Romancing SaGa -Minstrel Song- Remastered International é a versão mais recente de um RPG que já passou por algumas revisões ao longo dos anos. A base deste lançamento é um remaster de 2022, que atualizou o remake de PlayStation 2 — o qual, por sua vez, reimaginava o Romancing SaGa original de Super Nintendo.
Na edição atual, relançada pela Red Art Games, o conteúdo permanece essencialmente o mesmo da versão de 2022, tendo como principal novidade a adição de novos idiomas, em uma tentativa de ampliar o acesso ao jogo em diferentes regiões.
O retorno de uma divindade maligna
A história de Romancing SaGa se passa em Mardias, um mundo criado pelo deus Marda. Em um passado distante, três divindades malignas — Saruin, Death e Schirach — travaram um confronto longo e devastador contra outros deuses, ameaçando destruir toda a ordem existente. O conflito só foi contido pelo sacrifício do herói Mirsa, que utilizou as Fatestones, artefatos criados pelo deus Elore, para selar os vilões.
Séculos se passaram desde esse evento e grande parte da humanidade já trata essa guerra divina como mito. No entanto, sinais da influência de Saruin começam a ressurgir, sugerindo que seu retorno pode estar próximo. É neste cenário que o jogador inicia sua jornada, escolhendo um entre oito protagonistas — cada um com origens e motivações diferentes.
Apesar de a premissa do mal selado prestes a retornar ser bastante simples, funciona como um ponto de partida eficaz para apresentar o universo de Mardias e despertar curiosidade sobre sua mitologia. O problema é que esse pano de fundo acaba atuando mais como um contexto temático básico do que como um eixo dramático forte, deixando o enredo maior completamente em segundo plano diante do verdadeiro foco da experiência: a livre exploração.
Infelizmente, diferente de alguns jogos subsequentes da série (especialmente os mais recentes, como o remake de Romancing SaGa 2), que conseguiram harmonizar a liberdade do jogador em moldar a história com um contexto geral coeso e interessante, Minstrel Song raramente apresenta acontecimentos com peso narrativo significativo ou conexões claras que transmitam uma sensação de jornada contínua.
Mundo em constante mudança
Refletindo uma das filosofias centrais da série SaGa, a exploração em Minstrel Song segue um formato altamente aberto. O game não oferece um caminho definido nem marcações mínimas sobre o que fazer a seguir. Em vez disso, expandimos nosso alcance ao desbloquear novas cidades e dungeons, geralmente após completar eventos específicos ou simplesmente ao alcançar áreas conectadas pelo mapa-múndi.
Na maioria das regiões, há um ou mais episódios que funcionam como pequenas subquests, muitas vezes independentes entre si. Para organizar essa progressão, o jogo utiliza um contador interno: conforme o tempo avança, representado pela quantidade de batalhas vencidas, o mundo passa por mudanças graduais. Como consequência, algumas missões podem surgir, outras deixam de estar disponíveis e certas áreas se tornam mais perigosas.
Em razão dessa abordagem, a simples decisão de lutar ou não acaba tendo bastante peso, pois fortalecer seus personagens não necessariamente resulta em confrontos mais fáceis, já que os monstros também se tornam mais poderosos após certo tempo. Vale destacar que os seres são visíveis nos cenários e os combates só começam quando nos aproximamos, porém evitá-los pode ser complicado, já que muitas criaturas se deslocam bem rápido.
Embora esse estilo seja pouco convidativo à primeira vista, ele recompensa quem gosta de investigar e testar possibilidades, incentivando o jogador a realmente se colocar dentro daquele universo. Aqui, a maior parte das quests é descoberta conversando com NPCs e ouvindo rumores, e é justamente por meio dessa interação com os moradores de cada região que se obtém alguma direção sobre o que fazer ou para onde ir.
Outro elemento importante sobre a exploração são as proficiências, habilidades de campo que permitem acessar áreas ocultas, encontrar tesouros, evitar encontros indesejados ou até obter vantagem sobre inimigos. Essas ações precisam ser aprendidas com mentores específicos e possuem um número de usos limitado, que aumenta conforme seus níveis evoluem.
Graças a todas essas particularidades, é improvável que duas pessoas tenham experiências semelhantes. Além disso, o fator replay acaba sendo naturalmente elevado, já que não existe uma rota fixa ou ordem rígida de eventos. Embora o chefe final seja sempre o mesmo, a forma como cada protagonista chegará até ele — incluindo quais regiões explorar, quests concluir e aliados recrutar — é extremamente flexível.
No entanto, em razão desses mesmos elementos, Minstrel Song acaba sendo um dos jogos mais complicados da franquia e também um dos menos acessíveis para iniciantes. Devido à estrutura do game, decisões não muito bem planejadas podem levar o mundo a um estado no qual o jogador não consegue mais derrotar nem inimigos básicos, tornando a progressão inviável.
