no seu raio de visão.

Particularmente, não vi problemas nessa abordagem criativa (como mencionado, o foco do game está na construção e na exploração), mas quem gosta de mais ação em seus jogos possivelmente se decepcionará um pouco com a falta de protagonismo nesse sentido. Outro aspecto que vale mencionar é que, apesar de um ou outro personagem que aparece durante a aventura, a narrativa folclórica também não se desenvolve muito para além da proposta inicial, porém esse deslize em nenhum momento se prova prejudicial à proposta do jogo como um todo. 

Explore as ruínas em qualquer lugar, graças à flexibilidade do console da Nintendo

Particularmente, acredito que deckbuilders são um dos gêneros de games que combinam perfeitamente com o Switch — as partidas rápidas de jogos como Slay the Spire e Balatro são ótimas para se jogar no modo portátil e, graças à flexibilidade do console da Nintendo, também é possível jogar na TV ou em um monitor se o desejo aparecer, fazendo das versões nintendistas sempre uma ótima opção para games desse estilo.

É o caso de Into the Restless Ruins, que, felizmente, também não apresenta problemas de performance em nenhuma instância — seus gráficos em pixel-art simples, mas funcionais, dão conta do recado, e o texto também é facilmente legível no modo portátil. Também há suporte a PT-BR, ajudando no entendimento dos efeitos de cada sala durante a jogatina e acelerando a curva de aprendizado.

Só achei a trilha sonora e a sonoplastia um pouco repetitivas; há uma ênfase no uso de sintetizadores que, na minha opinião, destoam um pouco e praticamente não ajudam na ambientação do game. Novamente, não é algo que comprometa a experiência, mas talvez você prefira jogar Into the Restless Ruins com outras músicas de fundo, visto que as oficiais não contribuem tanto assim para o game.

Um deckbuilder autêntico e que merece ser conferido no Switch

Into the Restless Ruins me surpreendeu muito positivamente, provando que é possível unir gêneros aparentemente bem distintos e, ainda assim, entregar uma experiência intrigante, coesa e, sobretudo, divertida. Logo, se você aprecia deckbuilders e não teme jogos complexos que ousam se posicionar fora da caixinha, este é um título que merece ser conferido — especialmente no Switch, onde sua proposta se encaixa perfeitamente. Agora, com licença: a donzela da ceifa me espera e preciso voltar a explorar a dungeon que estou montando…

Prós

  • Inova dentro do gênero de construção de baralhos, unindo edificação de masmorras com a consequente exploração delas para entregar uma experiência ímpar, que consegue ser tão desafiadora quanto divertida;
  • A geração procedural de níveis garante que duas partidas nunca serão exatamente iguais, aumentando o fator replay e instigando o jogador a traçar caminhos cada vez mais otimizados para seus objetivos;
  • A mecânica da tocha cria uma sensação de urgência bem interessante, que recompensa o planejamento nas jogadas;
  • A apresentação impecável, sem problemas técnicos no Switch, automaticamente transforma esta versão em uma das melhores maneiras de experimentar o título, dada a flexibilidade do console da Nintendo;
  • Suporte a PT-BR.

Contras

  • A mecânica de combate automático pode não agradar jogadores que gostam de combinar exploração com ação;
  • Considerando a influência do folclore escocês, a história poderia ser melhor desenvolvida;
  • A trilha sonora destoa um pouco da proposta do jogo.
Into the Restless Ruins — PC/Switch/PS5/XSX — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Alessandra Ribeiro
Análise produzida com cópia digital cedida pela Wales Interactive
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Alan Murilo
é publicitário e copywriter que aprecia um bom jogo tanto quanto um bom café. Gamer desde que segurou um controle de Super Nintendo pela primeira vez, tem um apreço especial pelos títulos independentes e pelas diversas franquias da Big N.
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