Análise: Yakuza Kiwami 2: o port extremamente competente de um remake excelente

Kazuma Kiryu precisa evitar uma guerra de gangues neste excelente port.

Era uma vez, no distante ano de 2013, a Sega teve a brilhante ideia de trazer a então cult saga Yakuza para a Nintendo, com o lançamento de Ryū Ga Gotoku 1&2 HD Edition para Wii U. O plano foi um fracasso, fazendo a série ignorar a Big N por mais de uma década.


Anos depois, Yakuza ganha uma nova chance com o lançamento glorioso de Kiwami para Switch, motivando o batizado do Switch 2 com 0: Director's Cut e, no tópico de hoje, o relançamento de Yakuza Kiwami 2. Sem mais delongas, venha comigo, mas prepare o trocado para o táxi. Vamos viajar muito nessa estrada.

Dança dos dragões

Um ano se passou desde os eventos de Kiwami. Kiryu está vivendo uma boa vida civil, tomando conta de Haruka e longe da criminalidade… até que ela invade seu espaço pessoal quando assassinos misteriosos matam Terada, o cabeça mais recente de sua antiga família, o Clã Tojo. Terada queria fazer uma trégua com a Aliança Omi, a família rival dos Tojos, e ele confiou em Kiryu continuar a tarefa depois de sua morte.

Indo para Osaka, Kiryu conhece Ryuji Goda, filho do atual líder da Aliança Omi, que acha ridícula a ideia de paz e, violentamente, toma controle da organização do pai, além disso, ameaça uma guerra de gangues que pode assolar o Japão. Não apenas isso, mas envolvimentos com máfias de países vizinhos podem deixar a situação ainda mais difícil, então cabe a Kiryu confrontar Ryuji e pôr um fim em seus planos megalomaníacos.

Velhos campos, novos ares

Não é de surpreender que a história de Kiwami 2 seja excelente, considerando o alto padrão dos títulos que antecederam sua chegada à Nintendo. Tudo muito bem traduzido em português brasileiro, de gírias, palavrões e as inúmeras dicas dos minigames para se divertir (finalmente dá para entender como Mahjong funciona!). A jogabilidade de Yakuza é composta por duas absolutas: a liberdade do mundo aberto e a insanidade do combate beat n’ up e, tal como os títulos anteriormente disponíveis na Nintendo, Kiwami 2 não deixa a desejar.

À disposição de Kiryu temos os distritos da luz vermelha Kamurocho e Sotenbori para explorar. Locais familiares de fãs da franquia, tendo sido palcos das desventuras de Kiwami e Director’s Cut, mas com dois pequenos-grandes diferenciais: a liberdade de exploração e a beleza dos lugares. Em minha análise de Director's Cut, indaguei que a prequela não tinha bons motivos, sejam visuais ou técnicos, para justificar sua exclusividade no Switch 2. Já Kiwami 2 sacia completamente as minhas dúvidas porque o jogo é um vislumbre gráfico. Os distritos são belíssimos, com detalhes que aumentam a imersão como o asfalto mais definido, presença de poças d'água e luzes neon mais fortes.

Tendo sido lançado em 2017 para PS4, é absurdo perceber o trabalho de adaptar um jogo tão belo visualmente para a Nintendo, com Kiwami 2 rodando lisinho tanto na TV quanto no portátil, praticamente sem carregamentos e sem engasgos na performance. Essa performance impecável trabalha em conjunto também com a imersão do jogo. Atravessar e explorar os distritos entupidos de pedestres (cuja inteligência artificial continua meio burra como andar no mesmo lugar ou em cima de alguma cadeira, mas com poucas gafes para pontuar) nunca foi tão natural, com Kiryu respondendo ainda melhor que nos jogos anteriores e até com certos movimentos adicionais como poder saltar de uma parte elevada para uma inferior ou, melhor de tudo, pode passar por cima de cercas e parapeitos que possam aparecer numa corrida. 

O que mais impressiona, no entanto, é poder entrar em estabelecimentos e outras áreas sem aparecer uma tela de carregamento. Com pouquíssimas exceções como o subterrâneo do Purgatório, o carregamento em tempo real do ambiente deixa a experiência mais rica e vívida, um pequeno detalhe mas extremamente bem-vindo em uma franquia como Yakuza.

Cólera do dragão!

Agora que discutimos o quão belos e divertidos são os distritos de Kiwami 2, é hora de mencionar o segundo aspecto mais icônico da franquia: seu combate alucinante. Como nos jogos já apresentados, Kiryu tem à disposição um arsenal extenso para doutrinar os fanfarrões e pilantras das ruas vermelhas, variando de armas brancas, armas de fogo, lixo espalhado pela cidade e, a mais mortal de todas, seus punhos. E, tal como seus anikis, a porradaria visceral de Kiwami 2 não deixa a desejar, com movimentos ainda mais fluidos, sequências que dão uma apresentação ainda mais pesada e a satisfação de detonar uma multidão e sair só com um pouco de suor.