Combate com inúmeras nuances
O sistema de combate em Romancing SaGa segue um formato baseado em turnos, mas incorpora diversas particularidades que o tornam igualmente complexo e desafiador. Em vez de evoluírem por níveis, os personagens melhoram seus atributos e a proficiência com o tipo de arma que estão usando. Por exemplo, utilizar continuamente uma lança faz com que sua maestria com esse equipamento aumente, liberando técnicas mais fortes ao longo do tempo.
Durante os confrontos, é necessário administrar recursos como BP, que limitam o uso de habilidades mais poderosas, e DP, que representam a durabilidade das armas. Assim, o jogador precisa equilibrar ataques simples e técnicas avançadas para manter o fluxo das batalhas, o que torna cada encontro bastante estratégico.
Outro elemento crucial é o LP, valor que representa a vitalidade total de cada herói. Quando o LP chega a zero, o indivíduo sofre morte permanente. Embora o HP se regenere automaticamente ao fim das lutas, o jogo é desafiador o suficiente para que esse sistema exija atenção constante, já que a perda definitiva de um aliado pode comprometer a estratégia adotada e, consequentemente, a campanha.
As formações também desempenham papel importante, determinando posições e funções dentro do grupo. Aqui, a configuração deve ser pensada de acordo com as habilidades e armas de cada sujeito, já que a posição afeta fatores como a velocidade de ação e o alcance dos ataques.
Esses são apenas os aspectos mais básicos de Minstrel Song, pois o título conta com inúmeros sistemas interconectados que exigem estudo e prática para serem dominados. Embora o combate seja bastante envolvente e ofereça um nível de desafio atrativo para quem aprecia experiências exigentes, os saltos abruptos de dificuldade e a pouca explicação sobre suas mecânicas podem gerar sensação de injustiça e frustração, reforçando a baixa acessibilidade para jogadores menos familiarizados com a série.
Um remaster com acréscimos significativos
A despeito de toda sua complexidade, o remaster de Minstrel Song trouxe uma série de melhorias que tornam a experiência mais prática e completa. Começando pelos visuais, houve um belo tratamento em alta definição, realçando cenários, personagens e efeitos de batalha. Já para auxiliar na navegação, o jogo também inclui mini mapas e um modo rápido, que tornam a exploração bem mais dinâmica.
Outras edições interessantes dizem respeito ao New Game+, ao aprimoramento de alguns chefes, à adição de novos personagens recrutáveis e à possibilidade de reduzir a velocidade de passagem do tempo. Este último recurso, em especial, é bastante útil para quem encontra dificuldades, já que, quando ativado, não precisamos ter medo de travar lutas para fortalecer o grupo.
É importante mencionar que todas essas melhorias já estavam presentes no lançamento original de 2022 de Romancing SaGa -Minstrel Song- Remastered. Nesse sentido, a principal mudança nesta versão internacional em comparação ao lançamento inicial é a inclusão de legendas em mais idiomas — agora também em francês, alemão, italiano e espanhol. Sendo assim, infelizmente, para nós brasileiros, a situação permanece igual, pois o português continua de fora.
Um RPG peculiar e extremamente desafiador
Romancing SaGa -Minstrel Song- Remastered International mantém intacta a essência de um dos títulos mais peculiares e complexos da Square Enix, ao mesmo tempo que traz novidades que o tornam mais completo. Sua liberdade extrema, seus sistemas pouco convencionais e a ausência de direções rígidas continuam a ser tanto seus maiores atrativos quanto suas maiores barreiras.
No entanto, como a única mudança desta edição internacional diz respeito à adição de novos idiomas — que, infelizmente, ainda não incluem o português — não há qualquer razão prática para quem já possui a versão de 2022 migrar para esta nova.
Prós
- A abordagem de exploração extremamente aberta incentiva o jogador a se envolver com o mundo, permite caminhos variados e oferece um grande fator replay;
- Sistema de combate envolvente, cheio de nuances e múltiplos recursos que precisam ser dominados e receber atenção constante;
- O remaster traz diversas melhorias que tornam a experiência original do PlayStation 2 mais completa, especialmente o modo rápido, os novos personagens recrutáveis e a opção de reduzir a progressão do tempo.
Contras
- Curva de aprendizado íngreme e baixa acessibilidade para iniciantes, agravadas pela pouca explicação dos sistemas, o que pode gerar frustração e sensação de injustiça;
- Narrativa pouco desenvolvida, funcionando mais como pano de fundo básico e deixando grande parte da mitologia subaproveitada;
- A versão Internacional não traz acréscimos relevantes além de novos idiomas — e continua deixando o português de fora.
Romancing SaGa -Minstrel Song- Remastered International — PS4/PS5/Switch — Nota: 7.0Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Alessandra Ribeiro
Análise produzida com cópia digital cedida pela Red Art Games










