A cultura urbana dos anos 2000 teve o parkour como um grande destaque. O esporte francês — que mistura atletismo e criatividade no deslocamento do ponto A ao ponto B utilizando todos os caminhos viáveis (até os impensáveis) — influenciou, inclusive, os videogames. Agora, em 2025, temos Rooftops & Alleys: The Parkour Game como mais um fruto desse movimento. Inspirado em clássicos cult como Jet Set Radio e Mirror’s Edge, a intenção é boa, bem executada nas mecânicas, mas acerta pouco no conteúdo.
O jogo leva o seu subtítulo ao pé da letra — The Parkour Game —, pois é completamente focado na mecânica de parkour, ao ponto de que não há nenhum outro elemento extra, fora as modalidades multijogador. Por um lado, isso é bom, já que ele deixa claro que tipo de conteúdo vai entregar. No entanto, esse conteúdo é raso tanto na quantidade quanto na variedade, obrigando o jogador a criar seus próprios desafios para se manter entretido.
Ao iniciar o jogo, todos os modos já estão disponíveis, tanto o solo quanto o multijogador. Jogando sozinho, você terá seis mapas para explorar e cumprir alguns desafios de corrida ou de truques, ambos com marcadores de tempo. Os mapas variam entre áreas de construção, pátios e até um navio cargueiro cheio de contêineres.
Claro, não é necessário um modo história, até porque jogos de esporte não têm esse foco, mas algo como personagens com características diferentes para escolher ou pelo menos uma sequência de desafios, ou fases desbloqueáveis seriam aspectos que deixariam o senso de progresso mais interessante.
Fazendo combos de parkour
A jogabilidade é bem fluida e traz diversas sequências de botões para diferentes saltos em diferentes situações, a depender da altura do obstáculo, distância do pulo ou do tempo que o personagem fica no ar.
Para isso, o jogo traz um tutorial em duas etapas. Um com comandos básicos de corridas e saltos e outro avançado com sequências mais complexas de piruetas, mortais e giros, alguns envolvendo interações específicas com o cenário.
Porém, mesmo com o tutorial disponível, ainda há combos de habilidades que não são mostrados e que, geralmente, envolvem sequências mais precisas, mas tudo pode ser acessado a qualquer momento no menu de pausa. E a melhor parte é que o jogo está localizado em português brasileiro, facilitando a leitura das dicas do tutorial.
Com a quantidade de botões para aprender, o jogo é desafiador no início, principalmente comparado com outros do gênero, mas nada que a prática não resolva.
No geral, todos os truques de parkour funcionam muito bem, com variações suficientes para o jogador montar várias combinações diferentes. É possível também “apelar” só para truques lentos e complexos que pontuam alto logo de cara, mas isso não será o suficiente para chegar nas posições mais altas do ranking. O segredo é sempre diversificar os movimentos do personagem, buscando ser mais rápido a cada truque.
Em alguns cenários, existem objetos com os quais o personagem pode interagir durante as manobras, como postes para descer deslizando ou tirolesas que te levam de um ponto a outro do mapa. Às vezes, o agarrão na tirolesa ou no poste acaba falhando e o personagem vai direto ao chão, o que pode ser muito frustrante, pois essas quedas zeram toda a sequência de pontuação de truques e atrasam sua corrida.
Os combos de truques também servem para aumentar sua barra de adrenalina, permitindo que o personagem fique mais rápido temporariamente, incentivando o jogador a sempre ficar fazendo manobras enquanto se desloca, mesmo que esteja correndo em uma linha reta sem muitos obstáculos.
Todos os movimentos podem ser feitos em primeira ou terceira pessoa. O modo em primeira pessoa não vem como escolha padrão, mas acaba não fazendo falta. A câmera balança demais com todos os saltos e giros do personagem, e me fez enjoar desse estilo bem rápido, porém é uma opção interessante para quem busca total imersão.
Correndo, pulando e voando
Os dois desafios principais do jogo solo são chamados de Time Trial e Trick Rush. Ambos possuem rankings de medalhas (bronze, prata e ouro) e fornecem como recompensas penas de pombo — a “moeda” do jogo — que servem para resgatar itens cosméticos no menu.
O Time Trial consiste em desafios de corrida onde o jogador precisará atravessar o mapa passando por áreas específicas indicadas por anéis luminosos.
O marcador de tempo não cancela o percurso do jogador caso ele não cumpra o mínimo para receber as medalhas. Sendo assim, é possível ir devagar uma primeira vez somente para verificar como é o desafio por completo. No entanto, as tentativas ainda serão muitas, já que esses caminhos pré-determinados pelo jogo podem exigir movimentos específicos para alcançar o tempo estipulado.
Mesmo os desafios sendo interessantes, foi estranho ver como o jogo limitava minha liberdade ao correr pelos mapas. Já que para cumprir o Time Trial era obrigatório passar pelos anéis posicionados no caminho, mesmo que eu quisesse fazer uma rota diferente (que me parecesse mais rápida) ou ir por um caminho bem tortuoso (só para fazer mais combos de parkour).
Fazer o Trick Rush me deixou com a mesma sensação de estar preso pelo jogo. Esse desafio consiste em realizar a maior pontuação possível com truques de parkour durante um minuto e meio.
