Os jogos em pixel art se tornaram uma opção muito viável para estúdios independentes. Além do menor custo de produção, jogos que não estão preocupados com realismo dos gráficos tendem a envelhecer melhor, por isso vemos mais inspirações visuais no estilo Super Nintendo do que Nintendo 64, por exemplo. Mas os famosos SNES e Mega Drive não eram os únicos a fazer uma boa arte nos anos 90. O Game Boy, especialmente após a chegada do Game Boy Color, tinha um estilo próprio e muito cativante. É com esse estilo que Everdeep Aurora cria seu mundo nesse metroidvania amigável e fofo com uma história de mistérios e minérios preciosos no Nintendo Switch.
Vá para as profundezas
Em Everdeep Aurora, o jogador irá controlar a gatinha Shell. Ela vive em uma simples vila na superfície, mas essa vila está prestes a testemunhar o que pode ser uma chuva de meteoros apocalíptica, a pior da história. Isso força todos os moradores a irem para o subterrâneo, a região de Everdeep.
Shell estava esperando por sua mãe, quando recebe uma carta avisando que ela não voltará e que não pode dizer o motivo, mas que ambas podem se encontrar no “local de sempre”. Com isso, a exploração das profundezas começa.
Um mundo embaixo da terra
Explorando o mapa de Everdeep, Shell contará com uma broca que serve para quebrar os ladrilhos que compõem o mapa para liberar o caminho. Nos primeiros minutos, o jogo já mostra que esse mundo é vibrante e dinâmico para explorar, pois várias criaturas estabeleceram suas vidas no subterrâneo mesmo antes da grande chuva de meteoros.
Bares, casas e pequenos acampamentos estão espalhados por Everdeep, com diferentes personagens que podem contribuir na busca pela mãe de Shell ou então trazer informações sobre esse local um tanto misterioso, mas que, ao mesmo tempo, parece ser parte da rotina de muitos ali.
Aquela nostalgia com Game Boy Color
Os pontos principais de Everdeep estão quase sempre distribuídos de maneira vertical no jogo. Não há muito espaço a ser explorado na horizontal, algo que fica claro pela maneira como a tela é disposta, mostrando o jogo somente no centro, com inventário e mapa nas bordas, sem precisar de menus extras.
Esse aspecto traz bem a ideia de um jogo de Game Boy. A área jogável centralizada em uma telinha quadrada. E outro ponto que faz o coração da nostalgia bater mais forte é o conjunto de cores dos cenários. Para cada local que Shell visita, a paleta de cores muda. Sempre com combinações simples, respeitando o limite do que seria um jogo de console 16 bits.
Para fãs saudosos de Pokémon Red/Blue que gostavam desse recurso sempre que chegavam em uma região nova do jogo, o sabor de infância vem na hora.
Jogabilidade pacífica e divertida
Uma surpresa agradável que tive ao jogar Everdeep Aurora foi descobrir como o jogo desenvolveu seu lado metroidvania de maneira pacífica. Passar pelos ladrilhos e conhecer o mundo, realizando pequenas missões para os NPCs e se envolvendo com eles é o chamariz do jogo.
Não espere combates complexos ou uma fuga desenfreada pelas profundezas. A ideia é explorar com leveza, resolvendo alguns quebra-cabeças de plataforma para atravessar partes um pouco mais complexas ou encontrar tesouros escondidos.
Claro, essa exploração não será em vão. Além do foco da história na busca pela mãe de Shell, a gatinha ainda pode desenvolver as capacidades da sua broca encontrando baterias e metais preciosos que melhoram a velocidade e uso de cargas para quebrar os ladrilhos.
O uso do mapa e do inventário diretamente na tela enquanto eu jogava foi uma boa maneira de manter esse ritmo suave que o jogo apresenta. Sem complexidade de menus ou ficar pausando o tempo todo para entender onde estou.
Ainda assim, um pequeno problema do mapa é que ele pode demorar um pouco para carregar as áreas seguintes (e até as anteriores, caso você volte demais). Quando isso acontece, você pode parar em um lugar que não tem nada interessante, ou perceber que pegou o caminho mais difícil para a próxima área, te obrigando a perfurar vários ladrilhos para chegar lá.
Mas caso você se canse de perfurar caminhos por aí, ainda poderá experimentar alguns momentos de minigames que envolvem jogos de dados e brincar com uma máquina de garra.
O que o subterrâneo esconde?
Everdeep Aurora consegue trabalhar bem a exploração dele dentro da mística que envolve a região onde Shell está. O que te faz querer olhar cada cantinho do mapa não é simplesmente uma nova missão que te dará uma recompensa ou melhoria, mas também o quanto você vai descobrir sobre esse lugar.
Trechos de diálogos, itens, adornos, ferramentas, cada uma dessas coisas está contando a história dessa sociedade que precisou aprender a viver no subterrâneo. Inclusive, é uma pena que existam certos trechos do jogo nos quais os diálogos simplesmente não foram traduzidos para português. Felizmente, nenhum diálogo da história principal está com esse problema, e é algo que pode ser corrigido em atualizações.
Todos esses aspectos do jogo contribuem justamente para solucionar o grande mistério da trama. Onde está a mãe da Shell? O “local de sempre” é uma coisa que apenas as duas personagens sabem, mas o jogador não. Então cada pista de um novo lugar a ser explorado, cada NPC que diz ter visto uma gata-preta andando por aí te impulsiona a seguir em frente e descobrir que lugar tão especial é esse que apenas essas duas personagens poderiam saber.
E é muito reconfortante ver as amizades que Shell faz no caminho, criando novos vínculos e trabalhando em conjunto com outros personagens que estão na sua própria busca. Um exemplo é o sapo Ribbert, que é quem dá a broca para Shell e cumpre o papel de guia do jogador para o levar até o acampamento mais próximo, onde é possível salvar o jogo.
Conheça um mundo novo
Existe muito a se aprender sobre o mundo de Everdeep Aurora. Cada novo caminho traçado nesses túneis subterrâneos levam a descobertas que, aliás, podem influenciar os vários finais do jogo. O lado bom é que não será preciso jogar toda a campanha de novo para ver o que cada final esconde.
É um metroidvania pacífico e bem feito na sua proposta de trazer personagens cativantes em visuais 16 bits com um mistério tão profundo quanto o próprio Everdeep.
Prós
- Jogabilidade simples sem ser banal;
- História que consegue prender a atenção do jogador e criar momentos surpreendentes com as descobertas da Shell;
- Quebra-cabeças de plataforma criativos e na medida certa;
- Boa variedade de locais para explorar dentro do Everdeep;
- Visuais cativantes no estilo Game Boy Color.
Contras
- O mapa demora um pouco para mostrar os caminhos na tela;
- Um ou outro diálogo de personagens secundários não foi traduzido para português.
Everdeep Aurora — Switch/PC — Nota: 9.0Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Beatriz Castro
Análise feita com cópia digital cedida pela Ysbryd Games