No entanto, o jogo se difere de seus antecessores em dois aspectos críticos, sendo estes a evolução e o próprio combate. Yakuza 0 serviu como esqueleto para o remake de Kiwami 1 e, com isso, os diferentes modos de luta que alteraram drasticamente a pose e combos de Kiryu, deixando o combate mais estratégico ao considerar qual o melhor tipo de arte marcial para a ocasião e a variedade. Infelizmente, Kiwami 2 carece dessa liberdade de escolha, relegando a apenas um estilo de luta e colocando certos aspectos dos excluídos em alguns upgrades. Não que o combate seja ruim, longe disso! Ele continua extremamente divertido, especialmente com novas execuções, cada uma mais insana, e casa golpe responde muito bem, com a evolução sendo palpável com a força dos ataques, mas não vou mentir que sinto saudades das opções adicionais.

Apesar disso, o sistema de evolução está bem mais divertido e perceptível. Em Kiwami, ganhamos pontos de experiência para evoluir atributos em rodas de habilidades separadas, como em um típico RPG; em 0, gastamos nosso dinheiro suado (literalmente) em rodas parecidas; em Kiwami 2, as mecânicas são parecidas, mas ao mesmo tempo diferentes. Em vez de adquirir pontos de experiência, ganhamos diferentes tipos de pontuação com ações como cumprir missões, passar o tempo e ir em restaurantes. Com isso, podemos gastar com determinadas melhorias como melhorar a vida e mais tempo de corrida. Enquanto nos jogos anteriores a impressão de evolução era perceptível, mas vagarosa, existe um real aprofundamento para explorar e se melhorar, aumentando ainda mais a imersão. 

Alie isso ao fato que Kiryu tem um limite para comer/beber e que é gasto naturalmente ao correr e lutar e o instinto de descobrir começa a apitar, querer descobrir novos restaurantes e, acima de tudo, missões secundárias. Como um bom Yakuza, os distritos estão repletos de personagens malucos com as mais diversas necessidades que Kiryu tem que, na maioria das vezes, ajudar a contragosto, mas mostrando sua bondade interior. Inclusive, certos personagens ajudam em momentos específicos para causar execuções hilárias! Tudo mostrando o quão vivos os distritos estão.

Nova fúria

Ao mesmo tempo que Kiwami 2 chegou nas lojas, a Sega também trouxe uma atualização de Kiwami 1 para o Switch 2. Efetivamente, é o mesmo jogo, mas com melhor performance, rodando a 60fps como Yakuza 0: Director's Cut e carregando ainda mais rápido que sua versão original. Além disso, a atualização (também no Switch original) traz legendas PTBR também, muito bem traduzidas (agora só falta atualizar no Yakuza 0: Director's Cut).

Por fim, em análises passadas, eu disse que todo relançamento que se preze deve incluir rascunhos e desenvolvimento de seus jogos para fins de preservação e curiosidade. Esse meu pensamento se estende inclusive para ports de remakes, e Kiwami 2 falha nesse quesito tal como os outros relançamentos, trazendo absolutamente nada para preservar a memória do desenvolvimento tanto da versão original quanto do remake. 

A emulação de clássicos jogos da Sega como Virtua Fighter 2 é muito bem vinda (VF2 já está disponível pelo Nintendo Classics, mas apenas sua versão Mega Drive em 2D), mas ainda é uma faísca do que poderia ser um incêndio de informações de uma das franquias mais icônicas da Sega. 

EXTREMO 2

Tal como seus antecessores, Yakuza Kiwami 2 é um dos meus jogos favoritos deste ano. No que ele pode desapontar um pouco em seu combate levemente mais centrado, Kiwami 2 compensa com um leque enorme de possibilidades para se divertir. 

Seja ajudando Majima em seu próprio minigame como Tower Defense, jogando em um arcade de mictório ou simplesmente desafiando o Dragão de Kansai, esta é uma evolução digna da balada de Kazuma Kiryu e sua eterna busca por uma vida de paz. Que venha Kiwami 3 & Dark Ties!

Prós

  • Trama complexa e intrigante, com reviravoltas e momentos emocionantes;
  • Personagens carismáticos e memoráveis;
  • Minigames divertidos e uma infinidade de missões secundárias alucinantes;
  • Kamurocho e Sotenbori nunca estiveram tão vivas e exploráveis;
  • Muito bem traduzido para português brasileiro;
  • Combate muito bem feito e sentimento de evolução progressiva;
  • Visualmente glorioso e performance impecável.

Contras

  • Falta de bônus especiais como artworks e comentários de desenvolvimento;
  • Ausência de múltiplos estilos de luta pode insatisfazer certos jogadores.
Yakuza Kiwami 2 — Switch 2 — Nota: 9.0
Revisão: Beatriz Castro
Análise produzida com cópia digital cedida pela Sega
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Fábio Castanho Emídio (StarWritter)
Formado em Publicidade e Propaganda na USC e especializado em Marketing Digital, sou Editor de Vídeos também, meu TCC foi sobre a Guerra dos Consoles e evolução da publicidade nos games. Jogo um pouco de tudo e também escrevo. Me descrevo como um artista.
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