Lançado para Nintendo DS em 2010, Lufia: Curse of the Sinistrals é uma releitura de Lufia II: Rise of the Sinistrals, lançado originalmente para Super Nintendo em 1995. O jogo reimagina completamente a aventura original, trocando o estilo clássico de RPG por turnos por um sistema de ação em tempo real e trazendo um tom geral mais leve e bem-humorado.
Uma aventura simples e bem-humorada
Em Lufia: Curse of the Sinistrals, acompanhamos a jornada de Maxim, um guerreiro talentoso e impulsivo que, logo no início, descobre estar destinado a enfrentar uma ameaça ancestral: os Sinistrals, quatro entidades praticamente divinas que ameaçam subjugar a humanidade.
A aventura começa de forma bem acelerada, com Maxim encarando Gades, o Sinistral da Destruição, nos primeiros minutos de jogo. Após ser derrotado sem ter muitas chances, o jovem herói percebe que ainda não está pronto para essa batalha e parte em uma jornada para se fortalecer e reunir aliados capazes de ajudá-lo a enfrentar essas forças colossais.
Nesse sentido, o enredo de Curse of the Sinistrals é simples e extremamente direto: o mundo está em perigo e cabe a Maxim e seu grupo impedir a catástrofe. Há poucas reviravoltas e poucas das tramas paralelas envolvendo os locais visitados ou seus habitantes são realmente relevantes.
A despeito da urgência da situação, o jogo não se leva tão a sério e aposta em uma abordagem leve e exagerada, com cenas recheadas de humor. Essa escolha vale inclusive para os próprios Sinistrals, que, embora consigam transmitir ameaça, são retratados de forma exagerada e, em muitos momentos, caricata.
Por contar com um elenco razoavelmente carismático, essa abordagem funciona em diversas situações e rende momentos genuinamente engraçados. Os diálogos entre os personagens principais são cheios de piadas, provocações e reações absurdas, contribuindo para manter o clima descontraído da aventura.
No entanto, também há momentos em que o humor parece forçado, especialmente em cenas que poderiam carregar mais impacto emocional ou tensão narrativa. Além disso, a história deixa a impressão de ser muito corrida, com algumas das motivações dos aliados não sendo tão bem trabalhadas.
Progressão linear e puzzles variados
Em vez de um mundo conectado por áreas exploráveis, Curse of the Sinistrals adota uma estrutura baseada em seleção de destinos, na qual cidades e masmorras são acessadas por meio de um menu geral, o que torna sua progressão bastante linear.
O grande destaque da exploração está nas masmorras, que apresentam uma boa variedade de quebra-cabeças. Durante a jornada, nos deparamos com diversos tipos de desafios que bloqueiam o caminho, desde empurrar blocos e acionar interruptores até manipular mecanismos ou plataformas móveis. Esses puzzles, apesar de extremamente mais simples que os encontrados no título original, ainda cumprem bem seu papel dentro do jogo.
Um ponto interessante é o uso das habilidades únicas de cada personagem na resolução dos enigmas, o que acaba gerando uma rotação interessante entre os membros da equipe. Maxim, por exemplo, pode usar uma espécie de “dash aéreo” para atravessar vãos e acessar locais distantes, ao passo que Tia consegue puxar objetos com um gancho que sai de sua maleta.
Vale destacar que, embora o título não esteja entre os mais impressionantes do Nintendo DS visualmente falando, ele é bastante competente nesse aspecto, trazendo cenários consideravelmente distintos entre as cidades e masmorras, além de bons retratos de personagens durante os diálogos.
Personagens com nuances próprias e customização interessante
Neste jogo, as batalhas acontecem em tempo real. Aqui, cada personagem possui ataques básicos que desencadeiam combos, pode se esquivar com rolamentos, saltar e usar habilidades especiais. Além disso, o jogador pode alternar rapidamente entre os membros da equipe.
O interessante é que cada um dos personagens jogáveis tem um estilo próprio de combate. Selan, por exemplo, é ideal para atacar à distância com magias. Por outro lado, Guy e Dekar causam grande dano físico e têm alta resistência.
Além da progressão tradicional por níveis e equipamentos, Curse of the Sinistrals traz um sistema de customização interessante baseado em um grid semelhante ao usado em Kingdom Hearts 358/2 Days. Nele, o jogador pode encaixar pedras mágicas que conferem melhorias variadas aos personagens.
Como cada personagem possui seu próprio tabuleiro e as pedras variam em tamanho, posicioná-las exige planejamento. Algumas combinações podem gerar efeitos em cadeia e desbloquear novas habilidades, tornando o gerenciamento desse sistema uma parte surpreendentemente estratégica da experiência.
No entanto, apesar de funcional e divertido, o sistema de combate também apresenta algumas limitações. Em diversas situações, é possível notar um leve atraso na resposta aos comandos, o que prejudica a fluidez em momentos mais intensos. Além disso, a apresentação visual nem sempre acompanha com precisão a agilidade dos personagens, o que causa um sentimento de desconexão entre o que vemos na tela e o que está de fato acontecendo no combate.
Uma aventura completamente remodelada
Lufia: Curse of the Sinistrals é uma reinterpretação ousada que leva a clássica aventura do Super Nintendo a uma direção completamente diferente. Ao trocar os combates por turnos por ação em tempo real e adotar um tom mais leve e cômico, o jogo consegue estabelecer sua própria identidade.
Embora esteja longe de figurar entre os títulos mais refinados ou memoráveis do Nintendo DS, ele entrega uma aventura divertida e acessível — desde que o jogador esteja ciente de que não se trata de um remake fiel de Lufia II: Rise of the Sinistrals, mas sim de uma reimaginação com foco total na ação.
Revisão: Cristiane Amarante







