O que passa na sua cabeça quando ouve falar da mistura de gêneros “terror de ficção científica”? A resposta talvez seja alienígenas. Pode também ser tecnologia, quando as máquinas se voltam contra seus criadores. No que diz respeito a videogame, a resposta provavelmente é Dead Space. Todas as opções são válidas. Todavia, tenho para mim que a referida soma de categorias está em sua forma mais interessante quando explora o mal que reside na própria humanidade; ou expõe os horrores que resultam da prática científica sem limites éticos; ou, ainda, exibe a desumanização necessária para tais experimentos. É aí que mora o verdadeiro terror. E é aí que respira Stasis.
Uma história marcante
A narrativa começa com John Maracheck, um professor comum, acordando de um estado de suspensão a bordo de uma nave de experimentação científica. Trata-se da Groomlake, imensa coletânea de laboratórios da megaempresa Corporação Cayne. Nosso protagonista rapidamente percebe (pela ausência de pessoas e pelas onipresentes manchas de sangue) que algo horrível aconteceu ali, exterminando os habitantes do veículo. A partir daí, o jogador controla John ao longo de perigos e desafios que testam sua inteligência e levam ao desenrolar da trama.
A história não demora a se revelar como profundamente marcante. De início, a motivação principal do protagonista (encontrar sua família em algum lugar da nave), apesar de nada original, acaba por ser uma base envolvente para a construção do resto da narrativa. Esta consiste em sucessivos encontros de John com os sistemas e os resultados dos experimentos — cada vez mais grotescos — da Groomlake.
Conforme ele avança pela gigantesca espaçonave, sua humanidade vai sendo testada; e seus limites, detonados. Por falar em limites, trata-se de algo que a ciência representada no jogo não possui. A obra não poupa esforços no sentido de alertar para a desumanização da qual a prática científica é capaz, e consegue transmitir suas mensagens com sucesso.
Um fluxo de gameplay pra lá de inteligente
O loop de gameplay de Stasis é aquele de todos os jogos de aventura de apontar e clicar: sucessivos enigmas que precisam ser resolvidos para possibilitar o progresso no jogo. Como na maioria dos exemplos do gênero, faz-se necessário coletar, combinar e empregar itens de maneira estratégica, observar bem os ambientes e, acima de tudo, raciocinar bastante para encontrar uma solução para o mistério em questão. Trata-se de uma fórmula muito bem estabelecida e presente em muitos jogos clássicos, mas ainda com potencial para ser renovada e reinventada.
Stasis mobiliza tal fórmula com maestria. Quase todos os puzzles exigem apenas criatividade e raciocínio lógico, sem a necessidade de um processo interminável de tentativa e erro que fãs do gênero certamente conhecem de exemplos pior construídos. De fato, os enigmas se revelam bastante intuitivos, com algumas exceções pontuais. Contudo, isso não quer dizer que não seja necessário inteligência: pelo contrário, seu cérebro estará trabalhando a cada momento que jogar este jogo. No final das contas, há um ritmo muito envolvente no fluxo de gameplay, com cada resolução de puzzle motivando a investigação do próximo.
Os toques finais de um jogo especial
Resta comentar os aspectos de apresentação e técnicos de Stasis. De início, os gráficos merecem destaque: são bonitos e muito detalhados, com uma direção de arte que sabia o efeito de tensão que desejava produzir. Além disso, a trilha sonora é excelente, sabendo imergir o jogador na brutalidade da Groomlake. A escrita do jogo também merece ser mencionada: as descrições são detalhadas e muito bem escritas, enquanto o conteúdo dos PDAs dos tripulantes da nave deixa um pouco a desejar.
Já no que diz respeito à performance no Nintendo Switch, joguei no Switch 2 (onde poderia até haver problemas devido à compatibilidade) e só encontrei um obstáculo significativo: em dado momento, o jogo crashava toda vez que eu tentava progredir. Entretanto, um patch rapidamente foi lançado para corrigir esse bug. De resto, Stasis roda sem problemas no console da Nintendo.
Todos os fatores listados acima contribuem para a maior vantagem de Stasis: sua atmosfera de tensão. Da história à trilha sonora, passando pelos temas, gráficos e, especialmente, fluxo de gameplay, tudo converge para imergir o jogador em uma profunda vibe de tensão, sem saber o que aguarda no próximo corredor ou sala da Groomlake. Desse modo, fica difícil largar o controle: o batimento cardíaco passa a ser governado pelo jogo. Quanto mais horrores John encontra, mais emoções tomam conta de nós, jogadores. Afinal de contas, John Maracheck é apenas uma pessoa comum; e o que somos nós?
Prós
- História profundamente marcante e bem construída;
- Temas sobre limites da ciência e desumanização muito bem comunicados;
- Enigmas intuitivos e inteligentes, exigindo apenas criatividade e raciocínio lógico;
- Fluxo de gameplay bastante envolvente;
- Performance suave nos consoles da Nintendo;
- Gráficos, direção de arte, trilha sonora e até escrita das descrições se unem aos outros fatores para construir uma forte atmosfera de tensão.
Contras
- Alguns poucos enigmas são exceções à regra e acabam por ser confusos;
- Conteúdo dos PDAs dos tripulantes da Groomlake deixa a desejar.
Stasis — PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch — Nota: 8.5Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Alessandra Ribeiro
Análise produzida com cópia digital cedida pela Feardemic




