Blast from Japan

Mario Artist (64DD) e a troca dos cogumelos pelos pincéis

A Itália é o berço de importantes artistas da história humana, foi do país em formato de bota que vieram Michelangelo, Rafael, Caravaggio, Leonardo da Vinci e... Mario.


Apesar de o encanador mais amado do mundo dos videogames ser conhecido, principalmente, por suas aventuras em busca da princesa Peach, por debaixo daquele boné vermelho se esconde alguém com talento nato para o universo artístico. Essa vocação quase que oculta do bigodudo foi revelada em Mario Paint, lançado em 1992 para Super Nintendo e que fez muitos jogadores passarem tardes e mais tardes criando os mais variados desenhos e compondo diferentes músicas. O sucesso das pinceladas na era 16-bits foi tão grande que acabaram surgindo, entre os anos de 1999 e 2000, quatro sucessores espirituais na geração seguinte, a série Mario Artist.
A coletânea de continuações expandiu consideravelmente as opções criativas de seu antecessor. Além de brincar com cores, tornou-se possível animar os desenhos e também trabalhar com formas em 3D. Porém, mesmo dando um passo à frente em relação ao clássico do SNES, Mario Artist não chegou nem perto de repetir o mesmo sucesso, e o motivo do fracasso não é sua qualidade ou conteúdo, mas sim a plataforma que o recebeu. A série foi desenvolvida para Nintendo 64DD e, por isso, ficou restrita somente ao Japão, único local onde o periférico foi vendido por pouco tempo até ser recolhido das lojas devido a uma procura bem abaixo do esperado.

Quatro jogos, infinitas possibilidades


Mario Artist segue o mesmo padrão de Mario Paint, ou seja, é mais um conjunto de ferramentas de edição do que um jogo com objetivo definido. A missão é simplesmente exercitar seu lado criativo, com cada um dos quatro títulos da série oferecendo atividades em determinada área. Mario Artist: Paint Studio, o primeiro a ser lançado, é o que mais se assemelha ao seu parente do Super Nintendo, inclusive no uso de um mouse para facilitar a criação de desenhos ou pequenas animações. Seu grande diferencial é a possibilidade de editar imagens importadas da Game Boy Camera ou de um videocassete, além de um modo em que até quatro jogadores podem trabalhar juntos na mesma obra de arte. Os minigames também estão presentes em Paint Studio, e o mais interessante deles envolve um passeio em diferentes cenários, como o fundo do mar ou o mundo jurássico, para fotografar as criaturas que habitam cada uma das regiões, tudo ao melhor estilo Pokémon Snap (N64).
Olhe para câmera e diga 'xis', seu lagartão


O segundo integrante da coletânea a chegar ao mercado foi Mario Artist: Talent Studio, que nada mais é do que um editor de avatares. Nele, é possível transferir a fisionomia de qualquer pessoa para modelos tridimensionais através de fotos capturadas pela Game Boy Camera e, após ficarem prontos, os bonecos podem ser usados como personagens de curtas animações. Apesar de a edição de avatares estar presente na grande maioria dos jogos de hoje, essa foi a primeira experiência da Big N com algo do gênero e acabou funcionando como protótipo dos atuais Miis. Outra curiosidade é que um dos garotos-propaganda de Talent Studio foi Hiroshi Yamauchi, presidente da Nintendo na época, que divulgou algumas animações estreladas pelo seu próprio avatar.
Não, os Miis não nasceram no Wii
Mario Artist: Communication Kit, o terceiro da série, era voltado ao público que sonhava ver sua arte ser reconhecida em todos os continentes. Ele permitia que os jogadores compartilhassem suas criações através da extinta RANDnet, serviço por satélite que oferecia partidas online, acesso a demos, entre outros serviços. Essa rede deixou de existir em 2001, mas não tornou o Communication Kit completamente inútil, pois além de possibilitar o envio das obras para internet, ele também amplia a quantidade de ferramentas disponíveis nos demais jogos da coletânea.

O último representante da série que chegou a ser lançando foi Mario Artist: Polygon Studio, um editor de computação gráfica em 3D que permitia ao jogador criar facilmente elementos poligonais em três dimensões. Brincar com as formas não é a única diversão proporcionada pelo jogo, os desenhos feitos no Paint Studio podem ganhar uma versão poligonal quando importados para o Polygon Studio. Entretanto são nos minigames do jogo que está seu maior legado, muitas das ideias lá apresentadas foram posteriormente reaproveitadas na franquia WarioWare.
Moldar formas em três dimensões nunca foi tão divertido
Se o Nintendo 64DD não tivesse naufragado, a série Mario Artist iria além de Polygon Studio. Além dos quatro lançados, outros quatro jogos foram anunciados e cancelados algum tempo depois. Pouco se sabe sobre esses projetos e só podemos supor o que seriam pelos seus nomes: Game Maker, Graphical Message Maker, Sound Maker e Video Jockey Maker. Mas, quem sabe, um deles continuou sendo desenvolvido em segredo e acabou sendo lançado para o Wii U há pouco tempo. Será que Mario Artist: Game Maker evoluiu para Super Mario Maker?

O fracasso do Nintendo 64DD


Lançado em 1999, no Japão, o Nintendo 64DD pode ser considerado um dos principais fracassos da Big N. O periférico, que é conectado à porta extensora do Nintendo 64, teria o objetivo de aumentar a capacidade de processamento do console e também adicionar novas funções, como o acesso à internet. Porém os resultados de vendas foram tão ruins que apenas nove games acabaram se tornando realidade, sendo que quatro destes são os da série Mario Artist. O desempenho pífio na Terra do Sol Nascente impediu que o acessório chegasse ao Ocidente e as peças que ficaram acumulando poeira nas lojas nipônicas foram logo recolhidas e até hoje devem estar escondidas em algum lugar nos porões mais escuros da Nintendo.
Fracasso do periférico acabou cancelando ou adiando muitos games

Uma peça de museu


É difícil afirmar se Mario Artist conquistaria ou não o público ao redor do mundo, caso o Nintendo 64DD não tivesse falhado. No mesmo período em que a série foi lançada, o software de edição de imagens Adobe Photoshop, que seria uma espécie de concorrente por realizar muitas das mesmas atividades no PC, já estava em sua versão 6.0. Mais do que pelas ferramentas de edição, o jogo merece ser lembrado por seu legado, afinal foi nele que surgiram vários conceitos usados até hoje, não é mesmo, Miis!? E esse é o motivo, aliado a sua raridade por ter sido comercializado somente no Japão, pelo qual Mario Artist merece sim um espaço no museu dos videogames.

Revisão: Alberto Canen
Capa: Felipe Araujo

É jornalista e obcecado por games (não necessariamente nessa ordem). Seu vício começou com uma primeira dose de Super Mario World e, desde então, não consegue mais ficar muito tempo sem se aventurar em um bom jogo. Diretor de Redação do Nintendo Blast.
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