No caso do Trick Rush, não há um caminho pré-determinado, mas a área onde o jogador pode fazer os truques vai diminuindo a cada segundo. Um círculo azul se fecha ao redor do personagem até chegar no ponto central onde o desafio iniciou, de um jeito bem parecido com Fortnite e outros Battle Royale. Acaba incomodando o quanto o espaço fica restrito conforme o tempo avança, restando como única opção dar cambalhotas em círculos sem muita criatividade para continuar pontuando.
Por último, existe a busca pelos pombos. Todo mapa tem um pombo de estimação secreto que funciona como a viagem rápida do jogo. Ao encontrar o pombo, você fica livre para usar a criaturinha para te levar para qualquer lugar daquele cenário.
Existe apenas um pombo por mapa e ele só está disponível no mapa onde foi encontrado. É um desafio adicional bem-vindo e torna divertido explorar cada canto da fase em busca deles. Além de serem práticos, os pombos também podem utilizar alguns itens cosméticos, como chapéus e óculos.
Jogando com amigos, a graça é tudo dar errado
O modo multijogador, além de ter as mesmas atividades do jogo solo, tem também disputas de rouba bandeira, pega-pega e competição de truques. É possível jogar online com até outros três jogadores ao redor do mundo ou criar um servidor local para até outros três consoles Nintendo Switch.
Mesmo não sendo possível jogar no mesmo aparelho, basta revezar o controle e deixar que cada jogador tente o desafio uma vez. O jogo sabe que a graça está em ver os amigos se dando mal nas acrobacias e fez questão de trabalhar isso nas mecânicas.
O sistema de boneco de pano (ragdoll), que tira todos os movimentos do boneco e ele cai mole no chão, pode ser ativado a qualquer momento à escolha do jogador, além de ativar sozinho sempre que acontece uma pancada muito forte ou uma aterrissagem mal planejada. Além disso, a sonoplastia das pancadas quando o boneco bate a cabeça ou erra o salto tem um timing cômico perfeito.
Certamente haverá aqueles jogadores especialistas em manobras que vão buscar disputar pelas maiores pontuações ou pelos truques mais descolados, mas a graça será muito maior em ver aquele salto mal planejado no melhor estilo Partoba ou Videocassetadas.
Livre para fotografar o salto perfeito
O Modo Foto de Rooftops & Alleys é quase um jogo à parte. Com a movimentação fluida do personagem e os visuais simples e muito bem feitos dos mapas, é fácil se perder em diversas ideias que dariam ótimos papéis de parede.
Mesmo nos cenários urbanos focados em grandes metrópoles, o jogo mantém a constância do uso de cores primárias com grande destaque em objetos e paredes. É um dos momentos onde dá para perceber a grande influência de Mirror’s Edge. Além disso, opções como horário do dia e clima também podem ser alterados no menu.
Jogando no Nintendo Switch original, o jogo conta com dois modos gráficos. O Modo Qualidade melhora algumas texturas e deixa o jogo rodando a 30 FPS, além de ser o único disponível para jogar na telinha do console. Na dock, há um Modo Desempenho que diminui a resolução de parte dos objetos, mas alcança os 60 FPS.
Ativando o Modo Foto, o jogo pausa e a câmera fica completamente livre. É possível utilizar filtros de cores e brilho, e até o plano de fundo da cena pode ser apagado e substituído por um chroma key. Com relação ao personagem, ele já vem com algumas poses pré-definidas no menu, mas pode usar os movimentos do jogo.
Para captar o momento ideal, o jogo tem um botão que deixa tudo em câmera lenta, facilitando ativar o Modo Foto na hora certa de um salto ou de uma deslizada.
Existe um grande salto a ser dado
Há um grande potencial em Rooftops & Alleys: The Parkour Game que, infelizmente, não foi alcançado devido a certas limitações do próprio jogo nas suas propostas. Com poucas opções para o modo de um jogador, os desafios se tornavam repetitivos e cansativos. Correr livremente e criar meus próprios desafios acabava fazendo mais sentido, mas ainda não era o ideal.
Não ter nenhum senso de progresso enquanto eu passava pelos mapas que liberados desde o início, já com todos os desafios disponíveis, fez parecer que eu estava jogando no console de alguém que já tinha feito tudo e só deixou para trás as missões secundárias.
Ainda assim, consegui me divertir com os tombos no início e aprender as sequências de saltos e piruetas que o jogo traz nas suas diversas combinações. O Modo Foto é um extra muito bem-vindo e é possível sentir que a base para uma ótima sequência está feita.
Prós
- Movimentação fluida que dá a sensação de realismo nos truques de parkour;
- O pombo facilita a travessia do cenário para pontos específicos, economizando tempo;
- Modo Foto divertido;
- Variedade de customização de personagem, pombo e ambiente;
- Boa distribuição de obstáculos nos cenários;
- Localização em português brasileiro que facilita entender o tutorial.
Contras
- Time Trial e Trick Rush com limitações desnecessárias;
- Não há nenhuma progressão entre os desafios e mapas;
- Comando de agarrão, às vezes, pode falhar e atrapalhar a realização de alguns movimentos.
Rooftops & Alleys: The Parkour Game — Switch/PC/PS5/XSX — Nota: 7.5Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Cristiane Amarante
Análise feita com cópia digital cedida pela Shine Research