Ouvindo a voz de Deus
Em SHUTEN ORDER, controlamos a protagonista Rei Shimobe. Pouco após acordar em um quarto sem quaisquer memórias do seu passado, a jovem é surpreendida pela visita repentina de dois anjos: Mikoturu e Himeru, que dizem ter sido enviados em uma missão divina para ajudá-la.
Ainda confusa com a situação e tentando recompor sua memória, Rei aos poucos descobre que ela é ninguém menos do que a fundadora e presidente da “Ordem SHUTEN” — um culto dedicado a esperar pelo fim do mundo que também governa o último país habitável de todo o planeta. No entanto, mesmo sendo uma pessoa de extrema importância para a sociedade, Rei foi brutalmente assassinada há pouco tempo, com os principais suspeitos sendo os cinco ministros que estavam sob seu comando direto.
Porém, neste caso específico, a morte não foi o fim. Como uma legítima escolhida de Deus, Rei agora ocupa um corpo temporário, justamente para poder descobrir quem a matou e recuperar sua alma antes que o mundo acabe, em um teste divino chamado de God’s Trial. Pronto para solucionar o mistério por trás do seu próprio assassinato?
Cinco jogos em um? Sim, é praticamente isso…
Na prática, SHUTEN ORDER é um romance visual que se destaca principalmente por sua estrutura fora do comum. Em busca de respostas que permitam descobrir a identidade do seu assassino, Rei entra escondida na sede da Ordem ao lado de Mikoturu e Himeru e espia uma reunião emergencial entre os seus cinco ministros de governo — Kishiru Inugami, Yugen Ushitora, Teko Ion, Honoka Kokushikan e Manji Fushicho.
Pouco a pouco, acompanhando a história, o jogador descobre que cada um dos ministros é responsável por uma área crucial para a SHUTEN, como comunicação, saúde, segurança, educação e ciência. Em tese, todos eles também teriam motivos para planejar e conduzir o assassinato, o que aumenta o mistério envolvido e reforça a necessidade de um trabalho investigativo.
Portanto, para descobrir o criminoso, a protagonista precisa se passar por uma detetive particular, conhecer e investigar cada um dos personagens a fundo. Em termos práticos, isso se dá por meio de cinco rotas narrativas separadas — uma para cada ministro —, com cada uma delas apresentando um estilo de jogo diferente: a rota da justiça traz um puzzle de mistério ao estilo Ace Attorney; a rota da comunicação desemboca em uma espécie de dating sim à la Doki Doki Literature Club; já o caminho da segurança flerta com um terror meio escape room, e assim por diante.
A escolha por uma estrutura tão fora do comum se prova acertada, principalmente porque torna SHUTEN ORDER uma obra ímpar e bastante original no universo dos romances visuais, apesar de seu começo um pouco lento. No entanto, é preciso mencionar que a ousadia na produção não é isenta de falhas: na prática, algumas rotas simplesmente se mostram mais divertidas e bem-construídas que outras, e a liberdade na hora de escolher por onde começar (é preciso completar todas para alcançar o final verdadeiro) pode se provar uma faca de dois gumes no que tange às primeiras impressões com o título (geralmente as mais duradouras).
Sem entrar no campo dos spoilers para não estragar a surpresa, recomendo então começar a campanha pela rota da saúde (health) ou da ciência (science), tanto pelas informações que agregam à narrativa quanto pela qualidade superior da jogabilidade. Para uma explicação mais detalhada sobre cada sequência, também indico a leitura da nossa análise original do game no Switch, escrita pelo meu colega de redação João Pedro, pois, a partir de agora, focarei nas diferenças desta Nintendo Switch 2 Edition.
O julgamento final
Feitos os elogios ao jogo em si, é hora de falar do foco desta análise: as melhorias para o Switch 2. A primeira — e a mais notável — é o aumento significativo na resolução de saída, tanto no modo TV quanto no modo portátil. Como resultado, temos uma apresentação final que valoriza ainda mais as belas e vibrantes artes do game e toda a sua ambientação anime distópica.
