Pokémon Blast

Contagem regressiva para Kalos - Parte 4: A história que se repete, mas se transforma

Se tem algo que eu ouço muito quando o assunto é Pokémon é que “nunca jogue pela história e sim pela jogabilidade e multiplayer ”. Eu acho... (por Fellipe Camarossi em 13/09/2013, via Nintendo Blast)

Se tem algo que eu ouço muito quando o assunto é Pokémon é que “nunca jogue pela história e sim pela jogabilidade e multiplayer”. Eu acho isso errado. Pokémon pode não ter as histórias mais desenvolvidas do mercado gamer, mas de certo modo não devem ser tão subestimadas assim. Em mais esta etapa da nossa contagem regressiva, vamos fazer uma recapitulação de como as histórias dos jogos da franquia tiveram diferentes abordagens e inspirações, e como isso influencia no que temos agora.

Yakuza invade Kanto

E esse chicote aí?
Não é segredo para ninguém que a mais famosa organização criminosa do mundo foi o que inspirou a mais famosa organização criminosa de Pokémon, a Equipe Rocket. Motivados pelo objetivo de controle mundial, a primeira equipe vilã que surgiu em Pokémon Red/Blue (GB), roubava e utilizava-se de comércios ilegais para financiar o seu próprio império do submundo, tentando tomar o globo através de indústrias e do controle do mercado tecnológico em Kanto. O dinheiro arrecadado era usado para financiar as pesquisas genéticas de seus cientistas, visando criar o Pokémon mais forte do mundo, o clone amplificado de Mew, o famoso Mewtwo.

Vários conceitos da série começaram aqui, podemos citar o da organização vilã e formação dos monstrinhos lendários: Articuno, Moltres e Zapdos. Os três pássaros, datam o primeiro trio lendário de todos os jogos, enquanto Mewtwo e Mew foram os primeiros a formar uma dupla de raros. Curiosamente, estes foram os únicos jogos da série a não ter Pokémon raros como mascotes. Isso se reflete no fato deles não terem importância significativa na história do jogo.

Limpando o que restou

Trocou o chicote por
outro Pokémon.
Anos depois, tanto no nosso mundo como no de Pokémon, a Equipe Rocket tenta ressurgir. Após a derrota para Red, a organização perdeu muito domínio e seu líder simplesmente desapareceu. Claro, para alguém do porte deles, isso não era motivo para desistirem e resolveram tentar novamente em Johto. Mais desesperados, agora apelam para terrorismo e tentam tomar para si grandes edifícios. Novamente estudam a genética Pokémon, mas agora não para criar seus próprios e sim ampliar suas capacidades, como forçar a evolução (o que gerou o famoso Gyarados vermelho).

Mais uma vez os Pokémon lendários não tiveram grande significância na história do jogo, embora tenham sido os mascotes de Gold/Silver/Crystal (GBC). Lugia e Ho-oh foram introduzidos como os primeiros “mestres de trio”, sendo o primeiro o líder dos pássaros da geração anterior e o segundo o líder das feras lendárias desta geração (Entei, Raikou e Suicune). Bem, não se acostumem, porque a partir da próxima geração, os mascotes dos jogos vão roubar a cena.

Confronto de titãs

Pela primeira – e até agora única – vez nós temos não uma, mas duas organizações inimigas. As equipes Magma e Aqua têm como objetivo trazer a dominância da terra e do oceano no ecossistema mundial (sabe Arceus porquê), e para isso precisam controlar os guardiões do solo e do mar, Groudon e Kyogre, mascotes de Ruby/Sapphire (GBA). Mas é claro que bagunçar o equilíbrio ecológico do mundo não passaria despercebido, e isso convoca para a luta Rayquaza, o guardião dos céus e do equilíbrio, mascote de Pokémon Emerald (GBA).

"Parou a palhaçada, os dois vão ficar de castigo!"
O trio climático foi a primeira menção clara para inspiração mitológica. Groudon, Kyogre e Rayquaza parecem encarnações de Behemoth, Leviathan e Ziz, três figuras bíblicas que representam as três esferas do nosso mundo (litosfera, hidrosfera e atmosfera). Foi nessa geração que também tivemos o, considerado por muitos, mais difícil quebra-cabeças da série, envolvendo o trio lendário dos golems: Regirock, Regice e Registeel, todos envolvendo a leitura de braile. Claro, conhecimento básico para uma criança, que é o público-alvo da série.

A origem de tudo

Isso é, no mínimo,
assustador.
Numa síndrome de Deus, a Equipe Galactic quer conquistar poder o suficiente para reescrever a história e criar um novo universo de acordo com o que acreditam ser certo. Para isso eles perseguem o trio da criação, Dialga, Palkia e Giratina, guardiões do tempo, espaço e antimatéria. Com isso, espera-se alcançar o poder de Arceus, o Pokémon Deus, e recriar o universo conhecido ao seu bel prazer. Bom, é claro que isso só acontecerá se o protagonista de Pokémon Diamond/Pearl/Platinum (DS) não derrubá-los.

Embora não haja menção direta quanto a inspiração dos lendários desta geração, há uma clara conotação bíblica na história da criação do universo, na qual Arceus nasceu de um ovo que existia antes da própria existência, deu vida aos guardiões das dimensões do universo e, quando um destes se mostrou rebelde e violento (Giratina), foi banido para uma realidade negativa e isolada. Se pensou na história de Deus e Lúcifer, não te culpo. É natural.

Confronto de valores

Zekrom, o dragão dos ideais.
Diferente de todas as equipes vilãs até então, a Equipe Plasma apresenta conflitos ideológicos sobre como o mundo é regido, pregando a liberdade dos Pokémon em relação aos treinadores e que os monstrinhos devem viver livres e independentes dos humanos, preto no branco, sem tons de cinza. Para isso, é preciso controlar Zekrom ou Reshiram, as representações da verdade e do ideal, seguindo uma velha lenda passada de pai para filho na região de Unova, em Black/White (DS).

