Quando a morte não significa o fim
Venha, viajante. Sente-se, descanse e conheça a história da Grande Guerra Persa, lendário confronto entre os persas e os hunos. Muitos, muitos anos atrás, em um dia escuro como a noite, as hordas de Nogaï, vindas das profundezas das geladas Estepes do Norte e lideradas por uma magia estranha e selvagem, desceram em direção ao próspero e poderoso Reino da Pérsia.
O que se sucedeu foi um impiedoso e violento massacre, que surpreendeu completamente os persas ao espalhar morte e desgraça sobre suas terras. Mas essa história ainda está longe do seu fim, pois o destino do reino repousa agora sobre os ombros de alguém que está disposto a provar seu valor e livrar seu povo das garras do mal: o jovem príncipe da Pérsia.
No fatídico dia da incursão huna, nosso herói pereceu combatendo Nogaï. Porém, graças a um misterioso amuleto sagrado que há muito lhe foi confiado, ele retorna à vida três dias após o violento ataque. Logo, abençoado com a possibilidade mágica de reviver mesmo após um fracasso, começa sua jornada definitiva contra os hunos e pela libertação do seu reino. Pronto para ajudá-lo?
Ação e acrobacias em 2D
Na prática, The Rogue Prince of Persia é um jogo de progressão lateral em 2D. Sua estrutura — assim como a de obras como Dead Cells e Dunjungle — enquadra-se perfeitamente no termo “roguevania”, que tem sido comumente usado para definir títulos que apresentam características tanto de roguelikes quanto de metroidvanias.
Ao começar uma partida, somos convocados a explorar e atravessar grandes áreas interconectadas, cujas salas e inimigos são gerados aleatoriamente a cada nova rodada. Apesar de normalmente haver uma grande distância entre os pontos de interesse, ela nunca se prova um problema, pois é possível viajar rapidamente entre os locais de salvamento, aqui chamados de poços de sonhos. Por fim, marcando a divisão entre os biomas, há sempre confrontos fixos contra chefes, que exigem bastante atenção e precisão na leitura de seus padrões para serem vencidos.
Desde o início, algo que impressiona bastante no game é a agilidade e a versatilidade do protagonista. Fazendo jus ao legado da série da Ubisoft — que se consagrou pela boa combinação de ação e plataforma —, nosso herói consegue escalar paredes, pendurar-se em objetos do cenário e contra-atacar inimigos com rara velocidade e precisão. É necessário notar que há uma certa curva de aprendizado no que diz respeito aos comandos, mas, mesmo com pouco tempo de jogo, já é possível fazer movimentos bastante empolgantes pelas fases e dominar grupos de inimigos com relativa facilidade.
O foco na celeridade é, inclusive, evidenciado por meio de mecânicas como o Sopro de Vayu. Executar acrobacias e contra-ataques no tempo certo enchem a barra do recurso, que fica embaixo da de vida na tela. Uma vez que a barra esteja cheia, o Sopro é ativado, aumentando ainda mais a velocidade do príncipe por tempo limitado.
Particularmente, o Sopro de Vayu me lembrou bastante de algumas mecânicas presentes em outros jogos de ação — como o tradicional Witch Time, de Bayonetta —, com a diferença de que, aqui, o recurso pode ser ativado até mesmo para completar mais rapidamente as seções de plataforma. Com um pouco de prática, então, é possível desviar de espinhos, armadilhas, golpes inimigos e outros perigos nas fases com facilidade e estilo, mantendo a jogabilidade atrativa e envolvente durante toda a aventura.
E lá vamos nós de novo…
Na minha opinião, um roguelite de respeito precisa ter um bom ciclo de progressão e que suas partidas sejam (ou ao menos pareçam) diferentes umas das outras, mesmo quando jogadas sucessivamente. Felizmente, The Rogue Prince of Persia cumpre esses requisitos com louvor, graças à experiência do Evil Empire com Dead Cells e a inspiração em obras-primas como Hades, da Supergiant Games.
Primeiramente, há a questão dos equipamentos — como todo bom guerreiro, nosso protagonista domina um vasto arsenal que pode ser desbloqueado e usado para enfrentar os hunos. É possível enfrentar as partidas usando cajados, dardos, manoplas, espadas e até incensários, e cada uma dessas ferramentas possui uma jogabilidade e características diferentes (particularmente, gostei muito de usar os incensários, principalmente por sua capacidade de incendiar os oponentes com facilidade, mas recomendo explorar todas para ver com qual você se adapta melhor).
Também é preciso citar os medalhões, itens equipáveis que fornecem bônus variados para o herói, como aumento no dano ou na chance de causar efeitos especiais, como envenenamento ou atordoamento, com seus golpes. Os medalhões são encontrados durante as partidas (os mais raros precisam primeiro ser desbloqueados para terem chance de aparecer) e podem ser trocados livremente quando nos deparamos com outros, incentivando a criação de combos entre armas e efeitos cuja sinergia seja capaz de sustentar (e carregar) partidas inteiras.
Contudo, logicamente, nenhum desses recursos brilharia tanto sem um bom loop de progressão. Inspirando-se em Hades, o Evil Empire acertou ao construir uma narrativa reagente aos acontecimentos das partidas; ao ser derrotado, o príncipe retorna ao Oásis — um lugar reservado, protegido da magia corrupta dos hunos — e lá também é para onde vão todos os personagens que são resgatados durante a aventura, como a tecelã Laleh, o ferreiro Sukhra, o irmão Shahin, e assim por diante.
