Análise: Yooka-Replaylee reimagina o título original da melhor forma

O camaleão e a morcega retornam em uma nova versão da sua primeira aventura.

em 08/10/2025

Em 2017, Yooka-Laylee chegava aos consoles sob a promessa de ser um verdadeiro sucessor espiritual da aclamada série de plataforma 3D, Banjo-Kazooie, lançada originalmente no Nintendo 64. Porém, sabemos que com grandes poderes vêm grandes responsabilidades: o título estrelado pelo camaleão Yooka e a morcega Laylee recebeu duras críticas por diversos motivos, entre eles se apoiar demais na nostalgia dos jogadores e entregar uma aventura simples e ultrapassada em vários aspectos.


Agora, a desenvolvedora Playtonic traz de volta a dupla de protagonistas em um remake completo, indo muito além de um visual repaginado: Yooka-Replaylee busca consertar os erros do passado e se destacar como uma aventura única. O resultado é um jogo praticamente novo, com muitas mudanças bem-vindas e novidades, mas que ainda insiste em alguns tropeços, como veremos a seguir.

Uma narrativa simples e direta

Em Yooka-Replaylee, acompanhamos a dupla que dá nome ao jogo, Yooka e Laylee – que homenageia desde o início a série Banjo-Kazooie –, após sua última aventura em busca de fama e tesouros, quando acabaram naufragando na ilha onde o título se passa. Lá, o camaleão e a morcega encontram um livro mágico, capaz de tornar realidade qualquer coisa que seja escrita em suas páginas; o maléfico Abélio Lucralto, empresário dono das Torres de Malfim, aprisiona o objeto para abusar dos seus poderes.


Para impedir que o executivo do mal tenha seus desejos realizados, os Folhins, páginas do livro, desprendem-se e fogem, espalhando-se pelo território. Cabe então a Yooka e Laylee a tarefa de impedir o vilão e recuperar os Folhins em cada um dos Grandes Tomos (mundos) acessados por meio de portais espalhados pelo império industrial de Lucralto.

A trama é simples e se mantém assim por toda a aventura: há alguns outros personagens recorrentes, como o Dr. Quack (capanga de Lucralto) ou a cobra Trowzer (vendedor de melhorias em cada mundo), mas eles têm sua função reduzida principalmente ao alívio cômico, não adicionando muito na história. Por outro lado, isso permite que Yooka-Replaylee foque em outro aspecto essencial: a gameplay.

Camaleando e morcegando por aí

Uma das mudanças mais significativas do remake foi o fato de que todas as habilidades da dupla de protagonistas já estão disponíveis desde o início da aventura, não sendo necessário desbloqueá-las. E elas não são poucas: Laylee pode planar enquanto carrega Yooka, além de usar um sonar capaz de atordoar inimigos e revelar objetos invisíveis; Yooka consegue usar sua língua para consumir frutas que lhe dão diferentes habilidades (como cuspir fogo ou gelo) e rolar por rampas e ladeiras.


Os movimentos são precisos, o que é indispensável em uma plataforma 3D. Quando consideramos as inspirações do título, não há uma dificuldade tão elevada assim em Replaylee: os puzzles cronometrados são generosos com o tempo, e os inimigos e chefões não são tão complexos. Por outro lado, acredito que algumas hitboxes (em especial de explosões causadas por inimigos e itens) são um pouco punitivas e grandes demais. E, claro, assim como nos grandes clássicos do gênero, a câmera acaba mais atrapalhando do que ajudando em diversos momentos.


Os inimigos mais básicos trazem pouca novidade entre cada mundo (só há um tipo de oponente em cada cenário, e todos atacam de forma semelhante), porém os chefões são divertidos: há uma boa variedade deles, e as mecânicas de cada luta são bem criativas. Só acho que, assim como os inimigos comuns, essas lutas são fáceis demais e ficam repetitivas rapidamente. Como as mecânicas se repetem até o fim de cada luta, perder uma vida vira um teste de paciência para refazer todo o confronto desde o começo – a batalha contra o chefão final (sem spoilers), para mim, foi uma grande prova disso.


O remake parece ter buscado atingir um equilíbrio entre a dificuldade marcante de suas maiores referências, o conteúdo original de Yooka-Laylee e o cenário atual de jogos de plataforma. Nesse sentido, acho que Replaylee acertou em muitos aspectos, mas talvez também tenha tornado a aventura um pouco fácil e simples demais.

Explorando cada canto de cada Grande Tomo

O título brilha mesmo na exploração: há cinco mundos principais com temáticas variadas (que vão desde o tradicional primeiro nível florestal a um oceano intergalático), repletos de colecionáveis a serem obtidos. Os Folhins são os principais – seriam o equivalente às estrelas de Super Mario 64 –, usados para desbloquear novos mundos quando coletamos uma determinada quantidade deles.


Além dos Folhins, há vários outros colecionáveis: moedas (chamadas de N.Í.Q.U.E.I.S.) usadas para comprar tônicos e itens cosméticos com a geladeira Vendi; penas usadas para adquirir melhorias, como mais vida e energia, com a cobra Trowzer; cinco Escritores-fantasmas em cada mundo que exigem táticas diferentes para serem capturados; pedaços de Folhin, que formam uma página completa após coletarmos quatro; Mollyculas, que proporcionam transformações especiais em cada mundo ao serem resgatadas para a cientista Dra. Eni; e fichas de arcade usadas em máquinas específicas, contendo minijogos estrelados pelo dinossauro Rextro.


Apesar da variedade de colecionáveis, obtê-los geralmente segue a mesma fórmula em cada mundo: os Folhins sempre demandam que algum puzzle seja completado para que possamos coletá-los, e muitos dos desafios se tornam repetitivos com o tempo. Apesar disso, procurar cada área secreta com penas e Folhins escondidos é viciante – fiquei boas horas em cada mundo revirando cada canto para encontrar o máximo de colecionáveis possíveis.


