Oito anos depois do lançamento de Hollow Knight, a sequência do título, Hollow Knight: Silksong, finalmente chegou aos consoles em 2025. A aventura, que começou sendo desenvolvida como uma expansão para o primeiro jogo, acabou tomando proporções inesperadas, se transformando em um título próprio anunciado em 2019. Agora, depois de tanto tempo, Silksong tem mostrado a milhões de jogadores ao redor do mundo que realmente valeu a pena esperar: o título se estabelece como uma aventura memorável, enorme e desafiadora, indispensável para os fãs de Hollow Knight e do gênero metroidvania.
Um novo território gigantesco a ser explorado
A aventura se passa após os eventos do jogo anterior: Hornet (personagem que teve papel essencial na trama de Hollow Knight ao inicialmente enfrentar e depois auxiliar o Cavaleiro controlado pelo jogador) foi raptada por insetos misteriosos e levada até as terras de Fiarlongo. Ao escapar das criaturas, a protagonista parte em uma jornada pelo território desconhecido em busca de respostas, rumo ao topo do reino.
A história de Hornet é apresentada ao jogador aos poucos, em doses pequenas, assim como em Hollow Knight. Ela encontra inscrições antigas, conversa com diversos personagens que explicam um pouco sobre o funcionamento e a história do mundo, e descobre até mesmo áreas específicas nas quais recebe ensinamentos ancestrais que revelam um pouco da sua origem. Já a trama do jogo se divide em atos, representando cada parte da jornada de Hornet pelo território desconhecido.
O que fica claro, desde o início, é que Fiarlongo está sob o efeito de uma maldição terrível que tem ligação com a Seda, material que pode ser gerado e manipulado por Hornet e seus ancestrais — mas que está sendo utilizado por alguma entidade maligna para controlar os habitantes do reino. Libertar os moradores de Fiarlongo se torna, portanto, parte do objetivo principal da aventura.
Novos rostos amigáveis e muitas missões secundárias
O território de Fiarlongo, por sinal, é completamente abarrotado de personagens dos mais variados. Eles contribuem para o enriquecimento da narrativa e para a imersão neste universo. Há os peregrinos, insetos que estão em busca da salvação e pretendem escalar o reino até a sagrada Cidadela; diversos lojistas que fornecem itens e melhorias para equipamentos; guerreiros como a valente Shakra, que cumpre a função de fornecer mapas (exercida pelo simpático Cornifer no jogo anterior); e a dupla Garmond e Zaza, que auxilia Hornet nos combates, entre muitos outros.
Esses personagens não estão só espalhados pelo mapa, mas também se concentram nos vilarejos principais, que funcionam como um hub para que o jogador adquira itens, descanse e planeje sua próxima jornada. Há ainda momentos em que determinados personagens migram para outras áreas do reino; essa quantidade notável de insetos amigáveis e suas inúmeras interações (com Hornet e com o próprio território) contribuem muito para a atmosfera da aventura, realmente representando um reino diverso, com seus muitos povos e organizações buscando a sobrevivência.
Outro aspecto novo da aventura são os Desejos, que formam um sistema de missões secundárias. Hornet pode prometer Desejos para determinados personagens ou através de painéis instalados em cada vilarejo. As missões variam: algumas envolvem a coleta de determinado material ao abatermos inimigos, outras demandam doações de Rosários ou Fragmentos de Carapaça para melhorias nos vilarejos, e assim por diante.
Completar os Desejos rende boas recompensas, mas algumas missões podem passar a sensação de serem um pouco repetitivas ao longo da aventura (já que não há tantos tipos diferentes delas). De toda forma, é uma mecânica interessante para se obter as recompensas ou até mesmo desviar um pouco a rota da trama principal para mudar um pouco os ares e retornar às áreas anteriores.
Combates e equipamentos a perder de vista
Um dos grandes destaques de Silksong é, claro, o combate: há centenas de inimigos diferentes, e cada um conta com seus próprios movimentos, exigindo do jogador paciência e observação constantes para planejar a melhor abordagem em cada combate. Mesmo os inimigos mais básicos apresentam movimentos e ataques variados, mas a curva de aprendizagem é muito bem implementada: com poucas horas de jogo, me acostumei com diversos inimigos no caminho, progredindo muito mais rápido pelos cenários. A forma como os inimigos são apresentados e as áreas em que encontramos cada um são muito bem pensadas, contribuindo para um aprendizado constante.
