Análise: Monster Train 2 é um deckbuilder complexo, divertido e viciante no Switch

Liberte o Céu dos titãs invasores neste ótimo título no console da Nintendo.

em 01/06/2025
Pergunte aos fãs de deckbuilders sobre os melhores títulos do gênero e serão grandes as chances de você ouvir um sonoro “Monster Train!” ao lado de jogos mais conhecidos como Balatro e Slay the Spire. E não é para menos: lançado em 2020, o título desenvolvido pela produtora independente Shiny Shoe logo conquistou o coração dos jogadores com a sua proposta inovadora, que unia construção de baralhos com batalhas automáticas a bordo de um trem infernal.


Lançada no último dia 21, agora é finalmente a hora da sua aguardada sequência Monster Train 2 brilhar no Switch e nos outros consoles. Conservando todos os elementos que consagraram o primeiro jogo, mas adicionando ainda mais ferramentas e possibilidades estratégicas para os fãs passarem horas explorando e dominando, este é um título imperdível no console da Nintendo e que, apesar de um ou outro deslize em relação à dificuldade, certamente merece ser conferido tanto pelos entusiastas quanto pelos novatos.

Passagem comprada com sucesso

Em termos de narrativa, Monster Train 2 traz uma sequência direta dos acontecimentos do primeiro jogo. Porém, se este é o seu primeiro contato com a franquia, não há muito com o que se preocupar: basta saber que, neste universo, após anos de paz, as forças fantásticas do Céu e do Inferno devem formar uma aliança inédita, pois um grande inimigo em comum as atormenta.

Tratam-se dos titãs: seres mitológicos e extremamente poderosos que assumiram o controle do Céu, representando um grande risco tanto para os anjos quanto para os demônios. Como sozinhos os seres celestiais e infernais já sabem que não chegarão longe no combate, a única solução à vista é trabalhar juntos para conseguir deter os invasores a tempo.

É nesse cenário que você surge: como o jogador, você será o maquinista dos trens recém-criados que irão embarcar nessa jornada pelos trilhos do Inferno, Céu e Abismo antes que os vilões destruam o mundo como é conhecido. Logo, é sua a tarefa estratégica de escolher os melhores passageiros/guerreiros para a missão e também de manter acesa a pira que sustenta o veículo até o confronto final com o representante titânico. Pronto para a aventura?

Um trem muito louco (mas isso é algo muito positivo)

No que tange à jogabilidade, Monster Train 2 segue à risca a fórmula do primeiro jogo da série. Isso quer dizer que uma partida normal é dividida em vários estágios subsequentes, cujos combates ocorrem a bordo do trem montado por você.

Como os confrontos aqui são realizados de forma automática, para sair com a vitória, é fundamental: 1) escolher bem as unidades (cartas) que compõem o seu baralho; e 2) posicioná-las estrategicamente em cada um dos três andares do veículo, para conter e combater as ondas inimigas que surgirão a cada turno. 

Na teoria, a tarefa pode até soar simples, mas Monster Train 2 não demora a revelar uma interessante complexidade, que está apoiada no vasto número de possibilidades estratégicas. Prova disso é que, se nos primeiros estágios basta colocar um vigia em cada andar para conter os oponentes sem maiores problemas, no meio da jornada rapidamente a coisa muda de figura, de modo que é preciso otimizar o posicionamento dos comandados e buscar a sinergia entre eles para conseguir avançar.

Na prática, falhar nesses quesitos significa permitir que os inimigos alcancem a pira que mantém o seu trem funcionando, comprometendo toda a operação e resultando em um game over. No entanto, a derrota não é o fim: sendo Monster Train 2 também um roguelite, a geração aleatória dos eventos e desafios garante que nenhuma partida será 100% idêntica à anterior. E como até mesmo os fracassos podem render desbloqueios e novos recursos para tentativas futuras, há sempre um incentivo para continuar jogando e tentando fazer com que o trem chegue ao seu destino.

Próxima parada: o upgrade

Para ajudar na difícil missão de derrotar os titãs, a cada confronto vencido e avanço no mapa, é possível coletar upgrades tanto para a partida em si quanto para as cartas do seu baralho. Mesmo assim, é preciso estar atento, pois as bifurcações na ferrovia levam a diferentes melhorias em cada rota e, dependendo dos rumos da tentativa, umas compensam bem mais do que as outras.

Por exemplo: em alguns caminhos no mapa, é possível adicionar novas cartas ao deck, mas nem sempre isso é algo positivo; às vezes, é melhor ter um baralho compacto do que um numeroso. Em certos locais, também é possível forjar as unidades, aumentando seu poder, vitalidade, ou concedendo bônus especiais como ataque duplo ou iniciativa, que permite atacar primeiro que os oponentes.

A quantidade de opções disponíveis nesse sentido é impressionante: para quem gosta de explorar variações estratégicas e montar combinações cada vez mais letais, Monster Train 2 é um prato cheio e delicioso. A cada nova partida, fica mais claro que a Shiny Shoe pegou a fórmula elogiada do primeiro jogo e a refinou, adicionando ainda mais peças virtuais (como itens equipáveis nas unidades e cartas de salas, que impactam os andares do trem) para os jogadores gastarem horas dominando. Há até um modo infinito, para quem quer realmente testar os limites do baralho.