Cada colecionável também está relacionado a algum personagem específico: por exemplo, como já comentei, Trowzer vende melhorias para os protagonistas em troca de penas, enquanto a geladeira Vendi aceita N.Í.Q.U.E.I.S. em troca de tônicos e itens cosméticos (como óculos, camisetas e chapéus) que podem ser usados por Yooka e Laylee. Há diversos NPCs espalhados em cada mundo, e a maior parte deles demanda que alguma tarefa específica seja completada em troca de Folhins.


Voltando aos tônicos de Vendi: por sinal, eles constituem uma mecânica bem interessante e única. Alguns são apenas cosméticos, mudando a cor dos personagens ou do ambiente; outros transformam bastante a gameplay, trazendo efeitos como aumentar a vida dos inimigos ou impedir que Yooka e Laylee percam moedas ao terem todos os pontos de vida esvaziados. Há um total de 35 tônicos que permitem que cada jogador regule sua gameplay como preferir, conferindo uma boa dose de customização na jogatina.

O fardo dos antecessores

Nem tudo é perfeito, claro: como comentei, o título original pecou em diversos aspectos justamente por se prender demais aos gigantes do Nintendo 64. Yooka-Replaylee tenta inovar nesse sentido. Todos os mundos foram completamente reorganizados, assim como a quantidade de colecionáveis e até mesmo o som dos diálogos de cada personagem (quem jogou o original sabe como era sofrido!).

A trilha sonora é digna dos plataformas 3D clássicos – e não era para menos, já que até o próprio Grant Kirkhope (responsável pelas trilhas da série Banjo-Kazooie e de Donkey Kong 64) participou de várias das composições. Para o remake, a trilha foi remasterizada, mantendo o charme e o impacto que já estava no título original.


O visual também merece destaque: Yooka-Laylee seguia praticamente à risca a estética dos jogos nos quais se inspirou, inclusive na interface e nos menus; já Yooka-Replaylee traz visuais e texturas retrabalhadas, que saltam os olhos. O resultado é deslumbrante, reforçando a missão dos desenvolvedores de criar uma experiência nova, não só repaginando o título original. Ah, e agora temos um mapa interativo em cada mundo – uma mudança mais do que bem-vinda.


Quando falamos em desempenho, no Switch 2, o jogo roda a 30fps – e, honestamente, fiquei decepcionado nesse aspecto, já que se trata de algo exclusivo do novo console híbrido. Recentemente, joguei e analisei PAC-MAN WORLD 2 Re-PAC, que conta com gráficos quase tão impressionantes quanto Yooka-Replaylee e um “modo performance”, que prioriza o desempenho e mantém o jogo a estáveis 60fps.

Demorei a me acostumar aos 30fps de Replaylee, e sinto que o título seria ainda mais completo e apresentável se contasse com 60fps. Pelo menos o desempenho é estável – não passei por nenhuma queda de frames durante a jogatina (mas as telas de carregamento entre cada mundo são bem longas, o que me chamou muito a atenção). Resta aguardar se isso será eventualmente corrigido em alguma atualização, conforme a própria Playtonic já prometeu em suas redes sociais.

O retorno triunfal de Yooka e Laylee

Não há como negar que a aventura reimaginada de Yooka e Laylee acertou em muitos aspectos: a exploração é divertida, o visual é impressionante, o humor e o sarcasmo dos personagens é ótimo (sem chegar ao exagero) e o título conta com localização completa em PT-BR. Mesmo assim, ainda encontramos várias mecânicas repetitivas, uma narrativa um tanto quanto superficial e limitações de desempenho no Switch 2.


Se antes a impressão era que Yooka-Laylee tentava demais ser um novo Banjo-Kazooie, agora parece que o título finalmente abraçou sua identidade própria. No fim das contas, Yooka-Replaylee faz bem o que se propõe, repaginando a aventura original sem perder sua essência. Se a nova versão do título o coloca no mesmo patamar de seus antecessores, só o tempo dirá; mas acredito que o futuro pode reservar boas novas aventuras estreladas pelo camaleão e pela morcega a partir dos erros corrigidos e dos aprendizados adquiridos no remake.

Prós

  • Vários colecionáveis disponíveis, sem quantidades excessivas de cada um;
  • Trilha sonora impecável, remetendo aos clássicos do Nintendo 64;
  • Tônicos proporcionam formas de jogar e dificuldades variadas; 
  • Diálogos com humor na medida certa e muito sarcasmo;
  • Visual incrível, com texturas retrabalhadas e gráficos atualizados;
  • Disponível em PT-BR.

Contras

  • Limitação de 30fps no Switch 2;
  • Telas de carregamento excessivamente longas entre cada mundo;
  • Pouca variedade de inimigos, reservada aos chefões;
  • A câmera atrapalha em diversos momentos;
  • Mecânicas repetitivas nos puzzles para obter Folhins, nas tarefas de NPCs e em cada luta de chefão atrapalham o ritmo da aventura.
Yooka-Replaylee – PC/PS5/XBO/XSX/Switch 2 – Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: Switch 2
Revisão: Alessandra Ribeiro
Análise produzida com cópia digital cedida pela PM Studios
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Felipe Castello
Designer gráfico de formação, é fã da Nintendo desde a infância, quando ganhou um SNES usado com Super Mario World e Donkey Kong Country. Apesar do carinho especial pela série Mario, também se diverte com Pokémon, The Legend of Zelda e Animal Crossing. Costuma jogar no (pouco) tempo livre entre os estudos e o trabalho.
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