Análise: Demonschool é uma odisseia na véspera pelo Armagedom com grandes altos e poucos baixos

Inspiração com as maiores franquias da Atlus não tiram mérito e identidade desta aventura indie clássica moderna.

Os tempos de faculdade… Para aqueles já formados, olhamos com uma visão nostálgica, com nossos erros e acertos desse período de liberdade e incertezas em uma escola mais madura e focada em alguma vocação.

E se, ao invés de estudar um curso de Publicidade e Propaganda e compreender as diferentes teorias de comunicação, você pudesse compreender o oculto e enfrentar as forças do mal? Essa é a premissa básica de Demonschool, o mais novo jogo do promissor estúdio indie Necrosoft. Sem mais delongas, venha comigo porque vamos dar uns sopapos em alguns meliantes e demônios.

2 minutos para a meia-noite

Bem-vindos a Hemsk College, uma universidade no meio de uma ilha isolada. Como nossa protagonista temos Faye, a última integrante de um longo clã de caçadores de demônios. Criada por seu avô nas artes da caça e ansiosa para botar em prática seus ensinamentos, ela acaba arrastando a tímida Namako para suas desventuras. 

Com o tempo, mais amigos se juntam à trupe, como o gigante amigável Destin e o artístico cinematográfico Knute, cada um com suas individualidades. Faye está crente que, em 10 semanas, o apocalipse irá acontecer e que o palco para o espectáculo do Armagedom será em Hemsk, cabendo a ela e seus amigos impedir a destruição do mundo.

A história pode parecer linear e um tanto convoluta com tantos textos — não ajudando, considerando que não tem opção de legendas em português brasileiro. Mas a trama é bastante charmosa e os personagens são bem carismáticos, com Faye sendo uma protagonista bem divertida de acompanhar, dividida entre o ânimo de cair na porrada e suas responsabilidades.

Eletivas e passatempos

Demonschool bebe inspiração das duas fontes da Atlus: Shin Megami Tensei e sua série spin-off Persona, em específico dos primeiros títulos de PS1. Isso fica bastante evidente com a atmosfera do jogo, soturna e com um toque punk, especialmente por se passar na virada do século e toda a cultura do final dos anos 90, com contrastes de cores, rebeldia grunge e fitas K7. Na análise de Echo Generation, eu indaguei como o jogo se esforça bastante para parecer um jogo clássico dos anos 80 mas sem substância. 

Felizmente, Demonschool não sofre tanto desse problema, criando uma identidade própria com seus fatores. A começar, a apresentação é muito bonita, com uma visão isométrica e gráficos pixelados, parecendo algo saído diretamente de jogos de DS, dando vida a mencionada atmosfera dark e ao mesmo tempo light do jogo. A influência da Atlus como na trilha sonora, muito bem composta e evocando a mistura de punk com o macabro, dando um clima sombrio mas atraente para a odisseia na ilha. 

Como mencionado, os personagens são bem interessantes. Seus designs são muito bem feitos e é possível aumentar o vínculo social com eles para melhorar seus status e progresso nas lutas, mas a sensação que fica é que nem todos os membros da equipe (15 ao todo) são bem trabalhados. Apesar disso, eles são bem legais e memoráveis em seus próprios estilos.

Hora do duelo!

Em relação a exploração existe um sentimento paradoxal: as missões secundárias são extremamente divertidas, com uma progressão legal e ótimas piadas que parecem ter sido tiradas diretamente de algum filme B antigo; Os mapas são muito bem desenhados… mas a maioria dos ambientes é fechada e limitada, resultando em um sentimento claustrofóbico e linear, indo de certa contramão na questão de exploração em RPGs. Ainda é legal atravessar os mapas e descobrir pedaços da lore com os NPCs e jogar os minigames, mas o sentimento de limitação é persistente. 

O mesmo sentimento também coincide em relação a escolhas do que fazer no dia, que consiste em um ciclo de manhã, tarde e noite, onde as atividades em Persona, por exemplo, poderiam levar o ciclo todo, enquanto em Demonschool elas dão mais liberdade para continuar prosseguindo. Esse fato pode agradar ou desagradar jogadores familiarizados com a mecânica mas, independente, o time de desenvolvimento já se pronunciou que irá atualizar o sistema, a fim de balancear a quantidade de minigames que se pode jogar em cada ciclo. 

Em contrapartida, o sistema de combate deve ser um dos mais divertidos e intuitivos que eu analisei este ano. Como um bom RPG de turno, o jogador tem tempo livre para decidir as ações contra os inimigos, com o campo posicionado como um tabuleiro de quadrados e cada personagem posicionado, podendo escolher até oito movimentos antes de encerrar a vez. Ao todo é possível ter uma equipe de quatro personagens, com Faye sendo sempre a primeira a agir e cada ponto de movimento sendo consumido por um outro membro da equipe.

Fazer uma finta (ou seja, mover para um espaço adjacente uma vez) não consome pontos, dando mais opções de como agir em seguida. Além disso, para movimentar um personagem mais de uma vez, se consome mais dois pontos então adiciona mais uma camada de estratégia. Não bastando, existem também combos para se fazer em duplas na equipe e efeitos de dominó ao bater inimigos uns com os outros. De início, parece tudo uma marmita com tanta informação e um estilo diferente de luta, mas logo os combates ficam interessantes e divertidos de executar, como puzzles misturados em confrontos. 

Por fim, o jogo roda sem problemas tanto no Switch quanto no Switch 2, carregando rapidamente e sem engasgos.

Cancelando o fim do mundo

Demonschool é um título ambicioso, bebendo de fontes peculiares (normalmente, RPGs indies vão direto para Mother/Earthbound), mas que consegue ter personalidade própria. Mesmo carecendo no quesito social, um dos aspectos mais aguardados até o lançamento do jogo, ele cumpre muito bem em todo seu entorno.

Uma história interessante, personagens carismáticos, direção de arte impecável e sistema de combate viciante fazem deste uma das maiores surpresas indies do ano. Mesmo com alguns erros bobos, o tempo na universidade vai ser lembrado com carinho.

Prós

  • História interessante e bastantes envolvente;
  • Personagens carismáticos e senso de humor afiado;
  • Trilha sonora muito bem feita;
  • Direção artística de ponta, além da ambientação imersiva;
  • Combate extremamente divertido e viciante;
  • Performance impecável no Switch/Switch 2.

Contras

  • Mecânicas de tempo pouco implementadas;
  • Aspecto de vínculo social sutil demais
  • Falta de legendas em português.
Demonschool — PS4/PS5/XBO/XSX/PC/SWITCH — Nota: 8.5
Versão usada para análise: Switch 2
Revisão: Johnnie Brian
Análise produzida com cópia digital cedida pela Ysbryd Games
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Fábio Castanho Emídio (StarWritter)
Formado em Publicidade e Propaganda na USC e especializado em Marketing Digital, sou Editor de Vídeos também, meu TCC foi sobre a Guerra dos Consoles e evolução da publicidade nos games. Jogo um pouco de tudo e também escrevo. Me descrevo como um artista.
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