Análise: The Red Bell’s Lament nos leva a uma realidade sombria com vampiros e segredos

A visual novel traz uma estrutura atípica e uma realidade marcada pela tragédia.

em 23/06/2025
Parte dos projetos de otomes de console da Voltage, The Red Bell’s Lament é o primeiro jogo inédito da empresa no Switch após a criação da marca AmuLit. Com um conceito de caça a vampiros, a obra traz uma ambientação sombria e aposta mais na construção de mundo do que no romance propriamente dito, seguindo uma linha similar a Even if Tempest.

Caça ou caçador?

Juliet Rose é uma jovem caçadora de vampiros cujos esforços de caça às criaturas da noite a levaram a se tornar parte da elite desses profissionais. Por conta disso, um dia, ela e outros indivíduos de talentos similares são convocados pelo rei a participar de uma empreitada: resgatar o príncipe em Nyx, um outro mundo que é o domínio dos vampiros.

Porém, logo após chegar lá, o grupo se vê diante de uma situação muito mais complicada do que esperava. Não apenas estavam no território de seus inimigos como também teriam que participar do “Duelo da Agonia”, em que seriam tratados como peças humanas em embate contra os vampiros.

Sem entrar em grandes detalhes, Juliet logo se vê forçada a repetir várias vezes sua jornada por Nyx, encarando vários finais ruins. Com a repetição, ela terá a chance de tentar várias vezes alcançar um final melhor ao se aproximar de alguns rapazes específicos que incluem o vampiro Rhodes, seu amigo de infância Asher, o cavaleiro Garrett, e Ciaran, o mais poderoso caçador.

Conforme avançamos pela história, vamos descobrindo mais sobre o mundo, que é recheado de elementos sórdidos. Com o tempo, os personagens aprendem muito sobre as realidades de ambos os universos, assim como o contexto que faz com que Juliet tenha a chance de tentar agir de formas diferentes para mudar o destino.

Assim como Even if Tempest, o jogo anterior da Voltage a ser lançado exclusivamente no Switch, The Red Bell’s Lament opta por uma estrutura mais focada no drama e força o jogador a encarar várias tragédias antes de alcançar os finais bons. De certa forma, a priorização da trama deixa os personagens e o romance em particular um pouco de lado, mas Rhodes e todos os membros do grupo principal são bem carismáticos e há uma ótima química entre eles (especialmente com a protagonista).

Esse foco acaba compensando com uma narrativa cheia de mistérios, reviravoltas e aspectos trágicos ligados aos personagens. É envolvente ver como Juliet e os outros lidam com conhecimentos cada vez mais profundos sobre o mundo e os segredos que cada um esconde.

Um tabuleiro de decisões

The Red Bell’s Lament não é uma visual novel otome típica na estrutura de suas rotas, já que obras de romance geralmente envolvem uma divisão linear de histórias. Isso significa que o jogador se foca primeiro em concluir a narrativa ligada a um personagem e, só após terminar essa rota, parte para o enredo de outro interesse romântico.

Em vez disso, precisamos necessariamente intercalar entre os personagens para avançar, já que só após alcançar um final ruim com um indivíduo abrimos outra ramificação. Em alguns momentos, é possível escolher a história que queremos continuar, porém, na prática, essas escolhas são bem limitadas e nossa progressão é restrita, uma forma interessante de refletir como Juliet está sempre pressionada contra a parede.

Além das escolhas de como reagir em diálogos específicos, que são um elemento típico do gênero para adicionar agência nas histórias, The Red Bell’s Lament conta com tabuleiros nos quais podemos movimentar uma peça da Juliet em alguns momentos. Com um número limitado de ações, nosso objetivo é chegar até um ponto marcado por uma bandeira no mapa, mas podemos encontrar eventos alternativos de diálogo e até alguns finais dependendo do nosso percurso.

Os tabuleiros também são uma forma de conseguir Elgan Crowns, moedas necessárias para desbloquear conteúdos adicionais nos Extras. As opções incluem páginas de perfis dos personagens e uma “história especial”.

Infelizmente, embora a ideia seja interessante, a movimentação é consideravelmente lenta e frustrante. Só podemos andar um passo de cada vez e é necessário movimentar o cursor para selecionar o quadrado para o qual pretendemos ir. Em comparação com ir direto para o próximo ponto com um simples apertar de botão, essa escolha acaba sendo um tanto inconveniente.

Alguns defeitos técnicos

The Red Bell’s Lament foi lançado simultaneamente em japonês e inglês e vale destacar que, de forma geral, a tradução tem boa qualidade, sendo o texto bem fluido para ler. Há um esforço na escolha de termos em inglês para reforçar a ambientação e evitar alguns termos mais genéricos usados no Japão, o que pode ser um pouco controverso já que só há vozes japonesas, o que deixa claro algumas mudanças, como trocar o “High-Class” japonês para “Aristoi”.

Apesar da qualidade geral, há uma boa quantidade de erros de digitação e gramática que podem incomodar na experiência. Também temos alguns elementos de interface que simplesmente foram deixados em japonês, como alguns botões de confirmação e a medição de casas do tabuleiro ao interagir com um ponto mais distante do mapa.

Outro ponto que acaba deixando a desejar é a falta de um menu para agregar os termos importantes da ambientação. Em vários pontos, há palavras técnicas que recebem realce na trama e o jogador pode ler o que elas significam, porém isso só pode ser feito enquanto estamos naquela fala, já que não há esse menu.

O carisma do vampiro

The Red Bell’s Lament é mais um otome game da Voltage que chama a atenção com seu esforço dramático e uma estrutura ainda mais atípica de rotas do que seu antecessor. Para quem busca uma visual novel carismática em um mundo com vampiros e humanos se esforçando contra calamidades, esta é uma boa pedida.

Prós

  • Narrativa cheia de mistérios bem explorados como reviravoltas;
  • Estrutura atípica de rotas que é aproveitada para fazer a protagonista descobrir várias verdades inquietantes antes de concluir a trama de qualquer um de seus pretendentes;
  • Elenco carismático de personagens principais.

Contras

  • A navegação pelo tabuleiro acaba sendo um tanto lenta e desagradável;
  • Vários erros de digitação e gramática no texto em inglês;
  • Alguns elementos da interface permanecem em japonês;
  • Ausência de um menu para agregar as definições dos termos que aparecem em alguns momentos.
The Red Bell’s Lament — Switch — Nota: 8.0

Revisão: Alessandra Ribeiro 
Análise produzida com cópia digital cedida pela Voltage

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Ivanir Ignacchitti
é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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