Uma novidade quando falamos dos inimigos são as salas estilo “arena”: há diversas áreas pelo mapa em que ficamos presos e precisamos derrotar ondas de inimigos variados. São momentos bem desafiadores, e alguns podem até mesmo ser comparados com os encontros com chefões. Geralmente, completar as salas rende recompensas ou o desbloqueio de passagens para novas áreas.
A movimentação básica de Hornet envolve atacar com sua agulha para os lados e para cima, pular e atacar para baixo. Esse último movimento, diferente de Hollow Knight, é feito na diagonal, impulsionando a protagonista para cima ao atingir algum inimigo ou objeto específico. Há ainda habilidades que podem ser desbloqueadas ao longo da aventura, como o Passo Veloz, permitindo a esquiva, ou a Garra de Seda, que permite nos agarrarmos às paredes. Hornet se move, no geral, de maneira muito ágil e precisa, dando ainda mais liberdade de movimentação ao jogador.
Quando falamos em ataques, além da agulha, Hornet pode equipar ferramentas para utilizar nas batalhas. O sistema de amuletos de Hollow Knight deu lugar ao Brasão, no qual a protagonista pode equipar ferramentas de diversos tipos, causando efeitos variados. Há ainda a possibilidade de se obter Brasões diferentes, que mudam o ataque e alguns movimentos básicos de Hornet: o Brasão do Viajante, por exemplo, faz com que os ataques tenham um alcance menor, mas também faz com que os ataques para baixo aconteçam na vertical (bem semelhante à forma como o Cavaleiro atacava em Hollow Knight).
Há ferramentas focadas no ataque, como o Pinolongo e a Curvagarra, que permitem lançar projéteis; ferramentas com efeitos passivos, como o Sino Protetor, que cria uma barreira protetora ao redor de Hornet enquanto a protagonista se cura; e ferramentas voltadas para a exploração, como a clássica Bússola que mostra nossa localização no mapa, ou o Bracelete Farpado, que aumenta o dano causado a inimigos (mas também o dano recebido).
A liberdade de se arquitetar o repertório de ataques e movimentos de Hornet é mais do que bem-vinda, expandindo muito as possibilidades e estilos de combate e exploração para cada jogador. Um único ponto negativo são os comandos para o uso de ferramentas: geralmente, elas exigem que um gatilho esteja pressionado, junto com alguma direção. Em combates mais rápidos, repletos de inimigos, recorrer às ferramentas nem sempre é muito prático e pode custar algumas máscaras de dano.
Chefões memoráveis e lutas épicas
Outro destaque do combate em Silksong, assim como em seu antecessor, são as lutas contra chefões. Os inimigos mais fortes representam os grandes desafios da aventura de Hornet, e cada um apresenta um obstáculo que demanda movimentos precisos e bem pensados por parte do jogador. Mesmo assim, não sinto que há lutas injustas: todas podem ser completadas com paciência e uma boa dose de tentativa e erro.
O desafio é ainda maior quando levamos em conta que os chefões causam duas máscaras de dano à protagonista — mas acredito que a mecânica faz sentido para reforçar a importância dessas batalhas. Além disso, várias delas acontecem próximas aos bancos de descanso (que funcionam como em Hollow Knight, curando Hornet, atualizando o mapa e salvando o jogo). Ficar muito tempo preso em uma mesma luta pode ser frustrante, claro, mas retornar ao local para tentar novamente não costuma levar muito tempo a ponto de se tornar uma chateação.
O destaque também fica por conta do visual dos vários chefões e das diversas mecânicas variadas que algumas lutas utilizam. Pessoalmente, me encantei com uma luta específica no Ato 2 (mas claro, não darei spoilers), que funcionava quase como um jogo de ritmo, demandando que Hornet se movimentasse e esquivasse nos momentos certos. O repertório de inimigos mais poderosos é impressionante, enriquecendo ainda mais a atmosfera da aventura por Fiarlongo.
Novas formas de se organizar
Além da liberdade imensa na personalização dos movimentos e dos ataques de Hornet, Silksong também apresenta dois itens essenciais na aventura: os Fragmentos de Carapaça e os Rosários. Os fragmentos são utilizados para várias finalidades, como as doações que podem ser feitas nos vilarejos de Fiarlongo para determinadas melhorias no local ou para repor as ferramentas utilizadas anteriormente em combate.
Já os Rosários são a moeda de troca do jogo, utilizados nas lojas, para desbloquear alguns bancos de descanso e para abrir estações de transporte entre áreas. Nesse sentido, o jogo também permite que o jogador organize seus Rosários da forma que preferir: afinal, perdemos todos se somos abatidos, e precisamos retornar ao local onde fomos derrotados para recuperá-los. Porém, os Rosários podem ser organizados em Cordões e Colares; dessa forma, Hornet não os perderá ao cair em combate.