Reshiram, o dragão da verdade.
A lenda diz que dois irmãos governavam a região de Unova junto de um grande dragão. Todavia, os dois começaram a divergir em seus pensamentos, um guiado pela verdade absoluta e outro pelos ideais utópicos. Isso resultou no dragão original se dividindo em dois, Zekrom, o dragão negro, e Reshiram, o dragão branco, e sua casca vazia ficou conhecido como Kyurem, o dragão cinzento abandonado.

No fim das contas, Ghetsis (líder da Equipe Plasma) revelou que a libertação dos Pokémon era apenas uma fachada para mais uma tentativa de domínio mundial; se ninguém tivesse monstrinhos, ele poderia ter todos para si. Frustrado pelo protagonista e pelo seu próprio filho, N,Ghetsis foi obrigado a recuar por alguns anos, retornando com um novo plano envolvendo fundir Kyurem com Zekrom ou Reshiram, para assim atingir uma parcela maior do poder do dragão original. Felizmente, o protagonista de Black 2/White 2 (DS) estava ali para impedi-lo.

Há uma clara referência ao taoismo na criação deste trio lendário, cujo Zekrom representa yin e Reshiram representa yang, enquanto Kyurem é wuji. Yin e yang são forças dualitárias e que, embora pareçam opostas, são complementares (algo endossado pelo efeito de Fusion Bolt e Fusion Flare, golpes dos lendários que fortalecem quando atingidos pelo outro). Wuji é a ausência de qualquer uma dessas forças, sendo plena, porém incompleta, uma fronteira vazia (lembrando que Kyurem é classificado na Pokédex como “Pokémon Fronteira”) que espera ser preenchida. Com este princípio que Kyurem se funde a Zekrom ou Reshiram em Black 2/White 2, adquirindo duas novas formas.

Por pouco não se tornou o dragão original!
É possível notar que no decorrer dos anos, tivemos histórias cada vez mais complexas – e até mesmo mirabolantes – para os jogos de Pokémon. Após viajar por terra e mar, tempo e espaço, verdade ou ideal, onde mais as histórias dos jogos e a sua mitologia poderia ir?

O que acham de voltar ao começo?

De volta as origens

Em Pokémon X/Y (3DS) temos a Equipe Flare, marcada por seu visual excêntrico e de cor predominante vermelha. Sendo extremamente parecida com a Equipe Rocket, tendo seu foco em conseguir dinheiro e poder, é mostrado que talvez as coisas tenham voltado ao estilo clássico dos jogos da franquia. Ao menos sabe-se que seus objetivos envolvem criar um mundo mais belo, e é provável que isso tenha relação com a dupla de lendários Xerneas e Yveltal, Pokémon envolvem a vida e a morte, criação e destruição.

E parece que teremos uma batalha tripla contra os cientistas da Equipe Flare!
Ainda é possível criar algumas teorias sobre como eles irão agir usando como base as informações que já foram disponibilizadas até então. Com o jogo introduzindo as MegaEvoluções, o logotipo japonês com o símbolo do DNA e a equipe vilã tendo um time de cientistas, é possível que estejam pesquisando algo que envolva a genética para ampliar as forças dos Pokémon, algo que acontece em G/S/C ao tentarem forçar a evolução. Ou o segredo das MegaEvoluções seja o alvo dos vilões da jogada?


Essa árvore mostrada no trailer
lembra a colossal Yggdrasil.
Já a inspiração fica por conta da mitologia nórdica, sendo apropriado visto que Kalos foi inspirada na França, Europa. Xerneas parece ter sido criado tendo como base os cervos guardiões da Yggdrasil (“Árvore do Universo” nesta mitologia) e que representam os quatro ventos: Dáinn, Dvalinn, Duneyrr and Duraþrór. Já Yveltal parece ter como origem o gigante Hræsvelgr, que podia se transformar em uma águia e habitava o “fim do mundo”. Também é possível que tenha sido inspirado em Nidhogg, um dragão devorador de cadáveres que habitava Nifflheim, o “reino dos mortos”. Para o Pokémon da Destruição, parece apropriado, não?

Isso ainda deixa a base para um possível Pokémon Z que feche o trio, podendo este ser inspirado em Jormungand, a serpente gigante que pode abraçar o mundo na mitologia nórdica, e daria uma brecha para o primeiro Pokémon lendário do tipo Poison (desconsiderando Arceus com a plate deste tipo). Ainda no campo das especulações é possível imaginar outros possíveis lendários baseados na mitologia nórdica, como o lobo gigante Fenrir, o cavalo Sleipnir e o esquilo Ratatoskr. Com uma vasta gama de criaturas contidas nas lendas nórdicas, inspiração é o que não vai faltar para essa história, que é tão promissora e que daria pena se recebesse um tratamento leviano.

E como de costume, fiquem com esse gif.
E aqui concluímos mais esta etapa da nossa contagem regressiva. Agora falta apenas um mês para o lançamento mundial de Pokémon X/Y, e a expectativa cresce constantemente. O que vocês leitores esperam da história nesse jogo? E dos lendários? Qual figura mitológica vocês acham que daria um excelente Pokémon? Deixem seus comentários e até semana que vem!
Não leu as etapas anteriores? Segue a lista de partes!

Parte 1: A revolução estética de Pokémon X/Y
Parte 2: Recapitulando mecânicas e quebrando tabus
Parte 3: É hora da batalha em diversos estilos diferentes

Revisão: Leonardo Nazareth
Capa: Daniel Machado

Escreve para o Nintendo Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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