Discussão

Discussão: Por que os jogos sofrem preconceito por serem jogos?

Atualmente, os jogos eletrônicos têm tanto potencial para difundir conhecimento quanto filmes, livros, textos, músicas ou obras de arte. S... (por Gabriel Toschi em 23/11/2012, via Nintendo Blast)

Atualmente, os jogos eletrônicos têm tanto potencial para difundir conhecimento quanto filmes, livros, textos, músicas ou obras de arte. São incontáveis os exemplos de jogos que acabam ensinando muita coisa sem ter essa função como prioridade, que fica a cargo do entretenimento do jogador. Tudo bem, isto é totalmente válido e lógico: desde os primórdios da diversão os jogos fazem o seu papel (e muito bem). Mas será que eles não podem ser largamente usados para outras funções assim como todas as outras artes? Podem, mas não são todos que veem isso.

Videogame: a décima arte

A maioria das pessoas conhece as “sete artes”, como são conhecidas, com sendo música, dança, pintura,  escultura, teatro, literatura e cinema, respectivamente. Porém, com o passar dos anos, apareceram novas artes para integrar esse conjunto. A fotografia é a oitava arte, os quadrinhos são a nona arte, a arte digital é a décima primeira. A décima, entretanto, é uma grande conhecida nossa: os jogos eletrônicos. Sim, eles já são considerados arte.

O problema é que essa consideração não é de todos. Uma das piores experiências que já tive foi começar a contar a grandiosa história da série The Legend of Zelda (não importa se você é fanboy de alguma empresa; você sabe que a história de Zelda é literalmente épica) para o meu professor de Literatura, perceber que ele gostou e que, quando descobriu que se tratava de um jogo de videogame, começou a esnobar. Sim, apenas porque era o enredo de uma das maiores séries de Action RPG da história. Só isso.

As artes são numeradas de acordo com a sua característica especial, seu principal fundamento. Os jogos eletrônicos conseguem trazer o som (que vem da música, a 1ª arte), a cor (que vem da pintura, a 3ª arte), o volume (que vem da escultura, a 4ª arte), a palavra (que vem da literatura, a 6ª arte), a imagem (que vem da fotografia, a 9ª arte) e toda a tecnologia empregada na arte digital, a 11ª arte. Porém, acima de tudo, os jogos ainda têm um fundamento mais que especial: a interação. A imersão que um jogo eletrônico te dá não pode ser obtida por mais nenhuma outra arte.

O que queremos? Jogar! Quando? Agora!

Tudo bem, esse papo de arte é muito bonito. Mas, e na prática? Será que meu professor tinha razão e os videogames servem apenas para diversão? Posso afirmar que não. Qualquer um consegue perder de vista o número de jogos que podem ensinar alguma coisa, tirando todas as capacidades de reflexo e raciocínio rápido que muitos jogos te dão pela própria interação que você deve ter ao jogar.

Vamos conferir isto e, para início de conversa, tirar os jogos educativos. Por mais que sejam jogos, eles têm o objetivo de ensinarem algo (educativos, d’uh). Começaremos com todos os jogos que se passam em alguma época da história mundial. Desde jogos de estratégia no Japão feudal (como a franquia Nobunaga’s Ambition) até os FPS que se passam em grandes guerras que já aconteceram (Medal of Honor e Battlefield, por exemplo), todos eles acabam inserindo o jogador no ambiente histórico.

Nobunaga's Ambition, uma grande aula sobre o Japão feudal.
Já conseguimos aprender História, ótimo. Agora vamos para o lado das exatas. Toda a mecânica da série Portal, por exemplo, consegue ser uma belíssima aula de Física, principalmente na parte de mecânica. Quem nunca se perguntou por que ao entrar em um portal após cair de um lugar muito alto você sempre consegue ir mais longe? Aceleração da gravidade, claro! E se você é mais para o lado da Química, pode escolher o jogo SpaceChem: controlar reatores nucleares para formar moléculas parece ser algo bem interessante. No mínimo (e eu disse no mínimo), você decora a tabela periódica.


Se você acha pouco, quem nunca se deparou aprendendo inglês ao tentar jogar um jogo norte-americano? Ou então, quando você tentava entender algo daquele seu RPG em japonês até aprender que aquele símbolo significava uma habilidade de cura? Ou ainda quando você está jogando um simples RPG de mesa, onde sua habilidade de criação de personagem e enredo se equiparam a de uma redação escolar, e você consegue fazer uma aventura épica com seus amigos? Certo, acho que já deu pra entender.

Entendedores entenderão.