Os Cordões podem ser comprados em lojas ou criados em máquinas espalhadas pelo mapa — geralmente, o jogador precisa gastar 20 Rosários a mais do que os que compõem cada Cordão (por exemplo, um cordão que prende 60 Rosários custa 80 deles para ser feito), mas o custo vale a pena para não perder as preciosas bolinhas. O sistema faz com que os recursos sejam muito mais abundantes ao longo da aventura, garantindo que sempre mantenhamos um pouco conosco e a necessidade de recuperá-los em determinadas áreas se torne uma tarefa cada vez mais rara.
Visual, trilha sonora e jogabilidade dignos de um clássico
É impossível falar sobre Silksong sem mencionar a apresentação do título. Os cenários que exploramos em Fiarlongo são vislumbrantes, além de extremamente variados. Há florestas, cavernas, tempestades de areia, áreas repletas de magma, ambientes escuros repletos de túneis… e o visual de todos esses locais é belíssimo, contando com iluminações e cores perfeitas para cada um.
Ainda sobre os cenários, cada área conta com plataformas que demandam controles precisos, diversas armadilhas e inimigos posicionados estrategicamente em cada local para aumentar ainda mais os desafios. Só achei um pouco punitivo demais o fato de que algumas armadilhas, como jatos de ar quente ou lava, causam duas máscaras de dano em vez de uma. Acho que é uma mecânica que faz sentido para os chefões, mas, nos cenários, acaba atrasando a exploração do jogador.
A estética utilizada e o trabalho incansável por parte da equipe de desenvolvimento (o pequeno estúdio de games australiano Team Cherry) são louváveis e fáceis de perceber ao longo do jogo. A trilha sonora, composta por Christopher Larkin, é um espetáculo à parte, dando vida a cada combate e seção de exploração pelo reino. O título conta também com diversas cutscenes animadas, que contribuem ainda mais para o visual e o clima de momentos essenciais da trama. Apesar de curtas, essas sequências impressionam pela qualidade.
Vale também notar que a implementação do título no Switch 2 foi muito bem executada: os controles são altamente responsivos, jogar no modo portátil é bem prático e a vibração HD 2, própria do console híbrido, é usada com maestria. Sentimos com precisão os passos de Hornet, cada ataque usado, a absorção de novas habilidades e muito mais.
Uma jornada inesquecível
A aventura de Hornet conta com uma lista imensa de aspectos marcantes: uma trama misteriosa e instigante, um mapa simplesmente gigantesco (e ainda maior que o de Hollow Knight), cenários de tirar o fôlego, controles responsivos e precisos, alta liberdade de personalização de estilo de ataques e movimentação, inúmeras áreas e segredos escondidos pelo mapa, personagens bem construídos e cativantes, chefões memoráveis e cutscenes envolventes — e a lista só cresce.
Hollow Knight: Silksong aprimora praticamente todos os aspectos apresentados por seu antecessor e ainda adiciona à receita diversas novidades que tornam o jogo uma experiência única. O resultado é simples: estamos diante de um dos melhores títulos de 2025 lançados até agora. A jornada de Hornet é altamente viciante e nos mostra que, apesar de longa e repleta de ansiedade, a espera por Silksong valeu a pena. Shaw!
Prós
- Aventura gigantesca, com a trama principal levando dezenas de horas para ser completada;
- Cenários incríveis e trilha sonora impecável, contribuindo para a atmosfera de exploração do título;
- Grande liberdade de personalização de movimentação e ataques, deixando cada jogador se adaptar ao seu estilo de jogo preferido;
- Variedade enorme de inimigos e chefões, apresentando desafios complexos;
- Disponibilidade de legendas em PT-BR;
- Personagens cativantes e bem construídos;
- Curva de aprendizagem muito bem implementada.
Contras
- Algumas combinações de botões para o uso de ferramentas não são muito práticas durante os combates mais complexos;
- A opção de zoom no mapa ainda é pequena, dificultando uma observação mais precisa para se colocar marcadores;
- Algumas missões secundárias podem se tornar repetitivas com o tempo.
Hollow Knight: Silksong — PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch/Switch 2 — Nota: 10Versão utilizada para análise: Switch 2
Revisão: Cristiane Amarante
Análise produzida com cópia digital adquirida pelo redator



