Cada NPC que chega ao Oásis desenvolve um pouco mais da história do jogo (que vai sendo montada por meio de um mapa mental, facilmente acessível no menu), e aumenta a esperança do protagonista de conseguir vencer a magia corrupta que tomou conta do reino, seja por fornecer melhorias permanentes para o herói, seja por entregar dicas sobre como enfrentar seus vários oponentes. Dessa forma, mesmo com os eventuais (talvez até sucessivos) fracassos, é fácil sentir que a aventura em si está progredindo e desejar continuar jogando até chegar ao último bioma e, enfim, derrotar Nogaï.
Tecnicamente impecável no Switch 2
Como mencionado anteriormente, The Rogue Prince of Persia chegou ao Switch e Switch 2 alguns meses após sua estreia nas outras plataformas. No novo console da Nintendo (esta análise foi feita com base na versão de Switch 2), posso afirmar que a longa espera valeu a pena, graças à excelente performance e apresentação visual tanto no modo TV quanto no portátil.
A fluidez tão essencial em jogos com foco na ação se faz presente aqui e também ajuda as belas artes e animações do título a se destacarem. Não foram poucas as vezes que parei o que estava fazendo para poder admirar os cenários do game, e as variações visuais entre os biomas também se mostraram bem-vindas (é só uma pena que os inimigos comuns não sigam a mesma variedade estética, com frequência se mostrando parecidos uns com os outros apesar dos movimentos diferentes). O mesmo pode se dizer da trilha sonora, que ora flerta com o Phonk, ora com notas e melodias orientais, mas sempre com maestria e somando positivamente à experiência.
Como é de praxe nos jogos publicados pela Ubisoft, o título também possui suporte ao português brasileiro, com uma localização de alto nível que ajuda na construção da identidade dos personagens e também na compreensão da narrativa como um todo. Ver o príncipe constantemente buscando superar inseguranças e adversidades para salvar o reino, ou brincando ao reencontrar os chefes que já derrotou em partidas passadas, comprova o carinho dos desenvolvedores e sua atenção aos detalhes, algo que ajuda a elevar a qualidade geral da obra.
Ainda falando da parte técnica, só preciso mencionar dois pontos negativos. O primeiro é o recurso de salvamento via Ubisoft Connect, que raramente funcionou como esperado no Switch 2, frequentemente resultando em uma tela de conflito entre os jogos salvos localmente e os armazenados na nuvem. Sinceramente, fico feliz que a empresa francesa tenha implementado o recurso de cross-save para quem possui o game em mais de uma plataforma e quer continuar usando o mesmo personagem, porém, na prática, a implementação carece de polidez; se você não pretende usar o recurso, recomendo, inclusive, desativá-lo nas configurações, para não ter que lidar com as sucessivas telas de erro sem necessidade.
O segundo ponto é que não há compra cruzada ou possibilidade de upgrade (pago ou gratuito) da versão de Switch do game para a de Switch 2. Logo, se você adquirir a versão de Switch do título, terá que comprar novamente a preço cheio a versão de Switch 2 se quiser jogá-la também (e vice-versa). Em resumo, é uma “solução” que considero pouco prática e até mesmo desrespeitosa com quem joga nos dois consoles ou está deixando a compra do Switch 2 para depois. Tendo em vista que tanto empresas grandes quanto pequenas têm oferecido pacotes de melhoria quando lançam games nos dois consoles, não vejo motivos para The Rogue Prince of Persia não contar com essa possibilidade, que certamente beneficiaria todos os envolvidos se fosse implementada. Quem sabe em breve?
Quando a espera pelo retorno à Pérsia vale a pena
The Rogue Prince of Persia faz jus ao legado da lendária franquia, entregando um roguelite ágil, acrobático e altamente recomendável para os fãs do gênero e da saga da Ubisoft. Embora tenha demorado para chegar ao Switch e ao Switch 2, neste caso a espera valeu a pena, sendo recompensada com uma ótima versão que merece figurar na biblioteca virtual de todo nintendista — preparado para salvar a Pérsia novamente?
Prós
- Ao ousar reimaginar a franquia Prince of Persia como um roguelite, prova-se uma aventura divertida e com considerável fator replay;
- Apresenta um bom loop de progressão, que envolve desbloquear novas armas, medalhões e NPCs para o Oásis, desenvolvendo a narrativa e aumentando as chances de vitória do jogador;
- A mecânica do Sopro de Vayu estimula e recompensa a jogabilidade ágil e acrobática;
- Trilha sonora ousada, que passeia livremente entre ritmos eletrônicos e temas orientais, sempre agregando de forma positiva à experiência;
- A performance e apresentação visual do título são impecáveis no Switch 2, fazendo jus à espera pela versão nintendista do jogo;
- Localizado em português brasileiro.
Contras
- O recurso de salvamento via Ubisoft Connect carece de polidez, frequentemente resultando em telas de erro;
- A completa ausência de possibilidade de upgrade da versão de Switch para a de Switch 2 não se justifica;
- Os inimigos poderiam ser mais variados, esteticamente falando.
The Rogue Prince of Persia — PC/Switch/Switch 2/PS5/XSX — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: Switch 2
Revisão: Alessandra Ribeiro
Análise produzida com cópia digital cedida pela Ubisoft







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