Só há um problema nisso tudo: Monster Train 2 é um jogo um pouco complexo, e infelizmente o seu tutorial não faz jus à sua proposta. Somente as mecânicas mais básicas são explicadas inicialmente, e se você não tem muita intimidade com o gênero (ou com a franquia), arrisco dizer que as suas primeiras partidas serão um tanto quanto confusas (a quantidade de informações simultâneas na tela também não ajuda nesse sentido).

Para piorar a situação, há alguns saltos de dificuldade notáveis durante as campanhas, fazendo com que o jogo por vezes pareça desbalanceado, especialmente quando se está “pegando o jeito”. Na minha opinião, esses deslizes não chegam a comprometer a experiência, mas, em contrapartida, temo que alguns novatos desistam do título bem antes de ver a maior parte do que ele pode oferecer.

Em resumo, como tantos outros games já mostraram, é possível oferecer uma experiência desafiadora, mas amigável a diferentes públicos, por meio de uma curva de dificuldade mais suave e/ou modificadores (sendo honesto, estes últimos até existem no game, mas na maioria das vezes aumentam a dificuldade, em vez de diminuí-la). Sem uma atualização que melhore esse aspecto do jogo no futuro, fica o aviso, então: Monster Train 2 é muito divertido a ponto de ser imperdível, mas é preciso paciência para entender sua proposta e realmente dominá-la, caso esse seja o seu primeiro contato com este universo.

Um port tecnicamente perfeito para o Switch

Monster Train 2 não conta com versões para PlayStation 4 e Xbox One, somente PS5, Xbox Series e PC. Ao saber disso, uma das minhas grandes preocupações para com a versão de Switch era justamente a sua performance, visto que jogos desenvolvidos exclusivamente para a atual geração tendem a sofrer um pouco no dispositivo híbrido da Nintendo.

Felizmente, não tenho nada para criticar nesse quesito: Monster Train 2 é tecnicamente perfeito no console da Big N, apresentando resolução nativa e taxa de quadros estável tanto no modo portátil quanto no modo TV. Mesmo com a quantidade de informações na tela, gostei especialmente de jogar a aventura no modo portátil — as partidas rápidas do game casam perfeitamente com a praticidade e versatilidade do Switch.

Ainda sobre a parte técnica, a direção de arte e o design das criaturas que protagonizam o título promovem um show à parte; uma das vantagens mais legais de desbloquear novas cartas, na minha opinião, é conferir as artes de cada uma. Do mesmo modo, também gostei do fato de que cada chefe possui a sua própria faixa musical, conferindo ainda mais identidade a esses confrontos épicos por natureza.

No fim, Monster Train 2 é, para mim, uma das gratas surpresas do ano e um título imperdível para os fãs de deckbuilders que possuam um Switch. Já tendo passado dos 30 anos de idade, sei que um jogo é bom quando ele consegue me fazer ficar acordado até tarde, explorando suas possibilidades e caindo na tentação de jogar “só mais uma partida”. Viciante, complexa e divertida, a obra da Shiny Shoe consegue justamente isso, e sua adaptação impecável para o console da Big N (completa com a localização em português) só reforça sua recomendação.

Todos a bordo!

Desafiador e cativante, Monster Train 2 junta-se à seleta lista de melhores deckbuilders disponíveis no Switch, graças às suas centenas de combinações estratégicas possíveis e a um port tecnicamente impecável. Embora aspectos importantes como o tutorial e a curva de dificuldade pudessem ser claramente melhor trabalhados, não há como negar que esta é uma viagem imperdível para os fãs do gênero que buscam algo novo, capaz de render horas de entretenimento. Todos a bordo, então: entre este inferno e céu virtuais, a próxima parada é claramente a diversão.

Prós

  • Refina a elogiada fórmula do primeiro jogo da série, provando que montar um trem e povoá-lo para sobreviver a diferentes combates em sequência continua muito divertido;
  • A grande variedade de unidades disponíveis, mais as novas opções de cartas de equipamentos e salas, aumentam o leque de estratégias possíveis em cada partida;
  • O vasto número de upgrades possíveis e a geração aleatória de eventos garantem um ótimo fator replay;
  • Tecnicamente perfeito no Switch, tanto no modo TV quanto no modo portátil;
  • Localizado em português.

Contras

  • O tutorial confuso e a complexidade das mecânicas pode prejudicar consideravelmente a experiência de quem não tem muita intimidade com o gênero ou com a franquia;
  • A curva de dificuldade com saltos notáveis e até abruptos pode deixar uma má impressão;
  • A interface poderia ser mais intuitiva.
Monster Train 2 — PC/Switch/PS5/XSX — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Beatriz Castro
Análise produzida com cópia digital cedida pela Big Fan
Siga o Blast nas Redes Sociais
Alan Murilo
é publicitário e copywriter que aprecia um bom jogo tanto quanto um bom café. Gamer desde que segurou um controle de Super Nintendo pela primeira vez, tem um apreço especial pelos títulos independentes e pelas diversas franquias da Big N.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Você pode compartilhar este conteúdo creditando o autor e veículo original (BY-SA 4.0).