Jogos casuais, também chamados de cozy games ou jogos relaxantes, têm se tornado cada vez mais populares. Títulos como Animal Crossing: New Horizons e Stardew Valley estabeleceram mecânicas e elementos que se tornaram referência para o gênero. Com o tempo, surgiram inúmeros títulos tentando embarcar nessa nova onda, muitos deles são bastante semelhantes entre si, repetindo fórmulas semelhantes, o que acabou banalizando esse estilo e reduzindo-o ao rótulo simplista de “jogos de fazendinha”.
Por isso, o anúncio de Locomoto para o Switch, com suas ideias e mecânicas inovadoras, me deixou interessado em ver como a Green Tile Digital, desenvolvedora do jogo, renovaria o cenário de jogos relaxantes e casuais.
Apesar das mecânicas envolventes, da liberdade para jogar no seu estilo e de suas inovações no gênero de jogos casuais, Locomoto, no Switch, é uma das experiências mais mal otimizadas que tive recentemente — repleto de bugs visuais, crashes frequentes e sérios problemas de desempenho.
Todos a bordo!
Vista seu macacão, coloque seu quepe de maquinista e prepare-se para explorar o mundo em sua locomotiva!
Em Locomoto, você é o condutor de um trem velho e abandonado explorando a região de Salsglade e seus arredores, apreciando a paisagem, entregando encomendas e ajudando animais antropomórficos fofos que vai encontrando ao longo da jornada. Tudo isso enquanto você coleta itens e recursos para melhorar o seu trem e tornar a experiência dos seus passageiros mais aconchegante.
Um dos aspectos mais únicos do jogo é a exploração feita por meio da sua locomotiva. Ela não serve apenas como um meio simples e monótono de locomoção, há um certo planejamento estratégico na definição das rotas que você seguirá, principalmente por conta das missões aceitas ao longo do jogo — sejam elas relacionadas à história principal ou tarefas secundárias, como entregar pacotes entre cidades.
Além disso, para que o trajeto entre estações não pareça somente uma forma de estender a duração do jogo, é preciso estar atento ao nível de carvão restante na fornalha da locomotiva, garantindo que o trem continue funcionando sem problemas. Ainda é preciso servir comidas e bebidas que agradem os passageiros, ganhando tokens que podem ser trocados por itens usados na criação de móveis e acessórios para personalizar seu trem.
Embarque na calmaria
Assim como em Animal Crossing e Stardew Valley, o aspecto social da aventura é muito importante, e você constantemente irá interagir com outros personagens, ajudando-os a completar tarefas, com o objetivo de melhorar a vida de todos os habitantes de Salsglade, ou ajudar seus amigos com pequenas tarefas.
Em meio às missões, é fácil se distrair com as inúmeras personalizações que você pode fazer no trem. Desde pinturas simples ou mudanças no papel de parede, até transformações completas, alterando móveis, eletrônicos e outros objetos que decoram os vagões. Se estiver com pouco espaço, é possível encontrar novos vagões espalhados pelo mundo de Locomoto, e até decidir a ordem em que cada um será posicionado no seu comboio.
Para melhorar ainda mais a experiência, a trilha sonora de Locomoto segue o estilo Lo-fi, com batidas suaves e melodias tão relaxantes que é impossível não se sentir à vontade durante a jogatina. A música também contribui para construir um clima calmo e despreocupado, o que torna Locomoto uma ótima escolha para sessões curtas ou até como plano de fundo enquanto você assiste a uma série ou vídeo — coisa que fiz em algumas das minhas sessões.
Para aumentar ainda mais a imersão, o jogo conta com um sistema de criação de personagem simplificado, mas cheio de possibilidades, com diferentes tipos de rosto, corpo, cabelo e diversas roupas fofas, que podem ser desbloqueadas durante a aventura. Desde um macacão de maquinista até um visual mais desleixado e casual, se você gosta de passar horas customizando cada detalhe do seu protagonista, Locomoto é para você.
Problemas nos trilhos
Mesmo sendo um ótimo jogo casual, com mecânicas envolventes e bastante potencial, sua versão atual para Switch beira o injogável.
Logo nos primeiros minutos de jogo, um dos principais problemas que percebi foi o desempenho extremamente instável. Na maior parte do tempo, o jogo parece rodar um pouco abaixo dos 30fps, mas, em algumas estações, a performance cai para algo próximo de 15fps — ou até menos. Além disso, é comum ver objetos do cenário surgindo repentinamente à sua frente, como se o jogo não conseguisse renderizar todos os elementos do ambiente a tempo.
Apesar de adotar um estilo artístico minimalista e acolhedor, a ausência de detalhes em texturas e efeitos de iluminação muitas vezes faz o jogo parecer inacabado — como se partes do cenário estivessem mal renderizadas. Esse problema é ainda mais evidente devido às texturas extremamente comprimidas e de baixa qualidade, fazendo com que alguns objetos e roupas percam definição e pareçam borrões estranhos.
E o pior de tudo: os bugs gráficos bizarros e a frequência com que o jogo fechava inesperadamente, me fazendo perder progresso. Infelizmente, é comum o jogo quebrar completamente, transformando a locomotiva em uma massa geométrica bizarra, e durante a minha jogatina foi praticamente impossível jogar por muito tempo sem sofrer um novo travamento. Em cerca de nove horas de jogo, Locomoto fechou inesperadamente dez vezes — e, em metade delas, perdi todo o progresso feito. Mesmo com os salvamentos automáticos frequentes, não consegui recuperar o que havia sido perdido.
Além disso tudo, com alguns loadings consideravelmente longos — chegando a quase um minuto para carregar certos mapas —, fica evidente que Locomoto não recebeu o polimento necessário ao ser adaptado para o Switch. O que poderia ser uma experiência encantadora se torna frustrante e arrastada, com bugs visuais que comprometem a imersão, performance instável e crashes frequentes que fazem você perder progresso. Locomoto claramente precisava de mais tempo no forno, e é surpreendente ver um jogo com ideias tão boas receber pouco cuidado na adaptação.
Uma boa aventura frustrantemente mal portada
Locomoto foi uma experiência extremamente interessante, e, quanto às suas mecânicas e ao loop de gameplay, superou minhas expectativas. No entanto, a forma como o jogo foi portado para o Switch é inacreditavelmente mal feita — é difícil acreditar que este seja o título mais cheio de bugs que joguei desde que tenho o console.
Mesmo sendo um bom jogo em sua essência, o estado em que ele foi lançado torna muito difícil recomendá-lo. E, sinceramente, talvez nem valha a pena tentar relaxar apreciando a paisagem e administrando seu trem, se o jogo vai continuar fechando sozinho ou travando, fazendo todo o progresso ser perdido.
Prós
- Loop de gameplay viciante e orgânico — exploração e administração do trem flui naturalmente;
- Personalização e modificação extensa do seu trem, permitindo que você seja bastante criativo com seu estilo de gameplay;
- Músicas Lo-fi relaxantes, que contribuem ainda mais para que a experiência seja aconchegante;
- Várias estações e mapas únicos para explorar.
Contras
- Jogo em seu lançamento cheio de bugs gráficos, transformando modelos em formas geométricas bizarras;
- Estilo visual que parece mais inacabado do que minimalista;
- Crashes constantes que fazem você perder progresso e desempenho péssimo.
Locomoto — PC/Switch — Nota: 6.0Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Cristiane Amarante
Análise produzida com cópia cedida pela THQ Nordic