Dando um “level up” no aprendizado

Todos estes exemplos vieram de jogos que já existem e que não tinham como função principal ensinar alguém, mas acabaram dando lições valiosas para nós, jogadores. Imaginem se nossos professores os usassem para nos dar lições nas aulas? Ou ainda se conseguissem produzir jogos direcionados para o aprendizado, mas sem perder a diversão que um verdadeiro jogo eletrônico tem? Temos todo o potencial para isto, só falta querer ir à luta e conseguir os pontos de experiência suficientes.

Talvez o problema seja o preconceito. Afinal, “videogames não ajudam em nada”, ou, pelo menos, é o que eu ouço constantemente por aí. Claro que sempre existem exceções, mas o jogo eletrônico não é considerado a décima arte à toa. Nós, jogadores, sabemos muito bem, mas precisamos que todos vejam. Os jogos podem não ser a forma de ensinamento do futuro, mas podem ajudar (e muito) a educação do nosso país

Fiquei feliz quando, um dia desses, navegando por uma comunidade de criação de jogos amadores, eu encontrei um professor pedindo ajuda para conseguir desenvolver jogos para os seus alunos, de forma a melhorar o aprendizado deles. Se você também é um professor e está lendo esse texto, diga a sua opinião nos comentários sobre o assunto e não deixe de seguir o exemplo. Se você é um aluno, mostre isso ao seus docentes e veja o que eles acham. No mínimo, a sua aula pode ficar bem mais divertida.

Revisão: Vitor Tibério

sempre com projetos criativos, estranhos ou os dois ao mesmo tempo. desenvolvedor de software, game designer e escritor sobre as coisas que eu gosto.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


  1. Pow os jogos realmente me ajudam pq eu estudo jogando um bom jogo
    tipo pra matematica eu tento um jogo de estrategias rapidas ou que se deve raciocinar muito(sonic,zelda,resident evil,smash bros,mario,etc.)
    pow e foi comprovado pela ciencia q medicos que jogam videogame são melhores nas cirurgias q necessitam grande ahabilidade com as mãos do q os q ñ jogam

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  2. Ao meu ver a época em que games eram entretenimento irrelevante e pra poucos já passou há muito.

    Em nossa atualidade, essa décima arte está tão difundida e consolidada em nosso meio, que é impossível não se pegar em alguns momentos do dia jogando no PC ou no smartphone algo casual, ou em casa com os amigos algo mais elaborado...

    Os games nos trazem, como a matéria diz, uma experiência única e unificada, que nenhuma das outras artes consegue produzir (digo, claro, no sentido de fundir visão, audição, e sensações como tato).

    Além disso, as produções e enredos hoje são mais elaboradas que produções hollywoodianas, o que traz desta forma um show de sensações, emoções e experiências que facilmente podem ser passadas para o nosso cotidiano como algo positivo.

    Esse poder que os games proporcionam atualmente mostram a maturidade de um mercado que cresceu de forma estondosa nos últimos anos, e tem mostrado a que veio a cada dia! Mais que entretenimento, videogame é cultura, é vida, é saber. Videogame pode sim (por quê não?) fazer parte da formação intelectual de um indivíduo! Eu mesmo aprendi inglês jogando pokemon aos 8 anos de idade!

    Então afirmo que de fato, que preconceitos, extremismos (sonysta, nintendista, seja o que for) e deboches sejam deixados de lado, para apreciarmos com mais alegria a décima arte!

    ^^

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  3. Eu aprendi inglês jogando video game desde os meus 5 anos (hoje tenho 19), e hoje falo inglês muito melhor do que todos os professores que já tive no ensino fundamental e médio. E hoje tento aprender da mesma forma o idioma japon~es, e obtenho sucesso com isso. Graças a Tales of Symphonia, aprimorei meu vocabulário de japonês, e pretendo continuar aprendendo o idioma deste jeito!

    Essa foi uma ótima matéria, e mostra como esse reconceito bobo é extremamente fútil. Meus pais sempre culpavam meu desepenho na escola por conta dos video games, mas eu já aprendi muito com eles (até mais do que certos professores ensinavam), e cheguei a entender várias coisas de física que não entendia em sala (ainda sou péssimo em cálculos, mas pelo menos entendo a teoria), graças a games que utilizavam a física de forma constante.

    Sempre que surgia algo que não entendia, associava a algum game que já havia jogado e passava a compreender melhor, principalmente história! Fã acirrado de RPGs como sou, passei a entender muito melhor as causas que levaram guerras a acontecerem, como questões políticas, busca por poder, busca por terras mais férteis, desenvolvimento desenfreado de uma nação, etc., coisas que os profesores de história que eu tive nunca souberam explicar claramente.

    Uma pena que ainda haja preconceito contra games, e que as pessoas achem que eles só servem para atrapalhar o aprendizado, quando na verdade são ótimas armas para o desenvolvimento do conhecimento!

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