Além da resolução, a taxa de quadros por segundo também foi consideravelmente melhorada, ficando entre 60 e 120 frames em ambos os modos do console. A fluidez na movimentação, bem como nas animações e transições, é instantaneamente sentida, ajudando a elevar a qualidade da experiência para níveis que, tecnicamente, seriam impossíveis de alcançar no primeiro Switch.
Portanto, temos aqui uma experiência que julgo ser idêntica em termos técnicos à proporcionada pela versão de PC, só que melhorada pela versatilidade inata ao console da Nintendo. É que romances visuais, assim como JRPGs e roguelites, na minha opinião, “casam” muito bem com um dispositivo portátil ou híbrido — e graças à performance e apresentação impecáveis, não vejo motivos para não recomendar esta Switch 2 Edition caso você já tenha o console mais novo da Nintendo e aprecie visual novels.
Por fim, há também a implementação do modo mouse nas sequências que permitem esse recurso, como quando Rei precisa investigar e interagir com objetos do cenário. Ativar o mouse é bem simples (basta realmente virar o Joy-Con, como a Nintendo ensina) e, para quem vai jogar na TV, no monitor ou no modo Tabletop, a possibilidade torna as ações mais rápidas e intuitivas. Particularmente, fiquei bem feliz com a implementação e acredito que ela prova como romances visuais podem se beneficiar da inovação da Big N.
Por fim, o único ponto negativo é que SHUTEN ORDER continua sem localização em português brasileiro, obrigando o jogador do nosso país a dominar o inglês ou outro idioma suportado para aproveitar 100% da aventura. Particularmente, também senti falta de uma dublagem em inglês; como alguém que prefere jogar franquias como Persona e Fire Emblem com as vozes ocidentais, preciso avisar que somente as vozes originais em japonês estão disponíveis, ao contrário de obras como a já citada The Hundred Line.
No mais, se você já possui o jogo no Switch, é possível fazer o upgrade para a versão de Switch 2 comprando o pacote de melhoria na eShop por R$ 13,35 (valor praticado no momento de publicação desta análise). Por mais que uma atualização gratuita fosse o ideal, acredito sinceramente que o valor cobrado é bastante justo para todas as melhorias implementadas, da resolução maior ao modo mouse. Já para quem pretende adquirir diretamente a Nintendo Switch 2 Edition, compensa notar que a versão do primeiro Switch também está incluída no pacote, se por acaso você quiser manter os dois consoles (e alternar entre eles).
A versão definitiva que abrilhanta ainda mais um ótimo jogo
SHUTEN ORDER - Nintendo Switch 2 Edition consegue aperfeiçoar o que já era bom, permitindo que a qualidade da curiosa e expansiva obra se sobressaia ainda mais no novo console da Nintendo. Como resultado, temos aqui um título essencial tanto para os fãs de romances visuais quanto para quem não tem muita experiência com o gênero, mas deseja se aventurar em um título criativo, carregado de mistério. Em resumo, é chegada a hora de novamente enfrentar o julgamento divino, agora naquela que pode, sim, ser considerada a sua versão definitiva. Pronto para descobrir o responsável por sua morte?
Prós
- Apesar dos primeiros momentos serem um pouco lentos, logo revela um enredo misterioso e envolvente, que consegue prender a atenção do jogador do início ao fim da aventura;
- Graças ao bom uso do hardware do Switch 2, oferece aquela que pode ser mencionada como a versão definitiva do game, graças à versatilidade do console, excelente performance e impecável apresentação visual — tanto no modo portátil quanto no modo TV;
- A boa implementação do modo mouse é um destaque à parte e prova como romances visuais podem se beneficiar do recurso dos novos Joy-Con.
Contras
- Dado o flerte com múltiplos gêneros de videogame dentro das rotas, algumas seções naturalmente se mostram mais divertidas e bem-construídas que outras;
- A ausência de dublagem em inglês (ou outro idioma) pode incomodar quem não é fã das vozes em japonês;
- Sem localização para PT-BR, nem mesmo nos textos ou menus.
SHUTEN ORDER - Nintendo Switch 2 Edition — Switch 2 — Nota: 9.0
Revisão: Johnnie Brian
Análise produzida com cópia digital cedida pela Spike Chunsoft




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